domingo, agosto 28, 2016

O CONGRESSO NACIONAL...




O CONGRESSO NACIONAL...

Calfilho




          Já deixei aqui registrada minha opinião sobre a política brasileira e os personagens que a integram. Esclareço que essa opinião não é generalizada, isto é, sei que entre os políticos existem alguns que são idealistas, que realmente ocupam um cargo eletivo pretendendo fazer alguma coisa para o bem do nosso país. Infelizmente, esses são uma minoria, num universo onde a esmagadora maioria se elege apenas para tentar auferir benefícios para eles próprios, para sua família ou para um restrito grupo de amigos e correligionários.
            Desde quando fui convocado para trabalhar pela primeira vez como mesário, quando acabara de completar 18 anos de idade, depois como promotor e juiz junto à Justiça Eleitoral, percebi, desde logo, que nossa legislação sobre a escolha de nossos representantes era muito falha, cheia de brechas que permitiam o que vemos atualmente ao vivo, nas transmissões feitas pela televisão sobre o "impeachment" da presidente da República e o processo de cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados.
              Desde a época dos "coronéis", aqueles que controlavam os eleitores humildes do interior, naquela época somente sabendo assinar o nome, muitas vezes empregados em suas fazendas, os "coronéis" utilizavam-se desse poder para se elegerem ou indicarem alguém para ser eleito como seu representante nas Assembleias Legislativas Estaduais, na Câmara dos Deputados Federais ou no Senado da República. Lembrem-se que aqui mesmo, no antigo Estado do Rio de Janeiro, o genro de Getúlio Vargas, Amaral Peixoto, era o interventor e depois conseguiu eleger-se governador. Imaginem o que acontecia nos distantes Estados do Norte e Nordeste do país...
        Algumas conquistas foram feitas: admitiu-se o voto dos analfabetos (o que acho correto, pois também fazem parte da população do país), o "coronelato" perdeu muito de sua força... Entretanto foi substituído pelo "eleitorado de curral" que, em outras palavras quer dizer o eleitorado manipulado por algum político inteligente e hábil em promover churrascos numa comunidade carente, ou fantasiar-se de Papai Noel para distribuir migalhas para crianças carentes de alguma favela, ou, ainda, usar sua imagem de operário humilde e vítima do poder econômico para controlar sindicatos e angariar a simpatia da população mais sofrida, mais esquecida do nosso país...
             Dessa forma, explica-se porque pessoas ficam eternizadas no poder e, quando morrem, ou mesmo antes disso, passam o bastão para filhos, netos, esposas, genros ou noras... Nossa história política está repleta desses exemplos... Alguém por acaso acredita que os eleitores dessas pessoas nelas votam conscientemente, esperando que elas façam alguma coisa de útil para o país?
            Paralelas aos "currais eleitorais" existiam até pouquíssimo tempo as "doações de empresas para campanhas eleitorais". Ora, ninguém é tão ingênuo de acreditar que alguém contribua para um candidato ser eleito sem esperar algum favor em troca... É o famoso "toma lá, dá cá", que infelizmente impera em nossa política e entre a grande maioria dos nossos políticos (também infelizmente, em outros poderes da república)... Daí o que operação "Lava Jato" revelou e ainda revela ... 
              Parece que essas "doações" estão chegando ao fim, o que já é um grande avanço...
           Mas, enquanto não conseguimos que esse avanço seja o mais próximo possível da perfeição, o que assistimos pela televisão continua sendo isso mesmo: o espetáculo circense que foi a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, com alguns dos "representantes do povo" fazendo discursos inócuos, risíveis, elogiando parentes, amigos, até pessoas que são ou estão sendo processadas, perante os olhos de toda a nação.
         E, no Senado, a Câmara alta do Poder Legislativo, assistimos, envergonhados como brasileiros, a disputa verbal entre senadores que reclamam, uns,  da ausência de moral do Senado para julgar a Presidente da República, enquanto eles mesmo estão sendo processados pela Polícia Federal ou Ministério Público; e outros, afirmando que aqueles que fazem essa alegação foram beneficiados junto ao Supremo Tribunal Federal para não serem processados...             São esses os "nossos representantes", os "representantes do povo brasileiro"? Meus, não... aliás, em quem votei para senador, pouco ou quase nunca se manifesta...
       Infelizmente, a democracia não é um regime de governo perfeito. Apresenta muitos defeitos que somente com o tempo conseguiremos aperfeiçoá-la. Mas, mesmo com todos esses inconvenientes é infinitamente superior aos regimes autoritários, aos regimes de força, onde só aqueles que detêm o poder podem manifestar-se, impondo a mordaça ao resto da população. Já vimos como esses governos acabam, como terminam, melancólica e tristemente... ou numa guerra mundial, como aconteceu na década de 40 do século passado...
            Aqui, no Brasil, saindo a presidente afastada, o que acho ser correto, tamanha sua arrogância e o seu despreparo para o exercício da função, além da imensa sede de poder que possui, acredito que o quadro político sofrerá poucas mudanças... em pouco tempo, o "toma lá, dá cá" voltará a prevalecer...
             Ao eleitor, resta a decisão: votar em quem?

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