GUGA, UM ÍDOLO NACIONAL...
Calfilho
O Brasil sempre foi um país carente de ídolos...
Prefiro destacar aqui nossa carência em esportes, já que em outras atividades essa carência talvez seja ainda maior... Talvez na música tivemos um Noel Rosa, um Tom Jobim, um João Gilberto e poucos outros mais que não alcançaram o título de ídolos nacionais (mas que foram grandes)... Na política não tivemos um Winston Churchil, um Charles de Gaulle, um Franklin Roosevelt ou mesmo um John Kennedy... Quem sabe, e aqui é a minha opinião com várias ressalvas, talvez Juscelino Kubistcheck, por sua ampla visão do futuro e pela coragem de ter construído do nada, a capital do país...Nas artes, talvez um Portinari... Nas letras, um Machado de Assis, um Érico Veríssimo, um Jorge Amado... todos eles excelentes, mas sem atingir a categoria de ídolos...
Nos esportes, alcançaram essa categoria, apenas Adhemar Ferreira da Silva, Maria Esther Bueno, Oscar Schmidt, Pelé, Garrincha (é claro), talvez o Cielo, e, mais recentemente, Gustavo Kuerten, o nosso Guga. Se esqueci de algum nome, por favor, perdoem-me e corrijam-me...
Queria falar aqui do Guga... Completamente desconhecido no Brasil, lembro-me de que estávamos em Paris, eu e meu filho Duda, em junho de 1997, quando a gerente do nosso hotel (o antigo Acacias, da rua de Rennes), uma francesa que adorava o Brasil (vestia habitualmente uma mini-saia verde com uma blusa amarela), de nome Cécile, disse-nos, quando deixávamos a chave do quarto na portaria:
-- Vai haver uma pequena festinha para os brasileiros no nosso jardim, se o tenista de vocês ganhar o Roland Garros... Estão convidados.
Confesso que não entendi o que ela quis dizer. Não acompanhava o tênis com regularidade, as únicas lembranças que tinha do esporte vinham de Maria Ester Bueno, nas décadas de 50 e 60 e, depois, de Thomas Koch e Carlos Albeto Kirmayr. O tênis de quadra não era um dos esportes favoritos dos brasileiros, por isso pouco noticiado na imprensa. Nunca tinha ouvido falar do Guga, seria a primeira vez.
Agradeci o convite de Cécile e, quando voltamos para o hotel na parte da tarde, ela, eufórica, nos abraçou e disse:
-- Vão lá fora no jardim, uma taça de champagne espera por vocês... Monsieur Kuerten é o campeão de Roland Garros...
Foi aí que começou meu interesse pelo tênis, eu que só acompanhava o futebol (até com um fanatismo exagerado).
Comecei a ler sobre a história do tênis brasileiro e, em especial, sobre a trajetória do Guga... Impressionante, o "manezinho" de Santa Catarina, campeão de um dos mais importantes torneios de tênis do mundo... Daí em diante virei seu fã... Acompanhei o bicampeonato em Roland Garros, a primeira colocação no ranking mundial, em Portugal, o tricampeonato na quadra mágica francesa, onde ele, desenhando com a raquete um coração no saibro, deitou-se na quadra e conquistou o mundo...
Ouvia suas reportagens transmitidas pela televisão, a luta de sua vida por uma afirmação no esporte, o problema de seu irmão que acompanhava seus jogos em cadeira de rodas, a morte do pai quando era muito jovem, a beleza do sorriso de sua mãe acompanhando o filho pelas quadras mundiais...
Simples, modesto, sem nenhuma vaidade, atendendo com solicitude e gentileza todos os repórteres, assinando camisas de torcedores, sempre com aquele sorriso de menino nos lábios...
Em 2001, eu e outro filho, o Zuza, fomos assistir o Roland Garros em outro mês de junho... Guga, já sentindo o peso do esforço físico que o tênis lhe impunha, não era mais o mesmo... Já se submetera a uma cirurgia tentando corrigir as dores que sentia nos quadris... Mesmo assim, ganhou as duas partidas iniciais do torneio... Eu e meu filho tivemos o privilégio de assistir seus treinos entre a primeira e a segunda partida do torneio, numa pequena quadra secundária do grande complexo francês... Ele brincava com seu "sparring", com a torcida espremida na arquibancada, com um torcedor que levava a camisa do Coritiba no corpo...
Assim foi o Guga, irradiando simpatia por todos os poros, sem a máscara que muitos jogadores de futebol colocam na cara...
Uma das mais justas homenagens que as Olimpíadas do Rio fez foi a de entregar-lhe a tocha olímpica para que ele, entrando no Maracanã lotado, fosse o primeiro a representar o Brasil na cerimônia em que a grande pira foi acesa... Simples, humilde como sempre, fez reverência para Hortência quando lhe passou a tocha...
Que bom seria se todos os nossos ídolos fossem humildes e simples como ele... Principalmente os do atual futebol brasileiro...
Que bom seria que a conquista do tricampeonato de Roland Garros servisse de inspiração para que surgissem vários outros Gugas no tênis e em outros esportes...
Que bom seria...
Infelizmente, ainda somos o país do "que bom seria"...
Nos esportes, alcançaram essa categoria, apenas Adhemar Ferreira da Silva, Maria Esther Bueno, Oscar Schmidt, Pelé, Garrincha (é claro), talvez o Cielo, e, mais recentemente, Gustavo Kuerten, o nosso Guga. Se esqueci de algum nome, por favor, perdoem-me e corrijam-me...
Queria falar aqui do Guga... Completamente desconhecido no Brasil, lembro-me de que estávamos em Paris, eu e meu filho Duda, em junho de 1997, quando a gerente do nosso hotel (o antigo Acacias, da rua de Rennes), uma francesa que adorava o Brasil (vestia habitualmente uma mini-saia verde com uma blusa amarela), de nome Cécile, disse-nos, quando deixávamos a chave do quarto na portaria:
-- Vai haver uma pequena festinha para os brasileiros no nosso jardim, se o tenista de vocês ganhar o Roland Garros... Estão convidados.
Confesso que não entendi o que ela quis dizer. Não acompanhava o tênis com regularidade, as únicas lembranças que tinha do esporte vinham de Maria Ester Bueno, nas décadas de 50 e 60 e, depois, de Thomas Koch e Carlos Albeto Kirmayr. O tênis de quadra não era um dos esportes favoritos dos brasileiros, por isso pouco noticiado na imprensa. Nunca tinha ouvido falar do Guga, seria a primeira vez.
Agradeci o convite de Cécile e, quando voltamos para o hotel na parte da tarde, ela, eufórica, nos abraçou e disse:
-- Vão lá fora no jardim, uma taça de champagne espera por vocês... Monsieur Kuerten é o campeão de Roland Garros...
Foi aí que começou meu interesse pelo tênis, eu que só acompanhava o futebol (até com um fanatismo exagerado).
Comecei a ler sobre a história do tênis brasileiro e, em especial, sobre a trajetória do Guga... Impressionante, o "manezinho" de Santa Catarina, campeão de um dos mais importantes torneios de tênis do mundo... Daí em diante virei seu fã... Acompanhei o bicampeonato em Roland Garros, a primeira colocação no ranking mundial, em Portugal, o tricampeonato na quadra mágica francesa, onde ele, desenhando com a raquete um coração no saibro, deitou-se na quadra e conquistou o mundo...
Ouvia suas reportagens transmitidas pela televisão, a luta de sua vida por uma afirmação no esporte, o problema de seu irmão que acompanhava seus jogos em cadeira de rodas, a morte do pai quando era muito jovem, a beleza do sorriso de sua mãe acompanhando o filho pelas quadras mundiais...
Simples, modesto, sem nenhuma vaidade, atendendo com solicitude e gentileza todos os repórteres, assinando camisas de torcedores, sempre com aquele sorriso de menino nos lábios...
Em 2001, eu e outro filho, o Zuza, fomos assistir o Roland Garros em outro mês de junho... Guga, já sentindo o peso do esforço físico que o tênis lhe impunha, não era mais o mesmo... Já se submetera a uma cirurgia tentando corrigir as dores que sentia nos quadris... Mesmo assim, ganhou as duas partidas iniciais do torneio... Eu e meu filho tivemos o privilégio de assistir seus treinos entre a primeira e a segunda partida do torneio, numa pequena quadra secundária do grande complexo francês... Ele brincava com seu "sparring", com a torcida espremida na arquibancada, com um torcedor que levava a camisa do Coritiba no corpo...
Assim foi o Guga, irradiando simpatia por todos os poros, sem a máscara que muitos jogadores de futebol colocam na cara...
Uma das mais justas homenagens que as Olimpíadas do Rio fez foi a de entregar-lhe a tocha olímpica para que ele, entrando no Maracanã lotado, fosse o primeiro a representar o Brasil na cerimônia em que a grande pira foi acesa... Simples, humilde como sempre, fez reverência para Hortência quando lhe passou a tocha...
Que bom seria se todos os nossos ídolos fossem humildes e simples como ele... Principalmente os do atual futebol brasileiro...
Que bom seria que a conquista do tricampeonato de Roland Garros servisse de inspiração para que surgissem vários outros Gugas no tênis e em outros esportes...
Que bom seria...
Infelizmente, ainda somos o país do "que bom seria"...
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