domingo, novembro 28, 2021

 

DIVAGAÇÕES...

 

Calfilho

 

 

                 A consulta estava marcada há algum tempo...

           Chegou, como sempre, antes da hora marcada... 10:45, a consulta era às 11 horas... Detestava chegar atrasado para um compromisso...

                A enfermeira, solícita, mandou que entrasse:

          -- Por favor, Dr. Marcio, disse-lhe, apontando a porta do consultório.

               A doutora, jaleco branco, parecia muito simpática...

               -- Prazer, sou a dra. Josephine...

               Ele, de máscara, fruto da COVID-19, só a cumprimentou:

             -- Bom dia, doutora. O Dr. Joaquim me encaminhou para a senhora, sou cliente dele.

                Joaquim era o dono da clínica onde ele fazia um tratamento sério, pois já sofrera três intervenções cirúrgicas...

                -- Já vi seu histórico de cliente. Em que posso ajudar?

              --Não sei, doutora, foi o dr. Joaquim quem me encaminhou para a senhora...

               Ela passou os olhos no histórico antigo da clínica.

            -- Seus exames aparentemente estão bons... O que o senhor está sentindo?

         -- Dores, doutora, dores no estômago e intestino. Consequência dos remédios que estou tomando. Sei que eles são bastante invasivos, o Dr. Joaquim já me disse isto, talvez ele me tenha encaminhado para a senhora para ver ser há algum medicamento que alivie um pouco essas dores, esse mal estar...

            -- Seus exames não denotam isso... Sei que o senhor deve estar preocupado com o resultado dos seus exames, mas não há razão para isso...

               -- Tá bem, doutora, então não sei o que vim fazer aqui com a senhora...

             -- Vamos examiná-lo, retrucou ela. Tire a camisa, deite na cama, vou tirar sua pressão, sua temperatura.

            Ele obedeceu, até que era sensato em cumprir ordens médicas.

              -- Pressão 12/8,-- ela sorriu. Temperatura 35,7. Parece um garoto.

          -- Pode vestir a camisa. Ele pediu auxílio para ajudar a levantar da cama. Sua lombar doía muito.

            Sentaram-se novamente um em frente ao outro, médico e paciente.

             -- Realmente, eu não sei muito em que posso ajudá-lo. Seus exames estão dentro da normalidade, mesmo levando em conta sua idade. As sequelas de sua doença são previsíveis. Posso rejeitar um analgésico, mas será apenas um paliativo.

              Aí, então, ela falou a frase infeliz:

           -- Talvez o senhor esteja com um problema psicológico. O que seria normal, tendo em vista a gravidade da sua doença principal. O senhor quer que eu o encaminhe a um psicólogo?

             Ele a encarou firmemente, um breve sorriso cínico insinuou-se em sua boca;

             Perguntou, ainda com o meio sorriso estampado na boca:

            -- Desculpe perguntar, doutora... quantos anos a senhora tem? Se achar que foi indiscrição minha, não precisa responder.

            Ela refletiu dois segundos antes de responder:

        - Quarenta e oito -- retrucou com um certo orgulho na voz (talvez aquele paciente achasse que ela não fosse competente...)

              Ele refletiu com seus botões: 

              “idade dos meus filhos...”

               Respondeu, olhar longe, bem distante:

       --Doutora, agradeço seu conselho, mas não acredito em psicólogo. No meu tempo de estudante, isso nem existia, pelo menos para consumo público...Aliás, hoje, na medicina, inventaram um monte de profissões paralelas nas quais também não acredito... sou do tempo antigo, doutora, tenho 84 anos, fui Delegado de Polícia por 35 anos, a morte era meu instrumento de trabalho, vi as chacinas da Candelária, do Vigário Geral, corpos estraçalhados, crianças com 5, 6 anos de idade estendidas no chão, vidas sem oportunidade de crescer, de sobreviver...Desculpe, a palavra é sobreviver mesmo, coisas que nós aqui, do lado “civilizado” da cidade não estamos acostumados a vivenciar...

        Ela ouvia, calada, duas lágrimas iluminaram seu rosto. Emprestei-lhe um lenço de papel que achei sobre a mesa.

            -- Por isso, doutora, concordo com a senhora, até acho que tenho que debater meus problemas pessoais com outras pessoas. Não sou o dono da verdade, e todo ser humano penso que tem necessidade de conversar coisas íntimas com alguém. Mas, nunca com um profissional, com um carinha que pegou um diploma e vem se achar no direito de discutir meus problemas pessoais, meu passado, minhas angústias, minha vida. Faço isso com um irmão, com algum amigo de mais de 50 anos de convivência, como também ouço suas apreensões, suas angústias, suas incertezas. Afinal, todos estamos caminhando para um trajeto que não tem volta, novos ou velhos, por isso muita coisa nos preocupa, sempre é bom conversar, desabafar...

     Fez uma pequena pausa. Continuou:

        -- Meu psicólogo já me ouve há muito tempo...Não marcamos consulta, nem tive a felicidade de conhecê-lo pessoalmente...  Não resolve muita coisa, mas me deixa feliz quando ouço suas composições... Nome dele: NOEL DE MEDEIROS ROSA.  Quando tiver um tempinho livre dessa loucura de consultório, ouça algumas composições dele...  “Pela décima vez”, minha sugestão...e, se gostar, acompanha com um cálice de Pinot Noir, da região da Bourgogne...

              Obrigado pela consulta...

          Márcio deixou o consultório, pegou o elevador, que desceu velozmente do 21 para o térreo...

 

 

 

 

quarta-feira, setembro 22, 2021

OS PRECATÓRIOS...

 

OS PRECATÓRIOS...

Calfilho

 

            Lamentável a tentativa do governo brasileiro de tentar postergar o pagamento de precatórios devidos pela União.

          O cidadão, que teve um direito seu violado pelo Estado (apenas dois exemplos: o policial negligente dispara sua arma numa operação numa favela e mata, por sua falta de cuidado e atenção, uma criança que brincava no quintal de sua miserável casa; a ponte mal construída de afogadilho e superfaturada, empregando material de terceira categoria, despenca e mata passageiros de veículos que por ela trafegavam e pedestres que passavam sob ela), entra com ação indenizatória contra a União, Estado ou município responsáveis pelo delito, ganha na primeira instância depois de dois anos de tramitação do processo; o órgão público recorre, mais quatro anos até o julgamento em segunda instância, que novamente dá razão ao pai da criança ou aos parentes das vítimas do “acidente” da ponte. O Estado, inconformado, impetra novo recurso ao STJ. Mais seis anos aguardando a decisão, que, outra vez, dá razão aos requerentes.                    Embargos de declaração, rejeitados após seis meses de espera. O Estado (em sentido amplo) oferece novo recurso ao STF, alegando inobservância de preceito constitucional nas decisões anteriores. Oito anos mais e, finalmente, a decisão do STF, reconhecendo o direito da ou das pobres vítimas, tornando a decisão definitiva, da qual, felizmente, não cabe mais recurso.

          Essa decisão, transforma-se, assim, num precatório, ou seja, em termos leigos, um título de crédito da vítima do ato ilícito contra o Estado infrator.

          Mais outras várias providências administrativas e, enfim, o Estado é obrigado a pagar...

          Mas, não, vem uma sumidade qualquer do Ministério da Fazenda e diz que precisa de dinheiro para custear o substituto do “bolsa família”, plano de auxílio aos necessitados do Brasil (que são muitos).

REUNIÃO NO PLANALTO

-- Tem que tirar dinheiro de algum lugar. Preciso recriar esse “bolsa família”, que vou mudar o nome, para garantir o voto daquele povo do nordeste.

-- Mas, Presidente, precatórios  são títulos de dívida pública reconhecidos pela Justiça.

-- Não sei, arranja um jeito, preciso daqueles votos. Basta dar comida pra eles, que votam em mim. Vocês têm outra saída?

Timidamente, um ministro mais ponderado e nem tão radical, arrisca:

-- Presidente, que tal tirar um pouco das emendas dos deputados e senadores. O valor é absurdo...

 Depois de alguma reflexão, a resposta:

-- Não, não posso mexer com isso. Vou perder o apoio do Congresso...

O tímido oferece outra sugestão:

-- Abate mais desse fundo partidário. Eles aumentaram muito...

Veio logo a resposta:

-- Nunca, isso nunca... Vão votar logo, logo meu impeachment...

Após uma pausa:

-- Então, sem solução?

Sem resposta.

-- Então, ministro, avança nos precatórios...

 

     BRASIL ACIMA DE TUDO...

          

segunda-feira, dezembro 28, 2020

ABUSO DE AUTORIDADE... EXCLUDENTE DE ILICITUDE...

 

ABUSO DE AUTORIDADE...

EXCLUDENTE DE ILICITUDE...

 

Calfilho

 

 

 

 

Lamentável, para não dizer revoltante...

Quantas vezes este ano que está por terminar, o macabro 2020, nos trouxe, nas páginas dos jornais ou noticiários da televisão, mais um caso de morte de inocentes, muitos deles simples crianças, a maioria moradores de comunidades carentes, envolvendo policiais militares (em sua grande parte) ou civis? E, também, seguranças de estabelecimentos comerciais.

A pandemia da COVID-19 é a pior coisa que aconteceu este ano, para torná-lo tão macabro. Já ceifou a vida de quase 200 mil brasileiros. Mas, a morte de inocentes, em “confrontos” em que a polícia esteve envolvida, ou mesmo quando este sempre alegado “confronto” inexistiu, talvez tenha sido a segunda pior tragédia deste 2020 que ora se finda.

É a tecla em que venho batendo desde o início de minha atividade profissional, a maior parte passada na área criminal: temos que ter muito cuidado em preparar psicológica e profissionalmente nossos policiais (ou seguranças particulares) antes de entregar-lhes uma arma de fogo. Em tese, para nos defender, mas, que, muitas das vezes, acaba virando contra a própria sociedade, ceifando vidas de inocentes. E, olhe que não são armas leves, quase sempre poderosos fuzis, armamento de guerra.

É claro que a criminalidade evoluiu muito nesses últimos 30 anos. Organizou-se, armou-se com armas contrabandeadas, também de grosso calibre, e os jornais televisivos mostram que eles transitam livremente pelas comunidades mais carentes portando ostensivamente todo esse armamento. Criaram-se as milícias, cujos membros, em grande parte, são ex-policiais expulsos de suas corporações ou contraventores ligados ao conhecido jogo do bicho, e parecem querer dominar o espaço público. Assaltam caminhões de carga nas estradas, constroem irregularmente prédios em terrenos públicos, cobram taxas de segurança para os pequenos comerciantes das comunidades e mesmo de bairros afastados, usam o terror como arma principal para obter o domínio da região.

Lógico que é sabido que essas quadrilhas se refugiam nessas comunidades, pois sabem que ali falta quase tudo, onde o Estado não está presente e é muito fácil controlar aqueles que necessitam de transporte, de comércio, de luz, gás, internet, etc... A polícia raramente aparece nessas comunidades e, quando o faz, age de forma atabalhoada, agressiva, truculenta, invadindo barracos, intimidando moradores honestos, que trabalham, que estudam, que lutam por uma melhor situação de vida.

Por isso, necessário que a polícia esteja fortemente armada para enfrentar um inimigo de tão alto poder de violência e intimidação. Mas, antes de tudo, que os policiais que vão usar estas armas estejam psicologicamente preparados e treinados para esse uso. Não podem entrar nas comunidades atirando a esmo, temerosos de qualquer movimento suspeito que pensam ter visto, e atingindo inocentes que ali residem por não terem outro lugar para morar.

Infelizmente, não é isso o que se vê.

A grande maioria de nossos policiais (civis ou militares), jovens recrutados nas classes menos favorecidas da população, grande parte com baixo nível de escolaridade, sem o treinamento adequado, sem uma rigorosa seleção psicológica, colocam uma farda ou portam um distintivo, pegam uma arma de alto poder letal e vão para as ruas cumprir missões para as quais evidentemente não estão preparados.

Aí, uma menina de 11 anos, aluna de uma escola pública, que brincava com colegas na hora do recreio, é morta brutalmente porque policiais militares perseguiam um suspeito fora da área do colégio e dispararam seus fuzis nessa perseguição.

Ou um carro que trafegava por uma rua da zona norte é metralhado porque policiais de uma patrulha receberam comunicação pelo rádio de que um veículo com as mesmas características transportava bandidos em fuga. Sem uma abordagem, sem nada. “Atira primeiro, pergunta depois...”.

Ainda um menino que é atingido e morto por tiro de fuzil quando estava no interior de sua residência, em São Gonçalo, em outra alegada diligência policial na comunidade pobre em que morava...

Mais duas meninas que conversavam na porta de uma casa humilde de outra comunidade carioca também são mortas porque a polícia entrou abruptamente na favela alegando procurar um perigoso delinquente...

E, ainda mais recente, dois jovens que transitavam em uma motocicleta por uma via da Baixada são atingidos por tiros de fuzil, presos, colocados na viatura policial e aparecem mortos em outro local...

Alguns desses casos foram gravados por câmeras de vigilância... e os outros? Quantos mais não o foram?

Sei que o problema é de difícil solução. Mas, esta não pode ser encontrada com “tiros na cabecinha” ou com entradas espalhafatosas em comunidades, com policiais despreparados atirando descontroladamente as armas que portam, sem que sejam tomadas cautelas mínimas para evitar a morte de inocentes...

Não adianta o porta-voz da corporação vir perante às câmeras da TV e dizer que “houve confronto”, que “os policiais não dispararam”, “que um inquérito rigoroso vai ser instaurado”. Suas palavras não vão diminuir a dor dos pais, filhos, parentes daqueles que são enterrados em consequência de um ato estúpido, truculento praticado por alguém que não estava preparado para usar uma arma tão poderosa...

Muitos afirmam que o problema da violência policial contra pobres e pretos seria, acima de tudo, racismo...

Essa afirmação foi veementemente sustentada após o espancamento bárbaro de um cliente negro por seguranças de um supermercado no Rio Grande do Sul. Violência que resultou na morte da vítima. Dois “seguranças” brancos que espancam um negro até a morte. Fato assistido por uma supervisora do estabelecimento que tenta, inclusive, impedir o registro da cena por um celular de entregador de mercadorias, fazendo-lhe ameaças. Tudo gravado de diversos ângulos, desde o início da discussão entre o cliente e uma caixa, a intervenção dos “seguranças”, até o momento final da bárbara e covarde agressão, num outro local do estabelecimento.

Não resta dúvida de que o ingrediente “racismo” está presente nesse tipo de violência. Até porque quem veste uma farda, seja de policial ou simples segurança particular, considera-se investido de uma autoridade excepcional contra os seus semelhantes, principalmente se for um negro e pobre, por considerá-los inferiores, parentes próximos da marginalidade, segundo seus deturpados conceitos.

É o famoso “sabe com quem está falando?”, há muito impregnado na cultura brasileira. Além das autoridades do “alto escalão”, todo aquele que usa uma farda ou um distintivo de uma instituição pública também se considera como tal. Mais modernamente, surgiram os coletes, para indicar que esse ou aquele servidor pertence a determinado órgão público. Tais como “Defesa Civil”, “GAECO’, “Meio ambiente”, “Ministério Público”, “Segurança” e tantos outros que proliferaram nos últimos anos...

Então, por ostentarem uma farda, um distintivo, um colete, se acham superiores aos outros cidadãos, principalmente se estes pertencerem a classes menos favorecidas da sociedade... O que vimos gravado no episódio do supermercado de Porto Alegre, com o espancamento covarde (um imobilizando, outro dando socos e pontapés), que acabou com a morte do cliente, vai bem por esse enfoque do abuso da “autoridade”. Pode ter existido algum racismo, mas acho que muito mais prepotência, arrogância, o “sabe com quem está falando?” por parte dos “seguranças” autores do assassinato e da cúmplice supervisora, que nada fez para impedir o massacre e até quis impedir que a cena grotesca fosse gravada...

Quando ainda era ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro, famoso por ter combatido a corrupção, quis introduzir no nosso Código Penal uma excludente de “ilicitude” para policiais que cometessem um homicídio “por medo, ou receio” quando no exercício da função. Excludente de ilicitude, segundo o nosso Direito Penal, significa que “não há crime”, ou seja, no caso do homicídio em particular, a morte de alguém teria sido um ato lícito.

Nosso ex-ministro talvez fosse mais especializado nos chamados crimes de colarinho branco, na corrupção ativa e passiva. Mas, apesar destes também poderem ser praticados por policiais, a tal excludente visava absolver por ausência de ilicitude (não isentar de pena, o que é outra coisa), o agente da lei que matasse outrem “por medo ou receio”. Pronto, a farra estaria completa e os policiais e demais “autoridades” poderiam legitimamente “atirar antes, para perguntar depois”, pois teriam certeza de que estavam agindo legitimamente.

Acho que essa não era a área do ex-ministro, que, felizmente, não foi adiante. Mas, é claro, só fez essa tentativa por influência superior, que, desde a campanha eleitoral sempre esteve a favor da classe policial, e tem nela um forte apoio à sua gestão.

Tanto que, já com Moro longe, voltou agora, recentemente, a insistir na inclusão dessa aberração em nosso ordenamento jurídico. Isso ocorreu num comício recente que fez num centro de abastecimento em São Paulo.

Aliada à intenção do governo da liberação total de compra e posse de armas (até o imposto de importação foi zerado), com essa excludente, vamos ter mais inocentes mortos em “confrontos”, em “diligências”, em invasões espalhafatosas em comunidades carentes, em “rigorosos inquéritos” para apurar responsabilidades, com mais policiais engrossando as já poderosas milícias em nossas cidades...

E, todos portando suas armas, vamos assistir duelos nas ruas, nas estradas, nos condomínios, e vão sair vitoriosos aqueles que conseguirem “sacar” primeiro...

 

sexta-feira, dezembro 18, 2020

TÉCNICOS ATUAIS...

 TÉCNICOS ATUAIS...

Calfilho

     A qualidade do futebol brasileiro dos dias de hoje realmente assusta... Parece que qualquer "promessa" de craque que surge nas divisões de base de um clube logo se transforma numa "joia", num futuro Pelé ou Garrincha...
      Tudo bem que o futebol mudou nesses últimos 30, 40 anos... se evoluiu, não sei... se ficou mais bonito de ver, também não sei... mas, ficou mais ríspido, mais "condição física", menos arte e muito mais força, mais "ocupação de espaços", mais "posse de bola", para usar alguns termos dos técnicos de hoje do popular esporte...
       Mas, o que vemos em campo, hoje somente pela TV, sem público nos estádios devido à COVID, é um futebol de baixíssima qualidade, sem um lançamento em profundidade que nos encante, sem uma troca de bola para a frente e não para trás, uma ou outra jogada apenas de algum, apenas algum jogador que se destaque... o resto é bola para os lados, é o medo de cometer um erro ao tentar uma jogada mais ousada, um drible mais audacioso... quando a bola não é atrasada para o goleiro por falta de opções de jogadas de ataque...
      Os técnicos, apesar de se considerarem os grandes "professores" de futebol, persistem em repetir os mesmos esquemas,  sem nada inovar ou criar. . . A empáfia de alguns chega a irritar...
     Aguentar Felipão, Tite, Mano Menezes, Dorival Júnior, Vanderlei Luxemburgo, é dose para elefante... Parece que descobriram o futebol, que só eles conhecem a fórmula mágica para ganhar uma partida, que sempre os clubes que dirigem é que são os prejudicados pela arbitragem... 
      Já tivemos dias melhores...
     Da nova geração de treinadores destaco Cuca (apesar de não tão novo assim), o Marcelo Oliveira, e, mais novo ainda, o Fernando Diniz. Pelos menos são mais arejados em mentalidade, mais ousados, tentando dar uma dinâmica melhor aos times que dirigem.
     O Fernando Diniz realmente me impressiona. Pela ousadia, pela coragem de tentar jogar para a frente, sem medo de perder. Já obteve êxitos e insucessos nos poucos times que dirigiu. Mas, todos jogavam um futebol mais bonito, mais alegre, mais gostoso de ver...
     Seu sucesso, agora, à frente do São Paulo, não caiu do céu. É fruto de muito trabalho, muita ousadia, muito estudo.
     Desejo-lhe o maior êxito em sua carreira e que, realmente, consiga mudar o marasmo em que se encontra o futebol brasileiro...


quinta-feira, novembro 26, 2020

AMADOR E PROFISSIONAL...

 

AMADOR E PROFISSIONAL...

“MEU CLUBE DE CORAÇÃO...”

Identidade clubística...

 

Calfilho

 

 

Até os primeiros anos da década de 60, quando o amadorismo já tinha sido totalmente erradicado do futebol dos principais países do mundo, os jogadores ainda tinham uma forte afinidade com os clubes em que começaram suas carreiras.

Segundo li e pesquisei, o profissionalismo foi introduzido no futebol brasileiro no início dos anos 30 do século passado. Por isso, alguns contestam o tetracampeonato carioca do Botafogo (1932/33/34 e 1935). Houve uma cisão no futebol do então Distrito Federal, alguns clubes continuaram com jogadores amadores, enquanto outros aderiram de vez ao profissionalismo. A AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Amadores) até então tinha os clubes amadores como filiados. Em janeiro de 1933 foi criada a LCF (Liga Carioca de Futebol), tendo quase todos os clubes do Rio migrado para ela, menos o Botafogo, que continuou na AMEA. Em São Paulo, o mesmo ocorreu, tendo a liga local, a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) se dividido em duas, a profissional e a amadora. Na Argentina, isso já ocorrera desde 1931 (informações colhidas na internet, no site “Imortais do Futebol”). O Botafogo, continuando na liga amadora, ganhou facilmente o campeonato. Na Copa do Mundo de 1934, como a liga profissional não era reconhecida, o Brasil foi representado por jogadores, em sua maioria, do Botafogo. Ainda em, 1934, o Vasco, São Cristóvão e Bangu voltaram para a AMEA e, juntos com o Botafogo mudaram o seu nome para FMD (Federação Metropolitana de Desportos), que passou a regular, apoiado pela CBD, o profissionalismo carioca em1935, quando o Botafogo conquistou seu inédito tetracampeonato consecutivo (material da mesma fonte). Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, jogou pelo Botafogo nesse ano. Logo depois, transferiu-se para o Flamengo.

A transição do amadorismo para o profissionalismo não foi difícil, pois muitos jogadores que disputavam a liga amadora já recebiam prêmios por vitórias, além de outros “agrados”. A década de 40 talvez tenha sedimentado um pouco mais o profissionalismo, mas os jogadores ainda permaneciam muito ligados aos clubes que os formaram. Ainda eram raras as transferências de atletas de um clube para outro, na mesma cidade onde atuavam. Para outros Estados, ainda mais. Para o exterior, praticamente não ocorreram. A grande transferência entre clubes no futebol carioca foi a de Ademir Menezes do Vasco para o Fluminense em 1945, dando origem à famosa frase proferida pelo técnico Gentil Cardoso, então dirigindo o Fluminense: “Contratem-me o Ademir e eu lhes dou o título”. O Fluminense contratou Ademir e foi o campeão de 45. No ano seguinte, Ademir voltou para o Vasco. Nessa década de 40, jogadores totalmente identificados com seus clubes foram Heleno de Freitas, Nílton Santos (começando no Botafogo), Ademir, Barbosa, Augusto, Eli (Vasco), Zizinho, Biguá, Bria (Flamengo). São os que me lembro, apenas por ler ou ouvir falar.

Para o exterior, soube apenas de Yeso Amalfi, que se transferiu em 1948 para o Boca Juniors, no ano seguinte para o Penarol, em 1951 para o Nice (da França), em 1951 para o Torino, em 1952 para o Mônaco, tendo encerrado a carreira no Olympique de Marseille em 1959 (fonte: Wikipedia).

Na década de 1950, depois da Copa do Mundo realizada no Brasil, o profissionalismo enraizou-se de vez no futebol brasileiro. Mas, as transferências eram raras e, até consideradas como “traição” por parte dos clubes e jogadores envolvidos. Lembro-me bem de uma, que ficou bem marcada em minha memória: no início da década, um jogador da base (os antigos juvenis) do Botafogo, Joel, foi aliciado pelo Flamengo, que o contratou, desrespeitando seu coirmão que havia formado o jogador. Joel teve uma carreira vitoriosa no Flamengo, participando do time tricampeão de 1953/54/55, e foi convocado para a Copa do Mundo de 1958, sendo titular nas duas primeiras partidas, contra a Áustria e a Inglaterra. Na terceira e decisiva partida da fase eliminatória, Garrincha entrou em seu lugar e “acabou” com o jogo, sendo o titular até o final da competição, vencida pelo Brasil. Na Copa seguinte, Joel nem foi convocado, sendo Jair da Costa o reserva de Garrincha, que foi eleito o melhor jogador da equipe bicampeã mundial. Foi a “vingança” do Botafogo contra a “traição” do Flamengo e de Joel.

Nessa década, ainda os jogadores permaneciam muito tempo em seus clubes, mesmo, às vezes, não tendo sido formados por eles. Assim, o Fluminense de Castilho, Píndaro, Pinheiro, Clóvis, Vítor, Lafayette, Telê, Orlando Pingo de Ouro, manteve esses mesmos jogadores por quase toda a década em sua equipe. O Vasco de Barbosa, Augusto, Eli, Danilo, Jorge, Friaça, Maneca, Ademir, Jair da Rosa Pinto (que se transferiu para o Santos no início da década). O Flamengo de Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Esquerdinha. O Botafogo de Osvaldo Baliza (depois Gilson), Gérson e Santos; Arati, Pampolini e Didi; Garrincha, Edson, Paulinho, Quarentinha e Neivaldo. O América, de Osny, Dimas, Ranulfo, Oswaldinho, Alarcon, João Carlos, Maneco. O Bangu, de Ubirajara, Mario Tito, Zizinho, Ari Clemente e tantos outros. A garotada da época, eu aí incluído, sabia de cor a escalação de todos os times cariocas. Até do Madureira, com Irezê, Bitum e Weber (muito mais tarde, juiz de Direito na antiga Guanabara), Frazão, e outros. O Canto do Rio de Carango e Jairinho. O Olaria, de Olavo “Sarrafo”. O São Cristóvão, de Santo Cristo etc...

Vai perguntar hoje a um garoto de 10 anos qual a escalação do seu time: vai te dizer uma num dia, outra no mês seguinte, mais outra completamente diferente um ano depois... Sobre a seleção brasileira, nem se fala...

Enfim, o profissionalismo foi avassalador...

Recordo-me que naquela década de 50, a grande transferência de um jogador brasileiro para o exterior foi a de Julinho Botelho da Portuguesa de Desportos de SP para a Fiorentina, da Itália. Julinho disputara a Copa do Mundo de 1954 pela seleção brasileira e, em 1955, transferiu-se para o futebol italiano. Ponta direita de rara habilidade, foi convocado por Feola para a Copa do Mundo de 1958, juntamente com Joel, do Flamengo. Num gesto de rara humildade e grandeza, não aceitou a convocação, dizendo que não tomaria o lugar de um jogador que estivesse jogando no Brasil. Resquício forte do amadorismo, quando defender a seleção brasileira significava defender as cores do Brasil... Igual aos dias atuais, não lhes parece?

Feola não gostava de Garrincha, por achar que ele “driblava demais, sem produtividade para a equipe...”. Com a recusa de Julinho, foi quase obrigado a convocar o “anjo das pernas tortas”, já que a “grita” popular era muito forte... Vejam só o absurdo: quase deixamos de ser campeões do mundo em 1958, não fosse o ato de grandeza de Julinho...

Dino da Costa e Vinicius (Leão), atacantes do Botafogo, também foram duas outras transações marcantes do futebol brasileiro na década de 50. Foram jogar em equipes italianas, o Milan foi uma delas, a outra não me recordo... Evaristo foi para o Barcelona e, lembro-me bem da festa que a cidade preparara para ele, quando eu passei por lá, em fevereiro de 1957, numa viagem de navio em direção a Nápoles... Paulinho Valentim e Orlando Peçanha foram para o Boca Juniors, da Argentina...

No Brasil, internamente, duas transferências marcantes: a de Didi, do Fluminense para o Botafogo; a de Gilmar, do Corinthians para o Santos... ajudem-me a lembrar de outras...

Já na década de 60, Brasil bicampeão do mundo, os jogadores brasileiros valorizaram-se rapidamente. Transferência milionárias para o futebol europeu, que, constatando a superioridade da individualidade brasileira sobre os rígidos esquemas de seus países, decidiram importar em massa os “craques” tupiniquins: Amarildo para o Milan; Vavá, para o Atlético de Madrid; Didi, para o Real Madrid, Jair da Costa para a Internazzionale, Dino Sani para o Boca Juniors,  Joel Martins para o Valência... bem, quem mais?

Pelé ficou no Santos, recusando propostas milionárias. Garrincha permaneceu no Botafogo até 1966, quando preferiu deixar o clube, indo para o Corinthians, porque não conseguia recuperar-se de uma violenta lesão nos joelhos. Nílton Santos, em clubes, só vestiu a camisa do Botafogo. Gilmar, Djalma Santos, Zito, Pepe, permaneceram em seus clubes até abandonar o futebol, ou transferiram-se para equipes menores apenas para encerrar a carreira e ganhar um dinheirinho extra. Lembro bem, já no final da década de 60, que, Gerson, morador de Niterói, recusou propostas da Europa por detestar viajar de avião...

As décadas seguintes, após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, marcaram, a meu ver, o declínio do futebol brasileiro. Mesmo conquistando mais dois outros títulos mundiais, a qualidade do nosso futebol foi caindo a olhos vistos. As transferências para a Europa e, depois, para o Japão e para o resto do mundo multiplicaram-se em velocidade exponencial. Hoje, o que vemos, são jovens com menos de quinze anos sendo recrutados pelo futebol europeu e lá aprendendo a jogar futebol como eles. Acabaram-se a improvisação, o jogo de cintura, a boa molecagem do futebol brasileiro...

Grande culpa desse declínio cabe a nós mesmos... acabando com os campos de futebol que existiam pelas cidades, com os terrenos onde animadas peladas eram jogadas, acabou-se também a improvisação, o gosto pelo futebol bem jogado... Nossos campinhos transformaram-se em prédios de cimento, e com eles nosso futebol foi afundando... Lembro-me bem que, só em Niterói, joguei nos campos do Niteroiense, Ypiranga, Fluminense, Vienense, Henrique Lage, Manufatora, Cruzeiro, Country, Caio Martins. Quantos deles existem atualmente? Hoje, as crianças começam a jogar futebol de salão (ou futsal), que nunca foi a mesma coisa que o futebol de campo... Quando vão para este, já estão viciados com o pouco espaço que o salão lhes proporcionou, obrigados a  passes curtos e rápidos, e são incapazes de levantar a cabeça,  procurar um companheiro desmarcado lá na frente e fazer um lançamento...  Não, bola pro lado, que “não quero ficar com a responsabilidade de tentar uma jogada de profundidade, uma jogada mais aguda, de tentar o drible... afinal, se perder a bola...”

Dá pena de ver a seleção brasileira em campo, atualmente... conheço apenas um ou outro jogador que esteve por algum tempo num clube brasileiro... a grande maioria é desconhecida ou só esteve aqui na base de nossos times... Não são maus jogadores, mas nem parecem brasileiros... vestem a camisa da seleção como vestem a camisa de seus clubes na Europa, sem amor, sem identidade com a mesma... alguns até se naturalizam europeus para poder jogar pelas seleções dos países de seus clubes... Os jogos do campeonato brasileiro também são duros de assistir... A comparação com o futebol europeu é inevitável e saímos perdedores, de longe, em qualidade técnica... Hoje, é muito mais agradável assistir um jogo dos campeonatos europeus pela TV do que outro do Brasileirão... Por isso, em nossas ruas já vemos algumas crianças (e até adultos) desfilando com camisas do Real Madrid, do Barcelona ou de uma seleção europeia...

           Vou falar apenas de dois exemplos mais recentes que conheço e que, por acaso, são do meu clube: o Túlio, pouco conhecido meio de campo do Botafogo na década passada, passou um tempo jogando fora do Brasil e, quando voltou, procurado por outros clubes, disse:

“-- Primeiro, quero ouvir a proposta do Botafogo, que é meu clube do coração”.

Acabou voltando para o clube, apesar de ter recebido uma proposta um pouco mais elevada de outra equipe.

O outro exemplo é Lucio Flavio, durante alguns anos meia armador do Botafogo, que, depois de ter parado de jogar, ao receber um convite do clube para trabalhar na Comissão Técnica, aceitou imediatamente.

Parabéns aos dois, amor à camisa não se demonstra apenas no momento da assinatura do contrato, quando o escudo do clube é invariavelmente beijado. Esse amor é muito mais importante quando o jogador deixa o clube, precisa dele, mesmo quando não mais joga futebol...Por isso, os dois atualmente, fazem parte da Comissão Técnica do Botafogo... Não foram jogadores excepcionais, apenas medianos, mas respeitam e têm carinho pelo time que defenderam...

O amor ao clube, coisa rara...

Os jogadores atuais trocam de camisa, como quem troca... de “camisa...”.

 

quarta-feira, novembro 25, 2020

COMPARAÇÕES INFELIZES...

 

COMPARAÇÕES INFELIZES...

 

Calfilho

 

 

Uma das coisas mais perigosas, quase infeliz, que se pode fazer no futebol, é querer comparar qualidade de jogadores tidos como craques em seus times ou seleções. Arriscamo-nos a cometer graves injustiças que nem nós mesmos conseguimos perceber.

Isso porque não se podem comparar coisas diferentes, apesar da aparente semelhança que possam ter. Quando se tenta fazer a comparação entre jogadores de um mesmo time ou de uma mesma seleção, temos que atentar, em primeiro lugar, se jogaram ou não na mesma época. Depois, se a posição dos dois era exatamente a mesma, ou seja, idêntica a função que exerciam em campo. E, em terceiro lugar, se os times em que jogaram tinham a mesma qualidade técnica, ou seja, se os jogadores que se quer comparar tinham ao seu lado outros atletas do mesmo nível de qualidade de futebol. Isso porque, não esqueçamos, trata-se de um esporte coletivo, nunca individual.

Mesmo que um jogador seja tecnicamente bem superior aos demais, vai ser o trabalho em conjunto, em equipe, que vai determinar o sucesso ou o fracasso do time. O “fora-de-série” pode até desequilibrar um jogo ou outro numa jogada genial e decidir uma partida. Mas, não fará isso sempre e, se seus companheiros de equipe não colaborarem com ele, sua genialidade vai ficar limitada a apenas alguns lances esporádicos. Agora, se alguns dos outros jogadores também tiverem uma técnica de razoável para boa, aí sua individualidade vai aparecer muito mais.

Já vi várias discussões sérias (algumas até transformaram amizades em inimizades) sobre quem seria melhor: Pelé ou Garrincha? Pelé ou Maradona? Maradona ou Messi? Zico ou Dida? Gerson ou Didi? Ademir da Guia ou Rivelino?

Pena que, de uns anos para cá, as comparações ficaram mais pobres... A não ser, talvez, Neymar, a nova safra de “craques” não empolga tanto... quando assistimos a atual seleção brasileira entrar em campo e vemos tantos jogadores desconhecidos, que estão fazendo suas carreiras na Europa, alguns tendo jogado apenas uma temporada aqui no Brasil (ou nem isso), não podemos realmente ficar animados...

O mal dessas comparações é que cada um de nós tem sua opinião e acredita piamente que ela é a correta, sem admitir contestações.

Deixem-me dar a minha.

Pelé ou Maradona? Para mim, Pelé. Primeiro, porque ganhou três Copas do Mundo, apesar de ter jogado pouco tempo na de 1962. Maradona só ganhou uma. Os dois foram “pontas de lança” (como preferem alguns), ou “meias avançados” (como preferem outros). Pelé sempre foi mais objetivo, jogava mais visando o gol, fez do Santos um dos maiores times do mundo no início da década de 60. Maradona, mais individualista, “cracaço” de bola, fez do Nápoli, time que nunca chegava ao título, campeão da Itália por duas vezes. O gol que fez contra a Inglaterra na Copa de 86, no México, foi um dos mais bonitos já vistos na história do futebol. Pelé teve ao seu lado Coutinho, Pepe, Mengalvio, Zito, Carlos Alberto. Maradona teve Alemão, Careca, Batistuta e tantos outros extraordinários jogadores argentinos.

Garrincha ou Pelé? Para mim, Garrincha. Pela genialidade, pelo improviso, por ter ganho duas Copas do Mundo, a de 1962 levando o time nas costas após a contusão de Pelé na segunda partida da fase eliminatória. Jogavam em posições diferentes, mas Garrincha, que foi o maior ponta-direita que vi jogar (perdoem-me Julinho Botelho e Stanley Mathews), além de infernizar defesas, na Copa de 62, fez gol de falta e até de cabeça. Pelé ganhou três Copas, mas era muito mais novo que Garrincha. Este último jogou ao lado de Didi, Quarentinha, Paulinho Valentim, Manga, além de Pelé, Zito, Pepe, Vavá, Dida... Garrincha, para mim, foi o maior gênio do futebol mundial, embora ache que ele nem se dava conta disso...

Maradona ou Messi? Maradona, na minha opinião. Também pela improvisação, pelo domínio de bola, pela genialidade. Messi, apesar de ser um “baita” jogador já tem outro estilo, já que foi ainda adolescente para a Europa e lá adaptou seu futebol ao estilo europeu, sendo mais objetivo, pragmático, apesar de às vezes também improvisar. Nunca deu sorte jogando pela seleção do seu país.

Zico ou Dida? Para mim, Dida (sei que vou ser xingado por esta opinião, inclusive por um familiar, flamenguista doente). Mas, acompanhei a carreira dos dois desde o início. Vi Dida estrear pelo Flamengo, juntamente com Babá, acho que no tricampeonato do rubro-negro de 1955. Sempre foi um jogador brilhante, artilheiro nato, decidindo jogos importantes para o seu time. Zico, mais recente, também excelente jogador, irmão mais novo de outros atacantes de sucesso (na minha opinião, Edu, o melhor deles) é mais idolatrado pela torcida do Flamengo por ter ficado mais conhecido e porque a mídia o promoveu muito. Edu, por ter jogado quase toda sua carreira no América, não teve tanta projeção, mas foi um senhor jogador.

Gerson ou Didi? Para mim, Didi. Conheci Gerson quando tinha doze anos de idade, ele, acho que dois anos mais velho do que eu. Treinávamos futebol de salão no Canto do Rio, em Niterói, ele já despontando como uma grande revelação do futebol da época. Em 1955, ele disputou os Jogos Infantis pelo clube (jogos patrocinados pelo então Jornal dos Sports) pelo time até quinze anos de idade, formando ala com Jardel, que depois jogou por vários clubes, inclusive Internacional e Fluminense). Deram um show de bola e ganharam facilmente o torneio. Eu, nem me atrevi a disputar pelo time de até 13 anos, onde teria poucas chances de ser titular (Carlos Pio jogava nesse time) e preferi participar do torneio de tênis de mesa, que também praticava no clube. Gérson teve carreira meteórica, passando para o juvenil do futebol de campo do Canto do Rio e depois transferindo-se para o Flamengo. Excelente visão de jogo, passe de primeira, sempre encontrando um jogador desmarcado. Jogou pelo meu Botafogo, pelo São Paulo e encerrou a carreira no Fluminense. Didi, quase dez anos mais velho, era o rei do meio de campo. O “Príncipe Etíope”, como o chamava Nelson Rodrigues. Jogou pelo Madureira, depois Fluminense, campeão carioca pelo Botafogo em 1957, bicampeão do mundo pela seleção brasileira em 1958 e 1962, foi tentar o sucesso no Real Madrid, não se adaptou, voltou ao Botafogo onde chegou a jogar algumas partidas ao lado do Gérson, no que foi chamado na época de “super meio de campo”. Ficou pouco tempo, foi ser técnico no Peru. Célebre ficou sua atitude num jogo da Copa do Mundo de 1958, quando, após o Brasil levar um gol, foi até o fundo das redes, pegou a bola, colocou-a debaixo do braço e, calmamente, em passos estudados, foi andando com ela até o meio do campo para dar nova saída. O Brasil virou o jogo e ganhou por 5 X 2. Grande craque.

Ademir da Guia ou Rivellino? Prefiro Ademir da Guia. Estilo clássico, muito tranquilo, domínio de bola extraordinário, para mim um dos grandes injustiçados na seleção brasileira. Jogou na mesma época de Gérson e Rivellino, que tinham muito mais cobertura da mídia (carioca e paulista), por isso era sempre preterido nas convocações da seleção. Filho do extraordinário Domingos da Guia, um dos maiores zagueiros do Brasil das décadas de 30 e 40, começou no Bangu e foi ainda muito novo para o Palmeiras, onde construiu sua carreira. Rivellino, cria do Corinthians Paulista, era adorado pela torcida do clube, ganhou o apelido de “Garoto do Parque”, também excelente meio de campo. Diferente de Ademir, temperamento explosivo, irritadiço, nunca conseguiu se firmar na seleção brasileira, até que, em 1970, Zagallo o colocou para jogar na ponta esquerda, como um ponta recuado, como ele próprio, Zagallo, jogara em seus tempos de Flamengo, Botafogo e seleção. Adaptou-se bem à função e foi um dos melhores jogadores da seleção campeã mundial de 1970. Já na seleção de 1974, titular absoluto do meio de campo, não alcançou o mesmo sucesso. Jogou no Fluminense e fez muito sucesso com a camisa tricolor.

Poderíamos tentar fazer outras comparações. Domingos da Guia ou Djalma Dias (este último, o melhor zagueiro que vi atuar; não vi Domingos).

 Leônidas da Silva, Heleno de Freitas ou Ademir Menezes? Não vi Leônidas; Heleno, só vi a última partida que jogou (meio tempo, pois foi expulso, em 1950, com a camisa do América, no Maracanã); Ademir, realmente, o melhor centro avante que vi jogar. Queria ter visto Heleno em seu auge, na década de 40.

Zizinho ou Didi? Para mim, Zizinho, que também vi jogar já em final de carreira, pela equipe do Bangu.

De tudo o que comentei, resumo: comparações são sempre difíceis, traiçoeiras, até mesmo infelizes. Tudo depende de preferências pessoais, clubísticas, época em que jogaram, estilo de jogo de cada um, qualidade dos companheiros de time...

Mas, como futebol é paixão, cada um se apaixona como acha melhor...