domingo, agosto 20, 2017

NOEL, O GÊNIO, MAIOR DE TODOS...

NOEL, O GÊNIO, MAIOR DE TODOS...

Calfilho





NOEL, O GÊNIO, MAIOR DE TODOS...


Calfilho


           Já ouvi alguém dizer que em futebol e música é perda de tempo discutir... cada um tem sua opinião, dela não abre mão e, por mais que discutam, que debatam, não vão chegar a nenhuma conclusão.. cada um continuará torcendo por seu time preferido e permanecerá fiel ao  estilo musical que elegeu como o seu predileto...
         Não vou entrar nessa discussão... No futebol, sou Botafogo, mesmo que xingue o time em suas más atuações  ou o elogie quando joga bem...
         Em matéria musical, permito-me fazer algumas observações...
         Nunca fui fanático por música, seja ela qual for... admiro, mas não me empolgo com a música clássica... conheço muito pouca coisa de Mozart, Chopin, Bethoven, Strauss ou outros gênios desse ramo musical...
           Quando criança, às vezes ouvia sem entender direito, meu pai cantarolar “O orvalho vem caindo, vem molhar o chapéu...”, ou minha mãe cantar uma música ou outra de sua cantora preferida, Carmem Miranda... Explica-se: ela, ainda solteira, fazia parte de um coro musical que acompanhava a cantora portuguesa e outros astros musicais da época (década de 30) nos famosos programas radiofônicos da Radio Nacional... Aliás, foi no intervalo de um desses programas que ela conheceu meu pai, que ali fora até por acaso...
         No início da década de 50 do século passado, passei a frequentar os cinemas de Niterói (Rink, Imperial, Odeon, Eden) e neles assisti alguns filmes brasileiros, as antigas “chanchadas”, sempre lançadas na época do Carnaval, onde eram cantadas várias marchinhas. Lembro-me bem de “Ai, ai, brotinho (Francisco Carlos),”Não quero broto, não quero, não quero, não” (acho que Jorge Goulart), “Sassaricando” (Virginia Lane), “Tomara que chova” (Emilinha Borba), além de alguns sambas que ficaram famosos, como “Lata d’água na cabeça” (Marlene), “Minha embaixada chegou”. Coloquei apenas o início da letra das composições, pois nem me lembro do nome real das mesmas.
           Comecei também a ouvir alguns programas de rádio e assistir outros na iniciante televisão brasileira, a TV-Tupi... Havia o Circo do Carequinha, o Clube do Guri... Nesse último, abrindo o programa, cantava uma jovem de pouco menos de 20 anos de idade... Marisa... Morena muito bonitinha, olhos verdes muito penetrantes, voz melodiosa e afinada... Foi uma das primeiras paixões do menino com dez anos de idade... Muito tempo depois, mais de trinta anos, conheci-a pessoalmente cantando numa cervejaria de Copacabana, a Bierklause.. Bem mais rechonchuda, os olhos já um pouco cansados, mas a voz clara e nítida como a ouvira cantar pela primeira vez... agora era  “Marisa, a gata mansa”... Conversamos um pouco entre duas de suas músicas e relembrei-lhe a música com que ela abria o programa na TV-Tupi:
“O que é, o que é?
“Adivinhe, meu amor,
“Trabalha, como um relógio,
“Não tem corda, nem motor
“Marca as horas de ventura
“Marca as horas de amargor
“Não há dinheiro que pague
“Nem se bota no penhor”...
          Ela olhou-me surpresa, olhar nostálgico, um pouco triste, como se lembrasse de um tempo que não mais poderia voltar.
          Comentou, com aquela voz de menina, quase infantil, que usava quando falava, bem diferente daquela outra possante e vigorosa que utilizava ao cantar:
          - Mas, como você lembra disso? Faz tanto tempo...
           A década de 50, no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, foi a época do samba canção, o auge de Dick Farney, Lucio Alves, Tito Madi, Maysa, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Nelson Gonçalves e tantos outros... Com a morte de Francisco Alves, em 1953, encerrava-se um estilo musical, o de cantores de voz possante, tipo tenor de ópera, o cantor de serenatas, como o próprio Chico Alves, Vicente Celestino, mesmo Carlos Galhardo, Gilberto Alves, Sílvio Caldas... Nessa década, a de 50, prevalecia a música “dor de cotovelo”, música de fossa, cantada baixinho, ao pé do ouvido, num canto de bar, junto a um piano...
         A juventude brasileira, nessa década, foi muito influenciada pela música americana da época, principalmente o novo ritmo, alucinante, que surgiu lá por 1953, com Bill Halley e seus cometas: o rockn’roll. Foi a década de Elvis Presley, Little Richards, Neil Sedaka. Mas, também ouvíamos muitas canções românticas americanas, cantadas por Frank Sinatra, Nat King Cole, The Platters...
         Confesso que nunca fiquei empolgado com nenhuma delas, nem as brasileiras, nem as americanas. Ouvia muito todas elas, até dançava várias, pois eram os discos que tínhamos na época e que tocavam em nossas festinhas, em nossos bailinhos em casas de colegas... Mas, também, acompanhando meu amigo Campista, fanático por escolas de samba, subi alguns morros de Niterói, para assistir uma sessão de partido alto, tocar frigideira ou tamborim... Os desfiles das escolas nos Carnavais do Rio e Niterói me atraíam muito... Assisti vários deles ao vivo da janela do meu apartamento na Amaral Peixoto, ou pela televisão...
          No final dessa década, início da de 60, surge a bossa nova.
           Veio com “Chega de saudade”, interpretada por João Gilberto e, como um furacão, o ritmo tomou conta do país. “Garota de Ipanema”, “Desafinado”, “Insensatez” eram tocadas nas rádios e na televisão, dia e noite. Em Copacabana, havia uma pequena travessa, que começa na Rua Duvivier e não tem saída para outra rua, depois chamada de “Beco das Garrafas”, onde pontificavam dois pequenos “inferninhos”, chamados “Bottles” e “Little Club”, onde cantavam e tocavam Sérgio Mendes, Tamba Trio, Nara Leão, Elis Regina, Wilson Simonal e tantos outros... Cheguei a conhecer os dois...
         Também não fiquei empolgado com o novo ritmo musical, apesar de inovador e muito bonito. Os ruidosos e espetaculosos “Festivais da Canção” realizados no Maracanãzinho, talvez tivessem atrapalhado um pouco o desenvolvimento da bossa nova. Com ela rivalizaram, lançando músicas totalmente desconhecidas, com letras difíceis de entender, com a melodia parecida mas não sendo a mesma do movimento original.
        Mas, a bossa nova firmou-se como gênero musical do Brasil, ganhando fama internacional, em especial com um álbum lançado nos Estados Unidos, cujo título é “Stan Getzz e João Gilberto”, onde os dois interpretam várias músicas do movimento, algumas delas cantadas pela então mulher de João, Astrud Gilberto.
       Também a apresentação conjunta de Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim, cantando “Garota de Ipanema” em dueto, no programa do americano na televisão, ajudou e muito a divulgar o novo ritmo musical.
x.x.x.x.x

          Na verdade, não me recordo a data exata em que fui apresentado a Noel Rosa. Apresentação musical, é claro, pois o compositor havia falecido ainda na década de 30, cinco anos antes do meu nascimento. Ouvira antes, quando tinha oito, nove anos, meu pai cantarolar “o orvalho vem caindo”, mas não tinha a mínima ideia de quem era o compositor da mesma. Talvez tenha ouvido também o “Com que roupa?” ter sido cantado em algum baile de Carnaval do Canto do Rio. Também desconhecia o autor.
          Já ouvira falar por alto em Aracy de Almeida, cantora que teria feito grande sucesso na década de 30 como intérprete de Noel, mas que passara praticamente em branco a década de 40 e que agora, no final dos anos 50, tentava fazer um show para relembrar a obra do compositor de Vila Isabel. Não vi esse show, não sei se fez ou não sucesso.
          Aracy, entretanto, começou a participar de um programa de televisão, aos domingos, onde era jurada. Dava sua opinião sobre os candidatos a cantor ou cantora, com muita irreverência e bom humor. Às vezes, instada pelo apresentador e dono da emissora, o ex-camelô Sílvio Santos, contava um caso pitoresco vivido na companhia de Noel e até cantava uma ou outra sua composição.
            Comecei a prestar atenção na letra e na música dessas composições. Perfeitas, melodia impecável, impregnada do samba de breque tocado nos morros cariocas, letras muito bem feitas, algumas irônicas e debochadas, outras sentimentais e plenas de carinho humano.
          Procurei aprofundar-me mais um pouco na obra noelina. Na década de 70 (sem ter certeza) assisti a um excelente programa na antiga TV-Educativa, dedicado inteiramente a Noel, onde o conjunto Coisas Nossas, fundado pelo cantor, violonista e compositor Carlos Didier, o Caola, apresenta vários artistas da época de Noel, contando casos vividos com o compositor e cantando algumas de suas melodias. Ali estiveram Aracy de Almeida e Marília Baptista, tidas como as duas principais intérpretes do compositor da Vila... dizem até que havia uma certa rivalidade entre elas, mas isso não ficou plenamente demonstrado... diziam que Noel até preferia Marília, que era mais instruída, mais elitizada... já Aracy seria quem realmente fazia sucesso com suas músicas, por sua forma espontânea, direta e falando a língua do povo ao se expressar... Esse programa foi sucesso absoluto e é um clássico para quem deseja conhecer a obra de Noel...
         Posteriormente, em 1990, o mesmo Caola e João Máximo, crítico musical, publicaram um livro contando a biografia de Noel. Livro imperdível, infelizmente esgotado e sem possibilidade de uma nova edição.
       Foi, então, que comecei a conhecer realmente o “Poeta da Vila”.
       Nascido em 11 de dezembro de 1910, parto difícil, teve que ser arrancado a fórceps do ventre de Dª. Marta, sua mãe, na casa da rua Teodoro da Silva, nº. 130 (hoje 192), em Vila Isabel. Dessa dificuldade do parto adveio-lhe a fratura do queixo e a deformidade que o perseguiu durante toda sua vida.
         Estudou no Colégio São Bento, ali nas imediações da Praça Mauá. Começou a cursar medicina, mas abandonou os estudos por sua paixão pela música e pela boemia carioca. Suas primeiras músicas foram “Minha Viola” e “Festa no Céu”, lançadas em 1929, quando ele fazia parte do Bando dos Tangarás, que também tinha como intérpretes João de Barro (o Braguinha), Almirante e Henrique de Britto. Mas seu primeiro grande sucesso foi “Com que roupa?”, lançada no Carnaval de 1930. Daí para a frente foi uma produção frenética de muitas músicas, algumas composições somente suas, outras em parceria com compositores da época, como Orestes Barbosa e, principalmente, Vadico...
           Famosa ficou sua polêmica musical com Wilson Batista, que rendeu bons sambas dos dois (claro, os de Noel são evidentemente melhores, apesar da qualidade daqueles de Wilson).
          Noel, numa época onde a gravação de discos engatinhava, onde não havia computador, conseguiu produzir mais de 300 músicas, a maioria escrita com lápis em pedaços de papel de botequim, para não esquecê-las depois. Foi muito mais letrista que musicista, apesar de que algumas de suas melodias são deslumbrantes.
         Conheci pessoalmente Roberto Martins, um ex-policial da antiga Polícia de Vigilância do Distrito Federal, a PV, também compositor de mão cheia (autor de “Renúncia”, “Cai, Cai”, entre outras) e que me contava passagens maravilhosas do seu convívio com Noel.
        Nunca esquecendo que Noel, mesmo sendo oriundo da classe média carioca, tinha especial prazer em subir os morros da cidade, tendo sido amigo íntimo de Cartola e Ismael Silva.
        Não vou relembrar as músicas de Noel: a grande maioria delas são excelentes, me emocionam e me fazem lembrar uma época que não volta mais... Mas, para quem se interessar, existe no comércio uma caixa com vários CDs de músicas dele, abrangendo praticamente toda sua obra...
      Mas, não posso deixar de mencionar: “Feitiço da Vila”, “Meu último desejo”, “Filosofia”, “O X do problema”, “Mulato bamba”, “Prazer em conhecê-lo”, “A dama do Cabaré”, “Pela décima vez”, “Espera mais um ano”, algumas entre as muitas que me vêm à cabeça nesse momento.
        Imaginem o que esse homem poderia ter feito se tivesse vivido mais dez, vinte anos. Morreu em 4 de maio de 1937, com 26 anos e deixou essa obra toda para nosso deleite...
    Gênio... Gênio... outro daqueles poucos que Deus coloca na Terra e joga a fórmula fora... O outro, no futebol, para mim, foi Garrincha...

Observação: Fiz algumas pequenas correções no texto original seguindo orientação do excelente Carlos Didier, o Caola, que me muito me auxiliou na leitura e exame deste texto.




segunda-feira, agosto 14, 2017

PASSEIO POR VAN GOGH...




PASSEIO POR VAN GOGH...

Calfilho






PASSEIO POR VAN GOGH...
Calfiho


          Não sou e nem pretendo ser um especialista em pintura...
           Mas, nas viagens que fiz à Europa, principalmente aquelas feitas depois de 1990, quando me aposentei, acabei visitando vários museus europeus, roteiro quase que obrigatório para todo turista que se preze...
      Vou citar apenas alguns deles, pois sei que acabarei esquecendo de mencionar um ou outro... a Europa é o continente mais repleto de museus, e de bons e museus...
       Começo pela Espanha... em Madrid, claro, visitei o Prado e o Sorella, famoso pintor espanhol, cuja residência foi transformada em interessante museu...
        Na Itália, o museu do Vaticano (onde estão magníficas pinturas de Michelangelo, principalmente a Capela Sistina); a Galeria Uffizi, em Florença, também espetacular; o Palácio dos Dodges, em Veneza...
        Na Inglaterra, a famosa Galeria Tate...
         Bem, na França, foram muitos... em Paris, o Louvre, claro; Orsay; L’Orangerie e vários outros do interior francês, como Giverny e Auvers.
          Como disse anteriormente, não sou “expert” em arte, mas comecei a me interessar pelas telas dos grandes pintores. Sem nenhuma preocupação de conhecê-las a fundo, de saber suas histórias ou a que escola pertenciam. Apenas admirá-las, tentar entender o que o artista tentou colocar na tela...
          Claro que as obras clássicas de Da Vinci, Michelangelo, Raphael, Tintoretto, Caravagio, Rubens, Rembrandt e vários outros nos impressionam profundamente. Maravilhosas...
       Mas, minha atenção foi logo atraída pelos impressionistas... a forma como viam as cenas e as colocavam nas telas... Não cheguei a me empolgar com as obras de Picasso, Dali ou mesmo o nosso Portinari...
       Conhecia pouco deles antes de 1990, quando me aposentei... uma leitura aqui, outra informação ali, apenas isto... em matéria de pintura minha ignorância conhecia apenas a Mona Lisa, de Da Vinci e pouca coisa mais...
       Mas, tinha visto um filme sobre Toulouse Lautrec (“Moulin Rouge”) e fiquei encantado com a qualidade das telas e do trabalho do pintor.
       Depois, passei a conhecer Manet (Edouard), talvez o precursor do movimento e, em seguida, Rénoir (JeanPaul), Monet (Claude), Degas, Cézane, Sisley e outros tantos... Até chegar em Van Gogh...
         A obra deles é realmente impressionante (não só impressionista). Telas maravilhosas, forma de expressão de cores e sentimentos realmente admiráveis... O museu d’Orsay, em Paris, talvez seja aquele que mais obras desses pintores tenha para exibir... Seu quinto andar, na realidade, é um mergulho na obra impressionista e ali se pode deliciar horas e até dias só admirando a qualidade do que é exibido...
        Sobre Van Gogh, cujas obras estavam entre aquelas exibidas no quinto andar até alguns anos atrás, foi criado um espaço especial, no segundo andar, do lado direito de quem entra no museu (essa minha informação é de três anos atrás, última vez em que visitei o Orsay). Ali estão algumas de suas principais telas...
        Por curiosidade e atraído pela força de suas telas, pesquisei mais sobre o pintor holandês. Peguei um trem em Paris, desci em Pontoise e dali peguei outro trem, que em 11 minutos me levou até Auvers-sur-Oise, pequena cidade situada numa das margens do rio Oise. No total, pouco mais de 50 minutos de viagem...
        Auvers é um vilarejo (“village”, em francês) com poucos habitantes, mas ruas bem calçadas e limpas e foi ali onde Van Gogh passou os últimos três meses de vida... Tendo se agravado seu estado de demência desde que cortou a orelha em Arles, no sul da França, após uma discussão com Gauguin, seu irmão, Paul, decidiu mandá-lo para Auvers, onde morava um médico famoso no tratamento de doenças mentais, o Dr. Gachet. Vincent (Van Gogh) ficou morando por alguns dias na casa do médico, que fez o diagnóstico inicial. Ali pintou uma de suas telas mais famosas, “a filha do Dr. Gachet”. Logo mudou-se para uma pequena pensão, que alugava quartos no sobrado e funcionava como restaurante no térreo: a casa Ravoux. Dali ele partia diariamente para os campos em volta, onde produziu algumas das suas mais bonitas obras, inclusive a igrejinha de Auvers...
           Irremediavelmente atacado pela doença que lhe corroía a mente, acabou indo pintar num campo e deu um tiro no abdômen... Seu irmão Paul veio de Paris e o levou para o quarto na pensão Ravoux... Ele agonizou por três dias e acabou morrendo.
         Um ano depois, seu irmão Paul também morria... os dois eram muito ligados e Paul, que era “marchand” de quadros vislumbrava a excelência dos trabalhos do irmão, compreendendo sua doença e dele cuidando até sua morte...
              Os dois estão enterrados no pequeno cemitério de Auvers, um ao lado do outro...
             Mas, Auvers, além de Van Gogh, tem um excelente museu dedicado aos impressionistas, localizado num castelo no centro da cidade e onde se pode percorrer grande parte da obra desses excelentes pintores.
               Auvers também tem um museu do absinto, o chamado “fogo verde”, que era a bebida preferida dos intelectuais, pintores e escultores da época...
            Vale muito a pena a visita...
           Mas, vi mais de Van Gogh no museu que tem seu nome na cidade de Amsterdam, na Holanda... Excelente museu, extraordinárias obras do pintor...
          Outra cidade francesa, esta já no sul, que visitei e onde Van Gogh morou por algum tempo é Saint Remy-en-Provence, onde existe um pequeno museu que registra sua passagem pela cidade.
Soube que em Arles, também no sul da França, é outra cidade onde ele residiu. Contam que foi ali que ele decepou a orelha... Não conheço essa cidade...
Já li que em Nova York, no Metropolitan Museum existe uma grande coleção de suas obras... Como nunca fui aos Estados Unidos, não sei informar...
Vi vários filmes sobre a vida de Van Gogh. O mais importante talvez seja aquele em que Kirk Douglas faz seu papel e Anthony Quinn interpreta Gauguin...
      Tenho fotografias de muitos desses lugares, principalmente aquelas de Auvers-sur-Oise.
      Como sou preguiçoso, deixo de exibi-las aqui, mas são facilmente encontradas também na internet...

O AMOR À CAMISA.





O AMOR Á CAMISA...

Calfilho









O AMOR À CAMISA...
Calfilho


           Após todos esses anos que acompanho o futebol, quase mais nada me surpreende...
           Peguei uma época em que o futebol brasileiro acabava de perder uma Copa do Mundo, a de 1950 e, dali para frente, vi de perto toda a evolução (será?) do nosso esporte favorito...
          Deixamos o amadorismo de lado no começo dos anos 30 e, mesmo em 1950, o futebol profissional ainda engatinhava... Talvez, a década de 40 tenha sido a transição maior entre as duas categorias, quando craques como Leônidas da Silva deixou o Flamengo para jogar no São Paulo e Ademir Menezes tenha saído do Vasco para ser campeão no Fluminense porque o técnico tricolor (Gentil Cardoso) teria dito: “deem-me o Ademir que serei campeão carioca”... e foi... o campeão carioca de 1946... (só sei disso por leituras e pesquisas, tinha apenas 4 anos de idade)...
         Mas, nessa transição entre o amadorismo e o profissionalismo, ainda na década de 40, talvez um dos maiores exemplos seja o de Heleno de Freitas...
         Só o vi jogar meio tempo de uma partida, a sua última, vestindo a camisa do América, em 1950, no Maracanã, que deveria ter sido o palco destinado a exibir seu belo futebol... Foi expulso, quase no final do primeiro tempo e nunca mais jogou futebol profissionalmente (ou amadoristicamente?)...
         Li muito sobre ele e sua história no Botafogo e no futebol brasileiro...        Maior ídolo do clube na década de 40, talvez tenha encarnado a mais autêntica expressão do amadorismo na defesa das cores do time que defendia... Era botafoguense até a última raiz de cabelo... Mas, como o profissionalismo já avançava no nosso futebol, depois de quase 10 anos defendendo o clube, acabou sendo transferido para o Boca Juniors, da Argentina, numa transação milionária para a época... Rodou por outros clubes da América do Sul, jogou ainda no Vasco e terminou a carreira, de forma melancólica no América... Mas, seu coração sempre foi alvinegro...
         Outro exemplo dessa fase de transição foi Zizinho, um dos maiores craques que o Brasil produziu. Jogou a década de 40 pelo Flamengo, onde se consagrou como ídolo, foi uma das estrelas da seleção brasileira de 1950, e depois transferiu-se para o Bangu, atraído por uma proposta milionária do patrono do clube, Guilherme da Silveira, dono da fábrica de tecidos instalada no bairro.
          Podemos citar ainda Barbosa (Vasco), Ademir (Vasco, com passagem de apenas um ano pelo Fluminense), Osny, Oswaldinho, Ranulfo (América), Castilho, Pinheiro e Telê (Fluminense), Nilton Santos, Octavio, Garrincha, Quarentinha, Manga (Botafogo), Jadir, Dequinha, Jordan, Pavão (Flamengo), até Jairinho e Zequinha (do meu Canto do Rio), jogadores que ficaram dez anos ou mais no mesmo clube, alguns defendendo apenas um deles (como Nilton Santos e alguns poucos outros). Foram jogadores bastante identificados com seus clubes, que realmente tinham amor à camisa que defendiam, mesmo que, em fim de carreira tenham trocado de equipe por questões financeiras.
         O profissionalismo no futebol brasileiro só realmente ficou consolidado no meio da década de 50 do século passado. A extraordinária qualidade do jogador brasileiro, já notada pelos europeus desde a década de 30, principalmente na Copa do Mundo de 1938, foi definitivamente reconhecida nas décadas seguintes. Depois do precursor Yeso Amalfi ter ido jogar na França, no início dos anos 50, alguns poucos outros seguiram seu caminho. Do Botafogo, saíram Dino da Costa e Vinicius, creio que em 1955, para times italianos. Para a Fiorentina, foi vendido o extraordinário Julio Botelho, o Julinho da Portuguesa e Palmeiras, ponta-direita da seleção brasileira de 1954, e que só não jogou a de 1958 porque, eticamente, abriu mão da convocação por estar jogando no exterior (ainda bem, porque se jogasse, talvez o mundo não conhecesse o gênio de Garrincha).
          Mas, a exportação de nossos jogadores ainda era tímida, quase não existia. Um ou outro se arriscava à aventura no exterior. Outros preferiam ficar por aqui, com receio da barreira da língua, dos costumes e, principalmente, da comida de outros países.
          O jogador de futebol no Brasil é, na grande maioria, proveniente das classes mais humildes da população. Têm pouca instrução, talvez grande parte deles não tenha completado o curso primário. Por isso, sentem receio de partir para terras estranhas, até mesmo para cidades maiores do próprio Brasil.
          Mas, a partir dos anos 60, foi aumentando a exportação de jogadores para o exterior, principalmente para Itália, Espanha e Portugal, onde os salários eram maiores e normalmente pagos em dia, sem atrasos.
         Assim se foram Amarildo (para a Itália), Didi (para o Real Madrid), Jair da Costa (para a Itália), Dino Sani e Orlando Peçanha (para o Boca Juniors), Paulinho Valentim (também para o Boca), Canário (do América para o Real Madrid), entre vários outros.
        Muitos dos nossos grandes craques ainda resistiam em sair, outros, atraídos pelas verdadeiras fortunas que lhes eram oferecidas, partiram.
         E o amor à camisa do clube que o formou ou que o projetou foi-se diluindo aos poucos. Já não tínhamos mais jogadores com 10 anos de clube, como há pouco tempo atrás. Com 5 ou 6 anos de permanência numa equipe, aceitavam logo uma transferência que lhes proporcionasse um melhor salário e a construção de um futuro mais próspero para si e sua família
          Veio, então, a lei Pelé. Acabando praticamente com o passe, que era a quantia paga por um clube a outro quando um jogador se transferia, abriu as portas para a proliferação da figura do empresário em nosso futebol.
           É certo que esse personagem já existia na década de 50, talvez até na de 40, não tenho certeza. Eram famosos o português José da Gama e o argentino Juan Figger. Mas, eram eles apenas meros intermediários entre transações de venda de jogadores de um clube para outro. Conseguiam o interessado e, efetuada a transação, recebiam uma pequena comissão por isso.
       Mas, depois da Lei Pelé, o sistema de transações de atletas entre os clubes deteriorou-se por completo. Os empresários tomaram conta do mercado e, em vez de serem apenas intermediários das transações, passaram a ser os “donos” da carreira dos jogadores.
       E aí, o amor à camisa, o último resquício de amadorismo que ainda pudesse existir em nosso futebol, desapareceu por completo.
        O menino, ainda com 12 ou 13 anos de idade, começando num clube qualquer do Brasil, se tem realmente talento, é logo cobiçado por algum empresário, que procura sua família (geralmente pobre e passando necessidades), oferecem-lhe algum dinheiro, fazem com que assinem um contrato praticamente “vendendo” o futuro da jovem promessa ao espertalhão negociante. Acabou-se com o passe, que era realmente um meio de semi-escravidão do atleta ao clube que detinha seus direitos, mas apenas transferiu a propriedade sobre esses mesmos direitos ao esperto empresário.
         Por isso, jovens com menos de 18 anos são colocados em clubes de pouca ou nenhuma projeção na Europa e lá são ensinados como joga o europeu, sem a criatividade e o improviso do jogador brasileiro, suas marcas e características principais e que o fizeram famoso no mundo inteiro.
          Daí porque sobreveio o fracasso da seleção brasileira nas últimas competições internacionais. Nossa equipe é formada, praticamente na totalidade, por jogadores que praticam o futebol que lhes foi ensinado a jogar na Europa e onde têm o seu dia a dia, as suas competições nos clubes que defendem. Acredito até que, muitos deles, nem mais tenham amor pela camisa da seleção brasileira (não adianta lançarem arroubos de patriotismo), muito menos em relação aos clubes onde foram formados.
          Poucos, do final dos anos 60 em diante, mantiveram o amor à camisa do clube que os formou. Talvez Zico e Junior (Flamengo), seu irmão Edu (América), Afonsinho e Jairzinho ( Botafogo), Pelé, Zito e Pepe (Santos) que, mesmo tendo alguns passado por outros clubes, mantiveram-se fiéis, pelo menos no coração, aos clubes que lhes abriu as portas para o sucesso.
         A grande maioria troca de camisa de clube como troca de roupa todo dia. Sem amor, sem emoção... só visam o proveito que a curta carreira de jogador lhes oferece...
        Pior é que, talvez inconsciente ou, que sabe, até cinicamente, beijam com fervor o escudo do novo clube no momento de sua apresentação à nova torcida...

domingo, agosto 06, 2017

O VÔLEI NO BRASIL... Calfilho



O VÔLEI NO BRASIL

Calfilho






O VÔLEI NO BRASIL...
Calfilho


          O tempo passa, os anos se sucedem, algumas coisas no Brasil se modificam com esse rápido passar dos dias, meses e anos...

          Lembro-me bem dos anos 50, quando o voleibol brasileiro ainda era incipiente, dava seus primeiros passos...

         Tínhamos o futebol como nosso esporte preferido e que, mesmo com as decepções de 1950 e 1954, deu-nos o ambicionado Campeonato Mundial de 1958...

         Outro nosso grande orgulho era o basquetebol masculino, time de craques, ganhador de vários torneios e campeonatos, equipe de Algodão, Vlamir, Amaury, Rosa Branca, e tantos outros gênios do basquetebol brasileiro, que nos encheram de orgulho com a conquista de Campeonatos mundiais (não me lembro se chegaram a ganhar as Olimpíadas - pois não quero recorrer ao Google - estou sendo apenas fiel á minha memória).

          Depois, outra geração fabulosa do nosso basquete, com Oscar Schmidt, Marcel, Gérson, Carioquinha e tantos outros que honraram e levaram nosso time ao cume da glória nacional e internacional. A vitória em Indianápolis, contra os Estados Unidos, a maior potência mundial do basquete, foi épica e memorável...

          No basquete feminino, ainda na década de 50, tínhamos uma geração vitoriosa, de Marlene, Marly, Neucy (botafoguense), Daise Miguel (cantorriense e botafoguense), que, se não foram campeãs mundiais, muito bem representaram o basquetebol brasileiro.

         Lembro-me muito bem que, ainda adolescente, assisti algumas partidas do Campeonato Mundial de Basquete Feminino, que teve o Ginásio do Caio Martins como uma das sedes. E, ali, tivemos o prazer de assistir uma das mulheres mais bonitas do mundo praticar o esporte: Ludmila Lundakóva, estrela da equipe da antiga Tcheco-Eslováquia.

         Nosso basquete feminino só foi evoluir anos depois, com a geração de Paula e Hortência. Depois, caiu, inexplicavelmente.

         Em outros esportes, tivemos Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico no salto triplo. No tênis, nossa grande estrela, Maria Esther Bueno, campeã de Wimbledon e outros grandes torneios mundiais. Deixo Gustavo Kuerten para depois, ele, que foi um verdadeiro astro do esporte.

          Entretanto, o vôlei brasileiro ainda engatinhava. Entre os homens tivemos a geração de Bené e Borboleta, sem nenhum outro nome de realce. Entre as mulheres, praticamente nenhuma de grande importância no cenário mundial.

            Depois, vieram a geração de prata masculina nas Olimpíadas de Los Angeles, mais tarde as grandes seleções do vôlei dos homens, começando com a de 1992, com a conquista do título em Barcelona. As vitórias se sucederam.

          Quanto às mulheres, elas que eram freguesas das seleções peruana e cubana, nos anos 70, se suplantaram e, sob a direção serena e firme do José Roberto Guimarães, passaram a conquistar títulos mundiais e Olimpíadas. Mudando jogadoras, renovando as equipes. Que delícia ter visto Ana Mozer, Sheila, Fabi, Fofão e tantas outras jogarem e nos deslumbrarem e hoje, vermos Natália, Roberta, Rosamaria, Tandara e outras tantas voltarem a ser campeães do mundo.

         Parabéns, meninas, o Brasil se orgulha de vocês...

terça-feira, agosto 01, 2017

OS TREINADORES...

OS TREINADORES...

Calfilho




        Acompanho futebol desde meus oito anos de idade, quando ouvi pelo rádio o Brasil perder a Copa do Mundo de 1950, em pleno Maracanã. Essa derrota marcou muito minha infância e, sobretudo, toda a população brasileira. Éramos favoritos absolutos, vínhamos de impor duas homéricas goleadas contra Suécia e Espanha, o empate contra a modesta seleção uruguaia nos daria o ambicionado título mundial. Além do mais tínhamos uma linha atacante endiabrada: Friaça, Zizinho, Ademir, Maneca e Chico. 
       Foi nesse fatídico ano de 1950 que conheci a figura do treinador (ou técnico) de futebol. Aquele, o da derrota vergonhosa, Flavio Costa, também conhecido por "Alicate". Mesmo após o vexame não perdeu a pose, a arrogância, como se fosse verdadeira sumidade a deitar cátedra sobre nós, pobres e ignorantes mortais, que não sabiam nada de futebol. Mesmo após o desastre, continuou técnico do Vasco da Gama (também do Flamengo) e sendo respeitado por toda a crônica esportiva da época...
       Depois, a outra grande figura do futebol brasileiro, na condição de treinador, foi Zezé Moreira. Vendia a imagem de ser um grande estudioso do esporte, sabia tudo de táticas, dizia ser fã da marcação por zona, que seria uma inovação no futebol brasileiro, e que revolucionaria tudo que sabíamos até então sobre o popular esporte bretão. Seu time preferido foi o Fluminense, apesar de também ter treinado o Botafogo. Suas equipes jogavam na retranca, baseados num forte esquema defensivo e, quando tinham oportunidade, ganhavam um joguinho aqui, outro ali, por apenas 1 X 0. Por isso, aliás, o Fluminense ficou conhecido na década de 50 como sendo o "timinho"... Foi escolhido para ser o treinador da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo seguinte, a de 1954, na Suiça...                 Outra decepção, derrota humilhante para a fabulosa Hungria de Puskas, Kocsis, Grocsis por 4 X 2, com direito a pancadaria em campo, iniciada pelos inconformados brasileiros com o resultado da partida. Até mesmo Zezé Moreira, nosso treinador, deu umas botinadas com uma chuteira nas mãos na cabeça de um jogador húngaro... Zezé, entretanto, ao voltar ao Brasil, continuou reverenciado como treinador de primeira linha...
       Ainda nessa época outros nomes pontificaram como treinadores. No Rio, o paraguaio Fleitas Solich, que conquistou um tricampeonato com o Flamengo (1953/1954/1955), Martim Francisco, que comandava o América, o folclórico Gentil Cardoso, que passou por Botafogo e Vasco, além de outros, uns mais, alguns menos badalados, como Tim, Yustrich, Gradim, Geninho, Filpo Nuñes... Em São Paulo, tivemos Oswaldo Brandão (Corinthians e Palmeiras), Lula (Santos), Aymoré Moreira (Palmeiras), o húngaro Bela Gutman (São Paulo)... Menos arrogantes que os dois anteriormente citados, mas não deixando de perder a pose, como se só eles fossem os responsáveis pelas vitórias de seus times...
         Nessa década de 50 talvez o único treinador (que, na realidade era jornalista), que não exibiu soberba, que falava a linguagem simples do jogador e que levou o Botafogo ao memorável título de 1957, foi João Saldanha. Vejam bem: não estava habituado a atuar dentro das quatro linhas (apesar de ter sido um jogador modesto na juventude), mas não precisava inventar táticas mirabolantes, nem se achar o dono da verdade para conseguir o que conseguiu. Pegou um time de cobras, que não conseguia obter sucesso com técnicos anteriores e, simplesmente, deixou-os à vontade para fazerem o que sabiam: jogar futebol. Aquela geração de Nilton Santos, Pampolini, Didi, Garrincha, Paulinho Valentim e Zagallo, talvez tenha formado um dos times mais importantes e gostoso de se ver jogar da história do futebol brasileiro.
      E aí, no glorioso ano de 1958, a redenção: já descrentes da qualidade de nossos treinadores/figurões, a antiga CBF, mais descrente ainda na possibilidade de êxito na seleção que formou para disputar a Copa do Mundo na Suécia, entregou a direção da equipe a um quase desconhecido, mero auxiliar técnico do São Paulo Futebol Clube. Como se lavasse as mãos e dissesse: "Vai, Feola, não tens nada a perder. O fracasso da seleção já é esperado, conforme-se com sua insignificância".
     E o Brasil, desacreditado, quase esquecido pela opinião pública esportiva do país, com um treinador que deixou o time à vontade (até porque não devia entender muito de táticas e esquemas), revelou ao mundo a beleza do futebol de um Garrincha, de um Didi, de um Zito, de um Nilton Santos, de um Vavá, até mesmo do limitado Zagallo. E, conseguiu, finalmente, conquistar o tão ambicionado campeonato mundial de futebol... Conquista que já almejávamos desde 1934, que quase se torna realidade em 1950 e cujo fracasso o arrogante Flavio Costa teimou em negar...
      Veio a década de 60, surgiram alguns novos nomes como Jorge Vieira (campeão carioca pelo América em 1960), Paulo Amaral (que, de preparador físico da seleção de vitoriosa de 1958 e 1962, tentou a carreira como técnico de futebol, fazendo sucesso no seu Botafogo). No final dos anos 60, vários dos ex-jogadores que tinham sido bicampeões mundiais na Suécia e no Chile, já paravam de jogar. A idade e o passar do tempo são implacáveis... Alguns deles tentavam começar a carreira de treinador: Zagallo, Dino Sani, Pepe, entre outros...
     Saldanha, que, depois do título carioca de 1957, voltou à sua profissão de jornalista, é novamente chamado, depois do retumbante fracasso do seleção brasileira na Copa do Mundo na Inglaterra. Volta como salvador da Pátria, pois a equipe nacional voltou em frangalhos depois da derrocada em terras inglesas em 1966...
       Agora, não é mais o Botafogo que ele tem que salvar: é a própria seleção brasileira.
        Sem frescuras, sem filigranas táticas, sem mistérios, escala logo a sua seleção titular, suas "onze feras"... E o time ressurge, passa com facilidade pelas eliminatórias, carimba o passaporte para a Copa de 1970, no México.
         Saldanha fica incomodado com a intromissão dos militares que detinham o poder no Brasil, em especial do Presidente da República que cisma em querer impor o Dario, do Atlético Mineiro, na seleção brasileira. Atrita-se com os subservientes dirigentes da CBF, é colocado para fora da seleção.
           Assume o então treinador do Botafogo, que no final dos anos 60 reformulou sua equipe e voltou a repetir o sucesso que tinha feito no início da mesma década. Zagallo, guindado à função de técnico do juvenil do Botafogo, onde encerrara a carreira de jogador, logo assumiu a direção da equipe principal. O sucesso do time botafoguense foi tão grande, que, na saída de Saldanha, os cartolas da CBF, desorientados, sem saber como agir, decidiram chamar Zagallo, então o treinador da melhor equipe do Brasil no momento.
         Este, até por respeito a Saldanha, de quem tinha sido jogador e campeão em 1957, pouco mexeu no time, colocou para jogar as melhores "feras" que tinha à sua disposição e o time foi tricampeão mundial.
        Já em 1974, repetindo Zagallo no comando da equipe nacional este botou as manguinhas de fora, quis colocar o time para jogar segundo suas ideias retranqueiras e, ... outro fracasso... time eliminado pela excelente equipe da Holanda.
         Aí, começou a era dos "professores"... maldita era...
    O primeiro deles, Claudio Coutinho, militar colocado na comissão técnica da seleção de 1970 pelo governo ditatorial da época, começou a inventar. Teve um sucesso efêmero como treinador do Flamengo e logo foi designado para o cargo de treinador da seleção brasileira. Inventou o tal do "ponto futuro" que só ele sabia o que significava.
      Novo fracasso na Copa de 1978, quando o "professor" Coutinho declarou o Brasil como "campeão moral"...
      Depois, outro militar, também remanescente da comissão de 70, Carlos Alberto Parreira. Teórico, sem jogo de cintura, quis impor um estilo de jogo ao futebol brasileiro que também só ele sabia o que significava.
        E os "professores" proliferaram... 
      Telê, o mais arejado deles, jogador apenas regular quando atuou pelo Fluminense, pelo menos era ousado (o que não foi quando jogador), gostava do futebol bonito. Não sei se deu a liberdade que os jogadores queriam para desenvolver suas qualidades em campo, mas, pelo menos, conseguiu reunir um excelente grupo em 1982, que realmente merecia ter conquistado o título máximo. Mas, ficamos no meio do caminho... 

     Telê, novamente escolhido para treinador da seleção em 1986, deu adeus ao seu sonho de fazer o Brasil jogar bonito. Num penalty perdido por Zico no jogo contra a França, na Copa do México, foram-se as esperanças do treinador e do país.
    Achando que o Brasil não podia jogar bonito, jogar solto, surgiram outros "professores" que passaram a imitar o futebol europeu, retrancado, sem criatividade, sem improvisação, sem gênios... O importante era defender, ganhar quando fosse possível, pelo placar mínimo excelente, empatar ótimo, o que valia era o resultado... 
       Aí, os "professores" tomaram conta do nosso futebol. Em 1990, com a seleção comandada pelo arrivista Lazaroni (meu Deus do céu!!!), vexame... seleção retrancada, com medo de jogar, defendendo, defendendo, até cair ante a genialidade de Maradona e companheiros...
     Ressurge Parreira e, tendo Zagallo ao seu lado, mais uma seleção retrancada. Final "emocionante" contra a Itália, em 1994. Retranca contra retranca. Numa incrível decisão de Copa do Mundo nas penalidades máximas, o Brasil é tetracampeão do mundo.
       Claro que a qualidade técnica do jogador brasileiro caiu muito nas últimas décadas. Depois da famigerada Lei Pelé, o destino das jovens promessas do nosso futebol caiu nas mãos de empresários, ávidos por lucros imediatos, pouco ou nenhum valor dando ao futuro do nosso futebol. Jogadores com 16, 17 anos, vão para a Europa aprender o feio futebol europeu e lá é que são formados. Para lá foram Romário, Ronaldo, Ronaldinho, três dos maiores craques mundiais que não tiveram tempo de exibir e aprimorar o dom que Deus lhes deu nos campos brasileiros. O dinheiro falou mais alto, foram aprender futebol na Europa. E, assim todas as gerações que se seguiram.
       E tome "professor"... Vanderlei Luxemburgo, Felipão, Mano Menezes, Murici, Nelsinho, Abel, Leão... Dunga (não mereço isto)... Todos ex-jogadores de futebol, que não passaram da mediocridade, sem nenhum estudo maior, sem nenhuma preparação prévia, são colocados à frente de equipes da primeira linha do futebol brasileiro e logo são tachados de "professores" por seus obedientes alunos. 
      E, a coisa vira rotina... para se manterem nos empregos, os "professores" armam rígidos sistemas defensivos, nos quais surgem os "brucutus", uma infinidade de volantes, muitos marcadores que não sabem o que fazer quando têm a bola em seus pés...
       Um ou outro deles consegue um sucesso eventual em algum clube brasileiro. Acham-se os poderosos, os sábios do futebol, aqueles a quem nada ou ninguém pode contrariar. Ficam irritados quando são contestados, são mal educados, mal humorados... Aqui, no Brasil, consideram-se os reis do pedaço. Quando algum deles tenta treinar um clube da Europa, caem do cavalo, o fracasso é total. Veja-se o exemplo do Luxemburgo no Real Madrid ou do Felipão no Chelsea. Talvez na Arábia ou na Ásia tenham algum sucesso...
      Quando são contratados por algum clube em desespero, sob ameaça de rebaixamento, às vezes conseguem alguns resultados positivos e o ego logo se infla.
        Não sei se repararam, mas a maioria deles se julga perseguido pelas arbitragens, como se os maus árbitros não prejudicassem os times que dirigem, mas sim a eles, os treinadores. Hoje, o "professor" está no time A e quando perde uma partida, o juiz prejudicou seu time. Quando são contratados pelo time B, outro juiz prejudicou o novo time, quando o resultado é adverso. E, isso, nos times C, D, E, F, G, H... Onde aquele treinador está, o time por ele dirigido sempre é o prejudicado.
         Mas, não perdem a empáfia, a arrogância, a soberba.
        Faço uma ressalva aqui para os nomes de Cuca, Tite e Marcelo Oliveira, que me parecem controlados, serenos, estudiosos e responsáveis. Talvez até bem mais humildes que seus colegas.
          Enfim, a vaidade é própria do ser humano..
       Quem sofreu com essa proliferação de "professores" foi o pobre futebol brasileiro, que já foi o melhor do mundo durante décadas e hoje perde de 7 X 1, em sua casa, para uma seleção europeia, nem tão boa assim como a Hungria de 1954 ou a Holanda de 1974.