CHAPECOENSE, A TRAGÉDIA...
Calfilho
Hesitei um pouco, antes de escrever esta matéria.
Tinha um certo receio de que não fosse bem compreendido, que alguns entendessem mal o que pretendo dizer.
Mas, como já passei da idade de ficar preocupado com a opinião alheia, aqui vai.
O último mês de novembro foi repleto de notícias de falecimento. Carlos Alberto Torres, Fidel Castro e, para completar, a queda do avião que levava a delegação da Chapecoense, equipe do interior catarinense, que iria disputar a partida de ida, na cidade de Medelin, Colômbia, pela final da Copa Sul Americana.
Todos os três fatos comoveram bastante o Brasil e o mundo.
Carlos Alberto Torres, o capitão da seleção brasileira tricampeã do mundo em 1970, para muitos considerada a melhor seleção de todos os tempos (discordo, prefiro a brasileira de 1958), era um ídolo do futebol brasileiro e mundial. Depois de pendurar as chuteiras, foi treinador de vários clubes, inclusive do meu Botafogo, levando-o a conquistar uma Copa Comebol, antiga versão da Libertadores (ou Sul Americana). Ultimamente, era comentarista do Sport-TV, emissora pertencente à Rede Globo de Televisão, assinatura paga. Morreu subitamente, atingido por um fulminante ataque cardíaco, aos 72 anos. Houve comoção, noticiário no dia do falecimento e nos subsequentes, mas apenas isso.
Fidel Castro, o revolucionário cubano, adorado por uns, odiado por outros tantos, encontrou a morte após estar praticamente afastado do poder da ilha caribenha, já com idade avançada e sem condições de saúde para estar à frente do seu país. Houve também uma certa comoção mundial e, talvez somente por parte do povo cubano houve realmente um sentimento maior de dor pela perda do estadista, que foi cremado e suas cinzas enterradas em sua terra natal. Nada mais que isso, lutos normais, cuja dor foi mais sentida pelos parentes, amigos próximos ou por um país onde nascera ou vivera o falecido.
Aí veio a tragédia da Chapecoense. Realmente acontecimento estúpido, brutal, inesperado, ceifando a vida de jovens que sonhavam ter uma carreira como jogador de futebol, bem como tirando de nosso convívio um promissor técnico, alguns jornalistas conhecidos nos meios esportivos, além do próprio presidente do clube. Não cabe aqui discutir de quem foi a culpa pela queda do avião, se do piloto e dono da pequena companhia de aviação, se dos controladores de terra da Bolívia ou da Colômbia, se a falta de combustível ou se foi mesmo um acidente aéreo, onde não há culpados a procurar.
O que me espantou foi o fato de que a tragédia praticamente parou o país, como se nada mais existisse, como se a Terra tivesse parado de girar, como se os que continuam por aqui não mais respirassem, não mais tivessem os problemas do dia a dia, como se o nosso Senado Federal parasse de trabalhar (o que, na realidade, não ocorreu, pois aproveitaram a ocasião da tragédia para tentar enfiar goela abaixo do povo um projeto de lei que praticamente acabava com a Operação Lava Jato).
Não se fez mais nada, parecia que todos nós vivíamos uma situação de luto coletivo, que durou mais de uma semana, como se todos nós, povo brasileiro e dos outros países do mundo tivessem que compartilhar a dor dos familiares dos mortos na tragédia.
Claro que a queda do avião e a morte de quase todos os passageiros chocou todos nós, brasileiros e habitantes de outros países.
Mas, nunca vi um estado de prostração tão longo, tão demorado, ocupando praticamente durante todos os dias o noticiário de nossas emissoras de televisão, em especial a das Organizações Globo. Nessa, um dos locutores que se considera o dono da verdade, que no seu egocentrismo acha que só ele sabe das coisas, assumiu o controle das reportagens logo após o fato trágico e, com cara de velório, transmitia as notícias que vinham ainda frescas da Colômbia, bem como (mudando a fisionomia)... comunicava que havia sobreviventes. E, no dia da chegada dos corpos dos mortos a Chapecó, conseguiu ficar mais de quatro horas com o microfone na mão, tentando passar aos telespectadores a emoção do velório, mudando outra vez a expressão fisionômica, narrando a aterrissagem do avião com os corpos, o trajeto no caminhão do Corpo de Bombeiros do aeroporto até o campo da Chapecoense, quem chorava e quem não chorava, autoridades presentes, civis, militares e esportivas...
Realmente, o que me causou espanto, repito, foi o clima de comoção que se formou em torno do episódio. Parecia que os jogadores da Chapecoense eram personalidades mundiais, que a morte deles acabaria com o futebol em nosso país e no mundo.
Todos nós já devemos ter perdido pais, irmãos, parentes, amigos, alguns até filhos, o que é mais doloroso. Passamos pela nossa dor, procuramos nos recuperar emocionalmente, para tentar prosseguir na caminhada de nossas vidas da melhor forma que pudermos. A dor da morte de um ente querido deve ser compartilhada pela família e amigos próximos, pois são eles que realmente conviveram com o falecido no dia a dia, no cotidiano de suas vidas. Só quem passou por essa experiência é que sabe como a dor é profunda, como nos abate, como nos penetra fundo na alma. Por isso e por outras, para aqueles que são católicos, já manifestei minha opinião de ser contra a missa de sétimo ou trigésimo dia. Elas só servem para reabrir uma ferida que começava a cicatrizar, reavivar a dor da notícia do falecimento do parente ou amigo.
Quantas tragédias ocorreram recentemente, de igual ou maior dimensão do que a queda do avião da Chapecoense? O incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que tirou a vida de quantos jovens universitários? A queda do avião da Air France, alguns anos atrás, em pleno Oceano Atlântico, que matou mais de duzentos passageiros, entre eles muitos brasileiros? O desabamento de Mariana, em Minas Gerais, que destruiu praticamente uma cidade inteira? A guerra civil na Síria, que mata diariamente centenas de pessoas, inclusive crianças?
Não vi tamanha comoção por parte das Organizações Globo em relação a esses episódios.
A morte é inevitável, vai alcançar todos nós... Devemos estar preparados para recebê-la quando nos atinge de perto, levando de nós um ente querido... O prosseguimento da caminhada é o que nos resta fazer...
Somente acho que a mídia não deve dela se aproveitar para criar um estado de comoção nacional, como se o país todo tivesse que parar para chorar junto aos familiares dos mortos da delegação da Chapecoense (e dos jornalistas que também morreram)... Eles já têm lágrimas demais para derramar... A dor que sentem não pode ser transmitida a terceiras pessoas... é deles, só deles...só eles sabem o que perderam...
O resto, deslocamento de vários repórteres para a Colômbia e Chapecó, o transporte dos corpos em caminhões do Corpo de Bombeiros, as opiniões de diversos "especialistas" em acidentes aéreos durante toda a programação diária, tudo isso só serviu para aumentar o "show", o espetáculo...
Bonita e singela foi a atitude do time colombiano, abrindo mão da taça de campeão das Américas em favor da Chapecoense... Discreta, sem alarido... Deve também aqui ser ressaltado e elogiado o comportamento do povo colombiano, solidário em todos os momentos aos mortos na tragédia e seus familiares...
O que houve, na minha humilde opinião, foi exatamente isso: o aproveitamento de uma situação trágica para atrair a atenção para a mídia, ela, a grande estrela do espetáculo...
Todos os três fatos comoveram bastante o Brasil e o mundo.
Carlos Alberto Torres, o capitão da seleção brasileira tricampeã do mundo em 1970, para muitos considerada a melhor seleção de todos os tempos (discordo, prefiro a brasileira de 1958), era um ídolo do futebol brasileiro e mundial. Depois de pendurar as chuteiras, foi treinador de vários clubes, inclusive do meu Botafogo, levando-o a conquistar uma Copa Comebol, antiga versão da Libertadores (ou Sul Americana). Ultimamente, era comentarista do Sport-TV, emissora pertencente à Rede Globo de Televisão, assinatura paga. Morreu subitamente, atingido por um fulminante ataque cardíaco, aos 72 anos. Houve comoção, noticiário no dia do falecimento e nos subsequentes, mas apenas isso.
Fidel Castro, o revolucionário cubano, adorado por uns, odiado por outros tantos, encontrou a morte após estar praticamente afastado do poder da ilha caribenha, já com idade avançada e sem condições de saúde para estar à frente do seu país. Houve também uma certa comoção mundial e, talvez somente por parte do povo cubano houve realmente um sentimento maior de dor pela perda do estadista, que foi cremado e suas cinzas enterradas em sua terra natal. Nada mais que isso, lutos normais, cuja dor foi mais sentida pelos parentes, amigos próximos ou por um país onde nascera ou vivera o falecido.
Aí veio a tragédia da Chapecoense. Realmente acontecimento estúpido, brutal, inesperado, ceifando a vida de jovens que sonhavam ter uma carreira como jogador de futebol, bem como tirando de nosso convívio um promissor técnico, alguns jornalistas conhecidos nos meios esportivos, além do próprio presidente do clube. Não cabe aqui discutir de quem foi a culpa pela queda do avião, se do piloto e dono da pequena companhia de aviação, se dos controladores de terra da Bolívia ou da Colômbia, se a falta de combustível ou se foi mesmo um acidente aéreo, onde não há culpados a procurar.
O que me espantou foi o fato de que a tragédia praticamente parou o país, como se nada mais existisse, como se a Terra tivesse parado de girar, como se os que continuam por aqui não mais respirassem, não mais tivessem os problemas do dia a dia, como se o nosso Senado Federal parasse de trabalhar (o que, na realidade, não ocorreu, pois aproveitaram a ocasião da tragédia para tentar enfiar goela abaixo do povo um projeto de lei que praticamente acabava com a Operação Lava Jato).
Não se fez mais nada, parecia que todos nós vivíamos uma situação de luto coletivo, que durou mais de uma semana, como se todos nós, povo brasileiro e dos outros países do mundo tivessem que compartilhar a dor dos familiares dos mortos na tragédia.
Claro que a queda do avião e a morte de quase todos os passageiros chocou todos nós, brasileiros e habitantes de outros países.
Mas, nunca vi um estado de prostração tão longo, tão demorado, ocupando praticamente durante todos os dias o noticiário de nossas emissoras de televisão, em especial a das Organizações Globo. Nessa, um dos locutores que se considera o dono da verdade, que no seu egocentrismo acha que só ele sabe das coisas, assumiu o controle das reportagens logo após o fato trágico e, com cara de velório, transmitia as notícias que vinham ainda frescas da Colômbia, bem como (mudando a fisionomia)... comunicava que havia sobreviventes. E, no dia da chegada dos corpos dos mortos a Chapecó, conseguiu ficar mais de quatro horas com o microfone na mão, tentando passar aos telespectadores a emoção do velório, mudando outra vez a expressão fisionômica, narrando a aterrissagem do avião com os corpos, o trajeto no caminhão do Corpo de Bombeiros do aeroporto até o campo da Chapecoense, quem chorava e quem não chorava, autoridades presentes, civis, militares e esportivas...
Realmente, o que me causou espanto, repito, foi o clima de comoção que se formou em torno do episódio. Parecia que os jogadores da Chapecoense eram personalidades mundiais, que a morte deles acabaria com o futebol em nosso país e no mundo.
Todos nós já devemos ter perdido pais, irmãos, parentes, amigos, alguns até filhos, o que é mais doloroso. Passamos pela nossa dor, procuramos nos recuperar emocionalmente, para tentar prosseguir na caminhada de nossas vidas da melhor forma que pudermos. A dor da morte de um ente querido deve ser compartilhada pela família e amigos próximos, pois são eles que realmente conviveram com o falecido no dia a dia, no cotidiano de suas vidas. Só quem passou por essa experiência é que sabe como a dor é profunda, como nos abate, como nos penetra fundo na alma. Por isso e por outras, para aqueles que são católicos, já manifestei minha opinião de ser contra a missa de sétimo ou trigésimo dia. Elas só servem para reabrir uma ferida que começava a cicatrizar, reavivar a dor da notícia do falecimento do parente ou amigo.
Quantas tragédias ocorreram recentemente, de igual ou maior dimensão do que a queda do avião da Chapecoense? O incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que tirou a vida de quantos jovens universitários? A queda do avião da Air France, alguns anos atrás, em pleno Oceano Atlântico, que matou mais de duzentos passageiros, entre eles muitos brasileiros? O desabamento de Mariana, em Minas Gerais, que destruiu praticamente uma cidade inteira? A guerra civil na Síria, que mata diariamente centenas de pessoas, inclusive crianças?
Não vi tamanha comoção por parte das Organizações Globo em relação a esses episódios.
A morte é inevitável, vai alcançar todos nós... Devemos estar preparados para recebê-la quando nos atinge de perto, levando de nós um ente querido... O prosseguimento da caminhada é o que nos resta fazer...
Somente acho que a mídia não deve dela se aproveitar para criar um estado de comoção nacional, como se o país todo tivesse que parar para chorar junto aos familiares dos mortos da delegação da Chapecoense (e dos jornalistas que também morreram)... Eles já têm lágrimas demais para derramar... A dor que sentem não pode ser transmitida a terceiras pessoas... é deles, só deles...só eles sabem o que perderam...
O resto, deslocamento de vários repórteres para a Colômbia e Chapecó, o transporte dos corpos em caminhões do Corpo de Bombeiros, as opiniões de diversos "especialistas" em acidentes aéreos durante toda a programação diária, tudo isso só serviu para aumentar o "show", o espetáculo...
Bonita e singela foi a atitude do time colombiano, abrindo mão da taça de campeão das Américas em favor da Chapecoense... Discreta, sem alarido... Deve também aqui ser ressaltado e elogiado o comportamento do povo colombiano, solidário em todos os momentos aos mortos na tragédia e seus familiares...
O que houve, na minha humilde opinião, foi exatamente isso: o aproveitamento de uma situação trágica para atrair a atenção para a mídia, ela, a grande estrela do espetáculo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário