quinta-feira, junho 25, 2015

VENEZA, A DESLUMBRANTE...

 

 

VENEZA, A DESLUMBRANTE...

Calfilho
 
 
              Estive rapidamente em Veneza em 1957, quando meu pai, que iria fazer um curso de especialização em Paris, levou toda a família para conhecer a Europa.
          Já comentei sobre essa viagem anteriormente. Fomos de navio do Rio de Janeiro até Nápoles, com paradas em Salvador, Recife, Dakar, Lisboa, Barcelona e Gênova. Ficamos três noites em Nápoles e, sempre de trem, subimos a Itália, parando em Roma, Florença, Veneza e Milão. Meu pai já fizera essa viagem anteriormente, em 1954 e 1955, em convites anteriores que recebera para cursos no Centre International de L'Enfance, em Paris. Daquela vez, decidira levar a mulher e os filhos, tendo minha avó, mãe de minha mãe, pegado carona com a gente. E, como antigamente as viagens transatlânticas eram feitas de navio (a aviação comercial entre Brasil e Europa ainda engatinhava), ele já conhecia essas cidades. Os navios italianos tinham como porto final Gênova ou Nápoles.
               Mas, lembro pouca coisa dessa viagem, a não ser nossa passagem por Paris, onde ficamos por trinta dias e tive tempo de conhecer relativamente bem a cidade, familiarizar-me um pouco mais com a língua, sentir de perto o modo de vida dos parisienses.
              As cidades italianas só me voltavam à memória em rápidos "flashes", em cenas mais ou menos isoladas que ficaram guardadas no subconsciente do menino, então com 14 anos de idade.
              Depois de minha aposentadoria, em 1990, tive satisfeita a vontade de retornar à Europa. Mas, as nove primeiras viagens foram feitas exclusivamente para a França, país do qual só me restavam as lembranças de 1957 e, somente da capital, Paris. Nesse período levei três dos meus filhos em viagens separadas. Inclusive um deles, o Duda, comigo assistiu alguns jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1988. Nessas viagens, só permaneci na França, não me atrevendo a sair do país, exceto por uma rápida ida a Londres em 1991, quando estava acompanhado de meu filho mais novo, Sérgio Fernando, na época com 15 anos de idade, e Patrick insistiu para que passássemos três dias na capital inglesa. Fomos os três de avião, numa viagem de quatro dias, tendo eu a oportunidade de rever Londres,  onde estivera anteriormente na viagem de 1957, antes de nosso retorno ao Brasil. Não falava o italiano e o meu inglês era apenas o de quatro anos de Cultura Inglesa, por isso não me atrevia a empreender voos mais ousados.
             Mais tarde, com meus retornos anuais à Europa, familiarizando-me com os trens europeus e com o modo de vida dos habitantes de cada cidade francesa que visitava, decidi estender uma dessas viagens à Itália. Das cidades francesas já conhecia Nice e Marselha, onde a influência italiana é muito grande, dada a proximidade entre os dois países, daí conseguir "arranhar" algumas conversas em italiano, coisa que não é muito difícil para nós, brasileiros, já que as duas línguas têm muita coisa em comum.
              Dessa forma conheci várias cidades italianas nas viagens subsequentes. Vou tentar descrever minhas visitas às mesmas de forma diferente de como descrevi as francesas.
                Em relação à França, parti de Paris para depois relatar as visitas às cidades interioranas. Quanto à Itália, vou começar por Veneza, a cidade europeia de que gosto mais depois da capital francesa.
                Qualifiquei Veneza de "a deslumbrante" porque ela realmente é deslumbrante. A sensação de quem a reviu depois de tanto tempo, ao descer da estação de trem Santa Lucia é, simplesmente, de deslumbramento. O Grande Canal está logo ali à sua frente, as pessoas andando apressadamente pelo calçadão onde as estações do vaporeto embarcam e desembarcam passageiros. Do outro lado da ponte que liga as duas margens do canal, uma enorme igreja domina o ambiente. Do lado esquerdo da estação ferroviária, outra linda igreja. Moradores e turistas se misturam naquela multidão de gente que se dirige a algum lugar ali perto: ao trabalho, aos vaporetos, às igrejas, aos hotéis, aos restaurantes, às inúmeras lojinhas de souvenirs que ficam ao longo da Via de Spagna, no Canaregio.
               Nessa minha primeira volta à Veneza, não lembro ao certo, acho que foi em 1999 ou 2000, hospedei-me num hotel localizado na Praça de São Marcos. Como não me lembrava de mais quase nada da cidade desde 1957, recorri a uma agência de viagem para reservar um hotel. Pedi um hotel próximo à Praça de São Marcos, pois era esse o único lugar do qual me lembrava da minha viagem de 1957. Além disso, pelo que li antes da partida, a referida praça é ponto de turismo conhecido internacionalmente e onde se localiza o maior número de atrações a serem visitadas.
               Arranhando no meu italiano rudimentar, informei-me sobre qual vaporeto pegar ali em frente à estação de trem para chegar à Praça de São Marcos. O número 1 é o mais aconselhado, apesar de existirem outros que fazem o percurso mais rapidamente, com menor número de paradas. A pequena barquinha motorizada anda sempre cheia, difícil é achar lugar para sentar. Deve-se esperar o desembarque dos passageiros para só depois embarcar. Esse fluxo de saída e entrada de gente na pequena embarcação é constante e apressado, a qualquer hora do dia.
              Depois de parar por diversas vezes ao longo do Grande Canal, quando podemos apreciar o casario antigo em suas duas margens, beijados diretamente pelas águas escuras, chegamos à parada de São Marcos. Saltamos, carregando nossas malas, vemos ali perto, o palácio dos Doges e a Catedral de São Marco. Do outro lado do canal, imponente, majestosa, a Igreja de la Salute. Passamos pela praça de São Marcos, repleta de pombos e turistas, embrenhamo-nos naquele emaranhado de pequenas ruas estreitas, sempre cheias de gente falando alto e, seguindo a orientação que nos foi dada, encontramos nosso hotel. Como a grande maioria dos prédios de Veneza, tem quatro ou cinco andares, é uma construção antiga, não nos encanta inicialmente. Mas, resolvemos deixar as reclamações de lado (pois hospedagem não é nossa prioridade), deixamos nossa mala no quarto e saímos para conhecer a cidade. 
                Em outras duas vezes em que voltamos a Veneza, ficamos hospedados em dois excelentes hotéis junto à Praça de São Marcos (o Savoy Yolande e o Vila Iggia), bem mais caros. Mas, acabei descobrindo que o melhor lugar para ficar hospedado na cidade é no Canaregio, na via di Spagna, ao lado da estação Sta. Lucia. Ficamos no Universo Nord (quatro vezes) e no Belle Époque (uma vez). Bons hotéis três estrelas, preço razoável e a grande vantagem de quando você chega ou deixa Veneza não precisa passar pelo transtorno de ter que carregar malas dentro do vaporeto, quase sempre cheio de gente. Ficando bem perto da estação você chega aos hotéis ou os deixa facilmente com sua bagagem.
             Mas, só depois da terceira ou quarta viagem, quando chegamos a Veneza acompanhados de meu irmão e minha cunhada, foi que descobri que, saindo do hotel em que estávamos próximo à praça de São Marco e, andando pelas pequenas ruas que a cercam, vi placas indicativas de como chegar à ferrovia partindo dali. Eu e meu irmão continuamos andando por aquelas ruas, sempre seguindo a orientação das placas e, depois de mais ou menos 45 minutos de caminhada, estávamos na estação de trem. E, pelo caminho, fomos convivendo verdadeiramente com a população da cidade, com seus costumes, seus hábitos. Lojas variadas, múltiplos restaurantes e bares, feiras livres, havia de tudo no trajeto que vai da praça até a ferrovia.      
              Realmente, essa é uma das vantagens que encontro em fazer uma viagem por conta própria: você vai descobrindo lugares escondidos, desconhecidos da maioria dos turistas e, acredito, até também dos guias impressos que você compra em livrarias. Esse é um percurso que não se deve deixar de fazer se você pretende conhecer Veneza realmente mais a fundo. Nas viagens seguintes, hospedando-me junto à ferrovia, faço esse caminho no sentido inverso.
             Já cheguei a Veneza de trem, navio e avião. Do aeroporto existem ônibus que te levam até a "Piazzale Roma". Ali, existem carregadores que te ajudam a levar sua bagagem até as imediações da estação de trem, passando por uma grande ponte. Do navio, após o desembarque, você pode pegar um táxi, uma lanchinha ou um monotrilho, todos eles nos levando até a Piazzale Roma, onde estão os carregadores junto à ponte acima referida. A lanchinha pode te levar também diretamente à estação de trem.
               Os pontos turísticos principais a serem visitados são a Praça de São Marcos, a Catedral, o Palácio dos Doges, a ponte do Rialto (que fica no caminho entre São Marcos e a ferrovia), a igreja da Salute, o Lido e Murano (que ainda não conheço, mas facilmente acessível pelo vaporeto).
             Um dos programas que mais recomendo é o de perder-se naquele intricado labirinto de pequenas ruas e fazer pequenas pausas para uma degustação de vinhos e queijos. São pequenos estabelecimentos existentes em todos os lugares, onde a maioria dos clientes experimenta um cálice de um excelente vinho junto ao balcão enquanto conversam acaloradamente. Existem sempre duas ou três pequenas mesas onde se pode ter mais privacidade e ficar sentado, pedindo que o garçom abra a garrafa de um vinho que pretenda experimentar enquanto você mastiga um pedaço de bom queijo italiano. Nos fins de tarde, após o encerramento do expediente de trabalho, a população local enche esses pequenos estabelecimentos. Se o garçom abrir a garrafa para você, não se preocupe, não precisa beber todo o seu conteúdo. Ele fica satisfeito em apenas te servir um cálice, não cobrando mais por isso.
           Veneza realmente é fascinante, encantadora. Prende o visitante desde o instante em que ele ali põe os pés. Como disse no início, depois de Paris é a cidade de que mais gosto na Europa.

Rialto


 
 
Catedral de São Marcos
 
 
 
 
 

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