RESTAURANTES, BISTROTS, BRASSERIESE E OUTROS LOCAIS ONDE SE PODE COMER OU BEBER NA FRANÇA...
Outro breve intervalo
Calfilho
Não pretendia fazer este intervalo agora, mas, recebendo ontem um amável e-mail do meu prezado amigo Jorge Carrano, ex-presidente do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha, no qual me solicita fazer a diferença entre restaurante, bistrot, brasserie, boulangerie e pâtisserie na França, decidi atender de imediato seu pedido.
Devo logo esclarecer que não sou "expert" nessa matéria, para mim qualquer lugar em que me sente para comer está bom (desde que não seja Mac Donald's ou similar), não sou muito exigente em matéria de escolher a refeição, um bom prato de carne ou massa está bom, vou apenas deixar aqui minha impressão sobre os lugares em que almocei ou jantei nas minhas andanças pela França, tentando dar a minha impressão pessoal sobre o que acho que são as diferenças entre eles, a minha percepção sobre como os franceses distinguem um local do outro.
Restaurante é um lugar mais fino, as mesas cobertas com toalhas e guardanapos de pano, os garçons trajados corretamente, havendo sempre um maitre solícito para nos atender. Os melhores restaurantes não servem bebida se você não pedir uma refeição. Essa regra hoje não é tão absoluta, alguns restaurantes mais populares têm um espaço em que só servem bebidas (sem toalha nas mesas) e outro, mais reservado, onde servem a refeição acompanhada de uma bebida qualquer. Os autênticos restaurantes só abrem para o almoço (das 12 horas às 14 horas e 30 minutos) e jantar (das 19 às 22 horas). Com isso, eles economizam o turno de cozinheiros e garçons, que devem trabalhar seis horas por dia. Já os restaurantes mais populares costumam funcionar o dia inteiro, alguns desde às 7 da manhã até às 2 horas da madrugada seguinte. Aí, eles usam dois turnos de funcionários. Servem o café da manhã até às 11 horas, depois um aperitivo ou café para quem pretende apenas beber alguma coisa e ler o jornal em paz. Mais tarde, por volta das 12 horas, começam a servir o almoço que se prolonga até as três e meia, quatro horas da tarde, novamente um café ou aperitivo vespertino e, a partir das 18 horas, começam a servir o jantar, que às vezes vai até às duas da manhã, dependendo do movimento da casa. As casas de ostras, frutos do mar e peixes finos, em Paris, são apenas restaurantes. Já outras, que servem refeições variadas, à base de carne ou massa, mesmo que também sirvam algum tipo de peixe, são bares-restaurantes. No "Le Depart", costumo pedir uma costeleta de vitela à milanesa acompanhada de um vinho tinto, de preferência o Sancerre.
As brasseries são as cervejarias. Existem algumas em Paris, como a "La Gueuze", que têm em seu cardápio uma variedade enorme de cervejas. Até a Brahma brasileira, tipo exportação, lá é encontrada. Servem apenas a bebida (geralmente, a cerveja, mas, também, o vinho ou algum destilado), ou a refeição acompanhada da bebida. No "La Gueuze" gosto de pedir um choucroute (joelho de porco com repolho cortado bem fino e em conserva) acompanhado de uma Guiness irlandesa. Os restaurantes mais populares (aqueles que servem bebida sem necessidade de acompanhar uma refeição) geralmente cobrem a mesa apenas com uma toalha de papel. Os guardanapos também são de papel.
Já os bistrots são ainda mais populares, correspondentes aos nossos botequins, onde se pode beber um bom vinho ou uma boa cerveja e beliscar algum tira gosto, ou comer uma refeição ligeira, geralmente o prato do dia, que vem descrito a giz numa pedra de ardósia. Ali, bebe-se em pé junto ao balcão (comptoir) ou sentado, se for pedir uma refeição da ardósia. São mais simples que os restaurantes populares, a comida é tipo caseira, o preço é bem mais barato.
As boulangeries são as nossas padarias. Lá vende-se o famoso pão francês (a "baguete", que pode ser inteira ou pela metade - a "demi") e outros tipos de pão. Algumas boulangeries vendem também alguns doces, o que é mais raro.
Finalmente, as "pâtisseries" vendem doces maravilhosos, tortas, bolos e outras guloseimas. Dificilmente vendem pão, e são muito procuradas para quem está em busca de um doce diferente, tipo mais artesanal.
Nas cidades do interior da França, dificilmente encontraremos um restaurante mais fino, como aqueles que existem em Paris. Em cidades como St. Malo, Estrasburgo, Deauville, Nice, Marselha, encontraremos quase sempre os restaurantes mais populares, que servem apenas bebida ou comida e bebida.
Devo ressaltar que esses restaurantes mais populares utilizam a "formule" ou o "menu", que consiste na escolha de uma entrada, um prato principal e uma sobremesa, entre as diversas opções oferecidas. O preço normal de uma refeição pela "formule" custa cerca de 25 a 30 euros, dependendo das opções.
Cada região da França tem seus pratos típicos, seguem eles a orientação da culinária local. Assim, nas cidades marinhas, o forte é a comida à base de frutos do mar, principalmente, as ostras e as "moules". No interior, alguns tipos de carne e, em regiões muito particulares, como a Alsácia, por exemplo, a culinária sofre forte influência alemã. Em Paris, tem-se de tudo, inclusive a comida asiática, grega e árabe. Também a italiana aparece com grande destaque, bem como a mexicana. Feijão brasileiro nunca comi lá fora, apesar de existirem algumas casas brasileiras, mas são mais casas de shows, não sei como é a comida.
Infelizmente, e a cada ano que volto à França noto isso, as redes "fast food" americanas têm invadido fortemente o comércio de refeições na França. Dificilmente uma cidade francesa não tem uma lanchonete da Mac Donald's e, em Paris também existe a rede King's Burger. Isso acabou fazendo que uma das grandes tradições da França, o comer bem, fosse, pouco a pouco, caindo para segundo plano. Antigamente, um bom almoço francês demorava de três a quatro horas. Havia a entrada, um prato preliminar mais leve, o prato principal mais pesado, a degustação de queijos e a sobremesa. Cada um desses pratos era acompanhado de um tipo de bebida diferente. Hoje, além das redes de "fast food", nos bairros mais movimentados, você vê barraquinhas ou quiosques vendendo sanduíches prontos, sorvete artesanal, refrigerantes e sucos.
Enfim... deve ser o progresso...
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