segunda-feira, setembro 05, 2016

VIAGENS MARÍTIMAS...

VIAGENS MARÍTIMAS...

Calfilho




            Acho que já comentei aqui, em matéria anterior, que uma das principais dúvidas com que se depara aquele que pretende fazer uma grande viagem para o exterior, é escolher entre uma excursão ou um roteiro por conta própria. Entendo que as duas têm vantagens e desvantagens.
      Numa excursão, você é bem assessorado por guias profissionais, fica alojado geralmente em hotéis de categoria 4 estrelas, não precisa ter preocupação com malas, é levado a conhecer os lugares principais das cidades visitadas. Mas, tudo é muito corrido, não se tem tempo de curtir o povo de cada lugar, os locais onde almoça ou janta são aqueles já escolhidos pelos guias (que ganham comissão para isso), não se pode ficar muito longe do grupo e, o que acho pior, pode-se ter que conviver com pessoas de temperamento diferente do seu, às vezes, inconvenientes ou mesmo muito chatos durante quinze ou vinte dias seguidos. Tem gente que gosta das excursões até mesmo para conhecer outras pessoas, fazer novas amizades. Entretanto, quando chega o fim da excursão, você pouco ou quase nada lembra dos lugares visitados, dada a rapidez e superficialidade com que as visitas são feitas.
        Prefiro as viagens que faço por conta própria, aquelas em que escolho meu roteiro, quantos dias pretendo ficar em cada cidade, sem ficar preso a horários estabelecidos pelos guias, enfim, ter liberdade para fazer minhas refeições onde quiser, visitar e até descobrir lugares diferentes, sentindo o prazer da descoberta, do improviso. É claro que um conhecimento, mesmo pequeno, da língua dos países a serem visitados ajuda e muito na escolha dessa opção. O contato direto com as pessoas do país visitado é muito agradável e interessante. Normalmente, você é muito bem recebido, principalmente quando é reconhecido como um turista brasileiro, pois os europeus, em sua maioria, têm muita curiosidade e admiração pelo Brasil.
           Depois da minha aposentadoria, em 1990, quando passei a ter tempo livre para viajar, passei eu mesmo a organizar minhas viagens para o exterior. A princípio, com a ajuda de uma agência de viagem, que conhecia melhor que eu hotéis, reservas de trem e avião, traslados e outras pequenas coisas necessárias para uma viagem. Atualmente, procuro diretamente na internet o que pretendo e consigo resolver tudo isso praticamente sozinho.
             Foi assim que, a partir de 1990, passei a fazer uma, às vezes duas viagens anuais para o exterior, principalmente para a Europa e o cone sul do nosso continente.
               Viajava, em princípio, de avião, fazendo de Paris minha cidade principal e dali partindo de trem para outras cidades da França e da Europa. Minha companhia aérea preferida sempre foi a Air France, por ter um voo direto para Paris e vice-versa, pela boa qualidade do voo e por eu estar inscrito no seu programa de milhagem, o Flying Blue, que já me proporcionou fazer algumas viagens totalmente gratuitas. Fui com minha mulher, meus filhos (um de cada vez), meu neto, meu irmão e cunhada, alguns casais amigos. Viajei também pela TAP (muito boa companhia), pela Alitalia (também muito boa) e pela British Airways (a pior delas, que me fez esperar seis horas no aeroporto de Londres para uma conexão para Paris e enviou uma das minhas malas para o aeroporto que não foi aquele em que desembarquei).
          Já no novo século, em sua primeira década, o dono de uma agência de turismo de quem fiquei amigo, infelizmente já falecido, sugeriu-me fazer a travessia do Atlântico de navio, do Brasil para a Europa.  
             Já tinha feito quatro viagens marítimas anteriormente. 
          Em 1948, quando fomos do Rio para Fortaleza, onde meu pai, médico pediatra, iria chefiar o Departamento Nacional da Criança no Estado do Ceará. Foi uma viagem de quinze dias, num navio do Ita, o Itaimbé, que levou, inclusive, nossa mobília. Paramos em Salvador, Recife, Maceió, Cabedelo e Natal. Essa viagem ficou fortemente marcada na mente do então menino com oito anos de idade.
          Depois, em 1957, quando meu pai decidiu levar toda a família para a Europa, onde ele iria participar de um congresso médico. Eu iria completar quinze anos de idade no mês seguinte. Embarcamos no navio italiano "Conte Grande", no porto do Rio de Janeiro e fomos até Nápoles, na Itália, numa viagem também de quinze dias, com escalas em Salvador, Recife, Dakar, Lisboa, Barcelona e Gênova. Voltamos num navio inglês o "Highland Chieftain".
              Em 1980, minha mãe decidiu convidar a família toda (eu, mulher e filhos e meu irmão também com mulher e filhos) num passeio até Manaus no navio português "Funchal". Partida e chegada no Rio de Janeiro, numa viagem de pouco mais de 20 dias. Muito boa a viagem, principalmente com a subida do rio Amazonas, de Belém até Manaus. Fizemos escalas em vários portos brasileiros, como Salvador, Recife, Fortaleza e Santarém.
             Quando recebi a sugestão de fazer novamente a travessia do Atlântico, saindo do Rio de Janeiro e chegando em Savona, na Itália, fiquei interessado. Como já estava aposentado desde 1990, tinha tempo livre para sair um pouco da rotina do avião.
           Gostei tanto da experiência que fiz várias outras viagens marítimas, inclusive para a Patagônia, no extremo sul do continente sul americano.
           A viagem de navio, principalmente as mais longas, com mais de dez dias de duração (não gosto das curtas, aquelas de 3, 7 ou 9 dias) são muito repousantes e nos dá tempo para colocar a leitura de um bom livro em dia, de usar o tempo  da travessia do Atlântico propriamente dita, de Funchal até Recife ou Salvador (cinco ou seis dias) para refletirmos sobre nossa vida, relembrar nosso passado e pensar sobre o futuro. Para os mais jovens, muitas atrações: discoteca, brincadeiras de salão, etc... Para aqueles que estão na meia idade, o cassino, as piscinas, a academia de ginástica, os shows diários no teatro. Para os da terceira idade como eu, a biblioteca, os vários salões onde podemos saborear um coquetel diferente ou bater papo com algum casal interessante, principalmente os estrangeiros, onde podemos trocar ideias sobre os costumes de nossas regiões.
           Fora isso, podemos apreciar a diversificada culinária a bordo, nas lautas refeições servidas: café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia noturna. Só devemos tomar cuidado com a balança...
              Alguns acham a viagem de navio muito monótona, muito cansativa. Não é o meu caso.
              No Brasil, atualmente, na época do nosso verão, chegam da Europa navios da Costa Cruzeiros e da MSC Cruzeiros. Durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro ficam eles fazendo passeios para o nordeste e sul do Brasil, indo até Buenos Ayres. Existem outras companhias que fazem o percurso Santiago/Rio de Janeiro, passando por Ushuaia, na Patagônia, nas ilhas Malvinas, Buenos Ayres e Montevidéu.
               Antigamente, tínhamos linhas regulares de navio por toda a costa brasileira (lembram do "Rosa da Fonseca" e do "Ana Nery"?) e outros que também faziam regularmente a rota Brasil/Europa (como o "Conte Grande", o "Augustus", o Conte Biancamano", o "Provence", o "Bretagne"). Com o rápido desenvolvimento da aviação comercial, essas  linhas desapareceram, só funcionando no nosso verão.
          Pena, pois um país como o Brasil, como uma costa tão extensa, com tantas praias maravilhosas, algumas até desconhecidas de nós, brasileiros, não aproveite essa dádiva da natureza para fazer voltar os navios nacionais que poderiam explorar esse imenso manancial turístico...

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