quinta-feira, setembro 08, 2016

ALBER PESSANHA...

ALBER PESSANHA...

Calfilho






               Determinadas pessoas que tiveram grande importância em nossas vidas, influenciando-nos na transição da adolescência para a fase adulta, são aquelas cuja amizade não é afetada pela passagem do tempo e permanece sólida para sempre, mesmo que a distância nos tenha separado.
         Já falei aqui, em outro tópico, sobre minha querida professora do Liceu Nilo Peçanha, nos meus dois últimos anos do curso científico, Nícia Muniz. Mesmo tendo sido ela minha professora de matemática, matéria que nunca mais utilizei na minha vida profissional, não esqueço nunca sua bondade e sensibilidade no trato com seus alunos, poucos anos mais novos que ela, que também tinha estudado no nosso colégio. Mesmo sabendo que muitos daqueles seus alunos seguiriam carreiras onde nunca teriam que usar a matemática avançada do curso científico, tinha a percepção de que reprová-los seria um erro grave, pois faria com que eles perdessem um ano repetindo matérias que jamais utilizariam em suas vidas no futuro. Preferia deixá-los passar de ano, concluir o curso científico e seguirem com suas vidas. 
         Foi o meu caso, no terceiro ano científico do Liceu Nilo Peçanha. Acabei fazendo faculdade de Direito, fui advogado, promotor de Justiça, magistrado. Tudo diferente do que eu havia planejado para o meu futuro. Jamais precisei saber o que era derivada, integral ou logaritmos na minha vida profissional. Por isso, ela me deu quatro na prova oral do final do terceiro ano científico, mesmo sabendo que eu não merecia aquela nota. Mas, era o que eu precisava para concluir o curso.
       Muitos anos depois, quando eu já estava aposentado na magistratura e ela há mais tempo como professora, conseguimos voltar a manter contato. Contei-lhe, pelo telefone, sobre esse fato, que estava narrado num livrinho que escrevi sobre o meu Liceu.                   Ela riu muito e disse-me:
            "-- Eu mordia, mas depois assoprava".
          Mas, quero falar hoje sobre um professor de Educação Física, que entrou para o colégio quando eu cursava o segundo ano científico, em 1958. Apesar de nunca ter sido seu aluno, criamos uma sólida amizade a partir da sua entrada para o corpo docente do Liceu. Seu nome é Alber Pessanha.
          Naquele ano de 1958 eu e outros colegas de turma (Irapuam, Telúrio, entre outros) conseguimos eleger o aluno Jorge Carrano presidente do nosso grêmio cultural e esportivo. Carrano tinha vindo de outro colégio, estudava em uma turma de série inferior à nossa, mas logo conosco se entrosou, até porque, como todos nós, adorava participar dos animados "rachas" na nossa quadra de basquete ou mesmo na menor, a de vôlei. Eu era o diretor de futebol de salão, Telúrio o diretor de esportes e Irapuam o diretor social.
          Conseguimos recuperar o Grêmio e passamos a promover, nos sábados à tarde, torneios internos e amistosos contra outros colégios de Niterói. Alber, também ele um apaixonado por futebol (era ligado ao São Cristóvão, do Rio de Janeiro), aproximou-se de nós e passou a acompanhar nossas atividades. Para nós foi excelente essa aproximação, pois estávamos encontrando alguma dificuldade em abrir o colégio aos sábados à tarde, já que o então diretor, Professor Aldo Muylaert, não queria permitir a abertura sem a presença de um professor. Alber ofereceu-se para nos "vigiar" e o obstáculo foi então superado. Contamos também com a colaboração de Azer Ribeiro, o "seu" Azer, zelador do colégio, que nos abria o vestiário e as dependências esportivas do Liceu.
            Depois de algum tempo, já estreitado nosso relacionamento, o professor Alber convidou a mim e Irapuam para visitá-lo em seu apartamento e conhecer sua família. Ficava na Feliciano Sodré, esquina com a Visconde do Uruguai, no quarto e último andar. Lá tivemos o prazer de conhecer sua esposa, Dª. Lucia, sempre com um sorriso generoso nos lábios, e os filhos, Alcia, Carlos Alberto (o Nick) e Gloria, todos com menos de 10 anos de idade.
          Alber sempre nos acolhia com uma cervejinha gelada para brindarmos alguma coisa: uma vitória do Liceu, uma partida de futebol, o campeonato mundial de 1958 na Suécia, que escutamos pelo rádio. 
         Irapuam já namorava uma liceísta que morava numa casa colada ao prédio de Alber, na rua Visconde do Uruguai. Eu estava de olho numa menina que morava em frente, na mesma rua. Então, depois de uma breve conversa com as duas, passávamos no apartamento de Alber para uma cerveja amiga. O presidente do Grêmio, Carrano, também morava no mesmo prédio, num outro bloco. Mais um pretexto para visitarmos Alber, depois de termos passado na casa de Carrano para resolver algum assunto do Grêmio. 
         Alber acompanhou a delegação do Liceu na excursão a Angra dos Reis, onde disputamos várias modalidades contra o Colégio Naval.
          Em sua casa, assistimos pela televisão o América sagrar-se campeão carioca de 1960. Também lá acompanhamos pelo rádio o Brasil sagrar-se bicampeão mundial de futebol em 1962.
           Alber foi o técnico do Canto do Rio F.C., que na época ainda disputava o Campeonato Carioca de futebol, numa excursão que o clube realizou à Europa, nos primeiros anos da década de 60. 
          Antes de ir trabalhar no Liceu ele já era professor no antigo Colégio Nilo Peçanha, situado no Largo do Barradas. Em sua casa conhecemos vários alunos desse colégio que eram também seus amigos.
         Esse contato frequente perdurou por alguns anos, cinco ou seis, não me recordo ao certo.
      A passagem do tempo nos afastou. Eu fui morar em São Francisco em 1961 e em 1964 fui trabalhar em Cantagalo, no interior do Estado.
             Já na década de 70, encontrei-me com ele na rua e o convidei para me fazer uma visita para que conhecesse meus filhos. Fiz questão que ele levasse toda a família pois queria ver como Alcia, Nick e Gloria tinham crescido. Ele atendeu meu convite e tive o prazer de rever Dª. Lucia e os filhos, realmente já bem crescidos.
                Lembro-me que lhe fiz uma visita certa vez quando ele estava morando em Macaé e eu era Promotor de Justiça em Casimiro de Abreu.
                  Depois, realmente, perdemos o contato. Tentei levar-lhe o convite de casamento de minha filha em 1988, mas não sabia ao certo onde ele estava morando. Por informações de amigos, fui até um condomínio onde me disseram que ele estaria morando, no começo da rua Barão de Amazonas. O porteiro disse-me que ele não estava em casa, que talvez estivesse em Rio das Ostras. Deixei o convite, mas ele não apareceu.
               Só agora, há poucos dias atrás, Carrano me informou por e-mail que o filho de Alber, Carlos Alberto (o Nick) tinha entrado em contato com ele pela internet. Consegui localizá-lo e ele me informou que Alber e Dª. Lucia estavam morando em Rio das Ostras. Enviei-lhe e a Alber, um exemplar do livrinho que escrevi sobre o Liceu. Para minha tristeza, soube que Alcia, a garotinha que conhecera com 8 ou 9 anos de idade, havia falecido.
         Telefonei-lhe, batemos um longo papo, com ele e a esposa, matamos as saudades dos bons momentos vividos no final dos anos 50, início dos 60 do século passado.
       Aquelas visitas que lhes fazíamos quase que diariamente criaram entre nós uma amizade muito grande, que mesmo com a posterior distância física sempre mantivemos viva em nossa memória. 
           Já disse aqui e repito: minha época do Liceu, principalmente depois que assumimos a direção do Grêmio, foi a mais importante da minha vida, talvez aquela que mais tenha contribuído para a formação da minha personalidade como adulto. 
           E Alber e Dª. Lucia tiveram marcante influência nessa minha transição de vida... Pelo exemplo que davam de união, da importância da família no nosso dia a dia... Essa lição trago comigo desde aquela época até os dias de hoje...
               Muito obrigado aos dois...

2 comentários:

Jorge Carrano disse...

Peço vênia ao estimado amigo Carlinhos, titular deste blog, para me filiar a esta homenagem.

Só hoje, com uma defasagem de 4 anos, venho a este espaço virtual porque somente agora fatos e circunstâncias me trouxeram até aqui.

Não sei como estará o Alber. São passados muitos anos desde que nos encontramos pela última vez. Teria sido no casamento de sua filha Glória, celebrado na igreja existente na Vila Pereira Carneiro, na Ponta D'Areia. Disse teria sido porque embora eu tenha estado na igreja não os encontramos.

Também acompanhei pelo rádio, em seu apartamento, a partida final da Copa de 1962. Muita comemoração regada a cerveja, sob o olhar atento da Dona Lúcia.

Grande figura. Meus respeitos e gratidão pela amizade.

Unknown disse...

Pra vcs o professor Alber Pessanha, pra mim o bivô Alber Pessanha. Infelizmente a bisa faleceu em agosto de 2019. Meu biso está muito bem. Ainda gosta daquela cerveja gelada que toma com minha mãe, a neta, filha do vô Carlinhos.