segunda-feira, setembro 12, 2016

OS DESBRAVADORES Capítulo 13



OS DESBRAVADORES

Capítulo 13


Calfilho






XIII






Felizmente, Zé Maria conseguiu comprar as peças necessárias para a recuperação da caldeira. Mas, Jeremias não achou ninguém em Timbaúba capaz de fazer o conserto.
E o “Rosamar” acabou seguindo viagem no dia seguinte, ainda em velocidade moderada.
Jeremias comentou com Faustino:
– Vamos ver se no próximo porto a gente consegue alguém que saiba fazer o conserto.
A próxima escala seria Jericoacoara, ainda costa do Ceará, que parecia não terminar nunca.
Praia deslumbrante, areia branquinha como a neve, dunas de encher os olhos, a cidade já aparecia ao longe quando o navio se aproximava. Maria Teresa ficou fascinada com a beleza do lugar.
– Puxa, Faustino, que lindo! Pena que a gente, em Fortaleza nem tem noção que isso aqui existe, ainda dentro do nosso Estado. Quero ir a terra, você me leva?
– Claro, Teresa, aqui deve ser mais civilizado que Timbaúba, acho que a gente pode descer sem problemas.
Faustino não ficou sabendo nada sobre a briga dos homens lá em Timbaúba. Só estranhou que eles tivessem voltado tão cedo para o navio e estivessem tão ressabiados quando passavam por ele. Não perguntou nada a Pedro. Confiava cegamente em seu auxiliar, não queria melindrá-lo, nem discutir suas decisões. Mas, que alguma coisa ocorrera, disso não tinha dúvida.
O “Rosamar” ancorou ao largo de Jericoacoara por volta das duas da tarde. Faustino e Teresa foram a terra no primeiro bote que encostou, juntamente com Jeremias.
Lá, o capitão saiu em busca de um mecânico que entendesse de caldeira. Faustino e a mulher foram dar uma volta pela cidade. Esta, apesar de ainda manter uma aparência selvagem, pela beleza de suas dunas e a exuberância de seus coqueiros, tinha um razoável número de habitações, até um pequeno hotel possuía. Tendinhas, muitas. As ruas, sem calçamento, as casas sem luz elétrica, era uma típica cidade da primeira metade do século XX do nordeste brasileiro.
Andando pelas ruas estreitas, Maria Teresa achou alguns armarinhos e pequenas lojas onde eram vendidos vestidos prontos, sapatos vindos do Rio ou São Paulo, tecido para fazer roupas. Comprou alguma coisa e deu de presente um outro chapéu para Faustino, de cor bege com uma fita azul. Almoçaram fartamente num pequeno bar local, buchada de bode com batata cozida.
O pessoal da cidade pareceu muito hospitaleiro, agradável, querendo demonstrar sua satisfação em receber tão ilustres visitantes. Enfim, tudo bem diferente de Timbaúba.
Encontraram Jeremias afobado, andando apressado numa das ruas da cidade.
– Parece que encontrei alguém, “seu” Faustino – disse ele. – Vou levar o cabra lá no navio pra ele dar uma olhada na caldeira. Ele me disse que acha que pode consertar.
– Tudo bem, capitão – respondeu Faustino. – Espero que ele faça o conserto.
Pedro também foi a terra ver se achava mais alguns homens para fazer parte da expedição. Contratou um, João Paulo, um negão de quase dois metros de altura, forte como um touro e bronco como ele só. Analfabeto, falava quase soluçando, aos tropeções. Mas, segundo Pedro relatou a Faustino, já participara de uma expedição ao Amazonas, tendo, portanto, experiência da vida na selva.  Segundo ainda Pedro, de acordo com as informações colhidas na cidade, era homem pacato, leal e muito trabalhador. Vivia sozinho, não tinha família nem ninguém que o prendesse aquele local.
Faustino ainda procurou um médico na cidade, para que fizesse um exame de rotina em Maria Teresa, verificar como estava indo sua gravidez. Também queria comprar mais quinino, que passou a usar desde que foi atacado pela malária.
Infelizmente, não havia médico no local, só um farmacêutico, mesmo assim um prático, nem formado era. Decidiu esperar até chegar em Belém para a consulta da mulher. Conseguiu comprar, entretanto, três frascos de quinino.
Quando retornaram ao “Rosamar”, a boa notícia: a caldeira fora consertada e o navio poderia retomar sua velocidade normal, que, apesar de ser muito baixa, pelo menos era aquela que deveria seguir.
Às sete da noite, zarparam em direção a uma nova escala.

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