OS DESBRAVADORES
Capítulo 13
Calfilho
XIII
Felizmente, Zé Maria conseguiu comprar as peças
necessárias para a recuperação da caldeira. Mas, Jeremias não achou ninguém em
Timbaúba capaz de fazer o conserto.
E o “Rosamar” acabou seguindo viagem no dia seguinte,
ainda em velocidade moderada.
Jeremias comentou com Faustino:
– Vamos ver se no próximo porto a gente consegue
alguém que saiba fazer o conserto.
A próxima escala seria Jericoacoara, ainda costa do
Ceará, que parecia não terminar nunca.
Praia deslumbrante, areia branquinha como a neve,
dunas de encher os olhos, a cidade já aparecia ao longe quando o navio se
aproximava. Maria Teresa ficou fascinada com a beleza do lugar.
– Puxa, Faustino, que lindo! Pena que a gente, em
Fortaleza nem tem noção que isso aqui existe, ainda dentro do nosso Estado.
Quero ir a terra, você me leva?
– Claro, Teresa, aqui deve ser mais civilizado que
Timbaúba, acho que a gente pode descer sem problemas.
Faustino não ficou sabendo nada sobre a briga dos
homens lá em Timbaúba. Só estranhou que eles tivessem voltado tão cedo para o
navio e estivessem tão ressabiados quando passavam por ele. Não perguntou nada
a Pedro. Confiava cegamente em seu auxiliar, não queria melindrá-lo, nem
discutir suas decisões. Mas, que alguma coisa ocorrera, disso não tinha dúvida.
O “Rosamar” ancorou ao largo de Jericoacoara por volta
das duas da tarde. Faustino e Teresa foram a terra no primeiro bote que
encostou, juntamente com Jeremias.
Lá, o capitão saiu em busca de um mecânico que
entendesse de caldeira. Faustino e a mulher foram dar uma volta pela cidade.
Esta, apesar de ainda manter uma aparência selvagem, pela beleza de suas dunas
e a exuberância de seus coqueiros, tinha um razoável número de habitações, até
um pequeno hotel possuía. Tendinhas, muitas. As ruas, sem calçamento, as casas
sem luz elétrica, era uma típica cidade da primeira metade do século XX do
nordeste brasileiro.
Andando pelas ruas estreitas, Maria Teresa achou
alguns armarinhos e pequenas lojas onde eram vendidos vestidos prontos, sapatos
vindos do Rio ou São Paulo, tecido para fazer roupas. Comprou alguma coisa e
deu de presente um outro chapéu para Faustino, de cor bege com uma fita azul.
Almoçaram fartamente num pequeno bar local, buchada de bode com batata cozida.
O pessoal da cidade pareceu muito hospitaleiro,
agradável, querendo demonstrar sua satisfação em receber tão ilustres
visitantes. Enfim, tudo bem diferente de Timbaúba.
Encontraram Jeremias afobado, andando apressado numa
das ruas da cidade.
– Parece que encontrei alguém, “seu” Faustino – disse
ele. – Vou levar o cabra lá no navio pra ele dar uma olhada na caldeira. Ele me
disse que acha que pode consertar.
– Tudo bem, capitão – respondeu Faustino. – Espero que
ele faça o conserto.
Pedro também foi a terra ver se achava mais alguns
homens para fazer parte da expedição. Contratou um, João Paulo, um negão de
quase dois metros de altura, forte como um touro e bronco como ele só.
Analfabeto, falava quase soluçando, aos tropeções. Mas, segundo Pedro relatou a
Faustino, já participara de uma expedição ao Amazonas, tendo, portanto,
experiência da vida na selva. Segundo
ainda Pedro, de acordo com as informações colhidas na cidade, era homem pacato,
leal e muito trabalhador. Vivia sozinho, não tinha família nem ninguém que o
prendesse aquele local.
Faustino ainda procurou um médico na cidade, para que
fizesse um exame de rotina em Maria Teresa, verificar como estava indo sua
gravidez. Também queria comprar mais quinino, que passou a usar desde que foi
atacado pela malária.
Infelizmente, não havia médico no local, só um
farmacêutico, mesmo assim um prático, nem formado era. Decidiu esperar até
chegar em Belém para a consulta da mulher. Conseguiu comprar, entretanto, três
frascos de quinino.
Quando retornaram ao “Rosamar”, a boa notícia: a
caldeira fora consertada e o navio poderia retomar sua velocidade normal, que,
apesar de ser muito baixa, pelo menos era aquela que deveria seguir.
Às sete da noite, zarparam em direção a uma nova
escala.
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