segunda-feira, outubro 24, 2016

BOTAFOGO...

BOTAFOGO, a surpresa...

Calfilho




            Não pretendia fazer qualquer comentário aqui sobre o Botafogo até terminar o campeonato brasileiro deste ano... Aliás, uma das superstições botafoguenses é não elogiar muito o time porque isso pode dar azar e a época de boa maré que atravessamos atualmente pode rapidamente transformar-se em um terrível maremoto e tudo ir por água abaixo nessas últimas seis rodadas.
           De há muito se foi a época em que tínhamos um timaço, uma equipe repleta de vários craques em praticamente todas as posições. Foi a época em que nosso goleiro Manga, antes de um jogo contra o Flamengo, dizia que já podia gastar o "bicho" na véspera porque a vitória seria certa no dia seguinte.. A época em que o Botafogo era o maior fornecedor de jogadores para a seleção brasileira e rivalizava com o Santos de Pelé, Coutinho e Cia. a honra de ser considerado o melhor time do Brasil... A época em que a equipe botafoguense era requisitada para excursões em vários países do mundo...
          Desde aqueles tempos nunca mais formamos um grande time... Ficamos 21 anos sem ganhar um campeonato carioca, formamos uma equipe razoável em 1995 quando fomos campeões do Brasileiro, tivemos alguma esperança na época de Dodô e Seedorf, apenas isto. Visitamos a série B por duas vezes, voltamos para a A apenas para ser participante, terminando quase sempre em posições intermediárias, no máximo ganhando aqui e ali um decadente campeonato carioca...
        Sucessivas diretorias do clube foram fazendo-o afundar mais e mais, até chegarmos praticamente ao fundo do poço, acabando por perder nossa sede gloriosa de General Severiano...Conseguimos voltar para nossa casa com muito esforço e colaboração de abnegados botafoguenses. Mas, em campo, as equipes eram muito medíocres, muito longe da grandeza alvinegra...
         Ano passado novamente visitamos a série B do Brasileiro, tendo voltado à elite da série A neste ano de 2016, como campeões da B.
          No início do ano, formado o time, sinceramente não esperava grande coisa. Achava que nossa luta seria para não sermos rebaixados outra vez. Contrataram alguns estrangeiros de qualidade duvidosa, mesclando-os com alguns juniores e outros jogadores remanescentes da campanha da série B. Não poderíamos ir mesmo muito longe.
     Nosso técnico, Ricardo Gomes, que nos reconduziu à série A, apesar de excelente ser humano, não tinha a vibração necessária para mexer com os brios do time. Recuperando-se ainda de um violento AVC que sofrera anos antes, apenas ficava em pé, na beira do campo, sem nada dizer, sem nada falar.
       Fizemos um ridículo primeiro turno do Brasileiro, até que Ricardo recebe uma proposta do São Paulo, time também em crise. Aceitou-a e foi tentar fazer alguma coisa melhor num clube estável financeiramente e com um elenco, em tese, superior ao do Botafogo.
           Para o seu lugar, a diretoria escolheu Jair Ventura, até então um jovem auxiliar, com 35 anos de idade e que, como currículo só tinha o fato de ser filho de um dos maiores ídolos botafoguenses, o nosso Jairzinho. Apenas isso, nenhum trabalho em outro clube anterior, nada. Somente a vantagem de ter sido treinador das categorias de base do clube, conhecendo bem os jogadores que agora tentavam a sorte na equipe principal.
              E não é o que o time encheu-se de brios, passou a correr o tempo todo, disputando cada bola palmo a palmo, não considerando nenhuma delas como perdida? E os resultados começaram a aparecer... Hoje, seria o vice colocado do returno, perdendo apenas para o Palmeiras, líder absoluto. E já estamos na quinta colocação, disputando uma vaga na Libertadores.
              O time é praticamente o mesmo, já que os reforços que vieram (Camilo, Pimpão e Dudu Cearense) lá já estavam quando Ricardo Gomes ainda era o treinador.
               A presença de Jair Ventura na boca do túnel, vibrante, intenso, jogando com o time pode ter sido uma das causas do sucesso repentino. Jogador de futebol tem que ser cobrado, exigido, ameaçado de ficar na reserva, para que dê em retorno o futebol que dele é esperado.
             A equipe do Botafogo realmente surpreendeu-me. Raça, dedicação, entrega, apesar de não termos nenhum craque, nenhuma estrela de primeira grandeza.
        Compreendo bem as dificuldades que teve a diretoria para formar essa equipe e manter o pagamento dos salários em dia. Fiz parte do Conselho Deliberativo do clube quando ainda não tínhamos voltado para General Severiano. Senti de perto como as coisas do futebol eram tratadas com total amadorismo, por pessoas bem intencionadas, é certo, mas sem nenhuma experiência em um trabalho profissional de uma empresa, que é o que hoje são os clubes de futebol.
           Por isso, tiro o chapéu (apesar de não usá-lo) para o que essa diretoria e o departamento de futebol conseguiram fazer com esse nosso time, tirando realmente leite da pedra.
            Parabéns, Botafogo... rumo à Libertadores!!!!

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