domingo, fevereiro 22, 2015

A MAGIA DE PARIS 6


A MAGIA DE PARIS

Sexta parte

 

O 5º. Arrondissement

 
Calfilho
 
 
                       Paris é dividida em 20 "arrondissements". Esta é a denominação que eles dão às regiões da cidade e, que, aqui no Brasil, correspondem, mais ou menos, aos nossos "bairros". O "arrondissement" francês talvez seja maior que o nosso "bairro".
                O "quinto arrondissement" ou, simplesmente, "le cinquième", é o meu preferido, o bairro onde gosto de me hospedar.
                           É o chamado bairro latino ("quartier latin"), famoso no mundo inteiro por ser o reduto dos intelectuais franceses e do mundo inteiro, onde ficam situadas as principais faculdades de Paris, entre elas despontando a Sorbonne, bem como monumentos importantes como o Pantheon e as Termas de Cluny. Além, é claro, do belíssimo Jardim de Luxemburgo, palco de vários episódios importantes da história da cidade.
                         Deixamos a Cité, retornamos  pela Ponte St. Michel, passamos novamente em frente ao "Le Depart" e continuamos a subir o "Boul'Mich". Existem várias livrarias do lado esquerdo de quem sobe, vale a pena dar uma entrada e folhear alguma coisa que lhe interesse.
                        Estamos em pleno "cinquième". Atravessamos o Boulevard de Saint Germain-des-Prés, já temos as Termas de Cluny do nosso lado esquerdo. Na próxima rua, "du Sommerard", dobramos à esquerda e vamos visitar o Museu de Cluny, que nos mostra as ruínas das termas que os romanos construíram quando estiveram em Paris. Vale a pena visitar. A entrada é paga.
                        Depois da visita, continuamos o passeio.
                        Subindo o Boulevard de St. Michel, passamos a rua des Écoles e, mais à frente chegamos à praça onde a Sorbonne fica ao fundo. Logo no começo da pracinha, do lado esquerdo, está o busto de Auguste Comte, o pai do positivismo. Ele, que inspirou muitas coisas do Brasil, inclusive o "ORDEM E PROGRESSO" estampado em nossa bandeira, e, para mim, o que é mais importante, a excelente música do grande NOEL ROSA que se intitula justamente "POSITIVISMO". Do lado direito, em frente ao busto, está outro dos meus "bistrôs" favoritos de Paris, o "Tabac de la Sorbone", onde conheci e fiz um dos meus melhores amigos parisienses, um garçom que te serve à mesa e faz questão de ser chamado de Jean Claude (nada de "Monsieur). Vale a pena tomar o café da manhã ali (7 euros e cinquenta) ou almoçar uma costeleta de carneiro com fritas.
                 Prosseguindo na subida pelo Boul'Mich (é subida mesmo, pois trata-se de uma ladeira), passamos a rue Cujas (à esquerda, o Hotel Excelsior, onde ficamos hospedados em 1957) e chegamos à rua Soufflot. À direita, a praça Edmond Rostand, com seu belo chafariz,  e o Jardim de Luxemburgo.
                  Atravessamos a rua e, subindo, do lado direito, no número 19, paramos no "LA GUEUZE". Já são sete da noite, ainda não escureceu, mas o estômago reclama alguma coisa para comer. Kamel, um garçom marroquino (ou argelino, não sei ao certo), ao me ver, abre um largo sorriso:
                  -- Mon ami brésilien...
                  Cumprimenta-nos e pede que escolhamos a mesa. Já nos sentamos em quase todas, as da varanda, as do meio e as do fundo, em diversas ocasiões. Dessa vez, ficamos numa perto do bar e do caixa. A senhora, que deve ser a gerente (nunca perguntei), cumprimenta-nos e Kamel nos traz os cardápios. Nem precisava, pois já sei de cor o que nele consta.
                      O "LA GUEUZE" é um daqueles típicos bistrôs parisienses que ainda resistem aos modernismos que hoje dominam Paris (infelizmente). Sua especialidade é a culinária da Alsácia (região no extremo nordeste da França, que faz fronteira com a Alemanha). Aliás, uma das principais cidades dessa região é Estrasburgo (Strasbourg) que, dependendo da guerra da época, era ora francesa, ora alemã. É a que fica mais perto da fronteira, por isso os alemães a invadiam em primeiro lugar. No "LA GUEUZE", o prato mais solicitado é o "choucrute Royal", que é um joelho de porco cozido em água fervente, acompanhado de salsicha francfort, toucinho defumado (lardon) e o repolho bem temperado e cozido (o chucrute).
                    Mas, servem outras coisas.
                    Uma das minhas pedidas preferidas é a "pierrade". Pierre em francês significa pedra em português, como todos sabemos. Daí deriva o nome do prato. A pedra vem bem quente da cozinha e nela você vai colocando os pedaços de carne crua que estão ao lado, deixando-a fritar até o ponto em que deseja. Mal passado (sangnaint), ao ponto (à point) ou bem passado (bien cuit). Acompanham o prato uma variedade de molhos, bem como cebola crua, abobrinha crua e, algumas vezes somos presenteados com pepino cru, tudo cortado em rodelinhas, para que você os coma crus ou coloque na "pierre" para uma rápida tostada. O pão é servido junto com a comida, sem cobrança extra, é uma tradição da culinária francesa. A manteiga, hábito brasileiro para acompanhar o pão, é pago separadamente.
                     O "LA GUEUZE" também é uma casa especializada em cervejas. No cardápio você poderá escolher a marca de vários países do mundo (Bélgica, Alemanha, Inglaterra, Itália, México, entre outras). São servidas "na pressão" (o nosso chope) em copos de até dois litros ou em garrafa. E, não se surpreendam: no cardápio consta a nossa "Brahma" (tipo exportação, é claro). Prefiro acompanhar minha "pierrade" com meia garrafa de vinho tinto "Chinon", do vale do Loire. Mas, às vezes, quando ali paro apenas para uma cervejinha rápida, peço a Guiness, irlandesa, que quase não vemos aqui no Brasil.
                  Despeço-me de Kamel (após pagar a conta, é claro), continuo subindo a rua Soufflot. Vejo o Pantheon ao fundo, iluminado. Dou meia volta e vejo, ao longe, a parte de cima da Torre Eiffel, também toda iluminada.
                   O ar de Paris circula por meus pulmões...
                Continuaremos visitando o "cinquième"...
La Gueuze
La Gueuze
 

          
Pantheon
Sorbone

Nenhum comentário: