quinta-feira, fevereiro 26, 2015

A MAGIA DE PARIS 8




 



 

A MAGIA DE PARIS
Oitava parte
 
Transporte parisiense
 
 Calfilho
 
 
 
 
                         Quem me acompanha neste passeio por Paris deve ter reparado que visitamos a Cité e o quinto arrondissement a pé, não pegando nenhuma condução para tanto. E, olha que, em nosso passeio, conhecemos bastante coisa desses dois lugares. Segundo aqueles que realmente conhecem Paris o melhor modo de fazê-lo é mesmo a pé, caminhando por entre suas ruas estreitas ou por seus amplos boulevares ou avenidas. Assim, além dos pontos turísticos mais conhecidos, olhando para a direita ou esquerda, você vai descobrir sempre uma coisa nova, um novo ponto de interesse.
                          Por isso, o que sempre fiz quando chego à cidade é estudar com antecedência os locais que desejo visitar, procurar localizá-los num mapa de um bairro e ver se em outros bairros próximos também existem pontos que merecem uma visita. Assim fazendo, posso tranquilamente fazer a pé todo esse percurso e conhecer aquilo que realmente me interessa.
                           Partindo do cinquième, de um dos hotéis onde geralmente me hospedo (Senlis, Home Latin, Suez, Cujas Pantheon, ou Clunny Sorbonne), já vimos que podemos visitar a pé a Cité e todo o cinquième. Dali também podemos atravessar todo o Jardim de Luxemburgo e alcançar o bairro de Montparnasse, passando pela rue de Fleurus (onde residiu Gertrude Stein, cuja casa era frequentada pela intelectualidade da década de 1920, como Hemingway, Scott Fitzgerald, Picasso, James Joyce, Modigliani, entre outros). É um passeio delicioso, abrindo nossos pulmões para respirar o ar puro e arborizado do Luxemburgo, onde além do prédio do Senado, existe um grande lago onde as crianças brincam com seus barquinhos à vela, além de quadras de tênis e playgrounds para as crianças. Deixando a rue de Fleurus, atravessamos o Boulevard Raspail, depois a rue Notre Dame des Champs (outro endereço de Hemingway) para alcançar a rue de Rennes e, subindo a mesma, chegar em frente à enorme Torre de Montparnasse. Na rue de Rennes fiquei por umas três ou quatro vezes num hotel modesto, o Acacias St. Germain, dirigido por uma francesa apaixonada pelo Brasil, chamada Cécile. O hotel acabou sendo vendido para uma firma americana, que o reformou e mudou de nome.
                           No térreo da Torre de Montparnasse, existem várias lojas, inclusive uma filial das famosas "Galerias Lafayette". Pode-se subir até o alto da torre, com mais de 56 andares, em rápidos elevadores e, lá de cima, apreciar uma vista deslumbrante da cidade. A subida é paga.
                            Mais ao fundo, depois da torre, fica a Gare Montparnasse, moderna e funcional, de onde partem os trens para cidades próximas a Paris, como Chartres e Provins e para locais mais longínquos, com Saint Malo, Brest, Rennes, etc...
                            Montparnasse é mais sofisticado que o Quartier Latin, com lojas e restaurantes mais elegantes. No Boulevard do mesmo nome, ficam alguns restaurantes frequentados pela elite dos anos 20, como o "Le Dome", o "La Coupole", o "La Rotonde", "o Hipopotamus", além do famoso "Closerie des Lilas", reduto de Hemingway, situado na confluência do Boulevard de Montparnasse com o de St. Michel. Próximo à torre, nas duas ruas laterais (du Depart e d'Arrivée) encontramos vários restaurantes com culinária típica da Bretanha, sobressaindo os crepes e as cidras.
                            Bem, agora nos aventuremos a tentar alçar alguns voos mais afastados daquele miolo parisiense.
                             Paris é muito bem servida em matéria de transportes. A primeira grande diferença que encontrei entre 1957 e 1990 foi a construção do RER, que não existia àquela época. O metrô já corria pelos subterrâneos parisienses em 1957, cortando a cidade quase toda, em todas as direções. Praticamente há uma estação do metrô comum, assinalada com um M vermelho, em cada duas esquinas de Paris. Não precisa andar muito para localizar uma delas. Lógico que, em 1957, havia muito menos estações, que foram acrescidas com o aumento da cidade. Mas, naquela época, já achava impressionante como era possível locomover-se em todas direções, de forma rápida e segura, com um único bilhete de metrô.
                             Primeira característica: com um só bilhete você pode fazer quantas baldeações quiser, desde que não saia de alguma estação para o exterior, ou seja, para a rua. Como praticamente quase todas as linhas se cruzam entre elas, você pode planejar seu itinerário de onde se encontra até onde pretende chegar, fazendo as baldeações necessárias para alcançar o seu destino, sejam elas quantas forem. Mantenha sempre seu bilhete consigo após validá-lo nas roletas de acesso às plataformas. Só o jogue fora quando atingir definitivamente sua estação de destino. Preste atenção por onde transita sua linha escolhida (todas são numeradas, a partir da número 1), para não pegar a direção errada, pois cada linha tem duas direções (aqui no Rio, por exemplo, General Osório/Pavuna). Tenha certeza de que pegou a direção certa para não acabar na ponta errada da linha.
                           Os bilhetes podem ser comprados individualmente ou em carnets com 10 tickets (sai mais barato adquirir o carnet). Se você pretende usar o metrô várias vezes, em dias seguidos, talvez saia mais em conta comprar um passe de um, dois, três ou cinco dias, que dá direito a viagens ilimitadas durante o período de aquisição, desde que sua utilização seja em dias corridos e não intercalados. Esses passes são vendidos nas grandes estações do metrô.
                             Para mim, em 1990, a grande inovação foi a criação do RER. Trata-se de uma nova rede de metrô, construída um nível abaixo da antiga, com trens maiores e mais velozes, que só param em algumas estações (umas próprias, outras comuns com as da linha M), indo a locais fora dos limites de Paris, como os aeroportos Charles de Gaulle e Orly, a Eurodisney, Versailles. Se você circular apenas dentro de Paris, pode utilizar o RER com o mesmo bilhete do metrô comum. Se, entretanto, for para fora de Paris deve comprar um bilhete especial vendido em qualquer estação do RER.
                              Os bilhetes do metrô valem também para os ônibus e devem ser validados numa maquininha que fica ao lado do motorista. Os bilhetes valem apenas para uma viagem, não se podendo fazer baldeações entre ônibus, devendo o passageiro mantê-lo em seu poder, depois de validado até descer do veículo. Caso contrário, poderá ser multado, caso apareça um fiscal inesperado...

 

terça-feira, fevereiro 24, 2015

A MAGIA DE PARIS 7

 

A MAGIA DE PARIS

Sétima parte

 

Continuando nossa "balade" pelo "cinquième".
 
 
Calfilho
 
 
                               "Balade" é uma palavra francesa que significa passear, andar sem direção certa, deixar-se levar para onde o destino nos levar. Talvez "flanar". É uma  palavra normal da língua como também um pouco de "gíria" (ou "argot", como eles preferem).
                                 Nossa juventude, a brasileira, importou há poucos anos a expressão, transformando-a em "balada", com um significado um pouco diferente dos franceses. "Balada" aqui significa programa, em geral noturno, quando a juventude sai para curtir uma festinha, uma boate ou discoteca, quase sempre às sextas, sábados e domingos.
Pantheon
Pela manhã, após ter tomado o café matinal na "cave" do Senlis, saímos para explorar as redondezas do "cinquième". Subindo a rue Soufflot, chegamos logo ao Pantheon, o grande monumento da arquitetura francesa. Vemos logo escrita no alto de sua frente a frase "AUX GRANDS HOMMES LA PATRIE RECONAISSANTE". Se entrarmos pela porta principal, divisamos de imediato, no centro, o pêndulo de Foucault, que mede a rotação da terra. A entrada é paga.
Interior do Pantheon
                               Continuamos pelo enorme salão e lá no fundo achamos uma pequena porta que dá acesso à cripta, onde estão enterrados alguns dos homens célebres da história francesa. Entre eles Victor Hugo, Émile Zola, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, André Malraux, Jean Moulin (apenas em memória, pois seu corpo nunca foi encontrado), o casal Pierre e Marie Curie, Alexandre Dumas, Diderot, Jean Jaurés, Mirabeau, Louis Braille, René Descartes. É uma senhora viagem no tempo e, para aqueles que estudaram um pouco mais a fundo a história da França, um tesouro inestimável.
                                Se entrarmos por trás do Pantheon, onde também existe uma pequena porta, teremos acesso diretamente à cripta. É por lá que saímos. À nossa esquerda, no alto da montanha de Sainte Geneviève, está a igreja em homenagem à padroeira de Paris. Vale a pena uma visita ao seu interior, pois, espalhadas pelas amplas paredes existem pinturas que narram a história de Santa Genoveva, desde a época de Clóvis. A entrada é gratuita, são necessárias pelo menos duas horas para acompanhar a narração das pinturas, feita, aliás, em francês antigo.
                                 Deixando a igreja, por trás do Pantheon, descemos a rua Clovis até alcançarmos, mais à frente, a rua Descartes. Dobramos à direita e chegamos a um dos locais de que mais gosto em Paris, a Place de Contrescarpe. Digo isso porque ali ainda é um dos poucos lugares que conservam aquele ambiente de Paris do passado, da Paris autêntica, sem os modernismos que invadiram outros pontos da cidade.

Place de Contrescarpe
 A Contrescarpe é uma praça pequena, redonda, com um chafariz ao centro, cercado por uma vegetação bem cuidada, sendo uma espécie de rotatória onde poucos carros ali fazem manobras. Em toda a sua volta existem bares, bistrôs, lojas de souvenirs. Do seu lado esquerdo está a rua Cardinal Lemoine, onde logo no seu início, do lado esquerdo, existe um pequeno prédio, de quatro andares, tendo na sua portaria uma placa que diz que ali morou Ernest Hemingway.
                                   Dando a volta na praça, apreciando os cardápios de seus vários bistrôs expostos nas portas, escolhendo uma ou outra lembrancinha para comprar mais tarde para algum amigo ou amiga brasileiros, chego à famosa e incomparável rue du Mouffetard. Ali, realmente sinto-me à vontade.

Rue Mouffetard
Rue Mouffetard
                             
Rue Mouffetard


                              A Mouffetard é uma rua estreita, poucos carros passam por ela. Os mais íntimos a chamam de "La Mouffe". Ali, praticamente todos os dias da semana existe uma feira, que vende praticamente de tudo. Existem lojas tradicionais, mas, também os barraqueiros vendendo frutas, peixes, queijos, vinhos, roupas... Ali ainda se fala o francês autêntico, genuíno. Aos domingos grupos de música tocam seus instrumentos em cantos da rua, outros dançam velhas canções francesas: "La vie en rose", "Sous le ciel bleu de Paris", "La foule", etc... Existem restaurantes franceses, vietnamitas, japoneses, árabes, marroquinos, até argentinos... Enfim, uma visita que não se deve deixar de fazer, principalmente aos domingos, quando a rua se enche de gente...
                                Depois de provar um pedaço de queijo Époisse, tomar um gole de um Bordeaux bem forte, vamos até o fim da Mouffetard, voltamos pela rua du Monge e, se não estivermos cansados, fazemos uma rápida visita às Arenas de Lutéce, um dos marcos da presença romana em Paris...
                          

 

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

PATRICK LOUET, MEU AMIGO FRANCÊS

 

 

 

PATRICK LOUET, MEU AMIGO FRANCÊS

 
 

Um breve intervalo

 
 
Calfilho
 
 
 
 
 
                             Não era minha intenção falar agora sobre Patrick. Ia deixar mais para a frente, quando estivesse comentando minhas andanças pela França. Mas, meu filho mais novo, Sergio Fernando, o Zuza, (le "cadet" como dizem os franceses), hoje, ao telefone, disse-me que havia lido os seis capítulos que escrevi sobre "A MAGIA DE PARIS" e queria saber quando eu iria contar sobre nosso encontro com Patrick, já que ele foi um dos partícipes da história.
                              Decidi abrir um parêntese em minha narrativa para atender seu pedido, já que ele, assim como eu, somos muito gratos por tudo aquilo que Patrick nos ofereceu e ensinou sobre a França.
                              Foi engraçado... estávamos eu e Zuza (meu filho -- Sergio Fernando), no Hotel Vila Velha, em Salvador (Corredor da Vitória), para onde o levei para passar alguns dias, já que agora era sua vez. Já tinha levado meus dois outros filhos mais velhos um ano antes (o dinheiro era curto, não dava para levar todo mundo de uma só vez). Estávamos em setembro de 1988, e, segundo me recordo, as Olímpiadas corriam a pleno vapor (desculpem-me se me enganei). Já tinha feito amizade com o pessoal da recepção e, principalmente, com um botafoguense de mais de 70 anos, o Professor Saraiva, que usava uma gravata com os escudos do Bahia e do Botafogo.
                              Marquei na recepção uma pequena excursão para a Ilha de Itaparica. Viriam buscar-me no hotel, levar-me até o porto e ali embarcaria num saveiro. Depois, à tardinha, voltaria para o hotel, com o transfer já pago.
                               Pontualmente, no dia seguinte, eu e meu filho, após o café da manhã, aguardávamos o transporte para o porto.
                                Chegou uma van e, no banco de trás havia um passageiro. Cumprimentei-o, mas o motorista, um baiano arretado, em tom de ironia, foi logo dizendo:
                                 -- Fiquem à vontade, podem falar palavrão sem receio, esse babaca aí de trás é francês, não entende porra nenhuma do que vocês estão falando.
                                 Só estávamos os quatro na van.
                                 Patrick olhou para mim timidamente, dizendo apenas:
                                 -- Bonjour, Monsieur.
                                 Eu, lembrando-me das aulas de dona Estefânia e da minha passagem por Paris em 1957, apenas respondi:
                                 -- Bonjour, Monsieur.
                                 Puxei conversa, ávido que estava em voltar a falar um pouco de francês novamente. Perguntei-lhe várias coisas, embarcamos no mesmo saveiro que iria para Itaparica e, no fim do passeio, não sei se por educação ou curiosidade por ter podido a voltar a falar meu francês defasado, dei-lhe meu endereço de trabalho, onde eu já deveria estar na próxima segunda feira (o passeio foi num sábado). Ele também me disse que voltaria para Paris na terça feira e ficou de me visitar.
                                Não acreditei. Conheci o "cara" apenas superficialmente, se o tivesse visto novamente não saberia quem era.
                                 Segunda feira, voltei ao trabalho, no I Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Comentei, apenas de passagem, com o PM que trabalhava na porta do tribunal, cabo Cícero, e com minha secretária, Dra. Efigênia:
                                -- Olha, se aparecer alguém falando francês por aqui, me chama, é um conhecido meu. O nome dele é Patrick.
                                Eu tinha que presidir uma apresentação de jurados naquele início de mês. Era uma coisa de que eu não abria mão de estar presente. Gostava de conversar com eles, explicar-lhes a importância e a responsabilidade de que estavam investidos, enfim, transmitir-lhes confiança na árdua tarefa que iriam desempenhar. Vesti a toga e já me apressava para sair do gabinete, quando o cabo Cícero me chamou:
                                 -- Excelência, tem uma pessoa estrangeira aí fora que quer falar com o senhor...
                                  Efigênia entrou logo após, dizendo, agitada, com seu jeito alegre e comunicativo de falar:
                                   -- Excelência, o Patrick está aqui.
                                   Surpreso, pois sinceramente não esperava sua visita, mandei-o entrar. Ele parece que ficou espantado quando me viu vestindo a toga preta com a faixa branca na cintura.
                                   Trocamos um aperto de mão, ele sempre com um sorriso nos lábios. Disse-lhe, no meu francês arrastado:
                                    "-- S'il vous plait, attendez-moi dix minutes, nous irons déjeuner ensemble" (Por favor, espere-me uns dez minutos que iremos almoçar juntos).
                                    Deixei-o à vontade em meu gabinete, sentado num dos confortáveis sofás que o mobiliavam, pedi à Dra. Efigênia que providenciasse água e café para a visita.
                                    Dirigi-me à sala secreta, que ficava do outro lado do prédio, após atravessar o famoso Salão dos Passos Perdidos. Os jurados já ali estavam sentados à minha espera. Alguns já conhecidos de julgamentos anteriores, outros estreando como juízes do Tribunal do Júri. Dei-lhes as boas vindas, fiz uma rápida preleção sobre o trabalho que ali iriam desempenhar naquele mês de outubro, respondi a algumas dúvidas e perguntas. Encerrada a sessão de apresentação, convoquei-os para o dia seguinte, quando iríamos realizar o primeiro julgamento do mês.
                                    Voltei ao meu gabinete. Patrick imediatamente levantou-se, em sinal de respeito. Sorrindo, apenas disse-lhe:
                                       "-- Asseyez-vous, Monsieur, pas besoin de se lever".
                                        Ele sentou-se, um pouco encabulado. Fui tirando a toga, pendurando-a num cabide, coloquei novamente o paletó do terno e perguntei-lhe:
                                        "-- Allors, allons-nous déjeuner?"
                                        Claro que meu francês de 1988 não chegava aos pés do atual, onde, após várias viagens a Paris, além dos cursos audiovisuais que fiz, devo ter dado uma boa melhorada.
                                         Por isso, não sei como Patrick entendeu o que falei, meus evidentes erros de francês, bem como o sotaque carioca. Mas, sempre sorrindo ao meu lado, deixamos o antigo prédio da rua Dom Manuel e dirigimo-nos ao restaurante "Chamego do Papai", que ficava ali perto, na avenida Erasmo Braga (pena que fechou). Ali fui recebido pelo amigo João Miguel, garçom com bastante tempo de casa que logo nos indicou minha mesa favorita.
                                         Pedi um bife de carne seca acompanhado de arroz, feijão preto, batata frita e farofa. Sugeri o mesmo para Patrick, mas por ele não saber o que era carne seca, preferiu pedir um prato de peixe. Ele tomou uma cerveja, eu uma água mineral, pois tinha que voltar para trabalhar.
                           Conversamos bastante, com alguma dificuldade é claro, pois ele não falava quase nada de português e eu, pouca coisa de francês. Às vezes entremeávamos com algumas frases em inglês, língua que nós dois conhecíamos um pouco.
                           Trabalhava numa firma de seguros internacional, famosa no mundo inteiro, a GENERALI. Trabalhava em Paris, mas morava nos arredores, numa pequena cidade chamada L'ÉTANG LA VILLE. Era solteiro, tinha quarenta anos (seis mais novo que eu), cabelos prematuramente grisalhos, estava quase noivo em Paris de uma russa, chamada Natasha. Já viera ao Brasil por três vezes anteriormente, a trabalho e a passeio. Mas, costumava ficar mais em São Paulo, onde tinha negócios de sua firma a resolver. Adorava o Brasil, principalmente pelo futebol e a música, mas também pela espontaneidade de seu povo. Disse-me que ficou surpreso ao me ver de toga recebendo-o em meu gabinete, depois de ter me visto de short em Itaparica, ajudando meu filho a descer de um pequeno bote que nos transportou do saveiro até a praia dos Frades. Na França, disse-me ele, era praticamente impossível alguém do povo ser recebido no gabinete de um juiz, a não ser que fosse réu ou testemunha.
                            E contou-me da sua surpresa, quando ao chegar ao meu gabinete, antes mesmo de falar comigo, minha secretária foi logo abraçando-o efusivamente, dizendo-lhe em português:
                             "-- Patrick, Patrick, que satisfação... o Dr. Carlos já espera o senhor..."
                             Contou-me ele que, na França, isso seria impossível de acontecer. Lá, as pessoas só se tratam por tu depois de muito tempo de conhecimento e intimidade. Antes, o tratamento é vous, que é como nos dirigimos a um garçom ou a um motorista de táxi. O francês, nesse ponto, é muito formal.
                              Terminado o almoço, solicitou-me ajuda para confirmar seu voo de volta para Paris, com escala em Madri, pois era um voo da Ibéria. Deixei-o aos cuidados da Dra. Efigênia que telefonou para a Cia. aérea e logo resolveu o problema.
                               Trocamos endereços, telefones, tendo eu lhe dito que ansiava por rever Paris, após contar minha aventura de 1957 e que aquele nosso encontro casual em Salvador fez reacender esse meu desejo.
                       

Patrick em Fontainebleau, quando visitamos a cidade, residência de verão de Napoleão
       Em julho de 1990 requeri minha aposentadoria. Em agosto daquele ano, já estava deixando minhas malas no quarto do hotel de Senlis que Patrick havia me reservado. Ele fora me esperar no aeroporto e me conduziu até o hotel. Durante os 20 dias que ficamos em Paris, almoçamos e jantamos várias vezes, fazendo ele questão de me mostrar as coisas novas que aconteceram na cidade depois da minha passagem por lá em 1957.
                                  Apresentou-me a alguns colegas de trabalho, como Jean-Pierre, Anne-Marie, Gérard, Loic, entre outros. Às vezes jantamos em alguns restaurantes da redondeza. Quando eles conversavam lentamente dava para eu entender o que falavam. Mas, quando aceleravam a rotação da conversa eu ficava sem compreender grande parte do que diziam. Aos poucos fui melhorando, assimilando uma coisa aqui, outra ali.
                                   Patrick sempre relembrava aos seus colegas como eu e ele nos conhecemos, o espanto quando ele me viu de toga, o almoço no Chamego...
                                    Em outubro daquele mesmo ano, 1990, ele veio ao Brasil, trazendo seu amigo Jean-Pierre com ele. Reservei hotel para eles em Copacabana (Patrick, anteriormente, até por desconhecimento, só se hospedara em hotéis da Lapa ou Santa Teresa). Reservei passagens de avião e hotel para que eles fossem a Paraty, Porto Alegre, Gramado, Canela, Curitiba, Foz do Iguaçu e Salvador. Levei-os de carro até Petrópolis e Niterói. Almoçamos e jantamos juntos várias vezes em restaurantes do Rio.
                                     Daí, nossa amizade se fortaleceu e, nas vezes seguintes em que viajei para a Europa tive sempre a companhia dele e de seus colegas de trabalho, que não se cansavam de nos cumular de gentilezas.

Patrick, Anne-Marie, Gérard et Jean-Pierre
                                       Patrick acabou casando com Natasha e, quando o filho deles nasceu (acredito que em 1992), teve a gentileza de me telefonar dizendo, transbordando de alegria:
                                      "-- Carlos, le bébé est né... un garçon..."
                                       Infelizmente, seu casamento não durou muito tempo. Segundo minha opinião pessoal, Natasha queria apenas obter a cidadania francesa, casando-se com um francês. Isso amargurou Patrick durante muito tempo, que, entretanto, fez questão de acompanhar o crescimento do filho, levando-o a todos os lugares por nós frequentados.
                                        Devido a ele (e a seus amigos) minha paixão por Paris e pela França se consolidou fortemente durante o período em que tive a honra de ser seu amigo...
                                        

                                    
                                     

domingo, fevereiro 22, 2015

A MAGIA DE PARIS 6


A MAGIA DE PARIS

Sexta parte

 

O 5º. Arrondissement

 
Calfilho
 
 
                       Paris é dividida em 20 "arrondissements". Esta é a denominação que eles dão às regiões da cidade e, que, aqui no Brasil, correspondem, mais ou menos, aos nossos "bairros". O "arrondissement" francês talvez seja maior que o nosso "bairro".
                O "quinto arrondissement" ou, simplesmente, "le cinquième", é o meu preferido, o bairro onde gosto de me hospedar.
                           É o chamado bairro latino ("quartier latin"), famoso no mundo inteiro por ser o reduto dos intelectuais franceses e do mundo inteiro, onde ficam situadas as principais faculdades de Paris, entre elas despontando a Sorbonne, bem como monumentos importantes como o Pantheon e as Termas de Cluny. Além, é claro, do belíssimo Jardim de Luxemburgo, palco de vários episódios importantes da história da cidade.
                         Deixamos a Cité, retornamos  pela Ponte St. Michel, passamos novamente em frente ao "Le Depart" e continuamos a subir o "Boul'Mich". Existem várias livrarias do lado esquerdo de quem sobe, vale a pena dar uma entrada e folhear alguma coisa que lhe interesse.
                        Estamos em pleno "cinquième". Atravessamos o Boulevard de Saint Germain-des-Prés, já temos as Termas de Cluny do nosso lado esquerdo. Na próxima rua, "du Sommerard", dobramos à esquerda e vamos visitar o Museu de Cluny, que nos mostra as ruínas das termas que os romanos construíram quando estiveram em Paris. Vale a pena visitar. A entrada é paga.
                        Depois da visita, continuamos o passeio.
                        Subindo o Boulevard de St. Michel, passamos a rua des Écoles e, mais à frente chegamos à praça onde a Sorbonne fica ao fundo. Logo no começo da pracinha, do lado esquerdo, está o busto de Auguste Comte, o pai do positivismo. Ele, que inspirou muitas coisas do Brasil, inclusive o "ORDEM E PROGRESSO" estampado em nossa bandeira, e, para mim, o que é mais importante, a excelente música do grande NOEL ROSA que se intitula justamente "POSITIVISMO". Do lado direito, em frente ao busto, está outro dos meus "bistrôs" favoritos de Paris, o "Tabac de la Sorbone", onde conheci e fiz um dos meus melhores amigos parisienses, um garçom que te serve à mesa e faz questão de ser chamado de Jean Claude (nada de "Monsieur). Vale a pena tomar o café da manhã ali (7 euros e cinquenta) ou almoçar uma costeleta de carneiro com fritas.
                 Prosseguindo na subida pelo Boul'Mich (é subida mesmo, pois trata-se de uma ladeira), passamos a rue Cujas (à esquerda, o Hotel Excelsior, onde ficamos hospedados em 1957) e chegamos à rua Soufflot. À direita, a praça Edmond Rostand, com seu belo chafariz,  e o Jardim de Luxemburgo.
                  Atravessamos a rua e, subindo, do lado direito, no número 19, paramos no "LA GUEUZE". Já são sete da noite, ainda não escureceu, mas o estômago reclama alguma coisa para comer. Kamel, um garçom marroquino (ou argelino, não sei ao certo), ao me ver, abre um largo sorriso:
                  -- Mon ami brésilien...
                  Cumprimenta-nos e pede que escolhamos a mesa. Já nos sentamos em quase todas, as da varanda, as do meio e as do fundo, em diversas ocasiões. Dessa vez, ficamos numa perto do bar e do caixa. A senhora, que deve ser a gerente (nunca perguntei), cumprimenta-nos e Kamel nos traz os cardápios. Nem precisava, pois já sei de cor o que nele consta.
                      O "LA GUEUZE" é um daqueles típicos bistrôs parisienses que ainda resistem aos modernismos que hoje dominam Paris (infelizmente). Sua especialidade é a culinária da Alsácia (região no extremo nordeste da França, que faz fronteira com a Alemanha). Aliás, uma das principais cidades dessa região é Estrasburgo (Strasbourg) que, dependendo da guerra da época, era ora francesa, ora alemã. É a que fica mais perto da fronteira, por isso os alemães a invadiam em primeiro lugar. No "LA GUEUZE", o prato mais solicitado é o "choucrute Royal", que é um joelho de porco cozido em água fervente, acompanhado de salsicha francfort, toucinho defumado (lardon) e o repolho bem temperado e cozido (o chucrute).
                    Mas, servem outras coisas.
                    Uma das minhas pedidas preferidas é a "pierrade". Pierre em francês significa pedra em português, como todos sabemos. Daí deriva o nome do prato. A pedra vem bem quente da cozinha e nela você vai colocando os pedaços de carne crua que estão ao lado, deixando-a fritar até o ponto em que deseja. Mal passado (sangnaint), ao ponto (à point) ou bem passado (bien cuit). Acompanham o prato uma variedade de molhos, bem como cebola crua, abobrinha crua e, algumas vezes somos presenteados com pepino cru, tudo cortado em rodelinhas, para que você os coma crus ou coloque na "pierre" para uma rápida tostada. O pão é servido junto com a comida, sem cobrança extra, é uma tradição da culinária francesa. A manteiga, hábito brasileiro para acompanhar o pão, é pago separadamente.
                     O "LA GUEUZE" também é uma casa especializada em cervejas. No cardápio você poderá escolher a marca de vários países do mundo (Bélgica, Alemanha, Inglaterra, Itália, México, entre outras). São servidas "na pressão" (o nosso chope) em copos de até dois litros ou em garrafa. E, não se surpreendam: no cardápio consta a nossa "Brahma" (tipo exportação, é claro). Prefiro acompanhar minha "pierrade" com meia garrafa de vinho tinto "Chinon", do vale do Loire. Mas, às vezes, quando ali paro apenas para uma cervejinha rápida, peço a Guiness, irlandesa, que quase não vemos aqui no Brasil.
                  Despeço-me de Kamel (após pagar a conta, é claro), continuo subindo a rua Soufflot. Vejo o Pantheon ao fundo, iluminado. Dou meia volta e vejo, ao longe, a parte de cima da Torre Eiffel, também toda iluminada.
                   O ar de Paris circula por meus pulmões...
                Continuaremos visitando o "cinquième"...
La Gueuze
La Gueuze
 

          
Pantheon
Sorbone

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

A MAGIA DE PARIS 5

 

A MAGIA DE PARIS

Quinta Parte

A Cité

 
 
Calfilho
 
 
 
 
                            

Continuando nosso passeio, depois de almoçar no "Le Depart", pegamos a rua que margeia o Sena, para a direita e logo divisamos, majestosa, a Catedral de Notre Dame. Fica ela na Cité, uma ilha localizada no meio do Sena e que é um dos marcos da fundação de Paris. Não me vou atrever a contar a história da construção da Catedral, recomendo a vocês a leitura do livro "SEDUÇÃO DE PARIS", de Benjamim Santos.
                    Indo até a próxima esquina, com a rua Saint Jacques, atravessamos a rua, depois  a ponte que separa a ilha da Rive Gauche. Pronto, estamos em frente a Notre Dame. Há uma longa praça cimentada denominada Parvis Notre Dame (Place Jean Paul II) e, logo do lado esquerdo, existe uma escadaria que dá acesso a uma espécie de subsolo, onde está a Cripta Arqueológica, as ruínas da fundação da catedral. É uma visita muito interessante, as ruínas foram descobertas há não muito tempo atrás, remontando à época da construção da catedral, que ocorreu no século XIII. A visita à cripta é paga. Na praça, se vocês viram o filme "Paris em Chamas", em frente à Notre Dame, posicionaram-se os tanques alemães nos dias finais da ocupação nazista em Paris, direcionando seus canhões para a Chefatura de Polícia, em frente. Como a história terminou, sugiro ver o filme...
                     Mais à frente, à direita, antes da catedral, vê-se uma imponente estátua de  um homem a cavalo. É Carlos Magno.
                      Normalmente, a entrada para a visita da Notre Dame é feita pela grande porta à direita. Costuma haver uma pequena fila, maior aos domingos quando é celebrada a missa cantada às 18 horas. A entrada é gratuita.
                      O interior é magnífico, amplo, vale a pena uma caminhada vagarosa pelas duas grandes alas. Cuidado com os "pickpockets", anúncio que se vê por toda a parte. Os vitrais são deslumbrantes. Sugiro começar a visita pela ala direita, por onde entrou, vá até por trás do altar e volte pela ala esquerda, até a saída, onde se encontra uma outra grande porta. Lá dentro existem pequenas boutiques onde pode-se comprar alguns souvenirs, medalhas, santinhos. Se for católico, não deixe de acender uma vela para um ente querido e fazer uma prece.
                  Na saída, do lado direito,  você encontrará uma fila para subir até o alto da catedral. A subida é pelas escadas, um pouco cansativa (fiz isso quando tinha 50 anos, hoje seria impossível), e é paga. Lá em cima você terá uma vista maravilhosa da cidade, com o Sena do  seu lado esquerdo. Com um pouco de sorte, talvez possa encontrar o Quasímodo passeando por entre os grandes sinos...
                    Seguindo a rue du Cloitre Notre Dame, tendo a catedral do seu lado direito e uma grande variedade de pequenas lojas à sua esquerda, chegamos aos fundos da igreja, onde existe um pequeno jardim com bancos onde podemos sentar para um rápido descanso. Mais à frente existe uma pequena ponte que dá acesso à ilha de Saint Louis, menor que a Cité, e onde estão localizadas as residências mais caras de Paris, que pertencem às famílias ricas e tradicionais. Lá também encontra-se uma das sorveterias mais famosas da cidade, a Glacier Bertillhon, na rue Saint Louis-en-Ile, 29/31.
                          Se, ao chegar ao Parvis Notre Dame, preferir seguir em frente pela rue de la Cité, passando em frente à Central de Polícia (para onde os tanques apontaram), encontraremos o Marché aux Fleurs (Mercado das Flores), onde existem umas cinquenta barraquinhas vendendo flores e arranjos ornamentais.
                         Após visitar o mercado, caminhe até o outro lado da Cité, no Quai de la Corse, dobre à esquerda até chegar ao Boulevard du Palais (famoso pela série do mesmo nome, transmitida recentemente pela TV5 Monde). Logo na esquina, você verá no alto de uma torre, um enorme relógio dourado, que é o mais antigo da cidade.
Essa torre faz parte de um prédio, a Conciergerie, a prisão mais famosa de Paris (depois da Bastilha), onde ficaram presos Danton e Maria Antonieta, entre vários outros. É imprescindível uma visita, pois o local é um dos marcos da Revolução Francesa, impregnado de história, onde se encontram as celas onde os presos ficavam, inclusive a de Maria Antonieta, com o oratório onde ela fez sua última oração antes de seguir para o cadafalso. É uma visita de mais ou menos uma hora. Também é paga.
                      Descendo o Boulevard du Palais, passamos pelo Palácio da Justiça, que é o grande foro francês, onde se julgavam e condenavam os inimigos da Revolução, funcionando atualmente como corte judicial (se tiverem interesse, convido-os à leitura de meu modesto livro "O RENASCER", onde tento romancear uma historinha da época da "Revolução Francesa").
                       Continuando a descer, ao lado do Palácio, está a Sainte Chapelle, que também deve ser visitada. Seu interior é esplendoroso, os vitrais são magnifícos, o local é grandioso. Foi construída para guardar a coroa de espinhos de Jesus Cristo, que, mais tarde, foi levada para a Notre Dame (leiam novamente "SEDUÇÃO DE PARIS", de Benjamim Santos).
                       Numa das pontas da Cité, encontramos a "Pont Neuf" (não esqueçamos que ponte em francês é masculino e não feminino como em português). Ali, foi gravado o filme de que gosto muito, "Les amants du Pont Neuf", e onde se pega um dos vários "bateaux mouches" de Paris, os barquinhos turísticos que fazem o passeio do Sena .
                  Continuamos, no próximo capítulo...

 
 
 
 
 

terça-feira, fevereiro 17, 2015

A MAGIA DE PARIS 4

 A MAGIA DE PARIS

Quarta Parte

Redescobrindo a cidade


Calfilho
 
 
 
 
                            Seria muito útil que o viajante soubesse falar alguma coisa em francês. Não precisa ser fluente na língua. Eu não sou, apesar das minhas várias viagens à França. Não consigo, por exemplo, acompanhar a conversação rápida dos estudantes franceses nos bares da Sorbone. Nem consigo assistir um filme francês sem legendas, mesmo que estas estejam  apenas na língua deles, o que dá para compreender razoavelmente. Quando ouço a juventude conversando num barzinho nas imediações da Sorbone, consigo entender somente, talvez, sessenta por cento do que falam. Conversam muito rapidamente, usam muitas gírias e têm o hábito de cortar as palavras pela metade. Assim, para eles, "faculté" é "fac", "manifestation" é "mani", "impermeable" é "imper", "calvados" é "calvas"... Aí, realmente, fica difícil...
                            Deve ser a mesma dificuldade que eles têm quando nos ouvem falar "tá bom", "tá legal", "é por aí"... Lembro que, recentemente, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, ao tentar discursar abrindo a Copa das Confederações no Brasil, tentou falar em espanhol "Mis amigos de Brasil...Hoy (hoje)..." e o Maracanã inteiro respondeu, em tom de gozação: "Oi..."
                            Por isso, não se preocupem por não dominarem o idioma. Poucos estrangeiros o fazem corretamente. Aliás, reparei que os cursos especializados em línguas aqui no Brasil, como a Aliança Francesa ou a Cultura Inglesa, preocupam-se em ensinar o idioma estrangeiro sob o aspecto meramente literário. Não visam eles passar para o aluno o dia a dia do habitante do país, o cotidiano. Vi alguns amigos e amigas que fizeram o curso completo, tanto da Aliança como da Cultura, não saberem se expressar na França ou Inglaterra, quando entram numa loja, num restaurante, num táxi, ou pedem uma informação na rua. Falam de modo formal, correto mas literário, e o homem do povo por vezes não os compreendem.
                            Sobre o aprendizado da língua francesa tenho apenas os quatro anos do curso ginasial do Liceu de Niterói, e, depois que voltei a Paris, em 1990, procurei estudar um pouco através de cursos de audiovisual, entre eles o "Bienvenue en France", e o "Francês em ação" (este último gerado pela TV Educativa). Ajudaram-me muito a desenvolver meu francês básico e a saber me "virar" no dia a dia da vida parisiense. Além disso, Patrick, esse amigo que já mencionei, auxiliou-me bastante para que eu pudesse andar pela cidade, pedir uma refeição num restaurante, conversar com um garçon, pedir uma informação, dar o endereço a um motorista de táxi. Patrick já tinha vindo ao Brasil três vezes antes de nos conhecermos, em 1988. Adorava o Brasil, seu povo, sua música e o futebol. Pouco falava do português, por isso conversávamos em francês. Ele falava pausadamente para que eu pudesse entende-lo com clareza. Quando eu ia a Paris, almoçávamos ou jantávamos com frequência. Outras vezes acompanhou-nos a passeios fora da cidade, como a Versailles, Fontainebleau, Auxerre, Deauville. Assim, meu francês foi melhorando aos poucos.
                          Mas, para falar com fluência uma língua estrangeira entendo que é necessário passar um longo período no país, convivendo diariamente com seus habitantes, sendo obrigado a falar, dia após dia, a língua local. Não consegui isso porque não fico lá muitos meses seguidos, apenas de 15 a 30 dias, no máximo 60, o que é insuficiente para um domínio da língua.
                         Bem, voltemos a 1990. Depois de termos deixado as malas no quarto do hotel, saímos para almoçar. Tentava lembrar-me de algum lugar conhecido, de algum ponto de referência esquecido num canto qualquer de minha memória. Descemos a ruazinha em frente ao SENLIS, rue Paillet, dobramos à esquerda na rue Souflot. Olhei para a direita, lá estava ele, imponente, no fim da rua: o Pantheon. Descendo a Souflot, em direção ao Jardin du Luxembourg, que já divisava ao longe, logo alcançamos o Boulevard de Saint Michel, meu velho conhecido de 1957.
                       O velho "Boul' Mich" estava um pouco modificado. Alguns dos cafés e restaurantes que existiam em 1957 haviam sido substituídos por lojas do MacDonald's e King's Burger, bem como com outras de marcas modernas, como a GAP. Descemos o boulevard, na direção do Sena. Na esquina com a rue Cujas, divisei o velho hotel Excelsior, onde me hospedara em 1957. Mas, o pequeno restaurante que havia na esquina, onde eu almoçava salsichas francfort com fritas ou jogava "flipper" com meus irmãos menores, já não existia mais.
                       Continuei descendo e, logo cheguei à pracinha, onde, ao fundo, se divisava a Sorbone. Tudo continuava igual, salvo algumas lojas novas que substituíram as antigas. O busto de Auguste Comte ali ainda se encontrava, alguns cafés e restaurantes do lado direito da praça, na direção da grande faculdade. Como sempre, repletos de gente, na grande maioria estudantes.
                       Prossegui na minha caminhada, em direção ao Sena. Atravessei a rue des Écoles, cheguei à rue du Sommerard. Na esquina começavam as Termas de Cluny, ruínas da época da passagem dos romanos pela cidade. Impressionante como elas se mantém intactas, preservadas, cercadas apenas por uma grade de ferro. Na rua du Sommerard está a entrada do Musée du Cluny, que guarda objetos do período romano e mostra o interior das termas.
                       Rapidamente, veio-me à mente a imagem de um senhor bonachão, um pouco obeso, de bigode, italiano, vestindo sempre um grosso sobretudo escuro, que tinha uma pequena barraca de frutas naquela esquina e que, em 1957, costumava dizer para mim e meus irmãos, quando por ali passávamos, numa mistura de italiano e português (pois soubera que éramos brasileiros):
                       "-- Allora passare por aqui...".
                       As ruínas das termas de Cluny ocupam todo aquele quarteirão, entre a Sommerard e o Boulevard de Saint German-des-Prés, considerado o reduto dos existencialistas. Na esquina com este último fica um pequeno jardim.
                       Atravessando o boulevard, podemos continuar descendo por Saint Michel ou seguir em frente pela rua de La Harpe, ingressando no denominado "quartier grec". Por aqui, surge logo aquela grande quantidade de pequenas lojas de souvenirs e restaurantes de várias nacionalidades, predominando os gregos. Mas, também  muitos italianos, orientais, até mesmo franceses. É costume ver-se os gerentes desses restaurantes convidando os possíveis fregueses para saborearem os quitutes regionais, numa disputa ferrenha por clientes.
                        O bairro grego é, realmente espetacular, é um dos meus preferidos. Sempre fervilhando de gente de todas as nacionalidades, você pode passear por ele tranquilamente, escolhendo com calma a lojinha em que vai comprar um presentinho para alguém do Brasil, ou o restaurante em que vai almoçar ou jantar. Ou, se preferir, apenas beber uma cerveja Guiness ou de outra marca, num dos vários bares à sua disposição. Tem até um MacDonald's na esquina dae La Harpe com Saint Germain-des-Prés, para aqueles que preferem um sanduíche rápido.
                      Desculpem-me se, de agora em diante, vou misturar minhas impressões parisienses: as que vivenciei em 1957 com aquelas de 1990 até os dias de hoje. Vou evitar fazer comparações e convidar o amigo leitor a me acompanhar nessa viagem no tempo.
              Entre os vários restaurantes que frequento atualmente destaco o "Le Depart", que fica na esquina do Boulevard Saint Michel com o rio Sena, junto à estação de Metro. Os franceses fazem uma diferença entre "bistrô" e "restaurant". O bistrô é, ao mesmo tempo, bar e restaurante, servindo refeições mais ligeiras, menos sofisticadas. É quase sinônimo de "brasserie", sendo que nestes, predominam o serviço de restaurante. Já o "restaurant" é o estabelecimento mais fino, onde só servem bebidas acompanhando refeições. Aliás, uma das características dos franceses mais antigos é o de fazer grandes refeições. Tudo regado a um tipo de vinho escolhido para o prato escolhido: um para a entrada, outro para o prato leve , outro para o pesado (geralmente uma carne), outro mais para os queijos, mais um para a sobremesa e, finalmente um digestivo, pois ninguém é de ferro. São célebres as histórias de que as pessoas mais antigas sentavam-se à mesa às 12 horas e só a deixavam por volta das 16.
"Le Départ"
                  
Hoje, isso dificilmente ocorre. As pessoas geralmente preferem os bistrôs, onde, fazem uma refeição mais simples (uma vitela à milanesa acompanhada de espaguete; um filet com fritas; uma carne de boi à bourgogne; metade de frango com fritas ou salada; uma lasanha, entre outras), acompanhada de um cerveja, uma taça de vinho, água mineral ou refrigerante (experimentem a "orangina"), ou mesmo um "jus de fruits". E, não deixem de experimentar as sobremesas ("ile flotante", "tarte aux amendes", "tarte de citron aux merengues", entre várias). São simplesmente deliciosas, um convite a engordar rapidamente.
                           Gosto de acompanhar a refeição com um "pichet" (pequena jarra com 25 ou 50 centilitros) de vinho tinto, como o Sancerre, o Bordeaux, o Côte de Rhone ou o Beaujolais. Não sou especialista em vinhos, apenas indico aqueles que costumo beber. E, também uma garrafinha de "Badoit", "Perrier" ou "São Pelegrino", as águas minerais mais comuns em Paris.
                             Não se preocupem. Acredito que a maioria dos viajantes não irá engordar, pois após o almoço irá perder os quilos que ganhou, repetindo aquilo que também costumo fazer: caminhar, andar muito por Paris, conhecer a cidade a pé, sem pressa, sem ansiedade, curtindo cada esquina, cada cantinho escondido, cada monumento, cada igreja, cada museu, cada ponto de interesse, parar onde quiser, observar, imaginar-se no século XIII, XIV, XV, até cairmos na realidade dos anos 2000...
                          O "Le Depart", além de ter funcionários muito prestativos e simpáticos (fiquei amigo de um deles, o ERIC), oferece uma razoável variedade de pratos e vinhos. Fica situado num local privilegiado, de seu interior vê-se o grande movimento de pessoas indo e vindo pela rua, subindo e descendo as escadas do metrô Saint Michel, bem em frente. Por outro lado, ficou famoso, pois nele foram prestados os primeiros socorros às vítimas de um atentado à bomba ocorrido do outro lado da rua, numa outra saída do metrô Saint Michel (o RER), já do lado do Sena, há alguns anos atrás, na década de 90, segundo me recordo...
                      
                        

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

A MAGIA DE PARIS 3

A MAGIA DE PARIS

Terceira parte

A CHEGADA EM PARIS  

 
 
Calfilho
 
 
 
 
                         Já deveria ter lido antes da viagem, mas, por absoluta falta de tempo, só abri o livro "Hemingway e Paris, um caso de amor", de Benjamim Santos, editora GRYPHUS, 1999, quando já estava sentado na classe econômica do voo da Air France, Rio de Janeiro/Paris. Teria quase onze horas de viagem para lê-lo com calma e tranquilidade. Já havia lido um outro anteriormente, do mesmo autor, intitulado "SEDUÇÃO DE PARIS" e outro, escrito pelo próprio Ernest Hemingway, cujo título é "PARIS É UMA FESTA".
                        Recomendo aos viajantes em potencial para a cidade-luz que leiam os três antes da viagem, mas, se não for possível, pelo menos o "SEDUÇÃO DE PARIS", que lhes dará uma visão geral da cidade, os pontos principais a serem visitados, outros não tão badalados, com um rico resumo histórico do que o viajante encontrará naquela cidade.
                       Hemingway teve uma relação especial com Paris e lá residiu por duas vezes, na década de 20, após uma breve passagem por ocasião da Primeira Guerra Mundial e, ainda posteriormente, nos primeiros momentos da libertação da cidade, nos dias finais do segundo grande conflito do mundo.
                       Viveu toda a fase boêmia, bem como a intelectual daquela década tão rica da cidade, e, em vários lugares por onde caminhamos ou seguindo indicações de guias turísticos, deparamos com lugares por onde passou. Por isso, talvez seja bem interessante saber qual foi a visão que teve e nos transmitiu tanto no seu livro, como naquele em que descreve os lugares por ele frequentados.
                       O aeroporto Charles de Gaulle é enorme, um dos maiores que conheço. Tem vários terminais e continuam construindo outros. Os aviões da Air France costumam chegar e partir do terminal 2E, podendo haver variação de acordo com o fluxo do tráfego aéreo. Normalmente, os passageiros deixam o avião por uma espécie de túnel que vai dar diretamente no interior do aeroporto. Raras vezes desembarcam na pista, pegando um ônibus que os leva ao terminal correspondente. Nada de mais...
                       Chegando ao terminal, procure as placas indicativas em vários letreiros luminosos indicando "BAGAGE". Antes de pegar suas malas que você despachou para o porão, deve tomar um pequeno monotrilho, que tem duas paradas. Fique atento às placas e desça na parada onde está indicado o destino de sua mala. Passará, também antes, pela imigração, quando deverá exibir seu passaporte e, se for pedido, o seguro tipo Schengen, que é o básico para ingressar em qualquer país da comunidade europeia. Localize nos painéis a esteira onde está indicada a procedência de seu voo, pegue sua bagagem, siga as placas de saída (SORTIE), passe pela alfândega seguindo o caminho de NADA A DECLARAR (RIEN A DECLARER) e deixe a área privativa dos passageiros.
                       Em todos os meus desembarques (quase trinta), nunca me pediram para examinar minhas malas. Verdade que levo o mínimo possível, apenas uma mala média e uma sacola a tiracolo (onde guardo os documentos importantes). Bagagem grande, volumosa, sempre será um empecilho para uma boa locomoção, principalmente se for pegar trem ou metrô durante sua viagem. A polícia e alfândega do aeroporto geralmente visam mais o passageiro que leva muitas malas ou aqueles mais jovens, suspeitando que vão para lá para ficarem. Isso já aconteceu comigo, quando acompanhei minha filha uma vez e meu filho outra. Pensando que eles viajassem sozinhos, pediram documentos, que abrissem malas, etc...
                        Do aeroporto para o hotel, em Paris, você tem as seguintes opções: taxi (custa por volta de 70 euros); o metrô RER ( há um micro ônibus que transporta os passageiros gratuitamente da saída do aeroporto até a estação do RER, linha B, de onde você pode ir à região central da cidade. O bilhete deve custar por volta de 18 euros, não sei ao certo, pois só usei o RER uma única vez); se seu hotel for perto da Torre de Montparnasse, dos Inválidos, da Gare de Lyon  ou do Arco do Triunfo, existem ônibus da própria Air France que fazem esse trajeto ( custam menos de 20 euros): e, finalmente os ônibus da RATP, comuns, que te levam até à região da Ópera (não sei o preço, pois nunca utilizei). A internet fornece maiores detalhes sobre preços.
                        Nas primeiras vezes em que cheguei ao aeroporto depois de 1990, utilizei o táxi ou os ônibus da Air France, quando me hospedei em Montparnasse. Como disse anteriormente, também fui até o centro pelo RER, que é um metrô mais rápido, que para em menor número de estações. Infelizmente, no meio do caminho ele fica lotado e você viaja muito desconfortavelmente por causa de suas malas. Além disso, ele só serve para quem vai para determinados bairros da cidade, não passando essa linha B por outros bairros onde seu hotel pode estar localizado.
                          Na minha terceira ou quarta viagem, descobri, por acaso, uma firma de brasileiros que faz transfers do aeroporto para seu hotel e vice-versa. Um pouco mais caro (por volta de 100 euros para duas pessoas), mas o transporte é privativo, eles falam português, te deixam no hotel e, na volta te acompanham até o check-in de embarque. Essa firma também faz passeios personalizados pela cidade e para lugares pitorescos do interior da França, como Vale do Loire, Monte St. Michel, praias da Normandia, Brugges (na Bélgica). Para quem está disposto a gastar um pouco mais, é uma boa indicação. Essa firma se chama DUGA'S e pode ser achada facilmente na internet.
                           Recentemente, encontrei uma outra firma semelhante (seu dono, aliás, já tinha sido motorista da DUGA'S). Seu nome é L'UNIVERS e seu dono e motorista chama-se Marco.
                           Existem outras pequenas vans que fazem esse trajeto aeroporto/hotel/aeroporto, mas não gosto delas porque vão deixando ou apanhando os passageiros em vários hotéis da cidade.
                           Bem, essa minha opinião a respeito dos meios de locomoção quando de sua chegada a Paris. Eu prefiro utilizar os serviços da DUGA'S ou da  L'UNIVERS.
                             Chegamos ao hotel. O primeiro em que me hospedei a partir de 1990 foi reservado pelo meu amigo Patrick Louet, que conheci em Salvador em 1988. Chama-se HOTEL DE SENLIS, fica na rua Malebranche, nºs. 7 e 9, próximo ao Pantheon.
                             Quando solicitei a Patrick que me reservasse um quarto de hotel, disse-lhe que preferia um hotel simples, nada luxuoso, localizado no Quartier Latin, que fora o bairro onde estivera hospedado em 1957. Queria rever os lugares em que estivera trinta e três anos antes, verificar como estariam atualmente, o que se modificara, o que continuava como antes.
                             Patrick reservou-me o SENLIS porque, além de ficar naquele bairro, estava situado próximo ao seu local de trabalho. Assim, segundo ele, poderia estar próximo, dar-me a atenção que ele achava que eu merecia (em outra oportunidade, conto como conheci Patrick). O hotel ficava numa pequena rua bem tranquila, sem muito movimento, mas, ao mesmo tempo, a dois quarteirões do Boulevard Saint Michel, uma das principais avenidas de Paris, local que servia de palco para as grandes manifestações da juventude estudantil parisiense, como, por exemplo, o Movimento de 1968, o "Chienlit", que marcou época na vida da capital francesa. Ali perto, como disse na publicação anterior, ficam a Sorbone, a grande universidade; o Pantheon, local onde estão enterradas grandes figuras da França, entre elas, Victor Hugo e Voltaire; as termas de Cluny, ruínas da época da passagem romana por Paris, que ainda permanecem vivas no centro da cidade; a igreja de Sainte Geneviève du Mont, ao lado do Pantheon, onde Paris teria sido fundada; o Jardim du Luxembourg, onde se encontra atualmente o Senado, que teria sido um dos locais onde Richelieu e os Três Mosqueteiros viveram suas aventuras. Mas, principalmente, o que me encantara naquele bairro era a efervescência da vida estudantil, pulsando vigorosamente nos arredores da Sorbone.
                        Patrick parece que entendeu bem o que eu desejava como hospedagem: um hotel calmo, barato e perto dos lugares de que eu mais gostava. O SENLIS, repito, é modesto, os quartos são acanhados, o preço é bem razoável ( pouco mais de cem euros a noite), o elevador é antiquíssimo, com porta tipo sanfona, onde só cabem duas pessoas apertadas. O café da manhã é servido no subsolo, uma espécie de "cave" de vinhos adaptada.
                          Nunca gostei de hotel luxuoso. Até porque só fico no hotel para dormir e tomar um banho. Saio para a rua logo depois do café da manhã e só retorno à noite. Então, para que um quarto luxuoso?
                          Hospedei-me no SENLIS várias vezes posteriormente, já conheço razoavelmente o pessoal da portaria e do café. Mas, hospedei-me também em outros pequenos hotéis da redondeza, sempre do lado esquerdo do Sena, a "Rive Gauche". Já me hospedei no Hotel Cluny Sorbone (rue du Victor Cousin), no Cujas Pantheon (rue Cujas, 18), no Suez (Boulevard Saint Michel), no Claude Bernard (rue des Écoles), no Home Latin (rue du Sommerard), onde pretendo ficar agora em março e abril de 2015. Todos hotéis de categoria semelhante (duas ou três estrelas), preço variando entre 100 e 160 euros a noite, localizados nas imediações da Sorbone, naquele quadrilátero mágico de Paris, que vai do Sena até o Jardim de Luxembourg, tendo o Boulevard de Saint Michel como eixo principal.
                         Já me hospedei algumas vezes em Montparnasse, outro bairro extraordinário, refúgio de Hemingway, Scott Fitzgerald, Picasso, Modigliani. A meu ver não tem a intensidade do Quartier Latin, mas, nem por isso deixa de ser muito atraente. Bons cinemas, bons restaurantes e bares, uma estação de trem fervilhante (a Montparnasse), a torre que tenta rivalizar com a Eiffel, apesar de arquitetura bem mais moderna, excelentes lojas. Fiquei hospedado algumas vezes no antigo hotel Acacias St. Germain (que já não existe), na rua de Rennes e no Unic Renoir, rue du Montparnasse. Todos eles no lado esquerdo do Sena, na "Rive  Gauche".
                         Aconselho o viajante, principalmente o de primeira viagem, a adquirir um bom mapa da cidade (geralmente as portarias dos hotéis os oferecem gratuitamente), familiarizar-se com o plano do metrô e, se possível, também o dos ônibus e, depois de instalar-se em seu quarto, tomar um banho, sair para conhecer a cidade mágica...