AS MENINAS...
Calfilho
"Para o saudoso amigo Mario Augusto de Oliveira, com quem tive a honra de trabalhar e conviver durante um largo período de minha vida adulta".
O
ano: 1969, mês de junho...
Após
mais um cansativo dia de trabalho foram ao bar do Espanhol para um aperitivo,
um relax mental. Faziam isso quase todas as noites após deixarem o escritório e
antes de voltarem para casa.
Estavam
na terceira dose do “Ile de France”, beliscando uma porção de polvo no azeite
para “adoçar” a boca.
Chegaram
João e Antonio, serventuários de uma das varas criminais da cidade.
--
Oi, Joaquim, oi Serginho, boa noite – disse João com aquele seu tom de voz característico,
saindo-lhe gutural pela garganta.
Olhou para a garrafa de conhaque sobre o
balcão do Espanhol.
--
Posso tomar um gole, Joaquim?
--
Claro – respondeu o advogado, com o rosto já suado pelas doses ingeridas, acrescida
do calor niteroiense...
O
Espanhol, atrás do balcão, logo apresentou dois copos, servindo duas doses generosas
para João e Antonio...
Já
eram oito e meia, quase nove da noite...
João,
estalando a língua de satisfação, após virar o conhaque de um só gole, começou:
--
Porra, prenderam umas meninas conhecidas nossas, lá do Morcegão.
Serginho,
pegando um pedaço de polvo com o palito, molhou-o no azeite, levando-o à boca.
Depois de mastigá-lo bem, perguntou:
--
Prenderam quem? – indagou, com a boca ainda cheia.
--
Dendeca, Baianinha, Marcinha e mais umas três que acho vocês não conhecem—respondeu
João.
Depois
de engolir o pedaço de polvo e virar mais um gole do seu “Ile”, Serginho perguntou:
--
Estão onde, João?
--
Na Costumes, Serginho... aquele babaca do Vermeralla...
Serginho
não gostava do Vermeralla... era um investigador da Costumes, arbitrário como
ele só, metido a importante, o terror das prostitutas de Niterói. Já tivera uns
dois atritos com ele, quando o mesmo trabalhava na Delegacia do Barreto, a 5ª.
DP. Naquela época, Serginho estava começando na advocacia criminal, cheio de
ideais quanto à sua carreira.
Serginho e Joaquim eram companheiros de
escritório, situado na Amaral Peixoto, entre Barão de Amazonas e Visconde de
Itaboraí. Edifício “Gold Star”, um enorme emaranhado de salas comerciais, onde
tinha escritório de tudo: advogado, médico, dentista, contador, venda de ouro,
agiota, cafetões... Os dois haviam estudado no Liceu de Niterói, Joaquim mais velho
que Sergio, não tendo conhecido um ao outro naquela época liceísta. Joaquim, o
dono do escritório, foi apresentado a Sergio por um colega comum. Joaquim não
advogava no crime, Sergio dava os primeiros passos no direito penal. Dessa apresentação
e a afinidade que entre os dois logo nasceu, veio o convite de Joaquim para
Sergio trabalhar em seu escritório.
--
Porra, Sergio, eu só advogo no cível, mesmo assim mais na parte comercial. Mas,
atendendo a um pedido de um amigo meu de infância, passei a ser advogado do
sindicato de motoristas de Niterói. Porra, não entendo nada de crime, não gosto
da matéria. E só me aparece motorista de ônibus que provocou desastre, que
atropelou e matou um monte de gente, a maioria alcoolizado ao volante. Isso me
embrulha o estômago. Não quero largar o sindicato que, aliás, também me traz
alguns clientes do cível e mais ainda para não deixar esse meu amigo na mão...
Sergio
pensou um pouco antes de responder:
-- Joaquim, vou ser sincero com você: não
tenho dinheiro para dividir as despesas do escritório contigo. Casei há pouco
tempo, o dinheiro é contadinho para as despesas de casa. Além do mais trabalho
num emprego fixo de 7 da manhã à uma da tarde. Depois disso, estou livre. Se quiser,
faço toda a parte criminal do sindicato para você. É o que posso te oferecer.
-- Tudo
bem, Sergio. Não quero perder o sindicato, pois tenho muitos amigos lá dentro.
Mas, como te disse, não sei nada de crime, nem quero saber.
Assim
começou a sociedade dos dois.
Já
trabalhavam juntos há pouco mais de três anos. Sergio cuidava da parte criminal,
Joaquim do cível, já que era advogado de alguns comerciantes de Niterói. Também
fazia algumas outras coisas, como desquites, pensões alimentícias,
muitas cobranças de títulos vencidos.
Sergio, depois desses três anos, já se destacava
como um dos melhores advogados criminalistas da cidade. Tudo que ganhava era
colocado no escritório, dividindo os honorários com Joaquim, pagando-lhe,
assim, um pouco das despesas que o mesmo tinha com a locação do imóvel.
João
era um dos serventuários de uma das varas criminais de Niterói com quem tinham grande
afinidade. Aliás, Sergio e Joaquim, nesses três anos de intensa advocacia, fizeram
um número bem grande de amigos entre os serventuários das varas da comarca.
-- E
então, João, quer fazer alguma coisa pelas meninas? – indagou Joaquim.
João
enfiou o palito num pedaço de polvo que estava sobre o pires no balcão. Mastigou-o
vagarosamente, driblando os buracos da dentadura.
-- É,
se vocês puderem dar um pulo lá na Delegacia para ver se soltam elas -- respondeu.
Sergio
pensou um pouco. Retrucou:
-- Não
adianta, João. Aquele babaca do Vermeralla não vai liberar. E, a essa hora, já
quase dez da noite, não deve ter Delegado lá. Ele vai humilhar a gente e não
vai soltar as meninas.
Joaquim
e Sergio conheciam algumas das meninas. Faziam ponto no Morcegão, um barzinho
aconchegante que funcionava num sobrado da esquina de Barão do Amazonas com
Conceição. Ali elas enfeitavam o ambiente, tomavam um drinque com os clientes,
saiam com alguns deles para uma esticada na noite niteroiense. Ambiente calmo,
tranquilo, sem sobressaltos... Dendeca era amiga de João, ficava o dia inteiro
na vara em que ele trabalhava, sentava-se em uma cadeira de sua mesa. Já era
conhecida de todos no Cartório, ninguém reclamava de sua presença ali. Muito
menos o escrivão, que tinha um respeito danado por João, que era quem praticamente
resolvia todos os problemas da vara. O escrivão, Otávio, não entendia nada de
crime, nem queria entender...
Baianinha,
como o apelido já dizia, era uma soteropolitana arretada, cheia de vida e
alegria para dar e vender, um par de pernas fabuloso, ainda mais quando usava
aquelas minissaias que já estavam virando moda no Brasil...
As
outras, bem as outras... eram as meninas... queridas por todos nós, a alegria
do “Morcegão”...
Sergio
continuou:
--
Vamos entrar com um “habeas corpus”, dar um susto no imbecil do Vermerala.
João ponderou:
-- Tem um problema. Onde vamos conseguir despacho de
juiz a essa hora da noite?
Sergio pensou um pouco. Prosseguiu:
-- Não tem um juiz novo lá na tua vara? Podemos ir na
casa dele...
-- É... -- retrucou João, meio descrente. -- Esse
juiz nem conheço direito, só está na vara há uns dez dias, vai ficar lá apenas
este mês substituindo o titular. Mas, a gente pode tentar...
-- Então vamos lá pro escritório datilografar o HC. –
completou Serginho, depois de virar o resto do seu conhaque.
Joaquim esfregava as mãos de satisfação. Apesar de
não advogar no crime, empolgava-se com a atuação de Sergio na defesa de seus
clientes. Sustentações orais no tribunal, recursos para o Tribunal de Justiça,
até para o Supremo. Aquilo tudo mexia com ele, às vezes criticava a si próprio
por não ter estudado Direito Penal mais a fundo.
-- Espanhol, paga a despesa aqui. Vamos levar o resto
da garrafa de conhaque, inclui na conta, faz favor.
E lá foram os quatro para o Gold Star, caminhando
pela calçada da Amaral Peixoto, já quase deserta àquela hora da noite.
x.x.x.x.x.x.
Na minúscula sala onde ficava o escritório de Joaquim
e Sergio, os quatro acomodaram-se como puderam. Antonio, o auxiliar de João, sentou
no chão. O local era tão apertado, que, às vezes, durante a semana, alguns dos
clientes de Joaquim tinham que ficar aguardando no corredor para serem
atendidos.
Sergio sentou-se em uma cadeira em frente a uma
pequena escrivaninha, onde estava a máquina de escrever. Pegou duas folhas de
papel, colocou um carbono entre elas, enfiou-as no rolo da Remington. Atrás
dele, Joaquim e João sentaram-se num sofá surrado e com o revestimento rasgado
em alguns locais. Já bebericavam o conhaque que trouxeram. Sergio pediu um copo
para ele também. Já estavam todos relativamente alcoolizados.
Rapidamente, Sergio começou a datilografar o “HABEAS
CORPUS”. Nem precisou consultar qualquer livro, acostumado que estava a redigir
o “remédio heroico”. Ainda mais coisa simples, como aquele que seria dirigido à
autoridade policial.
O prédio estava mergulhado em profundo silêncio. Só
se ouvia o matraquear da máquina de escrever onde Sergio datilografava a
petição. Levantou a cabeça e perguntou:
-- Problema: qual o nome das pacientes? Eu só sei os
apelidos delas.
João e Joaquim se entreolharam, interrogativamente.
-- Bem, a Dendeca eu sei que se chama Maria das
Graças. Merda, não sei o sobrenome... Fez um gesto negativo com a cabeça: --
Não, não sei o nome das outras...
-- Nem da Baianinha? – indagou Sergio, que tinha uma
pequena queda pela moreninha de Salvador.
-- Não, não sei – respondeu João. – Você sabe,
Antonio? Você que não sai lá do Morcegão?
Antonio, sentado no chão do escritório, já estava
quase dormindo, um pouco pelo sono mesmo, outro tanto pela ação do álcool.
Respondeu, voz pastosa:
-- Não, também não sei...
Sergio parou um pouco de datilografar, pensando numa
solução.
Joaquim sugeriu:
-- Não pode botar os apelidos mesmo? Já ouvi dizer
que requerem “habeas corpus” até para cachorro, gato...
Sergio sorriu:
-- È, não tem jeito, vão ser os apelidos mesmo. Pelo
menos, desta forma, os nomes verdadeiros delas não ficam expostos. Mas, quanto
à Dendeca, vou colocar o primeiro nome, para dar uma aparência de seriedade ao
pedido. Continuou a datilografar.
De repente, começaram a ouvir gemidos de um dos
andares abaixo do deles. Devia ser um casal transando, pois a mulher gemia
muito e quase gritava:
-- Goza, Alfredo, goza logo, que eu não aguento
mais...
O homem arfava e respirava rapidamente, o barulho era
ouvido nitidamente no escritório de Joaquim. Sergio parou um pouco de
datilografar, todos ficaram com os ouvidos atentos na cena:
-- Goza logo, Alfredo, goza meu bem...
E Alfredo nada de gozar, sua respiração acelerada
continuava a ecoar no prédio. Sergio voltou a datilografar a petição.
Embaixo, continuava a ladainha:
-- Goza, Alfredo, goza Alfredo.
Então Antonio, que quase não falou nada durante todo
o tempo, levantou-se subitamente e gritou:
-- Porra, Alfredo, goza logo, pra gente poder
terminar isso aqui. Tá atrapalhando o raciocínio do doutor.
Fez-se silêncio no prédio.
Sergio acabou de datilografar as duas últimas linhas
da petição, o “NESTES TERMOS, PEDE DEFERIMENTO”, tirou o papel da máquina, deu
para Joaquim assinar as duas vias, ele também as assinou. Aliás, tudo no
escritório era assinado pelos dois.
Ganharam a rua, praticamente deserta àquela hora. Só
foram encontrar um taxi em frente às Barcas. Entraram os quatro, foram para
Santa Rosa, onde residia o Dr. Ney Roberto, o juiz em exercício na vara
criminal onde João trabalhava.
Lá chegando, mandaram o táxi esperar, saltaram João e
Sergio. Antonio, dormindo, ficou no veículo, Joaquim preferiu aguardar.
João procurou uma campainha, achou-a no alto do
portão de ferro que guarnecia a casa, um sobrado cercado de árvores por todos
os lados.
Esperaram um pouco, ninguém apareceu. João novamente
apertou a campainha. Silêncio, ninguém. Sergio, já meio calibrado e impaciente,
decidiu bater palmas.
Acendeu-se uma luz no andar de cima da casa. Apareceu
um senhor rechonchudo, meio calvo, de pijama. Sergio não o conhecia, pois o
juiz estava há pouco tempo em Niterói. Tinha vindo de Trajano de Morais, sua
comarca de origem.
-- Boa noite, Excelência – cumprimentou João, com a
característica voz gutural, um pouco rouca, um pouco pastosa. – Estou aqui com o
Dr. Sergio, advogado militante aqui de Niterói, que foi até minha casa
procurar-me para uma solução para um problema urgente.
“Que mentiroso
filho de uma mãe – pensou Sergio”.
O magistrado, cara de sono, coçando os olhos,
perguntou:
-- Do que se trata, doutor?
Sergio refletiu um pouco antes de responder:
-- Um arbitrariedade, excelência. Prenderam uma
jovem, grávida de quatro meses, quando ela e algumas amigas faziam um lanche
numa padaria do centro de Niterói. Foi uma batida da Delegacia de Costumes,
que, arbitrariamente, pensou que as jovens fossem prostitutas e as levou
presas.
O juiz pensou um pouco.
-- Isso não pode ficar para amanhã? Afinal de contas,
já passa de meia noite e não sei se os senhores conseguem resolver isso ainda
hoje.
-- Desculpe, excelência. O caso é urgente. Minha
cliente, grávida, está muito nervosa, já sofreu um aborto espontâneo anteriormente,
está muito preocupada... Fiz um pedido de “Habeas corpus”, só queria que Vossa
Excelência solicitasse informações à Delegacia - retrucou Sergio.
João não falava nada, permanecia em silêncio ao lado
de Sergio, que discursava no meio da rua pacata de Santa Rosa...
Dr. Ney já parecia enfadado, cansado daquela
conversa, irritado por ter sido acordado no meio da noite. Deu a decisão final:
-- Não, não vou descer para despachar nada,
desculpe-me doutor. Estou respondendo pela vara por pouco tempo, não sei qual a
orientação do juiz titular a respeito de casos semelhantes. Com licença, vou
fechar a janela e voltar a dormir. Amanhã, se quiser, o senhor me procure em
meu gabinete, examinaremos a questão com mais calma.
Sergio ainda tentou argumentar, João o puxou pela
manga do paletó.
-- Deixa pra lá, Serginho, não vai adiantar...
Voltaram para o táxi. Discutiam acaloradamente.
-- Porra, esse cara é um “cagão” – esbravejou Sergio.
– Juiz tem que atender os advogados a qualquer hora, em casos de urgência.
Antonio, até então sempre calado, também deu seu
palpite:
-- Tem razão, Serginho, esse juiz me pareceu um
covarde desde o dia em que assumiu a vara. Tem medo de despachar, tudo pede a
opinião do “seu” Otávio ou do promotor. Deve ter sido advogado do cível, caiu
no crime de paraquedas.
Joaquim perguntou:
-- Mas, ele nem quis ver tua petição, Serginho?
-- Não, o filho da mãe não se dignou a descer.
O motorista do taxi, que parecia estar se divertindo
com a discussão dos passageiros, finalmente indagou:
-- Bem, senhores, para onde?
-- Para a Amaral Peixoto – respondeu Sergio,
irritado.
x.x.x.x.x.
Quando desciam a larga avenida, totalmente deserta
aquela hora, viram que o bar do Espanhol ainda não havia fechado. Serginho
mandou o motorista deixá-los em frente. Havia um casal que conversava em pé junto
ao balcão, enquanto bebiam uma cerveja. Os quatro se aproximaram.
Serginho logo ordenou:
-- Manolo, serve umas doses de conhaque pra gente.
O dono do bar nem se espantava mais. Aquele pessoal
não tinha hora para passar em seu estabelecimento, bastava o mesmo estar
aberto.
O casal que ali bebia pagou a conta e foi embora.
Serginho perguntou, depois de virar de um só gole o conteúdo de seu copo.
-- E agora, João, fazemos o quê? Vamos deixar as
meninas lá? Aquela corja do Vermeralla vai se aproveitar delas...
João estava indeciso. Gostava muito de Dendeca, mas
pensava em seu emprego, no que colocaria em risco se partisse para o confronto.
Tomou também seu conhaque. Repentinamente, pegou a
petição do “habeas corpus” das mãos de Serginho, puxou uma caneta do bolso da
camisa e escreveu no lugar dos despachos:
‘DE ORDEM DO MM. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE
NITERÓI, SOLICITO URGENTES INFORMAÇÕES SOBRE O PEDIDO DE HABEAS CORPUS ABAIXO
IMPETRADO”. NITERÓI, 18 DE JUNHO DE 1969. JOÃO SILVA FERNANDES. ESCRIVÃO
SUBSTITUTO.
E rubricou abaixo do despacho.
Entregou a petição a Sergio.
Este, após ler o “despacho”, sorriu levemente.
-- Bem, agora a guerra vai começar...
Foram ele e Joaquim até a Costumes. Sergio ficou na
frente, Joaquim atrás... Um outro investigador estava na recepção. Sergio
perguntou, agressivo:
-- Quero falar com o Delegado – exibiu logo sua
carteira da Ordem dos Advogados.
O investigador, que já conhecia Sergio de nome, ficou
meio assustado, Respondeu:
-- Não, ele não está, saiu em diligência...
Sergio riu... Sabia qual era “a diligência”...
-- Bem, quem é o responsável?
-- O Dr. Vermeralla...
Sergio riu outra vez. Realmente, sabia que o Vermeralla
estava cursando Direito, mas já era chamado de “doutor”...
-- Bem, vá chamá-lo, tenho um ofício do juiz aqui
comigo...
O “amarra-cachorro” saiu rápido da sala, em busca do
superior.
Cinco minutos depois, aparece o Vermeralla. Cara de
sono, aparentando estar aborrecido por ter sido acordado por um advogado
inoportuno.
-- O que desejam?
Sergio foi agressivo:
-- Quero a liberdade das moças que vocês prenderam
esta noite no Morcegão.
Vermeralla, sentado em sua cadeira, respondeu,
exibindo um sorriso debochado:
-- Não, elas vão passar a noite aqui para aprenderem.
Tirando calmamente a as duas vias do “habeas corpus”
do bolso interno do paletó, colocou-as em cima da mesa e disse:
-- Bem, se é assim, o senhor me responda esse “habeas
corpus” ao Dr. Juiz. Depois, vou representar contra a Delegacia por prisão
ilegal.
Vermeralla empertigou-se na cadeira. Mudou o tom:
-- Bem, não precisa ser assim...
-- A lei de abuso de autoridade está em vigor desde
1965, sabia, não é “doutor” ?... ironizou Sergio. – O senhor, por favor, assine
o recibo na segunda via da petição, que amanhã eu a entrego ao juiz.
Vermeralla ficou vermelho, roxo, amarelo, furta-cor,
como dizia um velho samba de Noel...
Gritou para o assessor:
-- Martins, solte as moças aqui para o doutor.
Levantou-se da mesa e saiu, sem ao menos ter lido ou assinado a cópia do recibo
da petição. Sergio apanhou o original e a cópia em cima da mesa, guardou-as no
bolso e ficou aguardando.
Dez minutos depois, as meninas, em fila, chegaram até
a porta da Costumes. Eram cinco. A Baianinha, irritada, nervosa, saiu
cantarolando:
“PATATI... PATATÁ... DANÇAR PELADA NÃO É BRINQUEDO...
PATATI... PATATÁ...”.
Joaquim não parou de rir durante uma semana...
OBSERVAÇÃO: Os nomes dos personagens acima mencionados são fictícios, mas os fatos são verdadeiros.
OBSERVAÇÃO: Os nomes dos personagens acima mencionados são fictícios, mas os fatos são verdadeiros.
Um comentário:
Os limites da criatividade com o fictício, numa história que cansei de passar pelas mesmas dificuldades, quando advogava no crime.
Grande abraço, Calos Augusto. Feliz 2020.
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