segunda-feira, dezembro 28, 2020

ABUSO DE AUTORIDADE... EXCLUDENTE DE ILICITUDE...

 

ABUSO DE AUTORIDADE...

EXCLUDENTE DE ILICITUDE...

 

Calfilho

 

 

 

 

Lamentável, para não dizer revoltante...

Quantas vezes este ano que está por terminar, o macabro 2020, nos trouxe, nas páginas dos jornais ou noticiários da televisão, mais um caso de morte de inocentes, muitos deles simples crianças, a maioria moradores de comunidades carentes, envolvendo policiais militares (em sua grande parte) ou civis? E, também, seguranças de estabelecimentos comerciais.

A pandemia da COVID-19 é a pior coisa que aconteceu este ano, para torná-lo tão macabro. Já ceifou a vida de quase 200 mil brasileiros. Mas, a morte de inocentes, em “confrontos” em que a polícia esteve envolvida, ou mesmo quando este sempre alegado “confronto” inexistiu, talvez tenha sido a segunda pior tragédia deste 2020 que ora se finda.

É a tecla em que venho batendo desde o início de minha atividade profissional, a maior parte passada na área criminal: temos que ter muito cuidado em preparar psicológica e profissionalmente nossos policiais (ou seguranças particulares) antes de entregar-lhes uma arma de fogo. Em tese, para nos defender, mas, que, muitas das vezes, acaba virando contra a própria sociedade, ceifando vidas de inocentes. E, olhe que não são armas leves, quase sempre poderosos fuzis, armamento de guerra.

É claro que a criminalidade evoluiu muito nesses últimos 30 anos. Organizou-se, armou-se com armas contrabandeadas, também de grosso calibre, e os jornais televisivos mostram que eles transitam livremente pelas comunidades mais carentes portando ostensivamente todo esse armamento. Criaram-se as milícias, cujos membros, em grande parte, são ex-policiais expulsos de suas corporações ou contraventores ligados ao conhecido jogo do bicho, e parecem querer dominar o espaço público. Assaltam caminhões de carga nas estradas, constroem irregularmente prédios em terrenos públicos, cobram taxas de segurança para os pequenos comerciantes das comunidades e mesmo de bairros afastados, usam o terror como arma principal para obter o domínio da região.

Lógico que é sabido que essas quadrilhas se refugiam nessas comunidades, pois sabem que ali falta quase tudo, onde o Estado não está presente e é muito fácil controlar aqueles que necessitam de transporte, de comércio, de luz, gás, internet, etc... A polícia raramente aparece nessas comunidades e, quando o faz, age de forma atabalhoada, agressiva, truculenta, invadindo barracos, intimidando moradores honestos, que trabalham, que estudam, que lutam por uma melhor situação de vida.

Por isso, necessário que a polícia esteja fortemente armada para enfrentar um inimigo de tão alto poder de violência e intimidação. Mas, antes de tudo, que os policiais que vão usar estas armas estejam psicologicamente preparados e treinados para esse uso. Não podem entrar nas comunidades atirando a esmo, temerosos de qualquer movimento suspeito que pensam ter visto, e atingindo inocentes que ali residem por não terem outro lugar para morar.

Infelizmente, não é isso o que se vê.

A grande maioria de nossos policiais (civis ou militares), jovens recrutados nas classes menos favorecidas da população, grande parte com baixo nível de escolaridade, sem o treinamento adequado, sem uma rigorosa seleção psicológica, colocam uma farda ou portam um distintivo, pegam uma arma de alto poder letal e vão para as ruas cumprir missões para as quais evidentemente não estão preparados.

Aí, uma menina de 11 anos, aluna de uma escola pública, que brincava com colegas na hora do recreio, é morta brutalmente porque policiais militares perseguiam um suspeito fora da área do colégio e dispararam seus fuzis nessa perseguição.

Ou um carro que trafegava por uma rua da zona norte é metralhado porque policiais de uma patrulha receberam comunicação pelo rádio de que um veículo com as mesmas características transportava bandidos em fuga. Sem uma abordagem, sem nada. “Atira primeiro, pergunta depois...”.

Ainda um menino que é atingido e morto por tiro de fuzil quando estava no interior de sua residência, em São Gonçalo, em outra alegada diligência policial na comunidade pobre em que morava...

Mais duas meninas que conversavam na porta de uma casa humilde de outra comunidade carioca também são mortas porque a polícia entrou abruptamente na favela alegando procurar um perigoso delinquente...

E, ainda mais recente, dois jovens que transitavam em uma motocicleta por uma via da Baixada são atingidos por tiros de fuzil, presos, colocados na viatura policial e aparecem mortos em outro local...

Alguns desses casos foram gravados por câmeras de vigilância... e os outros? Quantos mais não o foram?

Sei que o problema é de difícil solução. Mas, esta não pode ser encontrada com “tiros na cabecinha” ou com entradas espalhafatosas em comunidades, com policiais despreparados atirando descontroladamente as armas que portam, sem que sejam tomadas cautelas mínimas para evitar a morte de inocentes...

Não adianta o porta-voz da corporação vir perante às câmeras da TV e dizer que “houve confronto”, que “os policiais não dispararam”, “que um inquérito rigoroso vai ser instaurado”. Suas palavras não vão diminuir a dor dos pais, filhos, parentes daqueles que são enterrados em consequência de um ato estúpido, truculento praticado por alguém que não estava preparado para usar uma arma tão poderosa...

Muitos afirmam que o problema da violência policial contra pobres e pretos seria, acima de tudo, racismo...

Essa afirmação foi veementemente sustentada após o espancamento bárbaro de um cliente negro por seguranças de um supermercado no Rio Grande do Sul. Violência que resultou na morte da vítima. Dois “seguranças” brancos que espancam um negro até a morte. Fato assistido por uma supervisora do estabelecimento que tenta, inclusive, impedir o registro da cena por um celular de entregador de mercadorias, fazendo-lhe ameaças. Tudo gravado de diversos ângulos, desde o início da discussão entre o cliente e uma caixa, a intervenção dos “seguranças”, até o momento final da bárbara e covarde agressão, num outro local do estabelecimento.

Não resta dúvida de que o ingrediente “racismo” está presente nesse tipo de violência. Até porque quem veste uma farda, seja de policial ou simples segurança particular, considera-se investido de uma autoridade excepcional contra os seus semelhantes, principalmente se for um negro e pobre, por considerá-los inferiores, parentes próximos da marginalidade, segundo seus deturpados conceitos.

É o famoso “sabe com quem está falando?”, há muito impregnado na cultura brasileira. Além das autoridades do “alto escalão”, todo aquele que usa uma farda ou um distintivo de uma instituição pública também se considera como tal. Mais modernamente, surgiram os coletes, para indicar que esse ou aquele servidor pertence a determinado órgão público. Tais como “Defesa Civil”, “GAECO’, “Meio ambiente”, “Ministério Público”, “Segurança” e tantos outros que proliferaram nos últimos anos...

Então, por ostentarem uma farda, um distintivo, um colete, se acham superiores aos outros cidadãos, principalmente se estes pertencerem a classes menos favorecidas da sociedade... O que vimos gravado no episódio do supermercado de Porto Alegre, com o espancamento covarde (um imobilizando, outro dando socos e pontapés), que acabou com a morte do cliente, vai bem por esse enfoque do abuso da “autoridade”. Pode ter existido algum racismo, mas acho que muito mais prepotência, arrogância, o “sabe com quem está falando?” por parte dos “seguranças” autores do assassinato e da cúmplice supervisora, que nada fez para impedir o massacre e até quis impedir que a cena grotesca fosse gravada...

Quando ainda era ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro, famoso por ter combatido a corrupção, quis introduzir no nosso Código Penal uma excludente de “ilicitude” para policiais que cometessem um homicídio “por medo, ou receio” quando no exercício da função. Excludente de ilicitude, segundo o nosso Direito Penal, significa que “não há crime”, ou seja, no caso do homicídio em particular, a morte de alguém teria sido um ato lícito.

Nosso ex-ministro talvez fosse mais especializado nos chamados crimes de colarinho branco, na corrupção ativa e passiva. Mas, apesar destes também poderem ser praticados por policiais, a tal excludente visava absolver por ausência de ilicitude (não isentar de pena, o que é outra coisa), o agente da lei que matasse outrem “por medo ou receio”. Pronto, a farra estaria completa e os policiais e demais “autoridades” poderiam legitimamente “atirar antes, para perguntar depois”, pois teriam certeza de que estavam agindo legitimamente.

Acho que essa não era a área do ex-ministro, que, felizmente, não foi adiante. Mas, é claro, só fez essa tentativa por influência superior, que, desde a campanha eleitoral sempre esteve a favor da classe policial, e tem nela um forte apoio à sua gestão.

Tanto que, já com Moro longe, voltou agora, recentemente, a insistir na inclusão dessa aberração em nosso ordenamento jurídico. Isso ocorreu num comício recente que fez num centro de abastecimento em São Paulo.

Aliada à intenção do governo da liberação total de compra e posse de armas (até o imposto de importação foi zerado), com essa excludente, vamos ter mais inocentes mortos em “confrontos”, em “diligências”, em invasões espalhafatosas em comunidades carentes, em “rigorosos inquéritos” para apurar responsabilidades, com mais policiais engrossando as já poderosas milícias em nossas cidades...

E, todos portando suas armas, vamos assistir duelos nas ruas, nas estradas, nos condomínios, e vão sair vitoriosos aqueles que conseguirem “sacar” primeiro...

 

sexta-feira, dezembro 18, 2020

TÉCNICOS ATUAIS...

 TÉCNICOS ATUAIS...

Calfilho

     A qualidade do futebol brasileiro dos dias de hoje realmente assusta... Parece que qualquer "promessa" de craque que surge nas divisões de base de um clube logo se transforma numa "joia", num futuro Pelé ou Garrincha...
      Tudo bem que o futebol mudou nesses últimos 30, 40 anos... se evoluiu, não sei... se ficou mais bonito de ver, também não sei... mas, ficou mais ríspido, mais "condição física", menos arte e muito mais força, mais "ocupação de espaços", mais "posse de bola", para usar alguns termos dos técnicos de hoje do popular esporte...
       Mas, o que vemos em campo, hoje somente pela TV, sem público nos estádios devido à COVID, é um futebol de baixíssima qualidade, sem um lançamento em profundidade que nos encante, sem uma troca de bola para a frente e não para trás, uma ou outra jogada apenas de algum, apenas algum jogador que se destaque... o resto é bola para os lados, é o medo de cometer um erro ao tentar uma jogada mais ousada, um drible mais audacioso... quando a bola não é atrasada para o goleiro por falta de opções de jogadas de ataque...
      Os técnicos, apesar de se considerarem os grandes "professores" de futebol, persistem em repetir os mesmos esquemas,  sem nada inovar ou criar. . . A empáfia de alguns chega a irritar...
     Aguentar Felipão, Tite, Mano Menezes, Dorival Júnior, Vanderlei Luxemburgo, é dose para elefante... Parece que descobriram o futebol, que só eles conhecem a fórmula mágica para ganhar uma partida, que sempre os clubes que dirigem é que são os prejudicados pela arbitragem... 
      Já tivemos dias melhores...
     Da nova geração de treinadores destaco Cuca (apesar de não tão novo assim), o Marcelo Oliveira, e, mais novo ainda, o Fernando Diniz. Pelos menos são mais arejados em mentalidade, mais ousados, tentando dar uma dinâmica melhor aos times que dirigem.
     O Fernando Diniz realmente me impressiona. Pela ousadia, pela coragem de tentar jogar para a frente, sem medo de perder. Já obteve êxitos e insucessos nos poucos times que dirigiu. Mas, todos jogavam um futebol mais bonito, mais alegre, mais gostoso de ver...
     Seu sucesso, agora, à frente do São Paulo, não caiu do céu. É fruto de muito trabalho, muita ousadia, muito estudo.
     Desejo-lhe o maior êxito em sua carreira e que, realmente, consiga mudar o marasmo em que se encontra o futebol brasileiro...


quinta-feira, novembro 26, 2020

AMADOR E PROFISSIONAL...

 

AMADOR E PROFISSIONAL...

“MEU CLUBE DE CORAÇÃO...”

Identidade clubística...

 

Calfilho

 

 

Até os primeiros anos da década de 60, quando o amadorismo já tinha sido totalmente erradicado do futebol dos principais países do mundo, os jogadores ainda tinham uma forte afinidade com os clubes em que começaram suas carreiras.

Segundo li e pesquisei, o profissionalismo foi introduzido no futebol brasileiro no início dos anos 30 do século passado. Por isso, alguns contestam o tetracampeonato carioca do Botafogo (1932/33/34 e 1935). Houve uma cisão no futebol do então Distrito Federal, alguns clubes continuaram com jogadores amadores, enquanto outros aderiram de vez ao profissionalismo. A AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Amadores) até então tinha os clubes amadores como filiados. Em janeiro de 1933 foi criada a LCF (Liga Carioca de Futebol), tendo quase todos os clubes do Rio migrado para ela, menos o Botafogo, que continuou na AMEA. Em São Paulo, o mesmo ocorreu, tendo a liga local, a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) se dividido em duas, a profissional e a amadora. Na Argentina, isso já ocorrera desde 1931 (informações colhidas na internet, no site “Imortais do Futebol”). O Botafogo, continuando na liga amadora, ganhou facilmente o campeonato. Na Copa do Mundo de 1934, como a liga profissional não era reconhecida, o Brasil foi representado por jogadores, em sua maioria, do Botafogo. Ainda em, 1934, o Vasco, São Cristóvão e Bangu voltaram para a AMEA e, juntos com o Botafogo mudaram o seu nome para FMD (Federação Metropolitana de Desportos), que passou a regular, apoiado pela CBD, o profissionalismo carioca em1935, quando o Botafogo conquistou seu inédito tetracampeonato consecutivo (material da mesma fonte). Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, jogou pelo Botafogo nesse ano. Logo depois, transferiu-se para o Flamengo.

A transição do amadorismo para o profissionalismo não foi difícil, pois muitos jogadores que disputavam a liga amadora já recebiam prêmios por vitórias, além de outros “agrados”. A década de 40 talvez tenha sedimentado um pouco mais o profissionalismo, mas os jogadores ainda permaneciam muito ligados aos clubes que os formaram. Ainda eram raras as transferências de atletas de um clube para outro, na mesma cidade onde atuavam. Para outros Estados, ainda mais. Para o exterior, praticamente não ocorreram. A grande transferência entre clubes no futebol carioca foi a de Ademir Menezes do Vasco para o Fluminense em 1945, dando origem à famosa frase proferida pelo técnico Gentil Cardoso, então dirigindo o Fluminense: “Contratem-me o Ademir e eu lhes dou o título”. O Fluminense contratou Ademir e foi o campeão de 45. No ano seguinte, Ademir voltou para o Vasco. Nessa década de 40, jogadores totalmente identificados com seus clubes foram Heleno de Freitas, Nílton Santos (começando no Botafogo), Ademir, Barbosa, Augusto, Eli (Vasco), Zizinho, Biguá, Bria (Flamengo). São os que me lembro, apenas por ler ou ouvir falar.

Para o exterior, soube apenas de Yeso Amalfi, que se transferiu em 1948 para o Boca Juniors, no ano seguinte para o Penarol, em 1951 para o Nice (da França), em 1951 para o Torino, em 1952 para o Mônaco, tendo encerrado a carreira no Olympique de Marseille em 1959 (fonte: Wikipedia).

Na década de 1950, depois da Copa do Mundo realizada no Brasil, o profissionalismo enraizou-se de vez no futebol brasileiro. Mas, as transferências eram raras e, até consideradas como “traição” por parte dos clubes e jogadores envolvidos. Lembro-me bem de uma, que ficou bem marcada em minha memória: no início da década, um jogador da base (os antigos juvenis) do Botafogo, Joel, foi aliciado pelo Flamengo, que o contratou, desrespeitando seu coirmão que havia formado o jogador. Joel teve uma carreira vitoriosa no Flamengo, participando do time tricampeão de 1953/54/55, e foi convocado para a Copa do Mundo de 1958, sendo titular nas duas primeiras partidas, contra a Áustria e a Inglaterra. Na terceira e decisiva partida da fase eliminatória, Garrincha entrou em seu lugar e “acabou” com o jogo, sendo o titular até o final da competição, vencida pelo Brasil. Na Copa seguinte, Joel nem foi convocado, sendo Jair da Costa o reserva de Garrincha, que foi eleito o melhor jogador da equipe bicampeã mundial. Foi a “vingança” do Botafogo contra a “traição” do Flamengo e de Joel.

Nessa década, ainda os jogadores permaneciam muito tempo em seus clubes, mesmo, às vezes, não tendo sido formados por eles. Assim, o Fluminense de Castilho, Píndaro, Pinheiro, Clóvis, Vítor, Lafayette, Telê, Orlando Pingo de Ouro, manteve esses mesmos jogadores por quase toda a década em sua equipe. O Vasco de Barbosa, Augusto, Eli, Danilo, Jorge, Friaça, Maneca, Ademir, Jair da Rosa Pinto (que se transferiu para o Santos no início da década). O Flamengo de Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Esquerdinha. O Botafogo de Osvaldo Baliza (depois Gilson), Gérson e Santos; Arati, Pampolini e Didi; Garrincha, Edson, Paulinho, Quarentinha e Neivaldo. O América, de Osny, Dimas, Ranulfo, Oswaldinho, Alarcon, João Carlos, Maneco. O Bangu, de Ubirajara, Mario Tito, Zizinho, Ari Clemente e tantos outros. A garotada da época, eu aí incluído, sabia de cor a escalação de todos os times cariocas. Até do Madureira, com Irezê, Bitum e Weber (muito mais tarde, juiz de Direito na antiga Guanabara), Frazão, e outros. O Canto do Rio de Carango e Jairinho. O Olaria, de Olavo “Sarrafo”. O São Cristóvão, de Santo Cristo etc...

Vai perguntar hoje a um garoto de 10 anos qual a escalação do seu time: vai te dizer uma num dia, outra no mês seguinte, mais outra completamente diferente um ano depois... Sobre a seleção brasileira, nem se fala...

Enfim, o profissionalismo foi avassalador...

Recordo-me que naquela década de 50, a grande transferência de um jogador brasileiro para o exterior foi a de Julinho Botelho da Portuguesa de Desportos de SP para a Fiorentina, da Itália. Julinho disputara a Copa do Mundo de 1954 pela seleção brasileira e, em 1955, transferiu-se para o futebol italiano. Ponta direita de rara habilidade, foi convocado por Feola para a Copa do Mundo de 1958, juntamente com Joel, do Flamengo. Num gesto de rara humildade e grandeza, não aceitou a convocação, dizendo que não tomaria o lugar de um jogador que estivesse jogando no Brasil. Resquício forte do amadorismo, quando defender a seleção brasileira significava defender as cores do Brasil... Igual aos dias atuais, não lhes parece?

Feola não gostava de Garrincha, por achar que ele “driblava demais, sem produtividade para a equipe...”. Com a recusa de Julinho, foi quase obrigado a convocar o “anjo das pernas tortas”, já que a “grita” popular era muito forte... Vejam só o absurdo: quase deixamos de ser campeões do mundo em 1958, não fosse o ato de grandeza de Julinho...

Dino da Costa e Vinicius (Leão), atacantes do Botafogo, também foram duas outras transações marcantes do futebol brasileiro na década de 50. Foram jogar em equipes italianas, o Milan foi uma delas, a outra não me recordo... Evaristo foi para o Barcelona e, lembro-me bem da festa que a cidade preparara para ele, quando eu passei por lá, em fevereiro de 1957, numa viagem de navio em direção a Nápoles... Paulinho Valentim e Orlando Peçanha foram para o Boca Juniors, da Argentina...

No Brasil, internamente, duas transferências marcantes: a de Didi, do Fluminense para o Botafogo; a de Gilmar, do Corinthians para o Santos... ajudem-me a lembrar de outras...

Já na década de 60, Brasil bicampeão do mundo, os jogadores brasileiros valorizaram-se rapidamente. Transferência milionárias para o futebol europeu, que, constatando a superioridade da individualidade brasileira sobre os rígidos esquemas de seus países, decidiram importar em massa os “craques” tupiniquins: Amarildo para o Milan; Vavá, para o Atlético de Madrid; Didi, para o Real Madrid, Jair da Costa para a Internazzionale, Dino Sani para o Boca Juniors,  Joel Martins para o Valência... bem, quem mais?

Pelé ficou no Santos, recusando propostas milionárias. Garrincha permaneceu no Botafogo até 1966, quando preferiu deixar o clube, indo para o Corinthians, porque não conseguia recuperar-se de uma violenta lesão nos joelhos. Nílton Santos, em clubes, só vestiu a camisa do Botafogo. Gilmar, Djalma Santos, Zito, Pepe, permaneceram em seus clubes até abandonar o futebol, ou transferiram-se para equipes menores apenas para encerrar a carreira e ganhar um dinheirinho extra. Lembro bem, já no final da década de 60, que, Gerson, morador de Niterói, recusou propostas da Europa por detestar viajar de avião...

As décadas seguintes, após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, marcaram, a meu ver, o declínio do futebol brasileiro. Mesmo conquistando mais dois outros títulos mundiais, a qualidade do nosso futebol foi caindo a olhos vistos. As transferências para a Europa e, depois, para o Japão e para o resto do mundo multiplicaram-se em velocidade exponencial. Hoje, o que vemos, são jovens com menos de quinze anos sendo recrutados pelo futebol europeu e lá aprendendo a jogar futebol como eles. Acabaram-se a improvisação, o jogo de cintura, a boa molecagem do futebol brasileiro...

Grande culpa desse declínio cabe a nós mesmos... acabando com os campos de futebol que existiam pelas cidades, com os terrenos onde animadas peladas eram jogadas, acabou-se também a improvisação, o gosto pelo futebol bem jogado... Nossos campinhos transformaram-se em prédios de cimento, e com eles nosso futebol foi afundando... Lembro-me bem que, só em Niterói, joguei nos campos do Niteroiense, Ypiranga, Fluminense, Vienense, Henrique Lage, Manufatora, Cruzeiro, Country, Caio Martins. Quantos deles existem atualmente? Hoje, as crianças começam a jogar futebol de salão (ou futsal), que nunca foi a mesma coisa que o futebol de campo... Quando vão para este, já estão viciados com o pouco espaço que o salão lhes proporcionou, obrigados a  passes curtos e rápidos, e são incapazes de levantar a cabeça,  procurar um companheiro desmarcado lá na frente e fazer um lançamento...  Não, bola pro lado, que “não quero ficar com a responsabilidade de tentar uma jogada de profundidade, uma jogada mais aguda, de tentar o drible... afinal, se perder a bola...”

Dá pena de ver a seleção brasileira em campo, atualmente... conheço apenas um ou outro jogador que esteve por algum tempo num clube brasileiro... a grande maioria é desconhecida ou só esteve aqui na base de nossos times... Não são maus jogadores, mas nem parecem brasileiros... vestem a camisa da seleção como vestem a camisa de seus clubes na Europa, sem amor, sem identidade com a mesma... alguns até se naturalizam europeus para poder jogar pelas seleções dos países de seus clubes... Os jogos do campeonato brasileiro também são duros de assistir... A comparação com o futebol europeu é inevitável e saímos perdedores, de longe, em qualidade técnica... Hoje, é muito mais agradável assistir um jogo dos campeonatos europeus pela TV do que outro do Brasileirão... Por isso, em nossas ruas já vemos algumas crianças (e até adultos) desfilando com camisas do Real Madrid, do Barcelona ou de uma seleção europeia...

           Vou falar apenas de dois exemplos mais recentes que conheço e que, por acaso, são do meu clube: o Túlio, pouco conhecido meio de campo do Botafogo na década passada, passou um tempo jogando fora do Brasil e, quando voltou, procurado por outros clubes, disse:

“-- Primeiro, quero ouvir a proposta do Botafogo, que é meu clube do coração”.

Acabou voltando para o clube, apesar de ter recebido uma proposta um pouco mais elevada de outra equipe.

O outro exemplo é Lucio Flavio, durante alguns anos meia armador do Botafogo, que, depois de ter parado de jogar, ao receber um convite do clube para trabalhar na Comissão Técnica, aceitou imediatamente.

Parabéns aos dois, amor à camisa não se demonstra apenas no momento da assinatura do contrato, quando o escudo do clube é invariavelmente beijado. Esse amor é muito mais importante quando o jogador deixa o clube, precisa dele, mesmo quando não mais joga futebol...Por isso, os dois atualmente, fazem parte da Comissão Técnica do Botafogo... Não foram jogadores excepcionais, apenas medianos, mas respeitam e têm carinho pelo time que defenderam...

O amor ao clube, coisa rara...

Os jogadores atuais trocam de camisa, como quem troca... de “camisa...”.

 

quarta-feira, novembro 25, 2020

COMPARAÇÕES INFELIZES...

 

COMPARAÇÕES INFELIZES...

 

Calfilho

 

 

Uma das coisas mais perigosas, quase infeliz, que se pode fazer no futebol, é querer comparar qualidade de jogadores tidos como craques em seus times ou seleções. Arriscamo-nos a cometer graves injustiças que nem nós mesmos conseguimos perceber.

Isso porque não se podem comparar coisas diferentes, apesar da aparente semelhança que possam ter. Quando se tenta fazer a comparação entre jogadores de um mesmo time ou de uma mesma seleção, temos que atentar, em primeiro lugar, se jogaram ou não na mesma época. Depois, se a posição dos dois era exatamente a mesma, ou seja, idêntica a função que exerciam em campo. E, em terceiro lugar, se os times em que jogaram tinham a mesma qualidade técnica, ou seja, se os jogadores que se quer comparar tinham ao seu lado outros atletas do mesmo nível de qualidade de futebol. Isso porque, não esqueçamos, trata-se de um esporte coletivo, nunca individual.

Mesmo que um jogador seja tecnicamente bem superior aos demais, vai ser o trabalho em conjunto, em equipe, que vai determinar o sucesso ou o fracasso do time. O “fora-de-série” pode até desequilibrar um jogo ou outro numa jogada genial e decidir uma partida. Mas, não fará isso sempre e, se seus companheiros de equipe não colaborarem com ele, sua genialidade vai ficar limitada a apenas alguns lances esporádicos. Agora, se alguns dos outros jogadores também tiverem uma técnica de razoável para boa, aí sua individualidade vai aparecer muito mais.

Já vi várias discussões sérias (algumas até transformaram amizades em inimizades) sobre quem seria melhor: Pelé ou Garrincha? Pelé ou Maradona? Maradona ou Messi? Zico ou Dida? Gerson ou Didi? Ademir da Guia ou Rivelino?

Pena que, de uns anos para cá, as comparações ficaram mais pobres... A não ser, talvez, Neymar, a nova safra de “craques” não empolga tanto... quando assistimos a atual seleção brasileira entrar em campo e vemos tantos jogadores desconhecidos, que estão fazendo suas carreiras na Europa, alguns tendo jogado apenas uma temporada aqui no Brasil (ou nem isso), não podemos realmente ficar animados...

O mal dessas comparações é que cada um de nós tem sua opinião e acredita piamente que ela é a correta, sem admitir contestações.

Deixem-me dar a minha.

Pelé ou Maradona? Para mim, Pelé. Primeiro, porque ganhou três Copas do Mundo, apesar de ter jogado pouco tempo na de 1962. Maradona só ganhou uma. Os dois foram “pontas de lança” (como preferem alguns), ou “meias avançados” (como preferem outros). Pelé sempre foi mais objetivo, jogava mais visando o gol, fez do Santos um dos maiores times do mundo no início da década de 60. Maradona, mais individualista, “cracaço” de bola, fez do Nápoli, time que nunca chegava ao título, campeão da Itália por duas vezes. O gol que fez contra a Inglaterra na Copa de 86, no México, foi um dos mais bonitos já vistos na história do futebol. Pelé teve ao seu lado Coutinho, Pepe, Mengalvio, Zito, Carlos Alberto. Maradona teve Alemão, Careca, Batistuta e tantos outros extraordinários jogadores argentinos.

Garrincha ou Pelé? Para mim, Garrincha. Pela genialidade, pelo improviso, por ter ganho duas Copas do Mundo, a de 1962 levando o time nas costas após a contusão de Pelé na segunda partida da fase eliminatória. Jogavam em posições diferentes, mas Garrincha, que foi o maior ponta-direita que vi jogar (perdoem-me Julinho Botelho e Stanley Mathews), além de infernizar defesas, na Copa de 62, fez gol de falta e até de cabeça. Pelé ganhou três Copas, mas era muito mais novo que Garrincha. Este último jogou ao lado de Didi, Quarentinha, Paulinho Valentim, Manga, além de Pelé, Zito, Pepe, Vavá, Dida... Garrincha, para mim, foi o maior gênio do futebol mundial, embora ache que ele nem se dava conta disso...

Maradona ou Messi? Maradona, na minha opinião. Também pela improvisação, pelo domínio de bola, pela genialidade. Messi, apesar de ser um “baita” jogador já tem outro estilo, já que foi ainda adolescente para a Europa e lá adaptou seu futebol ao estilo europeu, sendo mais objetivo, pragmático, apesar de às vezes também improvisar. Nunca deu sorte jogando pela seleção do seu país.

Zico ou Dida? Para mim, Dida (sei que vou ser xingado por esta opinião, inclusive por um familiar, flamenguista doente). Mas, acompanhei a carreira dos dois desde o início. Vi Dida estrear pelo Flamengo, juntamente com Babá, acho que no tricampeonato do rubro-negro de 1955. Sempre foi um jogador brilhante, artilheiro nato, decidindo jogos importantes para o seu time. Zico, mais recente, também excelente jogador, irmão mais novo de outros atacantes de sucesso (na minha opinião, Edu, o melhor deles) é mais idolatrado pela torcida do Flamengo por ter ficado mais conhecido e porque a mídia o promoveu muito. Edu, por ter jogado quase toda sua carreira no América, não teve tanta projeção, mas foi um senhor jogador.

Gerson ou Didi? Para mim, Didi. Conheci Gerson quando tinha doze anos de idade, ele, acho que dois anos mais velho do que eu. Treinávamos futebol de salão no Canto do Rio, em Niterói, ele já despontando como uma grande revelação do futebol da época. Em 1955, ele disputou os Jogos Infantis pelo clube (jogos patrocinados pelo então Jornal dos Sports) pelo time até quinze anos de idade, formando ala com Jardel, que depois jogou por vários clubes, inclusive Internacional e Fluminense). Deram um show de bola e ganharam facilmente o torneio. Eu, nem me atrevi a disputar pelo time de até 13 anos, onde teria poucas chances de ser titular (Carlos Pio jogava nesse time) e preferi participar do torneio de tênis de mesa, que também praticava no clube. Gérson teve carreira meteórica, passando para o juvenil do futebol de campo do Canto do Rio e depois transferindo-se para o Flamengo. Excelente visão de jogo, passe de primeira, sempre encontrando um jogador desmarcado. Jogou pelo meu Botafogo, pelo São Paulo e encerrou a carreira no Fluminense. Didi, quase dez anos mais velho, era o rei do meio de campo. O “Príncipe Etíope”, como o chamava Nelson Rodrigues. Jogou pelo Madureira, depois Fluminense, campeão carioca pelo Botafogo em 1957, bicampeão do mundo pela seleção brasileira em 1958 e 1962, foi tentar o sucesso no Real Madrid, não se adaptou, voltou ao Botafogo onde chegou a jogar algumas partidas ao lado do Gérson, no que foi chamado na época de “super meio de campo”. Ficou pouco tempo, foi ser técnico no Peru. Célebre ficou sua atitude num jogo da Copa do Mundo de 1958, quando, após o Brasil levar um gol, foi até o fundo das redes, pegou a bola, colocou-a debaixo do braço e, calmamente, em passos estudados, foi andando com ela até o meio do campo para dar nova saída. O Brasil virou o jogo e ganhou por 5 X 2. Grande craque.

Ademir da Guia ou Rivellino? Prefiro Ademir da Guia. Estilo clássico, muito tranquilo, domínio de bola extraordinário, para mim um dos grandes injustiçados na seleção brasileira. Jogou na mesma época de Gérson e Rivellino, que tinham muito mais cobertura da mídia (carioca e paulista), por isso era sempre preterido nas convocações da seleção. Filho do extraordinário Domingos da Guia, um dos maiores zagueiros do Brasil das décadas de 30 e 40, começou no Bangu e foi ainda muito novo para o Palmeiras, onde construiu sua carreira. Rivellino, cria do Corinthians Paulista, era adorado pela torcida do clube, ganhou o apelido de “Garoto do Parque”, também excelente meio de campo. Diferente de Ademir, temperamento explosivo, irritadiço, nunca conseguiu se firmar na seleção brasileira, até que, em 1970, Zagallo o colocou para jogar na ponta esquerda, como um ponta recuado, como ele próprio, Zagallo, jogara em seus tempos de Flamengo, Botafogo e seleção. Adaptou-se bem à função e foi um dos melhores jogadores da seleção campeã mundial de 1970. Já na seleção de 1974, titular absoluto do meio de campo, não alcançou o mesmo sucesso. Jogou no Fluminense e fez muito sucesso com a camisa tricolor.

Poderíamos tentar fazer outras comparações. Domingos da Guia ou Djalma Dias (este último, o melhor zagueiro que vi atuar; não vi Domingos).

 Leônidas da Silva, Heleno de Freitas ou Ademir Menezes? Não vi Leônidas; Heleno, só vi a última partida que jogou (meio tempo, pois foi expulso, em 1950, com a camisa do América, no Maracanã); Ademir, realmente, o melhor centro avante que vi jogar. Queria ter visto Heleno em seu auge, na década de 40.

Zizinho ou Didi? Para mim, Zizinho, que também vi jogar já em final de carreira, pela equipe do Bangu.

De tudo o que comentei, resumo: comparações são sempre difíceis, traiçoeiras, até mesmo infelizes. Tudo depende de preferências pessoais, clubísticas, época em que jogaram, estilo de jogo de cada um, qualidade dos companheiros de time...

Mas, como futebol é paixão, cada um se apaixona como acha melhor...

sexta-feira, novembro 20, 2020

PAIS E FILHOS... NO FUTEBOL...

 

PAIS E FILHOS... NO FUTEBOL...

 

Calfilho

 

 

          Em talvez oitenta por cento das hipóteses, os filhos seguem os caminhos que os pais já desempenharam em suas próprias vidas. Assim, muitos médicos também se formam em medicina porque seu pai ou sua mãe foram médicos. O mesmo ocorre na advocacia (com suas variantes para a magistratura ou Ministério Público, mesmo Defensoria), engenharia, odontologia e outras carreiras de nível superior... Não porque, necessariamente, já tinham vocação para seguir a mesma profissão,  mas, quase sempre pela influência familiar... talvez até por comodismo, por já encontrarem o escritório ou consultório do pai ou da mãe estabelecido, o bom nome que eles já conquistaram no exercício de suas profissões e a maior facilidade que teriam em começar uma atividade laborativa após o término de seus ciclos de estudos convencionais...

          Cada um deve ter sua própria história para contar. Muitas delas são iguais, outras parecidas, algumas bem diferentes...

        Vou contar a minha, se me permitem. Meu pai era médico e acho que um dos seus maiores sonhos era que eu também fizesse medicina. Por isso, cursei o antigo científico, que era preparatório para medicina, engenharia, odontologia, entre outras carreiras. Estudei, sem necessidade, matemática mais avançada, desenho, química, física, matérias que nunca utilizei no futuro.  Acabei cursando Direito (poderia ter feito o clássico e me livrado daquelas matérias) e segui outra carreira, mesmo sem ter vocação para ela. Sei que decepcionei profundamente meu pai, mas acho que fiz o que achei que era melhor para mim na ocasião. Seria um médico apenas razoável, acabei um magistrado também apenas razoável...

        No futebol, meu pai também não me influenciou... Na realidade, não sei para qual time torcia. Senti nele uma leve predileção pelo Vasco, mas foi apenas minha impressão. Entretanto, levou-me várias vezes ao Maracanã para assistir jogos de times diversos, entre eles até o São Cristóvão. Com ele, assisti partidas diurnas e noturnas, do campeonato carioca e do antigo torneio Rio-São Paulo. Minha opção pelo Botafogo, depois de minha fase cantorriense foi tomada somente por mim, por mais ninguém.

     Já em relação aos meus filhos foi um pouco diferente. Não dei nenhum palpite sobre a carreira que deveriam seguir. Deixei exclusivamente a critério deles essa escolha. Minha filha mais velha e dois dos meus filhos homens escolheram Direito, não sei o motivo. Não advogo depois que me aposentei (nem revalidei minha inscrição na OAB), não tenho escritório e pouco posso ajudá-los, já que o Direito mudou muito depois da minha aposentadoria. Outro filho meu cursou Física e hoje é professor da UFRJ, tendo vários cursos de mestrado, doutorado e pós-graduação nos EEUU., Europa, até China.

    Já quanto ao futebol, aí não. Ainda crianças de colo me acompanharam devidamente uniformizados com a camisa, calção e meia do Botafogo a jogos no Maracanã. Hoje, são quatro botafoguenses doentes. Um deles, como eu, é sócio proprietário do clube.

    Já meu neto, doutrinado pelo pai, é tricolor, não consegui influenciá-lo.

         Democracia em tudo, menos no futebol...

quarta-feira, novembro 18, 2020

O TORNEIO INÍCIO...

O TORNEIO INÍCIO...

 

Calfilho

 

 

Nos primeiros anos da década de 50 do século passado, já totalmente fascinado pelo futebol, meu pai me levou algumas vezes ao Maracanã. Acho que já comentei isso aqui: só não o acompanhei na final de Brasil X Uruguai, porque tinha apenas oito anos de idade e ele ficou com receio do tumulto que seria a saída do estádio após a vitória tida como certa da equipe brasileira. Bem, naquele tempo, não havia Uber, nem ponte, o bonde era a condução até a praça XV, e dali uma barca da Cantareira para Niterói... Primeira vez que a seleção conquistaria a Copa do Mundo de futebol... Infelizmente, o verbo “conquistar” ficou apenas no condicional, uma das maiores vergonhas do futebol brasileiro, que só seria suplantada muitos anos após, já no século seguinte...

Já tinha formado meus times de futebol de botão. Mas, ainda, sem definição como torcedor. Tinha várias equipes, muitas deles compostas de “jogadores” feitos com casca de coco, botões velhos que minha mãe não usava mais, mas nunca meus times eram desses botões que vemos atualmente, todos iguais, em material plástico, com o escudo dos clubes em cima. Os goleiros, normalmente, eram caixas de fósforos com chumbinho de pesca em seu interior, para não caírem ou virarem...

No corredor do prédio da Av. Amaral Peixoto onde morava, eu e meus irmãos jogávamos animadas partidas de futebol, com bola de meia ou de borracha, o que deve ter causado muitos aborrecimentos aos vizinhos dos outros apartamentos do mesmo andar.

Só no final de 1951, quando mudamos para a rua Nilo Peçanha, no Ingá, foi que pude verdadeiramente praticar o futebol na rua e na praia... Deliciosa época, em que fechávamos a rua com balizas improvisadas com tijolos e só éramos interrompidos quando passava um carro de duas em duas horas, ou uma senhora transitava pela calçada.

-- Para a bola!!! -- um de nós gritava e o “racha” era momentaneamente interrompido...

Mas, voltando às minhas idas ao Maracanã...

Um dos espetáculos de que mais gostava era o extinto Torneio Início, que abria o campeonato carioca de cada ano... Normalmente, os grandes times não mandavam para esse torneio de abertura seus times principais, por não darem muita importância ao mesmo... Todos os times da Federação Carioca de Futebol o disputavam, como uma festa de abertura do campeonato que começaria na semana seguinte. Deixem-me tentar lembrar quais eram as equipes no início dos anos 50: Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Canto do Rio... Anos mais tarde, entraram Portuguesa e Campo Grande...

No Torneio Início, todos os times cariocas compareciam ao Maracanã e, como os vestiários não eram suficientes para abrigar os jogadores de todos os times, alguns deles ficavam sentados no gramado, ao lado dos túneis dos vestiários.

Era realmente muito legal ver seus ídolos sentados ou deitados displicentemente no gramado aguardando a hora em que os jogos de seus times iriam começar. As partidas tinham a duração de vinte minutos, com dez minutos para cada tempo e eram eliminatórias. A final tinha 60 minutos, com 30 para cada tempo. As primeiras partidas, normalmente, eram entre os times considerados “pequenos” (Canto do Rio, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Madureira...), sendo a metade deles logo eliminada, e os vencedores iriam disputar com os “grandes” (Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, América e Bangu) os jogos restantes.

Era uma verdadeira festa, que tinha início ao meio dia e, muitas vezes terminava com o dia já escurecendo...

Se um dos jogos terminasse empatado, a decisão era por pênaltis ou pelo número de escanteios concedidos  ( três rodadas de pênaltis  até a definição do vencedor e todos os pênaltis deveriam ser batidos pelo mesmo jogador – segundo a Wkipedia).

A primeira edição do torneio foi em 1916 e a última em 1967 tendo havido uma edição especial m 1977, também segundo a Wikipedia.

Apenas por curiosidade e para não dizer que o então meu time de coração não ganhou nada, o Canto do Rio foi o campeão de 1953. Tinha a seguinte formação: Celso, Nanati e Garcia; Cleuson, Rubinho e Heber; Milton, Miltinho, Jaime, Dodoca e Jairo. A final teve prorrogação e tudo e o Cantusca “goleou o Vasco por 3 x 0...

 






 

 

 

 

Minha fonte foi a Wikipedia e a foto da equipe campeã do torneio início de 1953 é do “Sport Ilustrado”.


segunda-feira, novembro 16, 2020

Memórias futebolísticas...

   MEMÓRIAS FUTEBOLÍSTICAS...

                     Calfilho

Provocado por um dileto amigo, vou tentar escrever algumas linhas sobre futebol...

Acompanho o esporte desde 1950, quando tinha oito anos de idade...

Não torcia por um clube definido, gostava de ver os times jogando, a beleza das camisas coloridas, o Maracanã grandioso, mas ainda um pouco triste, depois da derrota para o Uruguai, na Copa do Mundo de 50... Meu pai às vezes me levava para assistir uma partida, seja do Vasco, Fluminense, Botafogo, América, até mesmo do São Cristóvão. Com a chegada da televisão em nossos lares, passei a acompanhar com mais frequência os jogos que os clubes permitiam a transmissão.

O Vasco era o grande time da época, base da seleção brasileira que disputou a malfadada Copa de 50. Barbosa, Augusto, Eli, Ademir, Maneca, Friaça, Tesourinha, Chico, jogavam pela equipe cruzmaltina. Foi o campeão carioca daquele ano.

O Fluminense tinha Castilho, Píndaro, Pinheiro, Clóvis, Telê, Vítor, Bigode, Orlando Pingo de ouro, entre tantos outros excelentes jogadores. Foi o campeão de 1951.

O Flamengo tinha um timaço, sendo reforçado com a vinda de Rubens e Adãozinho, que chegaram do futebol paulista. Garcia, Biguá (mais tarde Tomires) e Pavão; Jadir, Bria (depois Dequinha) e Jordan; Joel, Rubens, Adãozinho (mais tarde Índio), Benitez e Esquerdinha. Ainda entraram Evaristo, contratado ao Madureira e uma dupla que fez muito sucesso por vários anos: Dida e Babá. O Flamengo foi tricampeão carioca em 1953, 1954 e 1955...

O Botafogo, que fora campeão em 1948, depois da saída de seu melhor jogador, Heleno de Freitas, para o Boca Juniors, não conseguia formar um bom time. Até que, em 1953, surgiu um endiabrado ponta-direita, de nome Manuel Francisco dos Santos, apelidado de Garrincha, que fez voltar a alegria aos botafoguenses. Contratou Didi ao Fluminense, além de Paulinho Valentim e Quarentinha, dois excelentes artilheiros. O time foi campeão em 1957.

Já agora, eu era um fã incondicional de futebol, assistindo todos os jogos passados na televisão ou indo aos estádios de Caio Martins, Maracanã, São Januário, Álvaro Chaves e até mesmo Bariri, Teixeira de Castro, Figueira de Melo.

Era sócio do Canto do Rio F.C., clube de Niterói, que disputava o campeonato carioca. Passei a torcer por ele e a acompanhar seus jogos pelos estádios onde jogava. Em 1955, o clube contratou alguns jogadores já em final de carreira e conseguiu formar um time razoável: Garcia (Veludo), Ary Marron, Vítor, Lafayette, Eli do Amparo, Caboclo, Mituca, Zequinha, Osmar, Jairo...

Como o meu amigo Carrano já explicou em seu “post”, as tardes de domingos começavam às 13 horas com os times de aspirantes. Às quinze horas tinha início o jogo de profissionais. E, nas manhãs ensolaradas havia a partida entre os juvenis. Não vi ninguém morrendo de insolação, nem havia parada técnica para reidratação...

Eu mesmo costumava “rachar” na areia da praia de 9 da manhã ao meio-dia...

Já disse isso em outras matérias do meu blog: defini qual seria o clube pelo qual torceria depois da final do campeonato carioca de 1957, quando o time da estrela solitária goleou o Fluminense por 6 X 2, com exibições primorosas de Nílton Santos,  Garrincha, Didi, Paulinho Valentim, Quarentinha...

Devo ter dado sorte nessa escolha, pois no ano seguinte, 1958, o Brasil, finalmente, foi campeão do mundo, tendo em sua equipe justamente Nílton Santos, Garrincha e Didi. E repetiu a dose em 1962, com mais Zagallo e Amarildo no time principal, além dos três outros já citados...

 


segunda-feira, março 30, 2020

A QUARENTENA...




A QUARENTENA...

Calfilho



             Obrigado a ficar em casa, respeitando uma quarentena determinada pelas autoridades sérias deste país, pela medicina e pelo bom senso, tendo em vista a gravidade da pandemia que assola o mundo, uma de minhas atividades diárias, além da leitura e de assistir um bom filme, é a de ficar vendo os noticiários da televisão sobre a “gripezinha”.

             Já vi e ouvi de quase tudo, nesses já onze dias de reclusão domiciliar.

             Vi novas profissões surgirem. Daqui a pouco vão incluir no currículo de nossas faculdades a cadeira de professor de “lavagem das mãos”. Já repararam como apareceram em nossas telinhas pessoas (de ambos os sexos) ensinando-nos como lavar corretamente nossas mãos? “Lavem os dedos, lavem entre eles, lavem as unhas, o dorso das mãos, os punhos, etc...”, um pretendendo saber mais que o outro, virando as ditas cujas mãos de uma maneira diferente, apenas para dizer que o seu método é o que está certo, os outros estão errados... Como se nunca antes tivéssemos lavado nossas mãos... Já disse, daqui a pouco vamos ter alguns brasileiros formados em “lavagem de mãos” e, se fizerem doutorado, vão exigir serem chamados de doutores, como acontece com outras profissões ultimamente...

             Os médicos infectologistas, também, passaram a lotar os estúdios das emissoras de televisão, respondendo perguntas dos telespectadores, com informações nem sempre coincidentes sobre o problema da epidemia, ou seja,  como se pega a gripe, sua transmissão, as medidas preventivas, o que é certo e o que é errado fazer... E, com o grave risco de informar mal a população, já que a televisão entra em qualquer casa, a dos que estudaram e a daqueles com menor grau de instrução...

             Vem o Ministro da Saúde, que deveria ser a autoridade máxima na matéria, e diz, inicialmente, que devemos manter isolamento, evitar aglomerações, não ir a restaurantes (pedir entrega em casa), manter uma distância mínima de dois metros de outra pessoa, que os ônibus só devem transportar passageiros sentados, etc... etc...

            Depois, em cadeia nacional de rádio e televisão, o Presidente da República, que deveria ser o guia maior do povo nesse momento gravíssimo de crise mundial, afirma que o isolamento deve ser apenas para os idosos, pois são eles que estão morrendo em outros países. E, que as crianças (para ele, imunes ao vírus) devem voltar para a escola, que o comércio, a indústria e as demais atividades econômicas devem funcionar normalmente, dando como exemplo ele próprio (que diz ter sido “atleta”- aliás não explicou o esporte que teria praticado) e, se escapou de uma facada, não seria uma “gripezinha” que iria derrubá-lo... Talvez tenha esquecido que a grande maioria do povo brasileiro não é composta de “atletas” e, que mesmo eles, os verdadeiros atletas, também são atingidos pelo vírus e também morrem, como aconteceu com alguns deles mundo afora...

             Depois, em entrevista coletiva, transmitida ao vivo pelas televisões, o Presidente, o Ministro da Saúde e outros ministros, espalhados por uma grande mesa, portando máscaras, fizeram-me relembrar a pintura famosa de Da Vinci, a “Última Ceia”, que se encontra numa igreja de Milão... As máscaras atrapalhavam, eram retiradas do rosto quando alguém falava, depois recolocadas desajeitadamente no palestrante...

             Daí em diante, o “samba do crioulo doido”, imortalizado pelo saudoso Sérgio Porto...        Entrevistas diárias, ora pregando o isolamento vertical, ora o horizontal (aliás, quem vai acabar na “horizontal” somos nós... definitivamente), medidas provisórias assinadas e revogadas logo em seguida, Presidente convocando o povo para manifestações em seu favor, desmentindo logo em seguida essa convocação, para, no dia seguinte, misturar-se a alguns fanáticos que se dizem seus apoiadores (até quando?), novos espetáculos de bota e tira máscaras em entrevistas televisadas, e...

             Desorientação total...

             O pobre do Ministro da Saúde, que até parecia competente e bem intencionado, vê-se desmentido em suas orientações de isolamento das pessoas pelo seu chefe. Não é somente médico, também é político... Tenta contemporizar, achar um meio termo, mas, até quando?

            Só espero que a razão e o bom senso prevaleçam e não cheguemos ao número de mortos da Espanha, da Itália, da China, do Iran ou dos Estados Unidos... Que consigamos seguir o exemplo da Coreia do Sul, do Japão, de Cingapura que, tomando medidas muito duras e severas no início da pandemia em seus países, conseguiram manter um controle razoável sobre ela e choraram menos mortes...




domingo, março 29, 2020



AS TRANSFORMAÇÕES DAS CIDADES...

Calfilho



             Impressionante como as cidades do mundo sofreram grandes transformações em apenas pouco mais de um século. Refiro-me, apenas, às mudanças paisagísticas, sem me deter em outras de natureza étnica, cultural, costumes ou humanas.

                Vou-me ater, somente, àquelas que conheço pessoalmente por nelas ter vivido, algumas que visitei e outras sobre as quais li ou vi filmes que contam suas histórias.

              Nova York, por exemplo. Nunca a visitei. Mas, os filmes e fotos que vejo do início do século XX e o que vejo hoje, na televisão, mostram duas cidades completamente diferentes. Antes, as casas luxuosas dos bairros ricos, hoje os arranha-céus da trepidante Manhatan.

            Paris, Roma e Londres já as visitei. Também por fotos do início dos anos 1900 vemos que a arquitetura modificou-se bastante.  Londres ainda mantém o prédio do Parlamento, o Big Ben, a Torre. Mas, já apresenta várias construções modernas. Na parte central de Roma ainda vemos o Coliseu, as Termas de Trajano, o Fórum Romano e alguns prédios menos importantes, bem antigos. Em Paris, temos as Termas de Cluny, as Arenas de Lutéce, fora inúmeros igrejas que remontam à Idade Média, entre elas, principalmente, a Notre Dame. Alguns prédios que datam do século XIX, com quatro ou cinco andares, são restaurados apenas internamente, mantendo-se a arquitetura original  na parte exterior. Isso, praticamente, em todos os bairros do centro da cidade, em ambos os lados do Sena.

           O Rio de Janeiro é a cidade onde nasci e vivi até quase meus sete anos de vida. Moramos na Zona Norte e em Copacabana, no Lido. Conheci aquela pracinha ainda sem grades, com pequenas charretes puxadas por cabras que a contornavam e que era um dos meus passeios prediletos de criança. Via as enormes pipas, representando águias, serem empinadas na Avenida Atlântica, que, àquela época, não havia sido duplicada. Os bondes ainda trafegavam pela Avenida Nossa Senhora, as “vacas leiteiras” entregavam o leite diariamente aos moradores... Vi, na internet, fotos da Copacabana do início do século XX, com apenas algumas casas na praia e, em fotografia de 1929, o prédio do hotel Copacabana Palace, isolado, com a água do mar da Princesinha quase o tocando.  Em outra imagem, a pedra do Inhangá, que ia até o mar. Hoje, Copacabana, apesar de manter aquela imagem inconfundível do colar de pérolas que a notabilizou mundialmente, está bem diferente do que era.

          O centro da cidade, então, foi completamente desfigurado. Vi imagens da igreja de Santa Luzia e o mar chegando a seus pés. A Praça XV, as ruas transversais e paralelas, tiveram seus prédios baixos e sobrados demolidos para a construção de horrorosos espigões. Galeria Cruzeiro, Café Nice, Cineac Trianon, tudo desapareceu em nome do progresso...

         Deixo, por último, nessas divagações de quarentena (forçada por uma “gripezinha” ou “resfriadinho”), minha Niterói, que acolheu minha família no final de 1949. Voltávamos de Fortaleza, onde meu pai fora trabalhar por seis meses e encontrou dificuldades para arranjar rapidamente um local para morarmos. Aceitamos o convite de meu avô materno, que morava num apartamento no centro de Niterói, cidade onde trabalhava na construção de um prédio em Icaraí. O imóvel ficava na principal avenida da cidade, cujo nome anterior fora Duque de Caxias e mudara para Amaral Peixoto, que era genro do ex-Presidente Getúlio Vargas e interventor do antigo Estado do Rio de Janeiro. Essa avenida, que ligava a estação da Cantareira a outros bairros, fora construída há pouco tempo e havia modificado bastante a arquitetura do centro da cidade. Meu pai acabou comprando um outro apartamento no mesmo prédio e ali passei vários anos de minha infância e adolescência.

         Niterói, apesar de capital do Estado do Rio, era ainda, no início da década de 50, uma cidade provinciana, servindo de dormitório para a maioria de sua população, que atravessava diariamente a baía para trabalhar no Rio de Janeiro. Tinha um comércio razoável na rua da Conceição, e pouco mais. Os bondes que uniam os diversos bairros faziam a volta na Praça Martim Afonso, hoje Arariboia. Mudamos em 1953 para o bairro do Ingá, para um apartamento de outro prédio que meu avô ali construiu. Icaraí, o bairro chique da cidade, tinha apenas uns dois ou três edifícios na praia. Lá, no Ingá, presenciei a chegada dos “trolley bus, ou ônibus elétricos, uma das marcas características da cidade durante alguns anos. Tudo calmo, tudo tranquilo, verdadeiro paraíso para viver e criar os filhos.

           Veio a ponte Rio/Niterói, milagre da engenharia moderna que, realmente veio facilitar a vida de muitos que moram ou trabalham nas duas cidades. Mas, também veio a especulação imobiliária, acabaram-se as casas baixas e os sobrados de Icaraí... São Francisco deixou de ser o bairro tranquilo que era para virar apenas passagem para aqueles que moram nas praias oceânicas...

            Ganhamos ou perdemos?