domingo, março 29, 2020



AS TRANSFORMAÇÕES DAS CIDADES...

Calfilho



             Impressionante como as cidades do mundo sofreram grandes transformações em apenas pouco mais de um século. Refiro-me, apenas, às mudanças paisagísticas, sem me deter em outras de natureza étnica, cultural, costumes ou humanas.

                Vou-me ater, somente, àquelas que conheço pessoalmente por nelas ter vivido, algumas que visitei e outras sobre as quais li ou vi filmes que contam suas histórias.

              Nova York, por exemplo. Nunca a visitei. Mas, os filmes e fotos que vejo do início do século XX e o que vejo hoje, na televisão, mostram duas cidades completamente diferentes. Antes, as casas luxuosas dos bairros ricos, hoje os arranha-céus da trepidante Manhatan.

            Paris, Roma e Londres já as visitei. Também por fotos do início dos anos 1900 vemos que a arquitetura modificou-se bastante.  Londres ainda mantém o prédio do Parlamento, o Big Ben, a Torre. Mas, já apresenta várias construções modernas. Na parte central de Roma ainda vemos o Coliseu, as Termas de Trajano, o Fórum Romano e alguns prédios menos importantes, bem antigos. Em Paris, temos as Termas de Cluny, as Arenas de Lutéce, fora inúmeros igrejas que remontam à Idade Média, entre elas, principalmente, a Notre Dame. Alguns prédios que datam do século XIX, com quatro ou cinco andares, são restaurados apenas internamente, mantendo-se a arquitetura original  na parte exterior. Isso, praticamente, em todos os bairros do centro da cidade, em ambos os lados do Sena.

           O Rio de Janeiro é a cidade onde nasci e vivi até quase meus sete anos de vida. Moramos na Zona Norte e em Copacabana, no Lido. Conheci aquela pracinha ainda sem grades, com pequenas charretes puxadas por cabras que a contornavam e que era um dos meus passeios prediletos de criança. Via as enormes pipas, representando águias, serem empinadas na Avenida Atlântica, que, àquela época, não havia sido duplicada. Os bondes ainda trafegavam pela Avenida Nossa Senhora, as “vacas leiteiras” entregavam o leite diariamente aos moradores... Vi, na internet, fotos da Copacabana do início do século XX, com apenas algumas casas na praia e, em fotografia de 1929, o prédio do hotel Copacabana Palace, isolado, com a água do mar da Princesinha quase o tocando.  Em outra imagem, a pedra do Inhangá, que ia até o mar. Hoje, Copacabana, apesar de manter aquela imagem inconfundível do colar de pérolas que a notabilizou mundialmente, está bem diferente do que era.

          O centro da cidade, então, foi completamente desfigurado. Vi imagens da igreja de Santa Luzia e o mar chegando a seus pés. A Praça XV, as ruas transversais e paralelas, tiveram seus prédios baixos e sobrados demolidos para a construção de horrorosos espigões. Galeria Cruzeiro, Café Nice, Cineac Trianon, tudo desapareceu em nome do progresso...

         Deixo, por último, nessas divagações de quarentena (forçada por uma “gripezinha” ou “resfriadinho”), minha Niterói, que acolheu minha família no final de 1949. Voltávamos de Fortaleza, onde meu pai fora trabalhar por seis meses e encontrou dificuldades para arranjar rapidamente um local para morarmos. Aceitamos o convite de meu avô materno, que morava num apartamento no centro de Niterói, cidade onde trabalhava na construção de um prédio em Icaraí. O imóvel ficava na principal avenida da cidade, cujo nome anterior fora Duque de Caxias e mudara para Amaral Peixoto, que era genro do ex-Presidente Getúlio Vargas e interventor do antigo Estado do Rio de Janeiro. Essa avenida, que ligava a estação da Cantareira a outros bairros, fora construída há pouco tempo e havia modificado bastante a arquitetura do centro da cidade. Meu pai acabou comprando um outro apartamento no mesmo prédio e ali passei vários anos de minha infância e adolescência.

         Niterói, apesar de capital do Estado do Rio, era ainda, no início da década de 50, uma cidade provinciana, servindo de dormitório para a maioria de sua população, que atravessava diariamente a baía para trabalhar no Rio de Janeiro. Tinha um comércio razoável na rua da Conceição, e pouco mais. Os bondes que uniam os diversos bairros faziam a volta na Praça Martim Afonso, hoje Arariboia. Mudamos em 1953 para o bairro do Ingá, para um apartamento de outro prédio que meu avô ali construiu. Icaraí, o bairro chique da cidade, tinha apenas uns dois ou três edifícios na praia. Lá, no Ingá, presenciei a chegada dos “trolley bus, ou ônibus elétricos, uma das marcas características da cidade durante alguns anos. Tudo calmo, tudo tranquilo, verdadeiro paraíso para viver e criar os filhos.

           Veio a ponte Rio/Niterói, milagre da engenharia moderna que, realmente veio facilitar a vida de muitos que moram ou trabalham nas duas cidades. Mas, também veio a especulação imobiliária, acabaram-se as casas baixas e os sobrados de Icaraí... São Francisco deixou de ser o bairro tranquilo que era para virar apenas passagem para aqueles que moram nas praias oceânicas...

            Ganhamos ou perdemos?

7 comentários:

Jorge Carrano disse...

Caro Amigo,

Entre outras coisas que temos em comum, parece que a preferência e prazer pelas viagens a Europa, estão muito acima das viagens aos USA (EEUU).

Parabéns pela análise.

Abração.

Jorge Sader Filho disse...

Ganharam! Tanto é verdade que você até hoje usufruiu da vitória!
Grande abraço, amigo Carlinhos!
Jorge

Unknown disse...

Parabéns,Carlinhos!
Sempre aprendendo com você.
Se ganhamos ou perdemos,vai depender do olhar, das experiências de cada um.E acredito que não teremos a resposta.Quando me bate a saudade de Niterói, da Avenida Estácio de Sá, dos anos 50,percebo que perdemos a tranquilidade,segurança e toda sua "ingenuidade"da época.Ganhamos sim, a mobilidade com asfalto,modernos transportes,a ponte, trazendo integração; perdemos com aumento da população,sem melhorar a infraestrutura
da cidade...e chegamos aos dias de hoje com problemas insolúveis.
Nesse balanço, saudosista que sou...perdemos.
Adorei ler e participar com meu olhar.
Um beijo da sua fã liceísta!
Yara Nogueira

Riva disse...

Não sabia que a Av Amaral Peixoto chamava-se antes Duque de Caxias. Uma novidade para mim, aos 67 anos de Niterói.

Boa matéria a sua. Abraço.

Jorge Carrano disse...


Que bom encontra-lo aqui, Riva, mas não me abandone, seduzido pelas postagens do Carlinhos.

Carlinhos para os amigos.

Seja bem-vindo, arvoro-me a afirmar em nome dele.

Jorge Carrano disse...


Explicação:

Riva, é o pseudônimo de amigo que me distingue seguindo meu blog, onde além de comentar a miúde, vez ou outra colabora com postagens.

Sugeri e ele veio até aqui, mas quero que continue fiel em meu espaço virtual.

Riva porque, segundo ele, chutava com a perna esquerda tão forte quanto Rivelino, tricampeão mundial. Isto provavelmente até 40 anos atrás.

Carlos Lopes Filho disse...

Obrigado, amigos Carrano, Jorginho, Yara, pela visita e comentários, que só enriqueceram minha modesta crônica. Riva, prazer em conhecê-lo, acho que já nos falamos, mesmo que superficialmente, quando comentei alguma coisa no excelente blog do Carrano. Seja bem vindo ao meu. Espero seus comentários em outras "coisas" que eu escrever por aqui. Quanto à Amaral Peixoto, morei nela a partir do final da década de 40, no edifício situado na esquina com Visconde de Uruguai. Meu avô materno já morava ali, pois trabalhava na construção do Edifício Álvares de Azedo, em Icaraí, um dos primeiros prédios altos de Niterói. Soube que a Amaral Peixoto mudou de nome, de Duque de Caxias para o então interventor e depois governador do Estado, genro do ex-Presidente e novamente Presidente do Brasil a partir de 1950. Até o correio entregava a correspondência no início dos anos 50 como se fosse Av. Duque de Caxias. Soube depois que ela havia sido construída há pouco tempo, rasgando o centro de Niterói, demolindo muitas casas antigas.