quarta-feira, novembro 18, 2020

O TORNEIO INÍCIO...

O TORNEIO INÍCIO...

 

Calfilho

 

 

Nos primeiros anos da década de 50 do século passado, já totalmente fascinado pelo futebol, meu pai me levou algumas vezes ao Maracanã. Acho que já comentei isso aqui: só não o acompanhei na final de Brasil X Uruguai, porque tinha apenas oito anos de idade e ele ficou com receio do tumulto que seria a saída do estádio após a vitória tida como certa da equipe brasileira. Bem, naquele tempo, não havia Uber, nem ponte, o bonde era a condução até a praça XV, e dali uma barca da Cantareira para Niterói... Primeira vez que a seleção conquistaria a Copa do Mundo de futebol... Infelizmente, o verbo “conquistar” ficou apenas no condicional, uma das maiores vergonhas do futebol brasileiro, que só seria suplantada muitos anos após, já no século seguinte...

Já tinha formado meus times de futebol de botão. Mas, ainda, sem definição como torcedor. Tinha várias equipes, muitas deles compostas de “jogadores” feitos com casca de coco, botões velhos que minha mãe não usava mais, mas nunca meus times eram desses botões que vemos atualmente, todos iguais, em material plástico, com o escudo dos clubes em cima. Os goleiros, normalmente, eram caixas de fósforos com chumbinho de pesca em seu interior, para não caírem ou virarem...

No corredor do prédio da Av. Amaral Peixoto onde morava, eu e meus irmãos jogávamos animadas partidas de futebol, com bola de meia ou de borracha, o que deve ter causado muitos aborrecimentos aos vizinhos dos outros apartamentos do mesmo andar.

Só no final de 1951, quando mudamos para a rua Nilo Peçanha, no Ingá, foi que pude verdadeiramente praticar o futebol na rua e na praia... Deliciosa época, em que fechávamos a rua com balizas improvisadas com tijolos e só éramos interrompidos quando passava um carro de duas em duas horas, ou uma senhora transitava pela calçada.

-- Para a bola!!! -- um de nós gritava e o “racha” era momentaneamente interrompido...

Mas, voltando às minhas idas ao Maracanã...

Um dos espetáculos de que mais gostava era o extinto Torneio Início, que abria o campeonato carioca de cada ano... Normalmente, os grandes times não mandavam para esse torneio de abertura seus times principais, por não darem muita importância ao mesmo... Todos os times da Federação Carioca de Futebol o disputavam, como uma festa de abertura do campeonato que começaria na semana seguinte. Deixem-me tentar lembrar quais eram as equipes no início dos anos 50: Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Canto do Rio... Anos mais tarde, entraram Portuguesa e Campo Grande...

No Torneio Início, todos os times cariocas compareciam ao Maracanã e, como os vestiários não eram suficientes para abrigar os jogadores de todos os times, alguns deles ficavam sentados no gramado, ao lado dos túneis dos vestiários.

Era realmente muito legal ver seus ídolos sentados ou deitados displicentemente no gramado aguardando a hora em que os jogos de seus times iriam começar. As partidas tinham a duração de vinte minutos, com dez minutos para cada tempo e eram eliminatórias. A final tinha 60 minutos, com 30 para cada tempo. As primeiras partidas, normalmente, eram entre os times considerados “pequenos” (Canto do Rio, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Madureira...), sendo a metade deles logo eliminada, e os vencedores iriam disputar com os “grandes” (Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, América e Bangu) os jogos restantes.

Era uma verdadeira festa, que tinha início ao meio dia e, muitas vezes terminava com o dia já escurecendo...

Se um dos jogos terminasse empatado, a decisão era por pênaltis ou pelo número de escanteios concedidos  ( três rodadas de pênaltis  até a definição do vencedor e todos os pênaltis deveriam ser batidos pelo mesmo jogador – segundo a Wkipedia).

A primeira edição do torneio foi em 1916 e a última em 1967 tendo havido uma edição especial m 1977, também segundo a Wikipedia.

Apenas por curiosidade e para não dizer que o então meu time de coração não ganhou nada, o Canto do Rio foi o campeão de 1953. Tinha a seguinte formação: Celso, Nanati e Garcia; Cleuson, Rubinho e Heber; Milton, Miltinho, Jaime, Dodoca e Jairo. A final teve prorrogação e tudo e o Cantusca “goleou o Vasco por 3 x 0...

 






 

 

 

 

Minha fonte foi a Wikipedia e a foto da equipe campeã do torneio início de 1953 é do “Sport Ilustrado”.


14 comentários:

Eduardo Muniz disse...

Minhas lembranças do futebol vêm dede 1948, quando o Botafogo conquistou o título vencendo o Vasco por 3 x 1 em General Severiano. Osvaldo, Gerson e Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio. Geninho, Pirilo, Otávio e Braguinha, esta a escalação do campeão, que guardo de memória (a dúvida é quanto a linha média, que pode ter sido Arati, Ruarinho e Juvenal). Em 49 o campeão foi o meu Vascão, com Barbosa, Augusto e Haroldo; Eli, Danilo e Jorge; Friaça , Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. Vitória de 2 x 1 sobre o América de Osni, Joel e Osmar; Rubens, Osvaldinho e Godofredo; Natalino, Maneco, Dimas, Ranulfo e Jorginho. Em 50 deu Vasco outra vez e a grande emoção foi assistir ao jogo Brasil 2 x 0 Iugoslávia na Copa de %0, eu e Edgar levados por papai. Em 51 o campeão foi o Fluminense, em melhor de três contra o Bangu. Castilho, Píndaro Pinheiro; Vitor, Edson e Bigode; Telê, Orlando, Carlyle, Didi e Joel, pelo Flu: Osvaldo, Mendonça e Rafanelli,; Gualter, Mirim e Pinguela; Joel,
Menezes, Zizinho, Moacir Bueno (ou Vermelho) e Nívio. Muitas outras lembranças do futebol daquele época guardo vivas e a elas volto sempre que alguém tem a feliz ideia de abrir a gaveta onde estão guardadas. Como você fez agora, amigo, para minha alegria.

Calfilho disse...

Meu caro amigo Eduardo: obrigado pela visita e pelo amável comentário, que só veio enriquecer minha historinha. O Carrano (do Liceu, lembra?) tem também um blog ("Generalidades especializadas" www.jorgecarrano.blogspot.com) e me convidou para escrever algumas matérias (ele gosta de chamar de "posts") sobre futebol. Mas esse teu comentário acima mostra claramente que sua memória está muito melhor que a minha... Lembro bem de vários jogadores dos times que você menciona, mas não lembro de todos, como você o fez com tanta nitidez... No blog dele, o Carrano tem publicado o que ele escreve e o que eu escrevo. Aqui, só reproduzo o que escrevo, até para deixar claro que sou apenas um convidado no blog dele, contribuindo, modestamente, com algumas lembranças. Sugiro que você dê uma passada lá e nos ajude com seus sempre oportunos comentários...

Jorge Carrano disse...


Carlinhos,
Obrigado pela indicação de nosso blog Generalidades especializadas.

Tomara que o Eduardo aceite sua sugestão.

Gostaria de dar um pitaco sobre a linha intermediária do Botafogo, mencionada por ele no comentário. No meu time de botão do Glorioso, a linha intermediária era composta por Arati, Bob e Juvenal.

Você se lembra?

Calfilho disse...

Sim, essa foi uma das linhas médias do Botafogo, mas acho que já na década de 50 (Arati, Bob e Juvenal). O Eduardo se referiu ao time campeão de 48, cuja linha média não lembro. O Ruarinho que ele menciona, eu me lembro dele nos times de 50, bem como meu amigo Richard, que também foi do meu time de botão e depois, já advogado, jogou comigo no Data Venia...
As histórias rendem, vê?

Jorge Carrano disse...


Rendem também porque nós, sobreviventes de todas as adversidades, as mantemos vivas, sempre realimentando.

Ainda bem, né?

Calfilho disse...

Verdade... triste do país e das pessoas que esquecem do seu passado...

Eduardo Muniz disse...

Alô Carrano! Alegria enorme com este reencontro. Receba um forte a saudoso abraço. Moleques apaixonados pelo futebol - o que continuamos ser até hoje - para nós era bem mais fácil guardar os nomes do jogadores dos nosso times. Não havia substituição e a escalação que começava o campeonato era a mesma que terminava. Ademir era do Vasco, Dr. Rubis do Flamengo, Telê do Fluminense, Moacir Bueno do Bangu, Maneco do América , Jairo do Cantusca, Mariano o goleiro do São Cristóvão. E ainda havia as figurinhas, que disputávamos no jogo do bafo-bafo. Outros tempos, outros modos.

Jorge Carrano disse...


Alô Eduardo,
As esquinas que encontramos em nossas trajetórias de vida são responsáveis por desencontros.
Nossas opções de seguir em frente ou dobrar a direita ou esquerda, acabam por vezes nos afastando.
Mas com o mundo gira e a Lusitana roda, alguns reencontros acontecem.
Aconteceu comigo e o Carlinhos, eis que ficamos anos sem contato; e aconteceu com outro contemporâneo de tempos juvenis, que resultou numa guinada de rumo, inclusive profissional.
O nosso reencontro está se dando em espaço virtual oferecido por este amigo comum. E não se trata de caso isolado. Fui localizado, em meu blog, por mais de uma dezena de ex-colegas de trabalho e de colégio.
Mas quem sabe poderá, finda a pandemia, ser presencial num próximo encontro organizado pelo Carlinhos.
Quanto ao futebol comungamos da mesma opinião.
Abraço forte.

Calfilho disse...

Fico muito contente que as páginas do meu preguiçoso blogzinho tenha me dado a oportunidade de proporcionar o reencontro de dois amigos ex-liceístas... Afinal de contas, jogamos (?) no mesmo time, não é mesmo?

Jorge Carrano disse...


Comentário macabro: nós agora integramos o sub "Parque da Colina".

A sério: é sempre bom reencontrar os que prezam os mesmos valores: família, amizade e romantismo, que não deve ser confundido com saudosismo ou nostalgia.

Calfilho disse...

Já que o comentário foi macabro:
Não, Carrano, infelizmente, já assinei com o Maruí, onde a família tem um local perpétuo. Só se decidir pela cremação...

Jorge Carrano disse...


Precisamos pedir perdão ao Eduardo. Degradamos o nível da conversa.

Calfilho disse...

Verdade... mas, do jeito como as coisas estão atualmente em nosso país, temos que pensar no futuro (?)...

Calfilho disse...

Verdade... mas, do jeito como as coisas estão atualmente em nosso país, temos que pensar no futuro (?)...