domingo, julho 30, 2017

AS MENINAS...








AS MENINAS... 

Calfilho

"Para o saudoso amigo Mario Augusto de Oliveira, com quem tive a honra de trabalhar e conviver durante um largo período de minha vida adulta".






              O ano: 1969, mês de junho...
             Após mais um cansativo dia de trabalho foram ao bar do Espanhol para um aperitivo, um relax mental. Faziam isso quase todas as noites após deixarem o escritório e antes de voltarem para casa.
              Estavam na terceira dose do “Ile de France”, beliscando uma porção de polvo no azeite para “adoçar” a boca.
             Chegaram João e Antonio, serventuários de uma das varas criminais da cidade.
             -- Oi, Joaquim, oi Serginho, boa noite – disse João com aquele seu tom de voz característico, saindo-lhe gutural pela garganta.
               Olhou para a garrafa de conhaque sobre o balcão do Espanhol.
             -- Posso tomar um gole, Joaquim?
           -- Claro – respondeu o advogado, com o rosto já suado pelas doses ingeridas, acrescida do calor niteroiense...
             O Espanhol, atrás do balcão, logo apresentou dois copos, servindo duas doses generosas para João e Antonio...
            Já eram oito e meia, quase nove da noite...
        João, estalando a língua de satisfação, após virar o conhaque de um só gole, começou:
           -- Porra, prenderam umas meninas conhecidas nossas, lá do Morcegão.
            Serginho, pegando um pedaço de polvo com o palito, molhou-o no azeite, levando-o à boca. Depois de mastigá-lo bem, perguntou:
        -- Prenderam quem? – indagou, com a boca ainda cheia.
          -- Dendeca, Baianinha, Marcinha e mais umas três que acho vocês não conhecem—respondeu João.
            Depois de engolir o pedaço de polvo e virar mais um gole do seu “Ile”, Serginho perguntou:
            -- Estão onde, João?
    -- Na Costumes, Serginho... aquele babaca do Vermeralla...
     Serginho não gostava do Vermeralla... era um investigador da Costumes, arbitrário como ele só, metido a importante, o terror das prostitutas de Niterói. Já tivera uns dois atritos com ele, quando o mesmo trabalhava na Delegacia do Barreto, a 5ª. DP. Naquela época, Serginho estava começando na advocacia criminal, cheio de ideais quanto à sua carreira.
         Serginho e Joaquim eram companheiros de escritório, situado na Amaral Peixoto, entre Barão de Amazonas e Visconde de Itaboraí. Edifício “Gold Star”, um enorme emaranhado de salas comerciais, onde tinha escritório de tudo: advogado, médico, dentista, contador, venda de ouro, agiota, cafetões... Os dois haviam estudado no Liceu de Niterói, Joaquim mais velho que Sergio, não tendo conhecido um ao outro naquela época liceísta. Joaquim, o dono do escritório, foi apresentado a Sergio por um colega comum. Joaquim não advogava no crime, Sergio dava os primeiros passos no direito penal. Dessa apresentação e a afinidade que entre os dois logo nasceu, veio o convite de Joaquim para Sergio trabalhar em seu escritório.
         -- Porra, Sergio, eu só advogo no cível, mesmo assim mais na parte comercial. Mas, atendendo a um pedido de um amigo meu de infância, passei a ser advogado do sindicato de motoristas de Niterói. Porra, não entendo nada de crime, não gosto da matéria. E só me aparece motorista de ônibus que provocou desastre, que atropelou e matou um monte de gente, a maioria alcoolizado ao volante. Isso me embrulha o estômago. Não quero largar o sindicato que, aliás, também me traz alguns clientes do cível e mais ainda para não deixar esse meu amigo na mão...
          Sergio pensou um pouco antes de responder:
     -- Joaquim, vou ser sincero com você: não tenho dinheiro para dividir as despesas do escritório contigo. Casei há pouco tempo, o dinheiro é contadinho para as despesas de casa. Além do mais trabalho num emprego fixo de 7 da manhã à uma da tarde. Depois disso, estou livre. Se quiser, faço toda a parte criminal do sindicato para você. É o que posso te oferecer.
        -- Tudo bem, Sergio. Não quero perder o sindicato, pois tenho muitos amigos lá dentro. Mas, como te disse, não sei nada de crime, nem quero saber.
         Assim começou a sociedade dos dois.
     Já trabalhavam juntos há pouco mais de três anos. Sergio cuidava da parte criminal, Joaquim do cível, já que era advogado de alguns comerciantes de Niterói. Também fazia algumas outras coisas, como desquites, pensões alimentícias, muitas cobranças de títulos vencidos.
         Sergio, depois desses três anos, já se destacava como um dos melhores advogados criminalistas da cidade. Tudo que ganhava era colocado no escritório, dividindo os honorários com Joaquim, pagando-lhe, assim, um pouco das despesas que o mesmo tinha com a locação do imóvel.
         João era um dos serventuários de uma das varas criminais de Niterói com quem tinham grande afinidade. Aliás, Sergio e Joaquim, nesses três anos de intensa advocacia, fizeram um número bem grande de amigos entre os serventuários das varas da comarca.
         -- E então, João, quer fazer alguma coisa pelas meninas? – indagou Joaquim.
         João enfiou o palito num pedaço de polvo que estava sobre o pires no balcão. Mastigou-o vagarosamente, driblando os buracos da dentadura.
         -- É, se vocês puderem dar um pulo lá na Delegacia para ver se soltam elas -- respondeu.
         Sergio pensou um pouco. Retrucou:
         -- Não adianta, João. Aquele babaca do Vermeralla não vai liberar. E, a essa hora, já quase dez da noite, não deve ter Delegado lá. Ele vai humilhar a gente e não vai soltar as meninas.
         Joaquim e Sergio conheciam algumas das meninas. Faziam ponto no Morcegão, um barzinho aconchegante que funcionava num sobrado da esquina de Barão do Amazonas com Conceição. Ali elas enfeitavam o ambiente, tomavam um drinque com os clientes, saiam com alguns deles para uma esticada na noite niteroiense. Ambiente calmo, tranquilo, sem sobressaltos... Dendeca era amiga de João, ficava o dia inteiro na vara em que ele trabalhava, sentava-se em uma cadeira de sua mesa. Já era conhecida de todos no Cartório, ninguém reclamava de sua presença ali. Muito menos o escrivão, que tinha um respeito danado por João, que era quem praticamente resolvia todos os problemas da vara. O escrivão, Otávio, não entendia nada de crime, nem queria entender...
           Baianinha, como o apelido já dizia, era uma soteropolitana arretada, cheia de vida e alegria para dar e vender, um par de pernas fabuloso, ainda mais quando usava aquelas minissaias que já estavam virando moda no Brasil...
           As outras, bem as outras... eram as meninas... queridas por todos nós, a alegria do “Morcegão”...
           Sergio continuou:
           -- Vamos entrar com um “habeas corpus”, dar um susto no imbecil do Vermerala.
João ponderou:
-- Tem um problema. Onde vamos conseguir despacho de juiz a essa hora da noite?
Sergio pensou um pouco. Prosseguiu:
-- Não tem um juiz novo lá na tua vara? Podemos ir na casa dele...
-- É... -- retrucou João, meio descrente. -- Esse juiz nem conheço direito, só está na vara há uns dez dias, vai ficar lá apenas este mês substituindo o titular. Mas, a gente pode tentar...
-- Então vamos lá pro escritório datilografar o HC. – completou Serginho, depois de virar o resto do seu conhaque.
Joaquim esfregava as mãos de satisfação. Apesar de não advogar no crime, empolgava-se com a atuação de Sergio na defesa de seus clientes. Sustentações orais no tribunal, recursos para o Tribunal de Justiça, até para o Supremo. Aquilo tudo mexia com ele, às vezes criticava a si próprio por não ter estudado Direito Penal mais a fundo.
-- Espanhol, paga a despesa aqui. Vamos levar o resto da garrafa de conhaque, inclui na conta, faz favor.
E lá foram os quatro para o Gold Star, caminhando pela calçada da Amaral Peixoto, já quase deserta àquela hora da noite.
x.x.x.x.x.x.
Na minúscula sala onde ficava o escritório de Joaquim e Sergio, os quatro acomodaram-se como puderam. Antonio, o auxiliar de João, sentou no chão. O local era tão apertado, que, às vezes, durante a semana, alguns dos clientes de Joaquim tinham que ficar aguardando no corredor para serem atendidos.
Sergio sentou-se em uma cadeira em frente a uma pequena escrivaninha, onde estava a máquina de escrever. Pegou duas folhas de papel, colocou um carbono entre elas, enfiou-as no rolo da Remington. Atrás dele, Joaquim e João sentaram-se num sofá surrado e com o revestimento rasgado em alguns locais. Já bebericavam o conhaque que trouxeram. Sergio pediu um copo para ele também. Já estavam todos relativamente alcoolizados.
Rapidamente, Sergio começou a datilografar o “HABEAS CORPUS”. Nem precisou consultar qualquer livro, acostumado que estava a redigir o “remédio heroico”. Ainda mais coisa simples, como aquele que seria dirigido à autoridade policial.
O prédio estava mergulhado em profundo silêncio. Só se ouvia o matraquear da máquina de escrever onde Sergio datilografava a petição. Levantou a cabeça e perguntou:
-- Problema: qual o nome das pacientes? Eu só sei os apelidos delas.
João e Joaquim se entreolharam, interrogativamente.
-- Bem, a Dendeca eu sei que se chama Maria das Graças. Merda, não sei o sobrenome... Fez um gesto negativo com a cabeça: -- Não, não sei o nome das outras...
-- Nem da Baianinha? – indagou Sergio, que tinha uma pequena queda pela moreninha de Salvador.
-- Não, não sei – respondeu João. – Você sabe, Antonio? Você que não sai lá do Morcegão?
Antonio, sentado no chão do escritório, já estava quase dormindo, um pouco pelo sono mesmo, outro tanto pela ação do álcool. Respondeu, voz pastosa:
-- Não, também não sei...
Sergio parou um pouco de datilografar, pensando numa solução.
Joaquim sugeriu:
-- Não pode botar os apelidos mesmo? Já ouvi dizer que requerem “habeas corpus” até para cachorro, gato...
Sergio sorriu:
-- È, não tem jeito, vão ser os apelidos mesmo. Pelo menos, desta forma, os nomes verdadeiros delas não ficam expostos. Mas, quanto à Dendeca, vou colocar o primeiro nome, para dar uma aparência de seriedade ao pedido. Continuou a datilografar.
De repente, começaram a ouvir gemidos de um dos andares abaixo do deles. Devia ser um casal transando, pois a mulher gemia muito e quase gritava:
-- Goza, Alfredo, goza logo, que eu não aguento mais...
O homem arfava e respirava rapidamente, o barulho era ouvido nitidamente no escritório de Joaquim. Sergio parou um pouco de datilografar, todos ficaram com os ouvidos atentos na cena:
-- Goza logo, Alfredo, goza meu bem...
E Alfredo nada de gozar, sua respiração acelerada continuava a ecoar no prédio. Sergio voltou a datilografar a petição.
Embaixo, continuava a ladainha:
-- Goza, Alfredo, goza Alfredo.
Então Antonio, que quase não falou nada durante todo o tempo, levantou-se subitamente e gritou:
-- Porra, Alfredo, goza logo, pra gente poder terminar isso aqui. Tá atrapalhando o raciocínio do doutor.
Fez-se silêncio no prédio.
Sergio acabou de datilografar as duas últimas linhas da petição, o “NESTES TERMOS, PEDE DEFERIMENTO”, tirou o papel da máquina, deu para Joaquim assinar as duas vias, ele também as assinou. Aliás, tudo no escritório era assinado pelos dois.
Ganharam a rua, praticamente deserta àquela hora. Só foram encontrar um taxi em frente às Barcas. Entraram os quatro, foram para Santa Rosa, onde residia o Dr. Ney Roberto, o juiz em exercício na vara criminal onde João trabalhava.
Lá chegando, mandaram o táxi esperar, saltaram João e Sergio. Antonio, dormindo, ficou no veículo, Joaquim preferiu aguardar.
João procurou uma campainha, achou-a no alto do portão de ferro que guarnecia a casa, um sobrado cercado de árvores por todos os lados.
Esperaram um pouco, ninguém apareceu. João novamente apertou a campainha. Silêncio, ninguém. Sergio, já meio calibrado e impaciente, decidiu bater palmas.
Acendeu-se uma luz no andar de cima da casa. Apareceu um senhor rechonchudo, meio calvo, de pijama. Sergio não o conhecia, pois o juiz estava há pouco tempo em Niterói. Tinha vindo de Trajano de Morais, sua comarca de origem.
-- Boa noite, Excelência – cumprimentou João, com a característica voz gutural, um pouco rouca, um pouco pastosa. – Estou aqui com o Dr. Sergio, advogado militante aqui de Niterói, que foi até minha casa procurar-me para uma solução para um problema urgente.
Que mentiroso filho de uma mãe – pensou Sergio”.
O magistrado, cara de sono, coçando os olhos, perguntou:
-- Do que se trata, doutor?
Sergio refletiu um pouco antes de responder:
-- Um arbitrariedade, excelência. Prenderam uma jovem, grávida de quatro meses, quando ela e algumas amigas faziam um lanche numa padaria do centro de Niterói. Foi uma batida da Delegacia de Costumes, que, arbitrariamente, pensou que as jovens fossem prostitutas e as levou presas.
O juiz pensou um pouco.
-- Isso não pode ficar para amanhã? Afinal de contas, já passa de meia noite e não sei se os senhores conseguem resolver isso ainda hoje.
-- Desculpe, excelência. O caso é urgente. Minha cliente, grávida, está muito nervosa, já sofreu um aborto espontâneo anteriormente, está muito preocupada... Fiz um pedido de “Habeas corpus”, só queria que Vossa Excelência solicitasse informações à Delegacia - retrucou Sergio.
João não falava nada, permanecia em silêncio ao lado de Sergio, que discursava no meio da rua pacata de Santa Rosa...
Dr. Ney já parecia enfadado, cansado daquela conversa, irritado por ter sido acordado no meio da noite. Deu a decisão final:
-- Não, não vou descer para despachar nada, desculpe-me doutor. Estou respondendo pela vara por pouco tempo, não sei qual a orientação do juiz titular a respeito de casos semelhantes. Com licença, vou fechar a janela e voltar a dormir. Amanhã, se quiser, o senhor me procure em meu gabinete, examinaremos a questão com mais calma.
Sergio ainda tentou argumentar, João o puxou pela manga do paletó.
-- Deixa pra lá, Serginho, não vai adiantar...
Voltaram para o táxi. Discutiam acaloradamente.
-- Porra, esse cara é um “cagão” – esbravejou Sergio. – Juiz tem que atender os advogados a qualquer hora, em casos de urgência.
Antonio, até então sempre calado, também deu seu palpite:
-- Tem razão, Serginho, esse juiz me pareceu um covarde desde o dia em que assumiu a vara. Tem medo de despachar, tudo pede a opinião do “seu” Otávio ou do promotor. Deve ter sido advogado do cível, caiu no crime de paraquedas.
Joaquim perguntou:
-- Mas, ele nem quis ver tua petição, Serginho?
-- Não, o filho da mãe não se dignou a descer.
O motorista do taxi, que parecia estar se divertindo com a discussão dos passageiros, finalmente indagou:
-- Bem, senhores, para onde?
-- Para a Amaral Peixoto – respondeu Sergio, irritado.
x.x.x.x.x.


Quando desciam a larga avenida, totalmente deserta aquela hora, viram que o bar do Espanhol ainda não havia fechado. Serginho mandou o motorista deixá-los em frente. Havia um casal que conversava em pé junto ao balcão, enquanto bebiam uma cerveja. Os quatro se aproximaram.
Serginho logo ordenou:
-- Manolo, serve umas doses de conhaque pra gente.
O dono do bar nem se espantava mais. Aquele pessoal não tinha hora para passar em seu estabelecimento, bastava o mesmo estar aberto.
O casal que ali bebia pagou a conta e foi embora. Serginho perguntou, depois de virar de um só gole o conteúdo de seu copo.
-- E agora, João, fazemos o quê? Vamos deixar as meninas lá? Aquela corja do Vermeralla vai se aproveitar delas...
João estava indeciso. Gostava muito de Dendeca, mas pensava em seu emprego, no que colocaria em risco se partisse para o confronto.
Tomou também seu conhaque. Repentinamente, pegou a petição do “habeas corpus” das mãos de Serginho, puxou uma caneta do bolso da camisa e escreveu no lugar dos despachos:
‘DE ORDEM DO MM. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE NITERÓI, SOLICITO URGENTES INFORMAÇÕES SOBRE O PEDIDO DE HABEAS CORPUS ABAIXO IMPETRADO”. NITERÓI, 18 DE JUNHO DE 1969. JOÃO SILVA FERNANDES. ESCRIVÃO SUBSTITUTO.
E rubricou abaixo do despacho.
Entregou a petição a Sergio.
Este, após ler o “despacho”, sorriu levemente.
-- Bem, agora a guerra vai começar...
Foram ele e Joaquim até a Costumes. Sergio ficou na frente, Joaquim atrás... Um outro investigador estava na recepção. Sergio perguntou, agressivo:
-- Quero falar com o Delegado – exibiu logo sua carteira da Ordem dos Advogados.
O investigador, que já conhecia Sergio de nome, ficou meio assustado, Respondeu:
-- Não, ele não está, saiu em diligência...
Sergio riu... Sabia qual era “a diligência”...
-- Bem, quem é o responsável?
-- O Dr. Vermeralla...
Sergio riu outra vez. Realmente, sabia que o Vermeralla estava cursando Direito, mas já era chamado de “doutor”...
-- Bem, vá chamá-lo, tenho um ofício do juiz aqui comigo...
O “amarra-cachorro” saiu rápido da sala, em busca do superior.
Cinco minutos depois, aparece o Vermeralla. Cara de sono, aparentando estar aborrecido por ter sido acordado por um advogado inoportuno.
-- O que desejam?
Sergio foi agressivo:
-- Quero a liberdade das moças que vocês prenderam esta noite no Morcegão.
Vermeralla, sentado em sua cadeira, respondeu, exibindo um sorriso debochado:
-- Não, elas vão passar a noite aqui para aprenderem.
Tirando calmamente a as duas vias do “habeas corpus” do bolso interno do paletó, colocou-as em cima da mesa e disse:
-- Bem, se é assim, o senhor me responda esse “habeas corpus” ao Dr. Juiz. Depois, vou representar contra a Delegacia por prisão ilegal.
Vermeralla empertigou-se na cadeira. Mudou o tom:
-- Bem, não precisa ser assim...
-- A lei de abuso de autoridade está em vigor desde 1965, sabia, não é “doutor” ?... ironizou Sergio. – O senhor, por favor, assine o recibo na segunda via da petição, que amanhã eu a entrego ao juiz.
Vermeralla ficou vermelho, roxo, amarelo, furta-cor, como dizia um velho samba de Noel...
Gritou para o assessor:
-- Martins, solte as moças aqui para o doutor. Levantou-se da mesa e saiu, sem ao menos ter lido ou assinado a cópia do recibo da petição. Sergio apanhou o original e a cópia em cima da mesa, guardou-as no bolso e ficou aguardando.
Dez minutos depois, as meninas, em fila, chegaram até a porta da Costumes. Eram cinco. A Baianinha, irritada, nervosa, saiu cantarolando:
“PATATI... PATATÁ... DANÇAR PELADA NÃO É BRINQUEDO... PATATI... PATATÁ...”.
Joaquim não parou de rir durante uma semana...




OBSERVAÇÃO:   Os nomes dos personagens acima mencionados são fictícios, mas os fatos são verdadeiros.









A GANGORRA BOTAFOGUENSE..

A GANGORRA BOTAFOGUENSE...

Calfilho






            O Botafogo, realmente, não é clube para qualquer um... Tem que ser muito apaixonado, tem que acreditar mais ainda, sofrer parece ser a sina do seu torcedor, só aqueles de coração muito forte e tirando nota dez em todos os exames de sangue e coronárias, podem fazer parte dessa seleta categoria de torcedores de futebol...
      Comentei em publicações anteriores que, se não podemos esperar, nem de longe, que nosso time atual seja ao menos parecido com aqueles que nos encantaram no início e fim da década de 60 do século passado, pelo menos, atualmente, ora ele nos empolga e surpreende com boas (ótimas é exagero) atuações, ora nos decepciona e desencanta com partidas pífias, ridículas, que não estão à altura do nome que o clube construiu durante toda sua existência...
           Esta semana que ora se finda retrata muito bem a realidade atual do time botafoguense... 
       Depois de uma vitória muito boa (não chegou a ser excepcional, pois passamos pelo sufoco costumeiro nos minutos finais do segundo tempo, quando um gol adversário daria a classificação ao Atlético Mineiro, e, só respiramos aliviados quando, em mais um valoroso contra ataque, liquidamos a partida). Claro, a vitória foi excelente, deu-nos a classificação para a fase semifinal da Copa do Brasil, o time mostrou um futebol inteligente, mesmo tecnicamente inferior ao Galo mineiro, com seus Robinhos, Victor, Marcos Rocha, Rafael Moura e alguns outros mais conhecidos que os nossos craques operários.
        Mas, prevaleceu o futebol solidário e de entrega absoluta de nossa equipe, valente e disciplinada até o fim da partida.
        Veio o jogo de ontem, contra o São Paulo, desacreditado nessa temporada, ocupando a zona de degola do Campeonato Brasileiro e o Botafogo, que poupou vários jogadores em outros jogos, decidiu colocar o time titular em campo, para ver se somava mais alguns pontinhos na tabela de classificação do campeonato nacional. Campeonato que o Botafogo parecia ter deixado de lado, como se fosse coisa secundária, dirigindo todas suas atenções para a Copa do Brasil e a Libertadores da América.
       O time principal, depois de levar um gol bobo, por indecisão entre o Gatito e o João Paulo, atrapalhados por um outro zagueiro precipitado, reagiu valorosamente, virando o jogo para 2 a 1, com dois belos gols do bom Marcus Vinicius, trocado por Sassá com o Cruzeiro. O time terminou o primeiro tempo dominando o jogo, apesar do também primeiro tempo sampaulino.
      No segundo tempo, a equipe, como sempre e inexplicavelmente, recuou, deu campo ao adversário, que, encontrando facilidade, tomou conta do jogo e foi em busca do empate. Entra Guilherme no lugar do Marcus Vinicius (substituição arriscada, já que o Botafogo demonstrou que não sabe jogar com três atacantes), mas, Guilherme, iluminado (o que é raro), marca o terceiro gol, quando já passávamos dos 30 minutos do segundo tempo.
      A imagem que a televisão mostrou, da torcedora paulista desanimada, quase chorando, bem demonstrava que a vitória botafoguense estava garantida.
       Machuca-se Victor Luiz, nosso guerreiro e combativo lateral esquerdo e Jair Ventura, talvez confiante demais, decide lançar um desconhecido Victor Lindemberg em seu lugar. Jogador desentrosado com a equipe, estreia no Botafogo...
     Além disso, substitui Roger pelo recém contratado Brenner, jogador trocado por Camilo com o Internacional... Outra estreia...
        Nosso treinador deve ter pensado que, com o placar de 3 X 1 a nosso favor, aos 36 do segundo tempo, a vitória estaria garantida, por isso poderia estrear os novos valores...
       Deu no que deu... o São Paulo, até ali derrotado por dois gols de diferença, faltando pouco menos de 10 minutos para o jogo terminar, aproveitou-se da desorganização, da total bagunça em que se tornou o time do Botafogo, e marcou o segundo... o terceiro... e o quarto gol, impondo-nos uma derrota vexaminosa, ridícula, em nosso próprio campo, com mais de 17 mil torcedores do nosso lado...
        Parece que o Botafogo especializou-se em reabilitar times que estão na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.. Foi assim com o Avaí (perdemos em casa por 2 X 0), com o Atlético Goianense (cedemos o empate no final do jogo), com o Vitória (também cedemos o empate) e, agora contra o São Paulo (entregamos-lhe a vitória de bandeja).
       Nosso treinador, talvez inebriado com os merecidos elogios que lhe vêm sendo feitos, mantém uma posição arrogante, de dono da verdade, não admite ter errado, talvez se achando um técnico de primeira linha do futebol mundial... Menos, Jair, menos... humildade e pés no chão nunca fizeram mal a ninguém...
       Tenho sérias preocupações quando às nossas campanhas deste ano... uma bobeada, somos eliminados da Copa do Brasil e da Libertadores, torneios mata-mata... Se for abandonado, o Brasileiro pode não nos dar nem uma simples classificação para a Libertadores do ano que vem...
       Reage, Botafogo, reage... mostra que tu és grande... não podes perder, perder pra ninguém...

terça-feira, julho 25, 2017

O INGÁ...



O INGÁ...


Calfilho



            Um dos locais em que morei e que mais me marcou na vida foi o bairro do Ingá, em Niterói, a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro.
           Anos antes, minha família (meu pai, mãe, eu e meus dois irmãos) tinha voltado de Fortaleza, a capital do Ceará, para o Rio de Janeiro. Foi um retorno repentino e improvisado, pois meu pai, médico pediatra, trabalhando no Ministério da Saúde, fora convidado para trabalhar em Fortaleza, cidade onde fora criado, para ali instalar um núcleo do Departamento Federal da Criança.
           Era uma tarefa de gigante, começar praticamente do nada um programa de vacinação e assistência às crianças do estado cearense, que deveria expandir-se por outros Estados do Nordeste brasileiro.
           Tinha eu 6 anos de idade, meados de 1948. Fomos de mala e cuia para a terra de Iracema, a virgem dos lábios de mel. Viajamos num navio do Ita, o Itaimbé, onde transportamos toda nossa mobília, algumas peças compradas com dificuldade pelo casal logo após o casamento.  Móveis estilo colonial, cristaleiras de vidro, louça de porcelana inglesa... Fortaleza não tinha porto na época, nós e a mobília descemos do navio e pegamos pequenos botes que nos levaram ao centro da cidade. 
       Meu pai, idealista como só ele, pensava em fazer um grande trabalho de ajuda à criança nordestina, tão desamparada, tão desassistida, que morria de doenças banais, como disenteria, verminoses e, principalmente, fome...
             Ficamos lá apenas 6 meses, pois meu pai acabou descobrindo que sua ida para lá visava colocar em seu lugar, aqui no Rio de Janeiro, um apadrinhado político do então Ministério da Saúde. Voltou para o Rio, interrompeu a licença que havia tirado quando foi para Fortaleza e mandou minha mãe e os filhos voltarem para a então capital do país. Lembro-me bem de minha mãe vendendo todos os móveis que havíamos levado para a capital cearense. Fiz então minha primeira viagem de avião, um Constelation da Panair, quatro motores, de Fortaleza para o Rio.
          De volta ao Rio, não tínhamos local para morar. Bem que meu pai tentou alugar um apartamento em Copacabana, local onde morávamos antes da ida para Fortaleza. Difícil, preços absurdos na época.
           Meu avô materno estava morando em Niterói, onde era o mestre de obra de um grande edifício que estava sendo construído na praia de Icaraí. Ele e minha avó residiam num apartamento num prédio da Av. Amaral Peixoto, esquina com rua Visconde do Uruguay. Convidaram-nos a morar com eles até que arranjássemos um lugar para residir. Foi assim que conheci Niterói, indo morar no apartamento da Av. Amaral Peixoto. Estávamos em meados de 1949.
           No início de 1950 fui matriculado na terceira série do curso primário do Grupo Escolar Getúlio Vargas, no bairro de São Domingos.
          Meu avô, após concluir a obra no prédio da praia de Icaraí, comprou um terreno na rua Nilo Peçanha, nº. 105, no bairro do Ingá. Era uma enorme vila, com casas muito pobres nela construídas, algumas caindo aos pedaços. Foi paga indenização aos moradores para que as desocupassem e, limpo o terreno, meu avô começou a construir um bloco de apartamentos num prédio de quatro andares. Imóveis simples, de quarto e sala, mas com relativo conforto. Os fundos davam para o Colégio Aurelino Leal, cuja frente ficava na rua Presidente Pedreira.
          Enquanto o prédio não era construído, meu avô entregou o apartamento do centro de Niterói e fomos morar temporariamente num pequeno hotel, o Atlântico, na esquina da Praia das Flechas com a rua Nilo Peçanha. Já estávamos em 1951.
            Foi por pouco tempo. Meu pai não se adaptou em viver com a família num hotel, fez um esforço grandioso (talvez tenha pedido dinheiro emprestado em algum banco, coisa que detestava fazer) e deu entrada num outro apartamento do mesmo prédio da Amaral Peixoto, onde tínhamos morado, mas em outro andar, o nono. Naquele tempo, não havia correção monetária, as vendas a prazo eram pagas pela “tabela Price”, então, bastava ter o dinheiro da entrada e o restante do preço era amortizado em “suaves” prestações mensais.
            Voltamos, então, a morar na Amaral Peixoto, enquanto a obra do prédio da Nilo Peçanha não ficava pronta. Em 1952, finalmente mudamos para um quarto e sala do imóvel construído por meu avô.
            Eu já havia completado dez anos de idade e sempre morara em apartamento, indo muito pouco à rua, talvez apenas para ir ao colégio.
            Na Nilo Peçanha foi que realmente tive contato com a rua propriamente dita. O bairro era calmo, tranquilo, aquele trecho da Nilo Peçanha, entre a Presidente Pedreira e a Tiradentes, por onde ainda circulavam os bondes, parecia um quintal de nossas casas. Era muito raro um carro passar por ela, por isso a garotada jogava futebol o dia inteiro, colocando tijolos no meio da rua fazendo às vezes das balizas.
           Ali conheci o Caoca, o Mauro, o José Carlos e seu irmão Ricardinho, o Valmir, o Sebastião e o Sérgio, quase todos garotos da minha idade. Jogávamos bola de gude, soltávamos cafifa e balão, brincávamos de pique e escambida (lembram?), de "pera, uva ou maça", pescávamos nas águas da praia das Flechas. Desse pessoal todo, colegas de infância, só voltei a ter contato com o Mauro Ortiz Lima, que morava na vila ao lado do edifício de meu avô, o nº. 107.
           No final de 1952 meu avô concluiu a construção de outro bloco de quatro andares. Para esse novo prédio mudaram-se as meninas Alcília e as irmãs Genisa e Marisa. Todas mais novas que eu.  Nesse ano, concluí o primário no Getúlio Vargas.
           Em 1953 passei no admissão para o Liceu Nilo Peçanha, onde fui cursar o ginasial e comecei a usar calça comprida.
            Meu avô, antes de falecer, em 1954, ainda deu início à construção de mais outro bloco de apartamentos. Depois de sua morte, meu tio e minha avó ainda construíram mais um. O prédio hoje tem o nome do meu avô.
            Aquela, talvez tenha sido uma das melhores fases da minha vida... Livre, solto na rua, coisa que hoje as crianças não conseguem mais desfrutar...
       Foi-se a infância, começou, mesmo que precocemente, a adolescência...
            Em 1956 voltamos a morar no apartamento da Amaral Peixoto...
            Como mudou o bairro do Ingá nos dias de hoje...
  Voltei a visitá-lo recentemente, para pegar um amigo que agora ali reside, para irmos tomar a vacina contra a COVID... Deu vontade de chorar, a rua repleta de carros, nem um lugar para estacionar o motorista da UBER conseguiu... o prédio que meu avô construiu ainda mantinha seu nome no letreiro da frente... mas, estava escondido, pequeno, ao lado de enormes edifícios que foram construídos em toda a rua... rua essa onde chutei minhas primeiras bolas, onde, às vezes, saía com os dedos dos pés sangrando por uma ou outra topada no meio fio das calçadas...

sábado, julho 22, 2017

CANAUXRAMA..

CANAUXRAMA

Calfilho














Túnel da Bastilha




       Um dos passeios mais interessantes que Paris oferece, pouco conhecido do turista comum, é a subida do canal Saint Martin até a bacia de La Villete.
       É um barco, tipo “bateau mouche”, semelhante àqueles que fazem normalmente o percurso do Sena entre a Torre Eiffel e o trecho depois da ilha da Cité, conhecido mundialmente pelos turistas. Esse parte do cais do Arsenal, logo abaixo da estação do metrô Bastilha, e vai até La Villete, num percurso de pouco mais de hora e meia.
        Seria apenas mais um passeio de barco não fosse a característica de que, durante todo o trajeto, você vai passando por várias eclusas que se abrem e fecham para deixar livre a passagem da água ou represá-la.
         Já fiz esse passeio várias vezes com familiares e amigos e não me canso de admirá-lo. Desta vez, em maio de 2017, levei um dos meus filhos e a esposa, que ainda não o tinham feito. Meu filho faz um curso de especialização em Paris durante um ano, no Observatório da capital francesa. Ele é físico astrônomo e professor da UFRJ, no Rio de Janeiro. Ela, professora de inglês. Alugaram um pequeno “estudio” em Paris, próximo ao Observatório.
       Pegamos o metrô em Saint Germain des Près (há também um ônibus, o 63, não estou certo, mas fácil de verificar nos painéis existentes nas paradas de ônibus). Descemos na estação Bastilha e logo divisamos o Arsenal, pequeno embarcadouro sob uma ponte que atravessa o canal St. Martin. Esse canal nada mais é que um pequeno braço do Sena.
        Há um pequeno quiosque que vende os bilhetes para o barco, que só abre quinze minutos antes da partida. Diariamente, exceto nos meses de inverno mais rigoroso (dezembro e janeiro), ele parte às 09:45 da manhã e, acho que também à tarde, às 14:45 (não tenho certeza quanto a esse horário).
        É um barco confortável, com cadeiras para sentar, uma parte coberta e outra descoberta na frente, um pequeno bar.
        Deixando o cais, ele começa a subir o canal, passando em primeiro lugar por um extenso túnel subterrâneo, que, segundo me informaram, era ele que dava acesso aos calabouços da Bastilha.
Saída do barco de Arsenal, vendo-se a ponte sobre o canal e ao longe o monumento erigido no local onde ficava a Bastilha
Final do túnel que seria acesso aos calabouços da Bastilha





             Saindo do túnel, entramos no canal propriamente dito. E, aí, vão-se sucedendo  as várias eclusas, quando o barco para e fica aguardando que a água, deste lado da barragem, chegue ao mesmo nível daquela do outro lado. São cinco minutos de espera aproximadamente e é um espetáculo muito agradável de ser visto. E, o mesmo é repetido por cinco ou seis vezes durante todo o percurso. Nas margens do canal, pessoas observam o subir e descer das águas, o borbulhar da espuma que é criada, o movimento das roldanas controlando as barreiras de madeira.

Barragem 


Ressalte-se que as duas margens do canal fazem parte da história da cidade. Ali perto estão duas das principais e mais antigas estações de trem de Paris, as gares du Nord e de L'Est, de onde desembarcavam pessoas das classes mais humildes da população que vinham trabalhar em Paris. Acabavam por hospedar-se em hotéis baratos nas margens do canal e ali, mais tarde, fixavam residência. Hoje, aquela região é tida como reduto da boemia, repleta de bares, "bistrôs" e "brasseries", com intensa vida noturna.


La Villete



       Depois de ultrapassar as várias eclusas do caminho, chega-se, finalmente, à bacia de la Villete, local maravilhoso e que não se deve perder de visitar quando se vai a Paris. Lá na la Villete, foi inaugurada, anos atrás, a cidade da Ciência. O monumento mais importante é a Geode.

La géode
Fonte: Wikipedia




Vale a pena o passeio...














sexta-feira, julho 21, 2017

É POUCO.. MUITO POUCO...




É POUCO... MUITO POUCO...

Calfilho


         Dias atrás escrevi uma matéria sobre o Botafogo... o passado glorioso, o presente de muita transpiração e pouca técnica... cheguei a afirmar que, atualmente, ora ele me surpreende com boas atuações, ora me decepciona fazendo partidas medíocres...
       Ontem à noite, jogando em Curitiba contra o Atlético Paranaense, ele outra vez me decepcionou...
         Sei de todas as deficiências da equipe: elenco reduzido, jogadores apenas medianos, sem nenhum fora de série em seus quadros, muitas prolongadas contusões e farta distribuição de cartões amarelos e vermelhos, além do lançamento prematuro de alguns jovens da base para suprir a ausência dos titulares. Sei do esforço que a atual diretoria tem feito para tentar recuperar o clube e, em consequência, nosso time de futebol... depois de pegá-los como terra arrasada... Fui conselheiro do clube e sei como as coisas ali se desenrolaram...
          Reconheço também suas virtudes: time solidário, entrega total em campo, com os jogadores correndo durante todo o tempo de jogo, defesa e meio de campo muito sólidos, treinador fazendo milagre com o elenco que tem em mãos. Realmente, os resultados até agora obtidos em três competições de alto nível são extraordinários, surpreendentes mesmo...
          Mas, o Botafogo, time de primeira divisão do futebol brasileiro, aquele que mais jogadores cedeu à seleção nacional, equipe onde jogaram alguns dos maiores atletas do futebol mundial, não pode jogar, TODOS OS JOGOS, da mesma maneira, da mesma forma como atuou ontem contra o rival paranaense...
           Seja atuando em casa, seja fora, o time joga sempre igual. Sólido na defesa, marcador e desarmador no meio de campo e inofensivo no ataque. Tem ganhado jogos esperando uma falha do adversário, quando num veloz contra ataque, consegue marcar um mísero gol... Às vezes até consegue outras boas oportunidades de colocar a bola nas redes, mas elas são perdidas pela pouca categoria de seus atacantes. Aliás, Pimpão e Roger, os nossos atacantes, na verdade, em campo, não exercem essa função. Estão quase sempre no nosso lado do terreno, defendendo, marcando, roubando bolas, às vezes fazendo faltas infantis, pois não se acostumaram a marcar, a defender. Por isso, no final dos jogos, sofremos tanto, com a bola rondando nossa área, com nossos defensores e meio de campo fazendo faltas perigosas e desnecessárias... algumas delas resultam em gols do adversário, como aconteceu contra o Santos, já no período dos descontos...
          Não é esse o Botafogo que quero ver... não é esse o Botafogo que me acostumei a ver... Não pode ser uma equipe medrosa que não tem ambição, que não tenta impor seu jogo ao adversário, mesmo quando joga em casa ou contra equipes tecnicamente inferiores... o Botafogo que vejo hoje é um time limitado (todos sabemos disso), que corre muito, marca muito bem... mas não sabe o que fazer com a bola... prefere dá-la ao adversário e esperar um golpe de sorte, uma falha do time contrário, para ganhar seus jogos... ou contentar-se com o empate, que talvez seja considerado um grande resultado...
         Perguntei anteriormente, em outra publicação: “não sei até onde esse Botafogo pode ir”...
        Mas, se jogar o que jogou ontem contra o Atlético Paranaense e quando perdeu em casa para o Avaí, na época o lanterna do campeonato brasileiro, não conseguirá ir muito longe...
        Espero que não seja mais um ano perdido, desclassificado nas três competições que disputa.. afinal, o elenco está em seu limite, exausto e começando a patinar em campo...

        Tomara que esteja errado, que queime a língua... E, que, no fim do ano, digam que estou pessimista demais...

quarta-feira, julho 19, 2017

RECORDAR É VIVER...




RECORDAR É VIVER...
Calfilho


          Essa frase, “RECORDAR É VIVER”, título de uma música cantada por Gilberto Alves e que fez grande sucesso no Carnaval de 1955, é sempre atual quando queremos relembrar alguma fase ou episódio feliz de nossas vidas.
           Sábado último, 15 de julho, mais uma vez ela foi mencionada quando, eu e alguns amigos, todos com mais de 70 anos de idade, nos reunimos num botequim de São Francisco, em Niterói, em um encontro para reavivarmos nossa amizade de mais de sessenta anos, relembrarmos fatos pitorescos de nossa adolescência e juventude, comentarmos nossas trajetórias de vida, e, até debatermos, mesmo que superficialmente, os temas dos nossos dias atuais.
           Eu, Irapuam, Toninho, João e Josa nos vemos e nos telefonamos com alguma frequência, mesmo que não seja ela a ideal para nós quatro, já que deveríamos nos encontrar com mais assiduidade. Eu, Irapuam, João e Josa nos conhecemos quando cursávamos o curso científico, do Liceu Nilo Peçanha, de Niterói, mesmo estudando em séries diferentes. Isso, em 1958, quando o Grêmio nos uniu.
         Toninho, eu conhecia desde quando comecei a frequentar o Canto do Rio F.C., em sua sede da rua Visconde do Rio Branco, em 1953, e lá praticávamos vários esportes. Eu, futebol de salão e tênis de mesa. Toninho, basquete e futebol de salão. Voltamos a nos encontrar no futebol de praia organizado pelo saudoso amigo Telúrio Aguiar, no início dos anos 60, em animados “rachas” disputados no trecho da Praia de Icaraí (recuso-me a chamá-la de Jornalista Alberto Torres), entre as ruas Presidente Backer e Lopes Trovão (ainda bem que ainda não mudaram os nomes dessas duas).
          Anésio, fomos conhecer no citado futebol de praia, quando se incorporou ao nosso grupo, predominantemente composto de ex-liceístas.
          Finalmente, Carrano, que também conheci no Liceu em 1958, e que foi eleito presidente do nosso Grêmio por duas vezes consecutivas.
          Apesar de serem bem espaçados nossos encontros, desta vez conseguimos reunir esse pequeno grupo, o que não é muito fácil, pois eu e Irapuam moramos no Rio de Janeiro, Anesio em Pendotiba, Toninho em São Gonçalo e Carrano só o encontro via internet, eu e ele acompanhando reciprocamente nossos modestos “blogzinhos” (desculpem-me o neologismo).
          Organizamos o encontro mais para revermos Carrano (que já não víamos há algum tempo, mais de três ou quatro anos), bem como Anésio (que tem dificuldade de encontrar tempo livre, por problemas familiares), além de comemorarmos antecipadamente o aniversário de Irapuam, que fará 80 anos em 17 de setembro, ocasião em que deverei estar viajando ao exterior.
           Ao meio dia já estávamos sentados em cadeiras do lado de fora do bar Informal, na praia de São Francisco: eu, Carrano e Toninho. Logo depois chegaram João e Josa. Um pouco mais tarde, Irapuam e Anesio. Todos com a cabeça povoada de fios brancos de cabelo, Toninho mesmo sem eles...
          Carrano uma vez comentou num dos “posts” de seu blog que “as amizades verdadeiras são aquelas que fazemos na infância e adolescência”. A frase talvez não tenha sido exatamente esta, mas o sentido é esse. Concordo plenamente com ele. E, nesse encontro, essa afirmação tornou-se mais verdadeira e presente, quando relembramos várias fases de nossas vidas e acabamos concordando que, realmente, a melhor delas foi quando éramos crianças e adolescentes.
           Para mim, particularmente, o Liceu e o Canto do Rio foram os dois locais onde melhor me senti na vida, onde estava realmente à vontade, dentro do meu verdadeiro ambiente. Ali, principalmente no Liceu, fiz as amizades que se perpetuaram por minha fase adulta e na idade madura. Lamento, profundamente que alguns desses amigos tenham partido tão cedo para a outra dimensão, como os inesquecíveis Toninho Matheus e Silvinho Ribeiro. Todos eles, pessoas que marcaram profundamente meu crescimento e minha personalidade como adulto.
            Acabamos não almoçando, pois um prato cheio de comida iria atrapalhar nossas conversas. Apenas beliscamos um ou outro salgadinho e bebemos vários copos de cerveja. Aliás, era o que fazíamos há 60 anos atrás, quando ainda não trabalhávamos e não tínhamos dinheiro para um almoço completo.

            Mas, só deixamos o Informal lá pelas quatro da tarde, felizes de reencontramos as verdadeiras amizades.