terça-feira, julho 17, 2018

COPA DO MUNDO 2018



COPA DO MUNDO 2018

Breves comentários





Calfilho





          Chegando ao fim de mais uma Copa do Mundo de futebol, acontecimento que teve início em 1930 e se repete a cada quatro anos desde então (com a breve interrupção dos anos de 1942 e 1946, quando o mundo estava envolvido na Segunda Grande Guerra Mundial), vários comentários e apreciações surgiram nos jornais, rádios, televisão e internet, nossos meios mais usuais de comunicação nos dias de hoje.
            Lógico que existem opiniões muito mais autorizadas do que a minha, exaradas de jornalistas e comentaristas profissionais, que ganham o seu sustento comentando esportes, notadamente o futebol.
         Pretendo deixar aqui, apenas, minha modesta opinião, de alguém que acompanha o futebol mundial e o brasileiro desde 1950, sendo um mero apaixonado do popular esporte. Nada em tom professoral ou de inteligência superior, como, infelizmente, alguns de nossos técnicos, jornalistas e comentaristas fazem questão de exibir.
         Não tinha muitas esperanças quanto ao sucesso da equipe brasileira mesmo antes de começar a competição. Formada por bons jogadores, alguns talentosos, outros apenas esforçados, convocada por um técnico que, pelo menos, tentou arejar um pouco o anterior pesado ambiente do grupo, poderia ter alguma esperança de conquistar uma honrosa colocação na competição. Nada mais que isso, apenas um dos concorrentes a uma boa classificação, talvez até mesmo sonhar com o título
           Isso porque a Copa do Mundo, sendo uma competição de tiro curto, dificilmente aponta a melhor equipe, a mais técnica, a mais equilibrada, como a sua campeã. Passada a fase de grupos, a inicial, daí para frente, das oitavas e quartas de final em diante, todos os jogos são eliminatórios: se não decididos no tempo regulamentar, vem a prorrogação e a decisão em penalties.
          Não se trata de loteria, apenas a possibilidade de que um pequeno erro, por menor que seja, possa causar a derrota e a eliminação de uma equipe que, mesmo que tenha excelente nível técnico, que tenha exibido um futebol de encantar os olhos, possa ser alijada definitivamente da competição sem possibilidade que um campeonato de pontos corridos lhe daria.
           Não foi esse o caso do Brasil. Foi eliminado porque o time é mediano, semelhante a vários outros que participaram sem ter oferecido nada de extraordinário.
           No meu modesto entendimento, esta Copa do Mundo pouca coisa acrescentou à beleza do futebol. Táticas previsíveis, muita retranca, vitórias em rápidos contra-ataques, gols isolados e definitivos... Ainda muitos chuveirinhos sobre as áreas onde os atacantes ou mesmo os altos e robustos defensores vêm de trás tentar um cabeçada fulminante que possa decidir a partida...
         Na minha opinião, a melhor equipe que vi jogar foi a Bélgica. Apesar do susto que sofreu do modesto Japão que conseguiu colocar 2 gols na frente no início do segundo tempo. Não apresentou um futebol exuberante, mas foi envolvente, chegando mesmo a ser brilhante em algumas poucas vezes. Para mim, merecia ao menos ter ido à final. Foi derrotada pela França num único lance em que seu defensor falhou ao não conseguir impedir a cabeçada fatal do atacante francês.
          Entendo que a França mereceu a conquista. Equipe forte física e mentalmente, mesmo sem apresentar um futebol de encantamento, foi pragmática o bastante para definir as partidas nos momentos precisos. A França nunca foi realmente uma potência de primeira linha no mundo futebolístico. Começou a aparecer aos olhos do grande público na Copa do Mundo de 1958, com a geração de Fontaine, Jonquet, Kopa e alguns outros. Foi derrotada na semifinal por uma equipe brasileira realmente endiabrada, que tinha Garrincha, Pelé, Didi, Nílton Santos, Vavá e alguns outros monstros do futebol em seu elenco. Mas, seus jogadores eram praticamente quase todos franceses natos, não admitiam ainda a presença de atletas de outras nacionalidades, mesmo aqueles de suas colônias, em sua seleção nacional.
           Com o passar dos anos, tanto a França como vários outros países europeus, como Itália, Espanha, Portugal, até mesmo Alemanha e Inglaterra, passaram a naturalizar jogadores de outros países para disputarem a Copa do Mundo por suas seleções. Assim, o brasileiro Mazola (Altafini), os argentinos Di Stefano, Sívori, Angelillo, o húngaro Puskas, entre tantos outros, disputaram partidas pelas seleções italiana ou espanhola. Foi a única forma que os europeus encontraram para neutralizar o poderio e a capacidade de improvisação dos jogadores sul-americanos, até então insuperáveis. Hoje, vemos o brasileiro Mario Fernandes disputando a Copa pela seleção da Rússia. Pepe e Deco, por Portugal. Diego Costa e Tiago Alcântara, pela Espanha.
         A França até que relutou um pouco em admitir essa verdadeira invasão de uma legião estrangeira em sua seleção nacional. Veio a equipe onde pontificava Michel Platini e eram raros os jogadores não nascidos nas cidades francesas que a integravam. Lembro-me, apenas, de Tigana. Mas, na Copa de 1998, disputada em seu país e quando se sagrou campeã, já apareciam vários jogadores nascidos na “Outremer”, como eles denominam suas antigas colônias espalhadas pelo mundo: Thierry Henri, Desailly, Thuran, Trezeguet, Vieira, Karembeu, entre tantos outros excelentes futebolistas negros que passaram a brilhar no futebol francês, ou mesmo que, jogando por times de outros países, tivessem nascido nas colônias francesas. Além de Zidane, que, apesar de não ser negro, tinha uma próxima ascendência argelina. Alguns anos atrás discutia-se em Paris que a seleção deveria adotar o regime de “quotas”, ou seja, só deveria aceitar um determinado número de jogadores da “outremer” na equipe nacional (como temos no Brasil, as “quotas” para negros ou pardos para ingresso em faculdades ou empregos públicos). Se isso fosse realmente introduzido no futebol francês, duvido muito que a França chegasse a colocar duas estrelas no seu uniforme. Acontece que a malícia, a picardia, a improvisação, a “travessura” do futebol brasileiro que encantou o mundo vem muito da miscigenação de nossa população, da saudável mistura do negro com o branco. Os negros africanos são muito mais hábeis em determinadas atividades humanas, talvez até por terem sido criados em ambientes abertos, correndo livres pelos campos de seu continente... Ou talvez, tenham aprendido a correr para não serem mortos pelos animais que povoam esse mesmo continente ou pelos invasores brancos que o tentaram colonizar e saquear... Não sei, simples divagações... Mas, pelo menos no futebol e nas maratonas, a alegada superioridade que os brancos sempre pensaram ter sobre os negros sofreu uma terrível derrota. Hitler deve estar se revirando no túmulo, como quando se decepcionou com as estupendas vitórias de Jesse Owens nas Olimpíadas de 1936...
             O que é certo é que a França passou a jogar um futebol mais alegre, sem deixar de ser competitivo. Talvez ainda não tenham alcançado a beleza e plasticidade que o futebol brasileiro apresentou ao mundo, mas podem acabar chegando lá. Enquanto isso, nós brasileiros, que passamos a exportar nossos futuros talentos com idades de 15, 16 anos, vamos ficar assistindo que eles aprendam a jogar o futebol bitolado dos europeus...
          Repetindo e concluindo: nenhuma seleção me empolgou nessa última Copa do Mundo... Gostei da Bélgica, entendo como justa a conquista da França, reconheci o esforço e a dedicação da Croácia...
         O melhor jogador, para mim, foi Hasard, da Bélgica, realmente o único craque que vi jogar, apesar de não ser extraordinário, nem ser nenhum Garrincha ou Pelé. Mas, bem melhor que Neymar... Destaque para Mbappé, Kanté e Modric...
             Só...

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