quarta-feira, novembro 22, 2017

O FLAMENGUISTA...

O FLAMENGUISTA...

Calfilho



               Era uma terça-feira... Meio dia e meia...
          Dr. Melquíades chegava ao seu gabinete para mais um dia de trabalho...
          Cumprimentou a secretária, passou pela porta que dividia as duas salas... Sua mesa já estava toda tomada com vários processos para despachos de rotina... Livrou-se de quase todos em pouco tempo, quando o Dr. Nazario adentrou em sua sala.                                   Cumprimentaram-se rapidamente, pois entre eles, amigos de longa data, não existiam cumprimentos formais...
        Nazario serviu-se de um café e começaram uma conversa trivial:
        -- Porra, Nazario, aquele julgamento de ontem me matou. Saí daqui quase cinco da manhã... Pior que era apenas um processo de bandidinho vagabundo, coisa de todo dia... Mas, teve réplica, tréplica, depoimento de testemunhas, o advogado encheu o saco com perguntas idiotas, tive que indeferir uma porção delas... já viu, não é?
         Nazario rodava calmamente sua colherzinha na xícara de café... Apenas sorriu...
          Depois, fez um breve comentário:
          -- Ainda bem que não foi o meu dia de plenário...
          Melquíades retrucou, meio distraído, enquanto despachava outro processo:
          -- É, ainda bem, dessa você se livrou...
          Trabalhavam com ele quatro promotores de Justiça, revezando entre eles os dias de funcionamento no plenário em dias de julgamento. Deles, conhecia Nazário há mais tempo, pois haviam trabalhado juntos em outra vara de Júri da capital.
           O telefone tocou. Melquíades atendeu. Era sua secretária, na sala ao lado:
           -- Excelência, o Dr. Novaes está aqui, quer dar uma palavrinha com o senhor. Perguntou se está ocupado.
           Novaes era o advogado que havia funcionado no julgamento da madrugada anterior. Já tinha algum nome como advogado criminalista, mas gostava muito de aparecer nos jornais.
           -- É o Novaes, Nazario. Deve estar todo alegre porque ganhou o júri de ontem. Não sei como está acordado a essa hora...
           Respondeu para a secretária:
           -- Manda entrar, Esmeralda. Aliás, não sei por que ele perguntou se poderia falar comigo. A porta do gabinete nem chave tem, entra qualquer um.
           O causídico Novaes, baixinho, de cabelos embranquecidos, terno impecável (Melquíades soube um dia que os ternos do advogado eram todos feitos sob medida) abriu a porta e, com um largo sorriso nos lábios, cumprimentou o juiz e o promotor.
          -- Boa tarde, excelência, boa tarde Dr. Nazario. 
          Os dois retribuíram o cumprimento com um rápido "boa tarde". O advogado continuou, querendo ser agradável ao juiz:
          -- Excelência, quero cumprimentá-lo pela forma como o senhor conduziu o julgamento de ontem à noite. Era um processo difícil, com muitas indagações jurídicas a serem feitas... 
            Melquíades e Nazario lançaram-lhe um olhar de ironia.
            -- Nem tão difícil assim, Dr. Novaes. Presido outros parecidos ou até mais difíceis quase todos os dias aqui.
            O causídico, ainda não satisfeito com a bajulação ao juiz, soltou a frase infeliz, com um largo sorriso nos lábios:
            -- E eu soube nos corredores do Fórum que o senhor é um flamenguista doente. Caso o senhor não saiba, eu sou advogado do Flamengo...
            Nazario não aguentou.. Tentou controlar o riso, mas o café que estava bebendo escorregou-lhe pelo canto da boca.
            Melquíades não perdeu a calma. Olhou fixamente para Novaes e, depois de alguns segundos de silêncio, retrucou, falando pausadamente:
            -- Olha, Dr. Novaes, parabéns por sua atuação no Júri de ontem. Mas, por favor, não entre no meu gabinete para me ofender, caso contrário serei obrigado a tomar uma atitude mais rigorosa com o senhor. Procure informar-se melhor quando quiser falar sobre o time de futebol de alguém...
            E mostrou, orgulhoso, a flâmula com a estrela solitária em cima de sua mesa...
            Novaes engoliu em seco, tirou o sorriso da boca, apenas murmurou baixinho:
           -- É, me informaram errado...
           E, encabulado, deixou a sala, enquanto Nazario continuva a rir sem parar...
               

terça-feira, outubro 31, 2017

ATÉ ONDE, BOTAFOGO?

           ATÉ ONDE, BOTAFOGO?

Calfilho


          Até alguns meses atrás, eu e outros milhares de botafoguenses vivemos a ilusão de que, mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos, poderíamos chegar um pouco mais longe nas três competições que disputávamos.
        Aos trancos e barrancos, ora com atuações surpreendentes, ora com outras decepcionantes, conseguimos ganhar de Colo Colo e Olímpia, na fase de pré-Libertadores. 
         Depois ultrapassamos a fase de grupos, onde pegamos time cascudos e com tradição no torneio continental. Passamos por eles. Em seguida, veio o Nacional de Montevidéu, outro time com história para dar e vender na Libertadores. Ganhamos e passamos para a fase seguinte.
     O time disputava ao mesmo tempo a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. Este, praticamente foi deixado de lado, onde jogamos várias partidas com o time reserva e chegamos a perder alguns jogos incríveis, como a derrota de 4 x 3  para o São Paulo e outra para o Avaí, jogando em casa.
    Até onde iria o Botafogo, com um elenco reduzido e com um time composto de jogadores apenas medianos e esforçados? 
  A grande aposta era na Libertadores e na Copa do Brasil... Torneios curtos, tipo mata-mata... 
      Aconteceu o previsível... sem um grande elenco, sem peças de reposição à altura dos titulares suspensos ou machucados, a equipe perdeu os jogos eliminatórios para Flamengo e Gtêmio, jogando covardemente, sem conseguir dar ao menos um chute decente a gol... Lá se foram a Copa do Brasil e a Libertadores...
     Agora, a última esperança é a classificação para a Libertadores do próximo ano.
     Com o elenco que tem, até que fez muito...
      Até onde vai o Botafogo?

sexta-feira, outubro 06, 2017

ANNECY E CHAMONIX

ANNECY E CHAMONIX...

Calfilho


   Nesta viagem de setembro/outubro de 2017, em que volto a visitar a Europa, retorno a duas cidades francesas que muito me agradaram em viagens anteriores: Annecy e Chamonix, ambas situadas na região da Alta Savoia, bem próximas dos Alpes franceses.
                 Depois de passar oito dias em Paris, onde revi um dos meus filhos e esposa, que lá residem e trabalham por um ano, peguei o trem no último dia 28/9 e segui para Annecy.
                  Já tinha estado lá por duas vezes anteriormente e, como pretendia seguir para Chamonix, resolvi ficar uma noite em Annecy, que é no meio  do caminho e não tornar a viagem Paris/Chamonix muito cansativa.
Ficamos num hotel da rede Accor (Mercure centre), deixamos as malas no quarto e saímos para tentar achar algum lugar aberto para almoçar (muitas cidades do interior da França fecham a cozinha dos restaurantes às 14 horas e só reabrem às 19 hs. para o jantar).
Depois de alguma procura encontramos um local simples mas com boa comida. 
        Demos, depois, uma volta pela parte antiga da cidade e por um trecho da margem do lago. É  um passeio muito interessante, pois pode-se conhecer praticamente toda a cidade a pé e ela tem muitas coisas atraentes para serem vistas.
           Annecy é uma bela cidade, vale a pena a visita.





No dia seguinte pegamos outros dois trens para chegarmos a Chamonix, outra das minhas cidades preferidas da França.
Chamonix é pequena, fica num vale na base do Monte Branco  (Mont Blanc), acolhedora, muitos bares, lojas e restaurantes, tendo a vista maravilhosa das montanhas cobertas de gelo em sua volta.
Já tinha estado lá duas vezes anteriormente e não havia ainda subido até a Aiguille du Midi, pelo teleférico que liga a cidade até essa montanha, que fica a mais de 3.800 metros de altitude. A subida é muito parecida com a do nosso Pão de Açucar, no Rio de Janeiro. O bondinho faz uma parada num morro intemediário, como se fosse o morro da Urca e, depois, pegamos um outro bondinho que nos leva até à Aiguille.
A vista lá de cima é realmente deslumbrante. 
Chamonix é uma cidade que não se pode deixar de visitar se formos à França.

















sexta-feira, setembro 15, 2017

A HERANÇA...





A HERANÇA...

Calfilho




A HERANÇA...
Calfilho


          Aquela diligência marcada para as 14 horas já se previa complicada, segundo imaginou o juiz da Vara de Órfãos e Sucessões da Comarca do Rio de Janeiro, então a capital do antigo Estado da Guanabara.

        Tratava-se de um inventário de um conhecido e muito rico empresário, falecido há quase dois anos. Fora casado, tivera duas filhas daquele casamento, mas, depois de vinte e cinco anos de “feliz” matrimônio, desquitou-se da mulher (naquele tempo não havia divórcio) e fora viver com a antiga namorada dos tempos de ginásio. Desse segundo relacionamento tivera mais dois filhos, agora com 15 e 13 anos de idade, respectivamente.

   As duas famílias já discutiam acaloradamente desde o início do processo, cada uma afirmando que os direitos hereditários pertenciam a cada uma delas e que a outra parte deveria ser excluída. Os advogados eram considerados alguns dos melhores da cidade, talvez do país, componentes de dois escritórios tidos como os mais conhecidos no mundo jurídico. O Ministério Público, também, foi obrigado a intervir, por existir interesse de menores no feito. Não houve testamento...

     O juiz estranhou que, desde a abertura do inventário, aberto pela segunda mulher do falecido, não houvesse nenhum imóvel a ser partilhado. Somente algumas ações de pouco valor de empresas de que o inventariado era sócio, nada mais que isso, tendo sido solicitada a abertura de um cofre em um banco da cidade, onde o falecido dizia guardar a maior parte de seus bens. Soube-se depois que o falecido morava, em regime de comodato, num tríplex no Leblon, em frente à praia, de propriedade de um dos sócios de uma das empresas de que fazia parte.

       A requerente da inicial afirmava que teria direito à inventariança e meação, pela condição de estabilidade da relação que mantivera com o empresário, com quem coabitara por mais de quinze anos, tendo, dessa união, resultado dois filhos, devidamente reconhecidos e registrados pelo pai.

   No início do processo, houve impugnação quanto ao deferimento da inventariança à segunda mulher do falecido, inclusive com ataques diretos à mesma vindos dos advogados das filhas do primeiro casamento do mesmo, que alegavam que a segunda mulher era apenas uma entre as várias amantes que o pai teve em vida.

      O juiz manteve o deferimento da inventariança à requerente inicial, mas as filhas do primeiro casamento recorreram ao Tribunal de Justiça, recurso ainda não julgado.

     “— Bem, o problema inicial a ser resolvido vai ser a abertura desse cofre, para sabermos qual o montante da herança a ser partilhada. Enquanto as partes ficam discutindo quem são os herdeiros ou quem é ou não a meeira, pelo menos já definimos o valor do monte”.

     O escrevente entrou em seu gabinete, anunciando:

  -- Excelência, as partes e os advogados já chegaram.

   Ele acabou de despachar o expediente diário e disse:

   -- Manda eles entrarem, por favor.

   Adentraram à sala as filhas do primeiro casamento, os respectivos maridos, a mãe delas (primeira esposa), seus advogados (dois), a inventariante (segunda mulher), seus dois filhos menores, seus advogados, o curador de Órfãos. Todos muito bem vestidos, os homens de terno e gravata, as mulheres com vestidos elegantes, colares e braceletes no pescoço e punhos.

   Dr. Asdrubal (o juiz), ainda sentado, cumprimentou rapidamente os presentes. Disse, com voz grave e severa:

 -- Prestem bem atenção: sei que existem divergências entre os senhores e senhoras. Vamos fazer uma diligência externa, na agência de um banco em Botafogo, por isso solicito calma e educação entre todos para que eu não tenha que intervir e tomar uma decisão mais drástica.

  Um dos advogados quis dar sua opinião, querendo aparecer um pouco para suas clientes:

    -- Desculpe, excelência, a razão está do nosso lado, a outra parte não tem direito algum sobre o que for encontrado no cofre.

    Outro advogado, o “da outra parte”, logo rebateu:

    -- Isso é uma inverdade, nós é que temos os direitos sobre a herança.

     O juiz logo interveio:

    -- Olha, isso tem que ser resolvido nos autos. Não vou admitir discussões estéreis aqui. Nós vamos apenas saber o que o cofre contém, certo?

     Todos concordaram.

   Uma das filhas do primeiro casamento levantou o dedo e indagou:

 -- Excelência, posso fazer uma observação?

   O juiz concordou com a cabeça. Ela continuou:

    -- Deve existir uma joia no cofre, um colar de ouro e brilhantes que meu pai me deu quando eu tinha quatro anos de idade. Isso vai ser dividido entre todo mundo? Foi um presente pessoal dele, que disse que guardaria no cofre para quando eu crescesse e pudesse usar...

  -- Vamos ver, senhorita, vamos apreciar futuramente – retrucou o juiz.

       O marido da “senhorita” interveio:

-- Por favor, excelência, “senhora” e não “senhorita”. Ela é minha esposa...

    O juiz apenas olhou para ele, sem nada dizer.

 Um dos filhos do segundo relacionamento do pai comentou, em voz baixa:

  -- Papai me disse uma vez que comprava dólares e ouro, pois tinha muito medo da situação política do Brasil, que os bancos acabassem falindo... por isso, guardava tudo no cofre...

   Pegaram três taxis em frente ao Tribunal de Justiça, chegaram à agência do Banco Nacional, em Botafogo.

     Um funcionário veio logo atendê-los, avisado que estava da diligência a ser efetuada.

    -- Queiram acompanhar-me, por favor.

     No caminho, o bancário comentou:

    -- Até que enfim, vocês vão abrir esse cofre. Tinha curiosidade em saber o que ele guardava ali. Todo mês ele vinha no banco, abria o cofre e colocava alguma coisa ali dentro...

   Desceram todos ao subsolo da agência bancária. O funcionário pediu as chaves do cofre aos familiares. A ex-esposa do falecido entregou-lhe uma, a “amante” (segunda mulher) entregou-lhe outra.

      Ele abriu o compartimento, retirou o cofre, introduziu as duas chaves e o mesmo foi aberto.

  Todos em cima, olhos arregalados, curiosos para saber o que continha:

   Um volume embrulhado num grosso envelope, amarrado com fita isolante, era o conteúdo do cofre. O juiz pediu ao funcionário que o abrisse.

    As fitas foram cortadas, o envelope foi aberto.

     Dentro, apenas um monte de recortes de jornais e papéis em branco.

    Ah! Também um bilhete, manuscrito:

  “VOCÊS PENSAVAM QUE IRIAM ENCONTRAR O QUÊ, CAMBADA DE BABACAS? VÃO PROCURAR O TESOURO... UM DIA VÃO ACHAR ... AHAHAHAHA”...

    O Dr. Asdrubal não pode conter o riso quando olhou a cara que os “herdeiros” fizeram...

Alguns proferiram várias imprecações, outros xingaram mesmo o falecido...




quarta-feira, setembro 13, 2017

OLHARES PERDIDOS..


OLHARES PERDIDOS...
Calfilho



            Tudo se passou tão rapidamente...

            Um simples trocar de olhares, logo se reconheceram...

            Estavam sentados numa leiteria da rua São José, no centro do Rio... ela, com uma colega professora... ele, com um amigo, advogado... claro, em mesas diferentes, mas coincidiram de ficar um de frente para o outro...

           Logo desviaram o olhar ... suas mentes voavam pelo tempo, lembrando de mais de vinte anos atrás... Ele ainda pensou se valeria a pena um cumprimento, uma aproximação... Ela baixou os olhos, encabulada, sem saber o que fazer... o rosto ficou vermelho, a pele normalmente bem alva, transformou-se na cor de um tomate maduro...

          Seus colegas das respectivas mesas não perceberam o embaraço dos dois... continuavam a conversa que mantinham anteriormente, como se nada de anormal tivesse acontecido...

           O garçom trouxe o pedido da mesa delas... um lanche composto de uma taça de café com leite para cada uma, dois copos de suco de laranja, pão francês, geleia de laranja e damasco, manteiga, uma fatia de mamão...

           Outro garçom, velho conhecido dos dois, trouxe dois copos com gelo e neles despejou generosas doses de um escocês de 12 anos... Afinal, já eram 18 horas, o expediente no fórum havia terminado...

          O tempo continuava a voar na mente dos dois...
          
          Ele logo lembrou-se de quando a vira pela primeira vez, numa prova de fim de ano do Liceu... ela terminava o antigo ginasial, no quarto ano... ele, no segundo científico, fora escalado pela direção do colégio para ser um dos fiscais da realização das provas... quando a viu, alta, clara, olhos verdes cintilantes, ficou deslumbrado... indicou-lhe uma carteira para que sentasse e fizesse a prova... Ela chegou a sorrir-lhe encabulada, sorriso de menina mais nova do colégio frente a um dos veteranos...

         Ele, ainda encantado, ficou olhando timidamente para ela, acompanhando seus gestos, seus movimentos...
         
        Nunca a vira antes, deveria ter vindo do turno da tarde para o da manhã... tão bonita, tão jovial, tão cintilante com seus grandes olhos verdes que irradiavam simpatia, alegria...

        Procurou saber quem era ...

         Como era um dos diretores do Grêmio do Liceu, acabou descobrindo seu endereço e telefone... os alunos passaram a comprar os passes de trolley e bonde no Grêmio, por isso acabaram tendo que fazer uma carteirinha da agremiação, onde constavam todos os seus dados... morava na Martins Torres, próximo ao Salesianos, naquele tempo bairro de Santa Rosa, hoje Jardim Icaraí (tempos modernos)...
         Olhavam-se naqueles tempos de pátio do Liceu... olhares curiosos, juvenis, adolescentes... escondidos, quase sem serem percebidos...

         Ele telefonou para ela duas, três vezes... a menina da Martins Torres ora atendia, ora sua mãe, ora outra pessoa... ela tinha uma amiga liceísta, muito próxima, a quem confidenciou sua admiração secreta... quase chegaram a se falar, não tiveram coragem...

         O Liceu fez uma excursão ao Colégio Naval em 1959.

         Ele estava terminando o curso científico, ela fazia o primeiro ano daquele curso...

         Foram no mesmo trem, da Leopoldina até onde iriam pegar o aviso da Marinha que os iria levar ao Colégio Naval... Ela foi, ele foi, afinal era um diretor do Grêmio...

        Trocaram vários olhares, mas sempre a timidez de ambos impediu que se falassem...

       No Colégio Naval o Liceu disputou vários jogos contra os futuros militares...

       Ela assistiu a todos, olhando com admiração para o rapaz do Grêmio... Chegaram a tirar um retrato, onde ela, em pé, do lado esquerdo dele, agachado, o olhava fixamente...

       Ele terminou o científico, foi cursar a faculdade e nunca mais se viram...

      Até o encontro casual na leiteria da rua São José...

      Ela e a colega estenderam o lanche... ele e o amigo pediram outras doses de whisky...

      Ele notou que ela usava uma aliança na mão esquerda... estava casada, que pena... bem, ele também já estava...

       Finalmente, ela e a amiga pagaram a conta, levantaram-se e quando passaram pela mesa deles, ele não resistiu:

      -- Prazer em te rever...

       Ela olhou rapidamente para ele, esboçou um sorriso e fingiu não reconhecê-lo... Passou direto...

       O destino não quis nada com eles...

terça-feira, setembro 05, 2017

BILLIE HOLIDAY, LADY DAY...




BILLIE HOLIDAY, LADY DAY..

Calfilho







            Outro dia desses vi, na televisão, a filmagem remontada daquele que teria sido o último show de Billie Holiday. Infelizmente, esse show não foi apresentado em gravação original, ao vivo, mas sim, com atores interpretando a famosa cantora norte americana, um dos expoentes do jazz e da música negra daquele país. O show teria acontecido num bar da Filadélfia, o Emerson’s Club, onde a diva já ali se apresentara em vezes anteriores e gozava da amizade e admiração do dono da casa. Não sei, realmente, se foi essa a melhor impressão que consegui ter do espetáculo, eu que não a conheci musicalmente naquele ano em que acabou morrendo quatro meses depois, em 1959. Nunca tinha ouvido falar dela. Na década de 50, apesar de termos sido bastante influenciados pela música americana, era apenas o rockn’roll e algumas baladas cantadas por The Platters ou Frank Sinatra e ainda Nat King Cole que chegavam até nós. Além, claro, das músicas melodiosas de Ray Conniff, que animavam nossos bailinhos juvenis do Regatas ou em casas de alguns colegas.
                 Nesse show do Emerson’s Club de 1959, que só assisti em 2017, apenas vi uma cantora esplêndida, em final de carreira, com apenas 46 anos de idade, contando um pouco da história de sua vida, auxiliada por doses generosas de copos de whisky com gelo. A voz, apesar de já um pouco modificada pela passagem do tempo e pelas agruras da vida que levou, ainda mantinha aquele timbre extraordinário que encantou o mundo na década de 40. Esse show, remontado, deve ter usado sua voz em play-back. Lady Day, como ficou conhecida naquela década,  a de 40, tinha uma capacidade extraordinária de brincar com os agudos e graves de sua voz maravilhosa...
                      Alguns anos antes, talvez vinte ou um pouco mais, lá pelo final dos anos 80, foi que ouvi, pela primeira vez, Billie Holiday cantar. Vi alguns clipes dela dos anos 40 e, imediatamente, encantei-me com a qualidade de sua voz e a beleza das músicas que cantava. Eu até começava a estudar um pouco a música popular norte americana, apesar de não ser admirador profundo da mesma. Mas, o jazz, os blues, o “rythm and soul” me agradavam muito... Talvez, até por influência das músicas de Elvis Presley, que tinham muitas coisas da região de Memphis, do Mississipi...
                     Nunca fui fã dos Estados Unidos da América... nunca fui lá, nem pretendo ir... considero-o um povo da mesma idade do Brasil, com pouca história para contar, e o que contam é 99% propaganda de um país arrogante, que se considera o influenciador de todas as outras culturas mundiais... desculpem, americanos, mas jamais vocês vão me entrevistar, no Consulado de vocês, para poder entrar no Big Brother... acho que a cultura latino-americana é muito mais rica que a raivosa e intransigente supremacia branca americana... Fiquem lá, construam seu muro e desperdicem a qualidade de cultura que outros países do mundo, principalmente da Europa, podem ensinar-lhes...
             Mas, Billie Holiday é um capítulo à parte... nem sei se ela teria gostado de ter nascido nos Estados Unidos... filha de escravos, prostituta forçada aos dez anos de idade, toxicômana, lutou contra todos os preconceitos, para em vez de ser apenas mais uma pobre imigrante submissa, consagrou-se como uma das melhores cantoras americanas da década de 1940... e, como todos os grandes, os foras de série, morreu cedo... 46 anos de idade... Noel morreu com 26... Elvis com 42... Fora Van Gogh, Lautrec e tantos outros... talvez seja o destino dos gênios... passam aqui pela terra como cometas, desaparecem rápido, mas seus vestígios permanecem intactos pela eternidade...
          Extraordinária... Billie Holiday... Lady Day...
           Permitam-me ouvir e deixar para os amigos a música dela de que mais gosto...
          “What a little moon light can do”...
           Isso está no You tube, mas peguem a versão dos anos 40... não sei como passar do You Tube para cá...
        Desculpem-me, de gênios, só sei comentar o que li... dos vivos não conheço ninguém...

domingo, agosto 20, 2017

NOEL, O GÊNIO, MAIOR DE TODOS...

NOEL, O GÊNIO, MAIOR DE TODOS...

Calfilho





NOEL, O GÊNIO, MAIOR DE TODOS...


Calfilho


           Já ouvi alguém dizer que em futebol e música é perda de tempo discutir... cada um tem sua opinião, dela não abre mão e, por mais que discutam, que debatam, não vão chegar a nenhuma conclusão.. cada um continuará torcendo por seu time preferido e permanecerá fiel ao  estilo musical que elegeu como o seu predileto...
         Não vou entrar nessa discussão... No futebol, sou Botafogo, mesmo que xingue o time em suas más atuações  ou o elogie quando joga bem...
         Em matéria musical, permito-me fazer algumas observações...
         Nunca fui fanático por música, seja ela qual for... admiro, mas não me empolgo com a música clássica... conheço muito pouca coisa de Mozart, Chopin, Bethoven, Strauss ou outros gênios desse ramo musical...
           Quando criança, às vezes ouvia sem entender direito, meu pai cantarolar “O orvalho vem caindo, vem molhar o chapéu...”, ou minha mãe cantar uma música ou outra de sua cantora preferida, Carmem Miranda... Explica-se: ela, ainda solteira, fazia parte de um coro musical que acompanhava a cantora portuguesa e outros astros musicais da época (década de 30) nos famosos programas radiofônicos da Radio Nacional... Aliás, foi no intervalo de um desses programas que ela conheceu meu pai, que ali fora até por acaso...
         No início da década de 50 do século passado, passei a frequentar os cinemas de Niterói (Rink, Imperial, Odeon, Eden) e neles assisti alguns filmes brasileiros, as antigas “chanchadas”, sempre lançadas na época do Carnaval, onde eram cantadas várias marchinhas. Lembro-me bem de “Ai, ai, brotinho (Francisco Carlos),”Não quero broto, não quero, não quero, não” (acho que Jorge Goulart), “Sassaricando” (Virginia Lane), “Tomara que chova” (Emilinha Borba), além de alguns sambas que ficaram famosos, como “Lata d’água na cabeça” (Marlene), “Minha embaixada chegou”. Coloquei apenas o início da letra das composições, pois nem me lembro do nome real das mesmas.
           Comecei também a ouvir alguns programas de rádio e assistir outros na iniciante televisão brasileira, a TV-Tupi... Havia o Circo do Carequinha, o Clube do Guri... Nesse último, abrindo o programa, cantava uma jovem de pouco menos de 20 anos de idade... Marisa... Morena muito bonitinha, olhos verdes muito penetrantes, voz melodiosa e afinada... Foi uma das primeiras paixões do menino com dez anos de idade... Muito tempo depois, mais de trinta anos, conheci-a pessoalmente cantando numa cervejaria de Copacabana, a Bierklause.. Bem mais rechonchuda, os olhos já um pouco cansados, mas a voz clara e nítida como a ouvira cantar pela primeira vez... agora era  “Marisa, a gata mansa”... Conversamos um pouco entre duas de suas músicas e relembrei-lhe a música com que ela abria o programa na TV-Tupi:
“O que é, o que é?
“Adivinhe, meu amor,
“Trabalha, como um relógio,
“Não tem corda, nem motor
“Marca as horas de ventura
“Marca as horas de amargor
“Não há dinheiro que pague
“Nem se bota no penhor”...
          Ela olhou-me surpresa, olhar nostálgico, um pouco triste, como se lembrasse de um tempo que não mais poderia voltar.
          Comentou, com aquela voz de menina, quase infantil, que usava quando falava, bem diferente daquela outra possante e vigorosa que utilizava ao cantar:
          - Mas, como você lembra disso? Faz tanto tempo...
           A década de 50, no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, foi a época do samba canção, o auge de Dick Farney, Lucio Alves, Tito Madi, Maysa, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Nelson Gonçalves e tantos outros... Com a morte de Francisco Alves, em 1953, encerrava-se um estilo musical, o de cantores de voz possante, tipo tenor de ópera, o cantor de serenatas, como o próprio Chico Alves, Vicente Celestino, mesmo Carlos Galhardo, Gilberto Alves, Sílvio Caldas... Nessa década, a de 50, prevalecia a música “dor de cotovelo”, música de fossa, cantada baixinho, ao pé do ouvido, num canto de bar, junto a um piano...
         A juventude brasileira, nessa década, foi muito influenciada pela música americana da época, principalmente o novo ritmo, alucinante, que surgiu lá por 1953, com Bill Halley e seus cometas: o rockn’roll. Foi a década de Elvis Presley, Little Richards, Neil Sedaka. Mas, também ouvíamos muitas canções românticas americanas, cantadas por Frank Sinatra, Nat King Cole, The Platters...
         Confesso que nunca fiquei empolgado com nenhuma delas, nem as brasileiras, nem as americanas. Ouvia muito todas elas, até dançava várias, pois eram os discos que tínhamos na época e que tocavam em nossas festinhas, em nossos bailinhos em casas de colegas... Mas, também, acompanhando meu amigo Campista, fanático por escolas de samba, subi alguns morros de Niterói, para assistir uma sessão de partido alto, tocar frigideira ou tamborim... Os desfiles das escolas nos Carnavais do Rio e Niterói me atraíam muito... Assisti vários deles ao vivo da janela do meu apartamento na Amaral Peixoto, ou pela televisão...
          No final dessa década, início da de 60, surge a bossa nova.
           Veio com “Chega de saudade”, interpretada por João Gilberto e, como um furacão, o ritmo tomou conta do país. “Garota de Ipanema”, “Desafinado”, “Insensatez” eram tocadas nas rádios e na televisão, dia e noite. Em Copacabana, havia uma pequena travessa, que começa na Rua Duvivier e não tem saída para outra rua, depois chamada de “Beco das Garrafas”, onde pontificavam dois pequenos “inferninhos”, chamados “Bottles” e “Little Club”, onde cantavam e tocavam Sérgio Mendes, Tamba Trio, Nara Leão, Elis Regina, Wilson Simonal e tantos outros... Cheguei a conhecer os dois...
         Também não fiquei empolgado com o novo ritmo musical, apesar de inovador e muito bonito. Os ruidosos e espetaculosos “Festivais da Canção” realizados no Maracanãzinho, talvez tivessem atrapalhado um pouco o desenvolvimento da bossa nova. Com ela rivalizaram, lançando músicas totalmente desconhecidas, com letras difíceis de entender, com a melodia parecida mas não sendo a mesma do movimento original.
        Mas, a bossa nova firmou-se como gênero musical do Brasil, ganhando fama internacional, em especial com um álbum lançado nos Estados Unidos, cujo título é “Stan Getzz e João Gilberto”, onde os dois interpretam várias músicas do movimento, algumas delas cantadas pela então mulher de João, Astrud Gilberto.
       Também a apresentação conjunta de Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim, cantando “Garota de Ipanema” em dueto, no programa do americano na televisão, ajudou e muito a divulgar o novo ritmo musical.
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          Na verdade, não me recordo a data exata em que fui apresentado a Noel Rosa. Apresentação musical, é claro, pois o compositor havia falecido ainda na década de 30, cinco anos antes do meu nascimento. Ouvira antes, quando tinha oito, nove anos, meu pai cantarolar “o orvalho vem caindo”, mas não tinha a mínima ideia de quem era o compositor da mesma. Talvez tenha ouvido também o “Com que roupa?” ter sido cantado em algum baile de Carnaval do Canto do Rio. Também desconhecia o autor.
          Já ouvira falar por alto em Aracy de Almeida, cantora que teria feito grande sucesso na década de 30 como intérprete de Noel, mas que passara praticamente em branco a década de 40 e que agora, no final dos anos 50, tentava fazer um show para relembrar a obra do compositor de Vila Isabel. Não vi esse show, não sei se fez ou não sucesso.
          Aracy, entretanto, começou a participar de um programa de televisão, aos domingos, onde era jurada. Dava sua opinião sobre os candidatos a cantor ou cantora, com muita irreverência e bom humor. Às vezes, instada pelo apresentador e dono da emissora, o ex-camelô Sílvio Santos, contava um caso pitoresco vivido na companhia de Noel e até cantava uma ou outra sua composição.
            Comecei a prestar atenção na letra e na música dessas composições. Perfeitas, melodia impecável, impregnada do samba de breque tocado nos morros cariocas, letras muito bem feitas, algumas irônicas e debochadas, outras sentimentais e plenas de carinho humano.
          Procurei aprofundar-me mais um pouco na obra noelina. Na década de 70 (sem ter certeza) assisti a um excelente programa na antiga TV-Educativa, dedicado inteiramente a Noel, onde o conjunto Coisas Nossas, fundado pelo cantor, violonista e compositor Carlos Didier, o Caola, apresenta vários artistas da época de Noel, contando casos vividos com o compositor e cantando algumas de suas melodias. Ali estiveram Aracy de Almeida e Marília Baptista, tidas como as duas principais intérpretes do compositor da Vila... dizem até que havia uma certa rivalidade entre elas, mas isso não ficou plenamente demonstrado... diziam que Noel até preferia Marília, que era mais instruída, mais elitizada... já Aracy seria quem realmente fazia sucesso com suas músicas, por sua forma espontânea, direta e falando a língua do povo ao se expressar... Esse programa foi sucesso absoluto e é um clássico para quem deseja conhecer a obra de Noel...
         Posteriormente, em 1990, o mesmo Caola e João Máximo, crítico musical, publicaram um livro contando a biografia de Noel. Livro imperdível, infelizmente esgotado e sem possibilidade de uma nova edição.
       Foi, então, que comecei a conhecer realmente o “Poeta da Vila”.
       Nascido em 11 de dezembro de 1910, parto difícil, teve que ser arrancado a fórceps do ventre de Dª. Marta, sua mãe, na casa da rua Teodoro da Silva, nº. 130 (hoje 192), em Vila Isabel. Dessa dificuldade do parto adveio-lhe a fratura do queixo e a deformidade que o perseguiu durante toda sua vida.
         Estudou no Colégio São Bento, ali nas imediações da Praça Mauá. Começou a cursar medicina, mas abandonou os estudos por sua paixão pela música e pela boemia carioca. Suas primeiras músicas foram “Minha Viola” e “Festa no Céu”, lançadas em 1929, quando ele fazia parte do Bando dos Tangarás, que também tinha como intérpretes João de Barro (o Braguinha), Almirante e Henrique de Britto. Mas seu primeiro grande sucesso foi “Com que roupa?”, lançada no Carnaval de 1930. Daí para a frente foi uma produção frenética de muitas músicas, algumas composições somente suas, outras em parceria com compositores da época, como Orestes Barbosa e, principalmente, Vadico...
           Famosa ficou sua polêmica musical com Wilson Batista, que rendeu bons sambas dos dois (claro, os de Noel são evidentemente melhores, apesar da qualidade daqueles de Wilson).
          Noel, numa época onde a gravação de discos engatinhava, onde não havia computador, conseguiu produzir mais de 300 músicas, a maioria escrita com lápis em pedaços de papel de botequim, para não esquecê-las depois. Foi muito mais letrista que musicista, apesar de que algumas de suas melodias são deslumbrantes.
         Conheci pessoalmente Roberto Martins, um ex-policial da antiga Polícia de Vigilância do Distrito Federal, a PV, também compositor de mão cheia (autor de “Renúncia”, “Cai, Cai”, entre outras) e que me contava passagens maravilhosas do seu convívio com Noel.
        Nunca esquecendo que Noel, mesmo sendo oriundo da classe média carioca, tinha especial prazer em subir os morros da cidade, tendo sido amigo íntimo de Cartola e Ismael Silva.
        Não vou relembrar as músicas de Noel: a grande maioria delas são excelentes, me emocionam e me fazem lembrar uma época que não volta mais... Mas, para quem se interessar, existe no comércio uma caixa com vários CDs de músicas dele, abrangendo praticamente toda sua obra...
      Mas, não posso deixar de mencionar: “Feitiço da Vila”, “Meu último desejo”, “Filosofia”, “O X do problema”, “Mulato bamba”, “Prazer em conhecê-lo”, “A dama do Cabaré”, “Pela décima vez”, “Espera mais um ano”, algumas entre as muitas que me vêm à cabeça nesse momento.
        Imaginem o que esse homem poderia ter feito se tivesse vivido mais dez, vinte anos. Morreu em 4 de maio de 1937, com 26 anos e deixou essa obra toda para nosso deleite...
    Gênio... Gênio... outro daqueles poucos que Deus coloca na Terra e joga a fórmula fora... O outro, no futebol, para mim, foi Garrincha...

Observação: Fiz algumas pequenas correções no texto original seguindo orientação do excelente Carlos Didier, o Caola, que me muito me auxiliou na leitura e exame deste texto.




segunda-feira, agosto 14, 2017

PASSEIO POR VAN GOGH...




PASSEIO POR VAN GOGH...

Calfilho






PASSEIO POR VAN GOGH...
Calfiho


          Não sou e nem pretendo ser um especialista em pintura...
           Mas, nas viagens que fiz à Europa, principalmente aquelas feitas depois de 1990, quando me aposentei, acabei visitando vários museus europeus, roteiro quase que obrigatório para todo turista que se preze...
      Vou citar apenas alguns deles, pois sei que acabarei esquecendo de mencionar um ou outro... a Europa é o continente mais repleto de museus, e de bons e museus...
       Começo pela Espanha... em Madrid, claro, visitei o Prado e o Sorella, famoso pintor espanhol, cuja residência foi transformada em interessante museu...
        Na Itália, o museu do Vaticano (onde estão magníficas pinturas de Michelangelo, principalmente a Capela Sistina); a Galeria Uffizi, em Florença, também espetacular; o Palácio dos Dodges, em Veneza...
        Na Inglaterra, a famosa Galeria Tate...
         Bem, na França, foram muitos... em Paris, o Louvre, claro; Orsay; L’Orangerie e vários outros do interior francês, como Giverny e Auvers.
          Como disse anteriormente, não sou “expert” em arte, mas comecei a me interessar pelas telas dos grandes pintores. Sem nenhuma preocupação de conhecê-las a fundo, de saber suas histórias ou a que escola pertenciam. Apenas admirá-las, tentar entender o que o artista tentou colocar na tela...
          Claro que as obras clássicas de Da Vinci, Michelangelo, Raphael, Tintoretto, Caravagio, Rubens, Rembrandt e vários outros nos impressionam profundamente. Maravilhosas...
       Mas, minha atenção foi logo atraída pelos impressionistas... a forma como viam as cenas e as colocavam nas telas... Não cheguei a me empolgar com as obras de Picasso, Dali ou mesmo o nosso Portinari...
       Conhecia pouco deles antes de 1990, quando me aposentei... uma leitura aqui, outra informação ali, apenas isto... em matéria de pintura minha ignorância conhecia apenas a Mona Lisa, de Da Vinci e pouca coisa mais...
       Mas, tinha visto um filme sobre Toulouse Lautrec (“Moulin Rouge”) e fiquei encantado com a qualidade das telas e do trabalho do pintor.
       Depois, passei a conhecer Manet (Edouard), talvez o precursor do movimento e, em seguida, Rénoir (JeanPaul), Monet (Claude), Degas, Cézane, Sisley e outros tantos... Até chegar em Van Gogh...
         A obra deles é realmente impressionante (não só impressionista). Telas maravilhosas, forma de expressão de cores e sentimentos realmente admiráveis... O museu d’Orsay, em Paris, talvez seja aquele que mais obras desses pintores tenha para exibir... Seu quinto andar, na realidade, é um mergulho na obra impressionista e ali se pode deliciar horas e até dias só admirando a qualidade do que é exibido...
        Sobre Van Gogh, cujas obras estavam entre aquelas exibidas no quinto andar até alguns anos atrás, foi criado um espaço especial, no segundo andar, do lado direito de quem entra no museu (essa minha informação é de três anos atrás, última vez em que visitei o Orsay). Ali estão algumas de suas principais telas...
        Por curiosidade e atraído pela força de suas telas, pesquisei mais sobre o pintor holandês. Peguei um trem em Paris, desci em Pontoise e dali peguei outro trem, que em 11 minutos me levou até Auvers-sur-Oise, pequena cidade situada numa das margens do rio Oise. No total, pouco mais de 50 minutos de viagem...
        Auvers é um vilarejo (“village”, em francês) com poucos habitantes, mas ruas bem calçadas e limpas e foi ali onde Van Gogh passou os últimos três meses de vida... Tendo se agravado seu estado de demência desde que cortou a orelha em Arles, no sul da França, após uma discussão com Gauguin, seu irmão, Paul, decidiu mandá-lo para Auvers, onde morava um médico famoso no tratamento de doenças mentais, o Dr. Gachet. Vincent (Van Gogh) ficou morando por alguns dias na casa do médico, que fez o diagnóstico inicial. Ali pintou uma de suas telas mais famosas, “a filha do Dr. Gachet”. Logo mudou-se para uma pequena pensão, que alugava quartos no sobrado e funcionava como restaurante no térreo: a casa Ravoux. Dali ele partia diariamente para os campos em volta, onde produziu algumas das suas mais bonitas obras, inclusive a igrejinha de Auvers...
           Irremediavelmente atacado pela doença que lhe corroía a mente, acabou indo pintar num campo e deu um tiro no abdômen... Seu irmão Paul veio de Paris e o levou para o quarto na pensão Ravoux... Ele agonizou por três dias e acabou morrendo.
         Um ano depois, seu irmão Paul também morria... os dois eram muito ligados e Paul, que era “marchand” de quadros vislumbrava a excelência dos trabalhos do irmão, compreendendo sua doença e dele cuidando até sua morte...
              Os dois estão enterrados no pequeno cemitério de Auvers, um ao lado do outro...
             Mas, Auvers, além de Van Gogh, tem um excelente museu dedicado aos impressionistas, localizado num castelo no centro da cidade e onde se pode percorrer grande parte da obra desses excelentes pintores.
               Auvers também tem um museu do absinto, o chamado “fogo verde”, que era a bebida preferida dos intelectuais, pintores e escultores da época...
            Vale muito a pena a visita...
           Mas, vi mais de Van Gogh no museu que tem seu nome na cidade de Amsterdam, na Holanda... Excelente museu, extraordinárias obras do pintor...
          Outra cidade francesa, esta já no sul, que visitei e onde Van Gogh morou por algum tempo é Saint Remy-en-Provence, onde existe um pequeno museu que registra sua passagem pela cidade.
Soube que em Arles, também no sul da França, é outra cidade onde ele residiu. Contam que foi ali que ele decepou a orelha... Não conheço essa cidade...
Já li que em Nova York, no Metropolitan Museum existe uma grande coleção de suas obras... Como nunca fui aos Estados Unidos, não sei informar...
Vi vários filmes sobre a vida de Van Gogh. O mais importante talvez seja aquele em que Kirk Douglas faz seu papel e Anthony Quinn interpreta Gauguin...
      Tenho fotografias de muitos desses lugares, principalmente aquelas de Auvers-sur-Oise.
      Como sou preguiçoso, deixo de exibi-las aqui, mas são facilmente encontradas também na internet...