O FLAMENGUISTA...
Calfilho
Era uma terça-feira... Meio dia e meia...
Dr. Melquíades chegava ao seu gabinete para mais um dia de trabalho...
Cumprimentou a secretária, passou pela porta que dividia as duas salas... Sua mesa já estava toda tomada com vários processos para despachos de rotina... Livrou-se de quase todos em pouco tempo, quando o Dr. Nazario adentrou em sua sala. Cumprimentaram-se rapidamente, pois entre eles, amigos de longa data, não existiam cumprimentos formais...
Nazario serviu-se de um café e começaram uma conversa trivial:
-- Porra, Nazario, aquele julgamento de ontem me matou. Saí daqui quase cinco da manhã... Pior que era apenas um processo de bandidinho vagabundo, coisa de todo dia... Mas, teve réplica, tréplica, depoimento de testemunhas, o advogado encheu o saco com perguntas idiotas, tive que indeferir uma porção delas... já viu, não é?
Nazario rodava calmamente sua colherzinha na xícara de café... Apenas sorriu...
Depois, fez um breve comentário:
-- Ainda bem que não foi o meu dia de plenário...
Melquíades retrucou, meio distraído, enquanto despachava outro processo:
-- É, ainda bem, dessa você se livrou...
Trabalhavam com ele quatro promotores de Justiça, revezando entre eles os dias de funcionamento no plenário em dias de julgamento. Deles, conhecia Nazário há mais tempo, pois haviam trabalhado juntos em outra vara de Júri da capital.
O telefone tocou. Melquíades atendeu. Era sua secretária, na sala ao lado:
-- Excelência, o Dr. Novaes está aqui, quer dar uma palavrinha com o senhor. Perguntou se está ocupado.
Novaes era o advogado que havia funcionado no julgamento da madrugada anterior. Já tinha algum nome como advogado criminalista, mas gostava muito de aparecer nos jornais.
-- É o Novaes, Nazario. Deve estar todo alegre porque ganhou o júri de ontem. Não sei como está acordado a essa hora...
Respondeu para a secretária:
-- Manda entrar, Esmeralda. Aliás, não sei por que ele perguntou se poderia falar comigo. A porta do gabinete nem chave tem, entra qualquer um.
O causídico Novaes, baixinho, de cabelos embranquecidos, terno impecável (Melquíades soube um dia que os ternos do advogado eram todos feitos sob medida) abriu a porta e, com um largo sorriso nos lábios, cumprimentou o juiz e o promotor.
-- Boa tarde, excelência, boa tarde Dr. Nazario.
Os dois retribuíram o cumprimento com um rápido "boa tarde". O advogado continuou, querendo ser agradável ao juiz:
-- Excelência, quero cumprimentá-lo pela forma como o senhor conduziu o julgamento de ontem à noite. Era um processo difícil, com muitas indagações jurídicas a serem feitas...
Melquíades e Nazario lançaram-lhe um olhar de ironia.
-- Nem tão difícil assim, Dr. Novaes. Presido outros parecidos ou até mais difíceis quase todos os dias aqui.
O causídico, ainda não satisfeito com a bajulação ao juiz, soltou a frase infeliz, com um largo sorriso nos lábios:
-- E eu soube nos corredores do Fórum que o senhor é um flamenguista doente. Caso o senhor não saiba, eu sou advogado do Flamengo...
Nazario não aguentou.. Tentou controlar o riso, mas o café que estava bebendo escorregou-lhe pelo canto da boca.
Melquíades não perdeu a calma. Olhou fixamente para Novaes e, depois de alguns segundos de silêncio, retrucou, falando pausadamente:
-- Olha, Dr. Novaes, parabéns por sua atuação no Júri de ontem. Mas, por favor, não entre no meu gabinete para me ofender, caso contrário serei obrigado a tomar uma atitude mais rigorosa com o senhor. Procure informar-se melhor quando quiser falar sobre o time de futebol de alguém...
E mostrou, orgulhoso, a flâmula com a estrela solitária em cima de sua mesa...
Novaes engoliu em seco, tirou o sorriso da boca, apenas murmurou baixinho:
-- É, me informaram errado...
E, encabulado, deixou a sala, enquanto Nazario continuva a rir sem parar...
-- Porra, Nazario, aquele julgamento de ontem me matou. Saí daqui quase cinco da manhã... Pior que era apenas um processo de bandidinho vagabundo, coisa de todo dia... Mas, teve réplica, tréplica, depoimento de testemunhas, o advogado encheu o saco com perguntas idiotas, tive que indeferir uma porção delas... já viu, não é?
Nazario rodava calmamente sua colherzinha na xícara de café... Apenas sorriu...
Depois, fez um breve comentário:
-- Ainda bem que não foi o meu dia de plenário...
Melquíades retrucou, meio distraído, enquanto despachava outro processo:
-- É, ainda bem, dessa você se livrou...
Trabalhavam com ele quatro promotores de Justiça, revezando entre eles os dias de funcionamento no plenário em dias de julgamento. Deles, conhecia Nazário há mais tempo, pois haviam trabalhado juntos em outra vara de Júri da capital.
O telefone tocou. Melquíades atendeu. Era sua secretária, na sala ao lado:
-- Excelência, o Dr. Novaes está aqui, quer dar uma palavrinha com o senhor. Perguntou se está ocupado.
Novaes era o advogado que havia funcionado no julgamento da madrugada anterior. Já tinha algum nome como advogado criminalista, mas gostava muito de aparecer nos jornais.
-- É o Novaes, Nazario. Deve estar todo alegre porque ganhou o júri de ontem. Não sei como está acordado a essa hora...
Respondeu para a secretária:
-- Manda entrar, Esmeralda. Aliás, não sei por que ele perguntou se poderia falar comigo. A porta do gabinete nem chave tem, entra qualquer um.
O causídico Novaes, baixinho, de cabelos embranquecidos, terno impecável (Melquíades soube um dia que os ternos do advogado eram todos feitos sob medida) abriu a porta e, com um largo sorriso nos lábios, cumprimentou o juiz e o promotor.
-- Boa tarde, excelência, boa tarde Dr. Nazario.
Os dois retribuíram o cumprimento com um rápido "boa tarde". O advogado continuou, querendo ser agradável ao juiz:
-- Excelência, quero cumprimentá-lo pela forma como o senhor conduziu o julgamento de ontem à noite. Era um processo difícil, com muitas indagações jurídicas a serem feitas...
Melquíades e Nazario lançaram-lhe um olhar de ironia.
-- Nem tão difícil assim, Dr. Novaes. Presido outros parecidos ou até mais difíceis quase todos os dias aqui.
O causídico, ainda não satisfeito com a bajulação ao juiz, soltou a frase infeliz, com um largo sorriso nos lábios:
-- E eu soube nos corredores do Fórum que o senhor é um flamenguista doente. Caso o senhor não saiba, eu sou advogado do Flamengo...
Nazario não aguentou.. Tentou controlar o riso, mas o café que estava bebendo escorregou-lhe pelo canto da boca.
Melquíades não perdeu a calma. Olhou fixamente para Novaes e, depois de alguns segundos de silêncio, retrucou, falando pausadamente:
-- Olha, Dr. Novaes, parabéns por sua atuação no Júri de ontem. Mas, por favor, não entre no meu gabinete para me ofender, caso contrário serei obrigado a tomar uma atitude mais rigorosa com o senhor. Procure informar-se melhor quando quiser falar sobre o time de futebol de alguém...
E mostrou, orgulhoso, a flâmula com a estrela solitária em cima de sua mesa...
Novaes engoliu em seco, tirou o sorriso da boca, apenas murmurou baixinho:
-- É, me informaram errado...
E, encabulado, deixou a sala, enquanto Nazario continuva a rir sem parar...
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