Décima parte
DANDO UMA DE TURISTA...
Calfilho
Após visitarmos com calma o Orsay e nos deliciarmos com o melhor do movimento impressionista, pegamos o RER fora do museu e descemos na estação Saint Michel. Estamos de volta ao nosso porto seguro, o Quartier Latin.
Ali mesmo, no bairro dos gregos, vamos almoçar num pequeno restaurante que fica na rue Saint Sévérin, quase na esquina com a rue de Harpe. É o "Demi Lune", onde já conheço o gerente, o Nicolas, um grego boa praça que nos recebe com um abraço. Isso agora, em 2014, várias viagens após meu retorno a Paris em 1990. Uma dica: leia nos cartazes e nas pedras de ardósia expostas na porta da maioria dos restaurantes franceses se eles oferecem o "menu" ou a "formule" que consiste na escolha de uma entrada, um prato principal e uma sobremesa entre diversas opções sugeridas, custando praticamente o preço de um único prato. As opções de escolha são sempre muito boas e vale a pena fazer uma refeição completa pagando o preço de um prato.
Depois do almoço volto ao hotel para um rápido cochilo, pois a manhã foi bem intensa (e proveitosa).
Às cinco já estamos novamente na rua.
Bem, desta vez estamos acompanhados de uma pessoa que ainda não conhece Paris. E, como é óbvio, seria obrigatório levá-la até a torre Eiffel, principal cartão postal da cidade. Vamos aproveitar que já conhecemos o ônibus 82 e pegá-lo novamente no ponto final do Jardim de Luxemburgo.
Ainda está claro, na primavera e verão Paris só começa a escurecer perto das dez da noite.
O 82 passa novamente por Montparnasse e os Inválidos, onde descemos pela manhã. Mais à frente, dobra à esquerda e passamos em frente à École Militaire à nossa esquerda e o Champs de Mars à direita, imenso jardim onde Santos Dumont fez suas primeiras experiências com balões no fim do século XIX e início do XX. E, ao fundo do Champs de Mars já a divisamos sobressaindo na paisagem de fim de tarde, a "torrezinha" dos franceses, como costuma chamá-la carinhosamente um amigo meu.
O ônibus dobra à direita mais a frente, entrando na rue du Suffren, seguindo paralelamente ao Champs de Mars até alcançar a margem esquerda do Sena (o "riozinho" dos franceses, com mais de dois mil anos de História). Ali, dobra novamente à direita e tocamos a campainha para descermos no próximo ponto. Andamos mais alguns metros e estamos embaixo da enorme construção de ferro, que se apresenta gigantesca sobre nossas cabeças.
Particularmente, a Torre Eiffel não está entre meus monumentos preferidos de Paris. Assim como também não estão a pirâmide do Louvre e o Beaubourg (Centre Georges Pompidou). Representam uma expressão de modernidade da qual os parisienses procuram veementemente não compartilhar.
A própria Torre Eiffel foi severamente criticada antes, durante e após sua construção. Era para ser demolida após a Exposição de 1890. Acabou ficando por lá e depois tornou-se um dos maiores, talvez o maior símbolo da cidade.
Paris, que foi severamente ras-
gada em suas entranhas durante as obras de reurbanização promovidas pelo barão Haussman no fim do século XIX, hoje resiste bravamente a qualquer modificação que se tenta fazer em sua arquitetura tradicional. Mesmo os prédios antigos que necessitam de fazer reformas hidráulicas ou elétricas, procuram manter as fachadas externas intactas, preservando a arquitetura anterior. Tanto que os novos edifícios que são construídos estão localizados fora da região central da cidade, como no bairro La Défense, por exemplo.
Mas, se a Torre Eiffel tornou-se um símbolo oficial de Paris, o mesmo não se pode dizer da destoante pirâmide colocada como objeto estranho na frente do tradicional prédio do Louvre, hoje talvez o museu mais importante do mundo e, antigamente, moradia de reis e rainhas da história francesa, palco de tão significativos episódios daquele país. Muito menos do rídiculo Centre Georges Pompidou, o horroroso Beaubourg, encravado num local tido como um dos mais tradicionais da cidade, junto ao Chatêlet, ao Hôtel de Ville, a histórica Place de Grève, antigo local das execuções dos criminosos, depois transferido para a Praça da Revolução, que hoje tem o nome de Praça da Concórdia. O Beaubourg nem um prédio é, construção futurista de metal em forma de tubos, pintados em cores extravagantes, destoando completamente da beleza que a história do local contém em todos os antigos edifícios que estão à sua volta. Enfim, há gosto para tudo...
Mas, voltemos à nossa Torre. Depois de enfrentarmos a primeira grande fila para comprar os ingressos (a visita pode ser feita até um andar intermediário ou até o topo, podendo também ser feita por escadas até o primeiro andar), enfrentamos a segunda de igual tamanho que nos permitirá o acesso ao primeiro elevador. Descemos deste, visitamos todo esse andar intermediário e entramos em outra fila para pegar o segundo elevador.
Chegamos, finalmente, ao último andar, onde, na verdade tem-se uma vista deslumbrante de Paris. Ainda está claro, começando a escurecer, as primeiras luzes se acendem, a cidade começa a iluminar-se...
Para mim, a cidade mais bonita que conheço, vista do alto do Pão de Acúcar ou do Corcovado, é o Rio de Janeiro (aí incluída minha querida Niterói, onde fui praticamente criado). Mas, Paris também é linda, fulgurante, especialmente quando o sol começa se por e ela se ilumina...
Descendo da torre e, aproveitando por estarmos no local, podemos continuar nosso "passeio turístico"... Atravessamos a rua em frente ao Sena e pegamos um "bateau mouche" para fazermos o circuito por um dos rios mais famosos do mundo e que traz dentro de si tanta.história guardada em suas águas normalmente tranquilas... O passeio começa em frente à Torre Eiffel, vai até depois da ilha de Saint Louis, passando por toda a região central da cidade, pela Cité e Notre Dame, voltando ao ponto de partida, em frente à torre... Ali mesmo, do lado do Sena, existe um ponto do ônibus 82, que pegamos na direção do Jardim de Luxemburgo, seu ponto final...
Dali, caminhamos até o hotel, que fica a umas três quadras... paramos no caminho para comermos alguma coisa leve e bebermos a taça saideira de vinho... são quase onze da noite, chegamos no hotel... Tomamos uma restauradora ducha e tentamos recuperar nossas forças para o dia seguinte, quando tentaremos continuar nosso passeio, para a visita também obrigatória ao Louvre e arredores...
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