sábado, maio 30, 2015

A BRETANHA

 

 

A BRETANHA

Saint Malo e o Monte Saint Michel

Calfilho
 
 
 
               A segunda cidade francesa de que mais gosto, após Paris evidentemente, é Saint Malo.
               Fica na Bretanha, uma maravilhosa região do oeste da França, bem em frente da costa inglesa, tendo o canal da Mancha a separá-las. Fica abaixo da Normandia, local onde ocorreram os famosos desembarques do Dia D, na Segunda Guerra Mundial.
                Saint Malo é conhecida como cidade corsária, cidade dos marinheiros, dos antigos piratas. Atualmente, existem duas Saint Malo: a antiga, que permanece encerrada "intramuros" e a moderna, fora das muralhas. A cidade, segundo a Wikipédia, foi construída no século I A.C. pelos romanos, que a fortificaram no século 6 D.C.
                 As muralhas ("remparts") foram construídas no século XII pelo bispo Jean de Chatillon, ainda segundo a Wikipédia
St. Malo
St. Malo
         


St. Malo


               Saint Malo foi duramente castigada durante a Segunda Guerra Mundial, praticamente arrasada pela tropas do general americano George Patton, tendo sido quase toda reconstruída anos mais tarde.
                 É uma cidade maravilhosa, totalmente diferente de Paris, com vida e costumes próprios, característicos da Bretanha. Seus restaurantes são maravilhosos, a culinária tem como ponto forte os frutos do mar, principalmente as ostras e os mariscos (as "moules"), tem os crepes como seu prato típico e a cidra como bebida da região.
                "Intramuros", ou seja no interior das muralhas, a cidade fervilha com o movimento contínuo de turistas praticamente o ano todo (mesmo no inverno) que lotam suas lojinhas para comprar souvenirs da região e os restaurantes colados um no outro. Eles veneram Duguay-Trouin, o pirata francês que veio para o Brasil em meados do século XVI e, no Rio de Janeiro, tentou fundar a França Antártica, na ilha que hoje tem o nome de Villegaignon, na baía de Guanabara. As lojinhas exibem pequenas lembranças para os turistas, baseadas sempre em motivos marinhos, como âncoras, camisas listradas de marinheiros, timões, miniaturas de veleiros...
              Famosas também são as "galettes", uma espécie de biscoito amanteigado, vendidos em pequenas latas com as imagens da cidade.
             O meio mais fácil para chegar a Saint Malo, partindo de Paris, é o trem. Pega-se o TGV (train à grande vitesse) na charmosa estação de Montparnasse, bairro tradicional de Paris, onde foi construída uma torre envidraçada, parecida com os edifícios das torres gêmeas, de Nova York, e de onde se tem uma maravilhosa vista da cidade. A estação fica logo atrás da torre. Se estiver com malas e pegar um táxi, peça ao motorista para parar atrás da estação, na rua Comandant Mouchote, onde há uma escada rolante que leva diretamente às diversas plataformas de embarque do TGV. Se não carrega muita bagagem, pegue o ônibus 82 (nosso conhecido) ou o metrô, linha 4, direção Mairie de Montrouge e desça na estação Montparnasse Bienvenue. 
              A estação (gare) de Montparnasse, como a maioria das grandes estações de trem de Paris, atende tanto os passageiros que se destinam a cidades longe da capital, como aquelas mais próximas. Por isso, elas se dividem normalmente em duas, em locais um pouco distantes uma da outra: a principal para as cidades longe de Paris e a secundária para cidades próximas ou subúrbios. Por isso, nas principais estações, você vai encontrar a Montparnasse 1 e 2, Gare de Lyon amarela e azul, o mesmo ocorrendo com a Gare de l'Est.
              Cabe aqui um rápido esclarecimento: a Gare de Lyon liga Paris a cidades como Nice, Marseille, Lyon, e mesmo Turim, Milão, Veneza e Roma. A Gare de L'Est leva os passageiros às cidades do leste da França (Strasbourg, Nancy, Reims, Colmar), bem como a algumas cidades da Alemanha (Stutgart, Augsburg, Munique). A Gare du Nord conduz os viajantes ao norte da França (Lille, por exemplo), como a Bruxelas e Amsterdam. E, de uns anos para cá, depois da inauguração do Eurotúnel, leva e traz diariamente, em vários horários, passageiros de Paris para Londres.
              Existem estações menores, como a Saint Lazare, que serve a cidades da Normandia, como Cherbourg, Deauville, Le Havre, bem como a Rouen e Pontoise. Outra é a estação de Bercy, que só utilizei uma vez, quando peguei um trem noturno para Veneza (esse serviço atualmente é feito pela gare de Lyon), e Austerlitz, onde nunca embarquei.
              As passagens podem ser compradas em bilhetes avulsos (adquiridos pela internet ou através de algumas agências de viagem aqui no Brasil, ou diretamente nos guichês das estações). Se você pretende fazer várias viagens, em trechos longos, talvez o mais cômodo seja adquirir um passe (existem vários, costumo usar o SAVER, destinado para duas ou mais pessoas que viagem juntas), o que torna a viagem bem mais barata. Os passes só são vendidos para pessoas que residem fora do continente europeu e são emitidos para viagens em primeira ou segunda classes, para o número de dias de viagens desejado, e, depois é só fazer a reserva de assentos.
               Praticamente em quase todos os trens europeus de alta velocidade (TGV, na França; Flecha Vermelha ou Branca, na Itália; Thalys, na Bélgica e Holanda; AVE, na Espanha e Lyria, na Suiça, além dos três da Grã Bretanha) a reserva de lugares é obrigatória antes da viagem. Já nos trens regionais, que ligam pequenas cidades, não há necessidade de reserva.
             Para St. Malo, partindo de Montparnasse, atualmente existem TGVs diretos ou com baldeação em Rennes. Até poucos anos atrás, não havia TGV direto, a troca de trens em Rennes era obrigatória.
              Escolhemos um direto, a viagem dura pouco mais de três horas. Chegando na estação de Saint Malo, que fica na parte nova da cidade, pegamos um táxi que nos conduza ao hotel que fica "intramuros"). Viagem curta, pouco mais de 3 quilômetros. Existem vários e bons hotéis. Já fiquei no Hotel du Louvre, no Chateaubriand e, nas últimas viagens hospedamo-nos no Cartier. Fica bem perto da porta Saint Vincent, a principal, que dá acesso ao interior das muralhas.
            Deixamos as malas no quarto e saímos para almoçar. Ali perto, está um restaurante muito bom, o "Lion d'Or", onde fazemos uma refeição farta e correta.
             Mais tarde, passeamos na parte de cima dos "remparts" onde se tem uma vista maravilhosa para o mar e algumas ilhas próximas, inclusive aquela em que está enterrado o poeta francês Chateaubriand. O mar, ali é muito forte, e a maré sobe e desce bastante, e... rapidamente. Nos dias de baixa pode-se ir a pé até algumas das ilhas.
            Perto dali, ao sul, existem duas pequenas cidades, Dinar e Dinan, sem maiores atrativos turísticos. Ao norte, a meio caminho do Mont Saint Michel, fica a cidade de Cancale, famosa por sua produção de ostras.
            Até poucos anos atrás, do lado externo da porta de St. Vincent, havia um estacionamento de ônibus que levavam às cidades da região. Inclusive, havia um, tipo executivo, que levava passageiros daquele local até o Monte St. Michel. Lá, ele aguardava que os turistas passeassem no interior das dependências do local, onde há uma abadia, várias lojas de souvenirs, vários restaurantes, alguns hotéis e até um pequeno museu. Atualmente, parece que esse ônibus parte da estação de trem, já que o estacionamento em frente à porta St. Vincent foi desativado. Pelo menos, foi essa a informação que tive nas duas últimas vezes em que estive em St. Malo (este ano e o passado).
           O Monte St. Michel, considerado uma das oito maravilhas do mundo (seu apelido é "La Merveille"), é uma espécie de fortaleza, construída em pedra.
Fica numa espécie de cabo (acidente geográfico) e, quando a maré sobe os acessos ficam interrompidos e o monte fica isolado do continente.
 
 
Realmente, a vista do Mont Saint Michel é espetacular. Ainda, dentro do ônibus, quando dele nos aproximamos e o vemos crescendo ante nossos olhos, a sensação é de imponência, de algo muito grandioso e belo. E, lá dentro, subindo suas ruas estreitas, no emaranhado de pessoas se cruzando, temos a sensação de estarmos num lugar mágico. É uma visita absolutamente imprescindível para aqueles que   pretendem visitar a França. 
           Ainda, sobre a Bretanha, destaco a cidade de Nantes, que fica abaixo de St. Malo, onde desemboca o rio Loire e, onde, em 1998, eu e um dos meus filhos, o Duda, assistimos o Brasil ganhar de Marrocos por 3 a zero, na segunda partida da equipe brasileira, ainda na fase classificatória da Copa do Mundo de 1998.                              
 
 




terça-feira, maio 26, 2015

A MAGIA DE PARIS 13

 

A MAGIA DE PARIS

Décima terceira parte


O MARAIS...
 
Calfilho
 
 
              Acredito que nas doze últimas publicações que fiz aqui sobre Paris (a palavra "post" não me é simpática) tenha dado àqueles que me honraram com sua leitura minha visão e experiência de viagens que fiz àquela maravilhosa cidade. Paris sempre me atraiu, desde que a conheci em 1957 e, depois, pelas leituras que fiz na minha adolescência, juventude e já como adulto, essa atração em muito aumentou. Finalmente, tive a ventura de lá poder voltar voltar várias vezes após minha aposentadoria e, a cada vez que lá retorno, ela sempre tem uma faceta nova a me mostrar.
               Dos locais que visitei (e, para não cansar muito o leitor, este será o último desta série) um dos que mais gosto é o Marais.
                Fica na margem direita do Sena. É considerado um dos bairros mais antigos de Paris, habitado, na maioria, por judeus.
                  Saindo do nosso boulevard de Saint Michel, atravessamos a Cité e chegamos à Rive Droite, a margem direita do "riozinho". Deixamos para trás, na Cité, do nosso lado esquerdo, a Sainte Chapelle, o Palácio da Justiça e a Conciergerie; do lado direito, a Notre Dame. Caminhamos pelo Boulevard du Palais e, ao deixarmos a Cité, deparamo-nos logo com a grandiosidade do Hotel de Ville (a Prefeitura). Em frente ao magnífico prédio existe uma praça enorme, cimentada, que substituiu a antiga Place de Gréve, onde eram realizadas as execuções com o machado, antes da instalação da guilhotina na Praça da Concórdia.
               Essa praça é famosa entre os parisienses por ser ponto de encontro da população quando faz alguma manifestação importante. Lembro que, em 1998, quando fui com Duda, meu filho mais velho dos homens, assistir alguns jogos do Brasil pela Copa do Mundo, havia um jogo da França contra a Arábia Saudita (segundo me recordo era esse o adversário, não estou certo). Passei, por acaso, pela praça do Hotel de Ville e, realmente, fiquei surpreso com a força  e beleza do espetáculo. O jogo passava num telão, a praça estava repleta: homens, mulheres e crianças. E eles, como se fossem uma só voz, cantavam a plenos pulmões a Marselhesa. E não paravam de cantar... Empolgação parecida só havia visto no Maracanã, mas não com tanta intensidade... E, naquele momento, nem os franceses acreditavam muito em sua seleção de futebol, duvidavam que ela chegasse à final... Se soubessem que seriam campeões acredito que ficariam enlouquecidos...              
Torre de St. Jacques
             Depois de atravessarmos a Praça do Hotel de Ville, estamos no Chatêlet, local famoso da cidade, onde se desenrolaram episódios marcantes da história francesa. No subsolo está uma das maiores redes de conexão do metrô e do RER da cidade, com diversas linhas que lá fazem entroncamento. Na superfície, bem em frente, está a torre de St. Jacques, que foi o que restou de uma igreja, parcialmente destruída durante a Revolução Francesa, em 1793.

Pegando a rua de Rivoli à direita, continuamos nossa caminhada, que vai-se desenvolver por pequenas ruas estreitas, que é a marca registrada do bairro. Passamos pelo prédio feio do Centre Georges Pompidou (o Beaubourg), pela rue du Temple, pela rua des Francs-Bourgeois, até chegarmos à rua de Sevigné, onde está um dos melhores museus de Paris, o Carnavalet. É o museu que conta a história da cidade, passando pela época de sua fundação, pela idade média, pela Revolução Francesa (com uma magnífica maquete da prisão da Bastille, também posta abaixo pela Revolução), depois pela Comuna, até chegarmos ao século XX. É um museu maravilhoso e, melhor, a entrada é grátis.
                As ruas do Marais estão repletas de pequenos comércios, como açougues, padarias, "charcuteries", adegas, casas de queijos,  localizados em prédios antigos e que vendem praticamente de tudo.
                  Ali perto está a não menos famosa Place de Vosges, onde está situada a casa onde morou Victor Hugo. Em outra rua encontramos o Museu Picasso. E, seguindo mais a frente e acima, encontramos a Praça da República, também palco de grandes manifestações (inclusive a recente passeata em homenagem às vítimas do Charlie Hebdo) e a Praça da Bastilha. Nesta última, antes da Revolução, havia a famosa prisão, hoje demolida e que deu lugar a um monumento e a uma ópera.               
                  Na Bastilha, encontramos um pequeno porto, o Arsenal, no canal St. Denis, de onde partem diariamente pequenos barcos tipo "bateau mouche" que fazem o passeio por várias eclusas do canal, chegando até a bacia de La Vilette, local muito bonito e que vale a pena visitar, com várias atrações para as crianças.
                  Bem, essa foi, em 13 capítulos, a Paris que eu aprendi a conhecer e dela ser um grande admirador. Espero ter passado alguma coisa da minha experiência àqueles que pretendem visitá-la, repetindo sempre que essa é a minha impressão particular sobre a cidade, o modo como gosto de vê-la, de percorrer suas ruas, seus monumentos, seus museus, seus cafés e bistrôs. Existem várias outras maneiras de conhecê-la, da mais luxuosa à mais simples possível, mas somente após visitá-la é que realmente nos apaixonamos por ela.
              Nas próximas publicações, tentarei descrever outras cidades da França que visitei e que muito me impressionaram...
 


 

 



sábado, maio 23, 2015

A MAGIA DE PARIS 12

 

 

A MAGIA DE PARIS 12

Décima segunda parte

MONTMARTRE...

Calfilho
 
 
 
 
                  Bem, hoje é domingo e Paris amanhece ensolarada.
                  Dia ideal para visitarmos Montmartre. É um dos bairros mais interessantes da cidade, conhecê-lo é imprescindível. E domingo é o melhor dia para isso, pois fica cheio de gente circulando entre suas vielas, apreciando a famosa catedral de Sacré-Coeur ou admirando os vários pintores exibindo suas telas na conhecida Place de Tertre.
                  Saindo do boulevard Saint Michel, o melhor meio de transporte é o metrô. Montmartre fica um pouco longe, é praticamente um subúrbio de Paris. Pegamos a linha 4, em frente ao "Le Depart" e qualquer das duas direções que tomemos (Porte de Clignancourt ou Mairie de Montrouge) encontraremos uma conexão para descermos perto da Colina ("La Butte", para os parisienses).
                  Preferimos a direção Mairie de Montrouge, porque a baldeação é feita em Montparnasse, estação mais segura e tranquila que Barbés Rochecouart, onde seria feita a baldeação se tivéssemos preferido seguir a outra direção da linha 4, a Porte de Clignancourt. Não há problema maior, apenas gosto mais de fazer a baldeação em Montparnasse, que considero mais movimentada e mais charmosa. Apenas, por curiosidade: aqueles que preferirem fazer a baldeação em Barbés, desçam nessa estação e peguem a linha 2, direção Porte Dauphine, saltando logo na estação seguinte, "Anvers", daí pegando a rua em frente, muito movimentada, e seguir até a praça onde está o "funiculaire", o bondinho do plano inclinada que vai te levar até o alto da colina.
                  Entretanto, vamos seguir a outra opção: pegamos a direção Mairie de Montrouge da linha 4 em Saint Michel, seguimos até Montparnasse Bienvenue e ali fazemos a baldeação para a linha 12, direção Porte de la Chapelle. São várias estações até chegarmos a Abesses,

Estação Abesses do metrô
onde descemos. Atenção: peguem o elevador no interior da estação pois a escadaria que dá acesso à rua é enorme, com vários degraus. Repetindo: as baldeações do metrô, sejam elas quantas forem, são feitas com um único bilhete, desde que você não saia para a rua.
                   Do lado de fora, chegamos a uma pequena praça e pegamos à esquerda a rua Yvone du Tac, caminhando alguns quarteirões até chegarmos à pracinha onde fica o funiculaire. Ali, ainda utilizando um passe de metrô, pegamos o bondinho que nos leva ao alto, onde, majestosa, está a igreja de estilo muçulmano, a Sacré-Coeur de Montmartre. É monumento dos mais importantes e significativos da história da cidade, com inúmeros visitantes a percorrê-la todos os dias. A visita ao seu interior é imprescindível, bem como à cripta subterrânea.


A Sacré Coeur


                  Atravessando o mar de pessoas que se aglomeram ao seu redor, na parte de trás da basílica encontramos a famosa Place du Tertre. É uma pracinha tipicamente parisiense, onde pintores expõem suas obras e alguns caricaturistas ficam em cima de você tentando fazer sua caricatura por um preço nada módico.
                   Lembro-me bem que, em 1988, quando se realizava a Copa do Mundo de Futebol na França, eu e meu filho mais velho dos homens, o Duda, assistimos a dois jogos da fase preliminar: um, em Nantes, Brasil contra o Marrocos, e o outro em Marselha, contra a Noruega. Mas, ficávamos a maior parte do tempo em Paris, curtindo a movimentação de várias pessoas de diversos países e línguas diferentes que circulavam pela cidade, enchendo seus bares de alegria, música e festa.
                  E, na Place du Tertre, sempre lotada de gente, assistíamos, sentados nas cadeiras do lado de fora de um bistrô, bandas de música alemães, escocesas, holandesas, inglesas, tocando a plenos pulmões nos bares vizinhos, uns desafiando os outros, enquanto a multidão que por ali passava aplaudia delirantemente.

Place du Tertre
                   Montmartre, historicamente, tem grande importância na vida de Paris. Dali, saiu a segunda Revolução Francesa, a Comuna, em meados do século XIX, logo após a derrota da França para a Prússia (1870). A basílica começou a ser construída em 1875 e só foi concluída em 1914.
                   É um passeio delicioso, circular por entre suas vielas, apreciar as telas dos pintores na Place du Tertre, e, se tiver tempo, vale a pena almoçar num de seus diversos restaurantes ou bistrôs que se encontram por toda a região, sentindo, de perto, toda a atmosfera do bairro boêmio. Aliás, Montmartre é conhecida principalmente por isso, por ser um bairro típico da boemia parisiense, reduto onde residiram pintores, escultores e escritores famosos.
                  Para descermos da colina, vamos escolher um pequeno ônibus que circula serpenteando entre suas ruas estreitas: o Montmartre bus. Usa-se aqui também o bilhete do metrô.
                   Chegando em baixo, saltamos no Boulevard de Clichy, onde fazemos uma pequena caminhada, passando por vários cabarés e lojas com apelo sexual, até chegarmos ao famoso Moulin Rouge.


Le Moulin Rouge


                       Bem, nossa visita a Montmartre está chegando ao fim. Ali mesmo, no Boulevard Clichy, pegamos o ônibus numero 30 e saltamos na av. Kleber, depois do Arco do Triunfo. Ali pegamos o 82, saltando no ponto final, no Boulevard Saint Michel, ao lado do Jardim de Luxemburgo.


 


sábado, maio 02, 2015

A MAGIA DE PARIS 11

LOUVRE E ADJACÈNCIAS

Décima primeira parte

Calfilho

                   Deixando o cinquième, podemos chegar ao Louvre de quatro formas formas: de ônibus, de metrô, de taxi ou a pé. Como, aliás, chegamos a qualquer lugar em Paris.
De ônibus, pegamos o de no. 21 ou 27 num dos pontos do boulevard Saint Michel (direção Gare de Saint Lazare). O primeiro te deixa em frente e o segundo ao lado do museu.
De metrô, pegamos a linha 4 na estação Saint Michel (direção porte de Clignancourt), fazemos baldeação na estação Châtelet e pegamos a linha 1 (direção La Défense), saltando na estaçâo Palais Royal e estamos do lado do Louvre.
De taxi, é claro que basta indicar ao motorista onde pretende ir que ele te deixará lá.
Preferimos fazer o percurso a pé, tentando reviver o trajeto que os condenados à guilhotina faziam quando deixavam a prisão da Conciergerie na carreta que os conduzia à antiga Praça da Revolução (hoje, Praça da  Concórdia), onde o carrasco Sansom os aguardava (se tiverem interesse e paciència, consultem meu livrinho "O RENASCER", onde conto a história de um desses condenados).
Deixando o Boul'mich, atravessamos a ponte que nos leva à Cité. Aí, seguindo reto, pegamos o boulevard.du Palais, passando em frente à Sainte Chapelle, ao Palácio da Justiça e à parte lateral da Conciergerie, a famosa.prisão da época da Revolução Francesa.
Deixando a Cité, atravessamos a mesma ponte que os condenados também atravessavam, chegando ao Châtelet para alcançar a rua Saint Honoré. Ali, dobramos à esquerda, passamos por várias ruas menores até chegarmos à rua Royale, onde a carreta dos condenados dobrava novamente à esquerda. Dali eles já a divisavam, terrível e fria como a lâmina que iria cortar-lhes a cabeça: a temida guilhotina...
É um percurso maravilhoso ( para nós, não para os condenados), parece que somos transportados para 1794, o período do Terror da Revolução Francesa, o xingamento do povo que acompanhava o trajeto da carreta, o rufar dos tambores dos soldados que escoltavam o cortejo, tudo isso parece ressoar em nossa cabeça enquanto caminhamos tranquilamente pela rua Saint Honoré.
No meio desse caminho, antes de atingir arue Royale, entramos por uma porta lateral que dá acesso ao Louvre. Isso, se tivermos comprado o passe "Paris Museum"; se não o tivermos, teremos que entrar pela porta principal, a da pirâmide. Aí, enfrentamos a primeira fila, para descermos até o enorme pátio que dá acesso às galerias. Vamos até a segunda fila, para comprar o ingresso. Com ele nas mãos, escolhemos a galeria pela qual entraremos. Sugiro a DENON, onde estão três das principais obras do Louvre: a Vênus de Milo, a Vitória de Samitrace e a Mona Lisa (Gioconda).
Sugiro, também, que apanhem um mapinha do museu, pois é bem fácil perder-se na imensidão e complexidade de suas galerias. Alguém já disse que, para conhecer bem o Louvre são necessários três dias inteiros de visita. Ouso acrescentar que, para os realmente "experts" em arte, talvez dez dias seja pouco. Em matéria de pintura e escultura talvez não haja local igual no mundo inteiro. Existem galerias enormes contendo obras da antiguidade grega, romana, mulçumana, abissínia, egípcia (com suas múmias e esfinges), pinturas de espanhóis, italianos, franceses, holandeses. Uma entre as muitas que gosto de visitar fica num dos subsolos do museu e conta a históroa de sua construção. Enfim, o Louvre é gigantesco, maravilhoso, imponente, chega a doer na alma sua grandiosidade.
Após o verdadeiro banho de cultura que representa a visita ao Louvre, deixamos o museu pela feia pirâmide colocada como objeto estranho.na sua frente. Passamos pelo arco do Carrossel do Louvre e alcançamos o Jardim das Tulherias, uma imensa área verde que vai até a Praça da Concórdia. Nesse local havia um grande castelo que serviu de moradia para alguns reis franceses e até para o imperador Napoleão Bonaparte. Foi demolido na época da Comuna, uma segunda mini Revolução Francesa, ocorrida em meados do século XIX, bem descrita por Victor Hugo, em sua obra imortal "OS MISERÁVEIS". Os franceses, que gostam tanto de preservar seus prédios antigos, demonstrando grande respeito pela conservação  de sua arquitetura secular, infelizmente derrubaram prédios históricos de relevância, como a prisão da Bastilha e o palácio das Tulherias. Chegando ao fim do grande jardim, do lado esquerdo, margeando o Sena, encontra-se um pequeno museu, pouco badalado, mas de indiscutível valor artístico, o "L'Orangerie", que contém várias das "Nympheas" de Claude Monet. Vale a pena uma visita, principalmente para os admiradores da obra do grande pintor impressionista.
Voltamos às Tulherias e, em frente, está a famosa Praça da Concórdia. Do seu lado direito (para quem segue em direção ao Arco do Triunfo), existe um monumento erguido no local onde ficava instalada a guilhotina na época da Revolução Francesa. Um outro monumento idêntico fica no lado esquerdo da praça. E, no centro, há um grande obelisco, com vários dizeres escritos em hieroglifos, presente dos egípcios aos franceses. A praça da.Concórdia, antes chamada
Praça da Revolução foi palco de importantes execuções de personagens célebres da história francesa, como Danton, Robespierre, o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta. Ali foi instalada a temida guilhotina em substituição ao machado, utilizado no início das execuções na antiga Place de Grève, para dar maior celeridade ao cumprimento das condenações obtidas pelo temido promotor Fouquier Tinville (que também acabou guilhotinado).
Prosseguindo em nossa caminhada, atravessamos com cuidado a rua que vai dar acesso à famosa avenida dos Champs Elysées, apelidada por muitos como a "Passarela do mundo", já que por ela transitam diariamente pessoas de todos os cantos do universo, ouvindo-se idiomas diferentes em cada uma de suas esquinas, enormes magazines, luxuosos restaurantes.
A Champs Elysées é uma larga avenida, por onde transitam veículos nas duas mãos de direção, margeada por duas espaçosas calçadas onde pessoas do mundo  inteiro fazem o seu "footing". Tem numa de suas extremidades o Arco do Triunfo, na praça da Etoile, e a Praça da Concordia, na outra. Caminhando vagarosamente por uma de suas calçadas, vemos crescer o famoso Arc du Triomphe, mandado construir por Napoleão Bonaparte para celebrar suas vitórias nas guerras europeias. É um monumento muito bonito, com o exterior todo trabalhado, contendo o nome das vitórias napoleônicas. Na sua parte de baixo, no centro, encontra-se uma pira com o fogo sempre aceso, em homenagem ao "soldado desconhecido" francês morto em campo de batalha. Pode-se subir até o seu topo, pela escada ou elevador. A subida é paga, estando incluìda no passe dos museus e monumentos. Lá em cima existe uma exposição sobre sua construção e acontecimentos marcantes da história francesa que ali tiveram lugar.
Do Arco do Triunfo partem doze avenidas (entre elas a Champs Elysées), formando o desenho de uma estrela, daí.ser denominada Place d'Étoile.
Bem, ali pegamos o metrô da linha 1, direção Château de Vincennes' fazemos uma baldeação no Châtelet com a linha 4, direção Porte d'Orléans, para descermos na estação Saint Michel.
Pronto, estamos de volta ao Quartier Latin.

A MAGIA DE PARIS 10

 
                   Décima parte

            DANDO UMA DE TURISTA...

                                      Calfilho

   
            Após visitarmos com calma o Orsay e nos deliciarmos com o melhor do movimento impressionista, pegamos o RER fora do museu e descemos na estação Saint Michel. Estamos de volta ao nosso porto seguro, o Quartier Latin.
             Ali mesmo, no bairro dos gregos, vamos almoçar num pequeno restaurante que fica na rue Saint Sévérin, quase na esquina com a rue de Harpe. É o "Demi Lune", onde já conheço o gerente, o Nicolas, um grego boa praça que nos recebe com um abraço. Isso agora, em  2014, várias viagens após meu retorno a Paris em 1990. Uma dica: leia nos cartazes e nas pedras de ardósia expostas na porta da maioria dos restaurantes franceses se eles oferecem o "menu" ou a "formule" que consiste na escolha de uma entrada, um prato principal e uma sobremesa entre diversas opções sugeridas, custando praticamente o preço de um único prato. As opções de escolha são sempre muito boas e vale a pena fazer uma  refeição completa pagando o preço de um prato.
            Depois do almoço volto ao hotel para um rápido cochilo, pois a manhã foi bem intensa (e proveitosa).
            Às cinco já estamos novamente na rua.
            Bem, desta vez estamos  acompanhados de uma pessoa que ainda não conhece Paris. E, como é óbvio, seria obrigatório levá-la até a torre Eiffel, principal cartão postal da cidade. Vamos aproveitar que já conhecemos o ônibus 82 e pegá-lo novamente no ponto final do Jardim de Luxemburgo.
            Ainda está claro, na primavera e verão  Paris só começa  a escurecer perto das dez da noite.
            O 82 passa novamente por Montparnasse e os Inválidos, onde descemos pela manhã. Mais à frente, dobra à esquerda e passamos em frente à École Militaire à nossa esquerda e o Champs de Mars à direita, imenso jardim onde Santos Dumont fez suas primeiras experiências com balões no fim do século XIX e início do XX. E, ao fundo do  Champs de Mars já a divisamos sobressaindo na paisagem de fim de tarde, a "torrezinha" dos franceses, como costuma chamá-la carinhosamente um amigo meu.
             O ônibus dobra à direita mais a frente, entrando na rue du Suffren, seguindo paralelamente ao Champs de Mars até alcançar a margem esquerda do Sena (o "riozinho" dos franceses, com mais de dois mil anos de História). Ali, dobra novamente à direita e tocamos a campainha para descermos no próximo ponto.       Andamos mais alguns metros e estamos embaixo da enorme construção de ferro, que se apresenta gigantesca sobre nossas cabeças.
           Particularmente, a Torre Eiffel não está entre meus monumentos preferidos de Paris. Assim como também não estão a pirâmide do Louvre e o Beaubourg (Centre Georges Pompidou).  Representam uma expressão de modernidade da qual os parisienses procuram veementemente não compartilhar.
            A própria Torre Eiffel foi severamente criticada antes, durante e após sua construção. Era para ser demolida após a Exposição de 1890. Acabou ficando por lá e depois tornou-se um dos maiores, talvez o maior símbolo da cidade.
Paris, que foi severamente ras-
gada em suas entranhas durante as obras de reurbanização promovidas pelo barão Haussman no fim do século XIX, hoje resiste bravamente a qualquer modificação que se tenta fazer em sua arquitetura tradicional.        Mesmo os prédios antigos que necessitam de fazer reformas hidráulicas ou elétricas, procuram manter as fachadas externas intactas, preservando a arquitetura anterior. Tanto que os novos edifícios que são construídos estão localizados fora da região central da cidade, como no bairro La Défense, por exemplo.
           Mas, se a Torre Eiffel tornou-se um símbolo oficial de Paris, o mesmo não se pode dizer da destoante pirâmide colocada como objeto estranho na frente do tradicional prédio do Louvre, hoje talvez o museu mais importante do mundo e, antigamente, moradia de reis e rainhas da história francesa, palco de tão significativos episódios daquele país. Muito menos do rídiculo Centre Georges Pompidou, o horroroso Beaubourg, encravado num local tido como um dos mais tradicionais da cidade, junto ao Chatêlet, ao Hôtel de Ville, a histórica Place de Grève, antigo local das execuções dos criminosos, depois transferido para a Praça da Revolução, que hoje tem o nome de Praça da Concórdia. O Beaubourg nem um prédio é, construção futurista de metal em forma de tubos, pintados em cores extravagantes, destoando completamente da beleza que a história do local contém em todos os antigos edifícios que estão à sua volta. Enfim, há gosto para tudo...
           Mas, voltemos à nossa Torre. Depois de enfrentarmos a primeira grande fila para comprar os ingressos (a visita pode ser feita até um andar intermediário ou até o topo, podendo também ser feita por escadas até o primeiro andar), enfrentamos a segunda de igual tamanho que nos permitirá o acesso ao primeiro elevador. Descemos deste, visitamos todo esse andar intermediário e entramos em outra fila para pegar o segundo elevador.
            Chegamos, finalmente, ao último andar, onde, na verdade tem-se uma vista deslumbrante de Paris. Ainda está claro, começando a escurecer, as primeiras luzes se acendem, a cidade começa a iluminar-se...
          Para mim, a cidade mais bonita que conheço, vista do alto do Pão de Acúcar ou do Corcovado, é o Rio de Janeiro (aí incluída minha querida Niterói, onde fui praticamente criado). Mas, Paris também é linda, fulgurante, especialmente quando o sol começa se por e ela se ilumina...
       Descendo da torre e, aproveitando por estarmos no local, podemos continuar nosso "passeio turístico"... Atravessamos a rua em frente ao Sena e pegamos um "bateau mouche"  para fazermos o circuito por um dos rios mais famosos do mundo e que traz dentro de si tanta.história guardada em suas águas normalmente tranquilas... O passeio começa em frente à Torre Eiffel, vai até depois da ilha de Saint Louis, passando por toda a região central da cidade, pela Cité e Notre Dame, voltando ao ponto de partida, em frente à torre... Ali mesmo, do lado do Sena, existe um ponto do ônibus 82, que pegamos na direção do Jardim de Luxemburgo, seu ponto final...
       Dali, caminhamos até o hotel, que fica a umas três quadras... paramos no caminho para comermos alguma coisa leve e bebermos a taça saideira de vinho... são quase onze da noite, chegamos no hotel...  Tomamos uma restauradora ducha e tentamos recuperar nossas forças para o dia seguinte, quando tentaremos continuar nosso passeio, para a visita também obrigatória ao Louvre e arredores...