terça-feira, maio 29, 2007

O craque...

O craque...


Calf






O menino pobre, recém-saído da adolescência, assumia prematuramente as responsabilidades do homem adulto. Engravidara Luciana, a namorada de infância, ela com apenas quinze anos de vida, também uma menina pobre como ele. Mesmo que o pai da moça não o tivesse chamado às falas, ele não iria fugir à responsabilidade. Fora ele quem a “embuchara”, deveria deixar a criança nascer e casar-se com ela. Pouco importava se o emprego de salário mínimo na pequena fábrica de tecidos da cidade do interior mal desse para satisfazer suas menores despesas. Ia se virar, construir um barraco num terreno vazio qualquer da localidade, ali iria morar com Luciana e a criança e formar sua família.
Mas, seu grande sonho era ser jogador de futebol, ganhar dinheiro, ficar rico, ir morar no Rio de Janeiro. Nos estudos, nunca fora grande coisa, mal terminara o primário. Então, somente o futebol poderia fazer com que melhorasse de vida. Lá na sua cidade, era considerado disparado, aos vinte anos de idade, o melhor jogador de toda a região, que ia de Caxias, passava por Nova Iguaçu, Magé e chegava a outros centros maiores do futebol de várzea. Quando seu time ia jogar nessas localidades, os campinhos logo se enchiam para ver o ponta-direita endiabrado, que driblava todo mundo e levava à loucura os zagueiros adversários.
Ouvindo conselhos de amigos, foi tentar uma vaga no Fluminense, lá no Rio. Quando o treinador o viu, enfileirado junto com outros que iriam fazer a “peneira”, após olhar para suas pernas tortas, logo o dispensou, dizendo para o seu auxiliar que “agora até aleijado tenta ser jogador de futebol”. Sem ao menos vê-lo treinar, sem ao menos deixá-lo calçar as chuteiras. Jurou que nunca mais iria tentar treinar num time profissional.
Mas, agora, com a gravidez de Luciana e o casamento, acabou aceitando o convite de um olheiro do Botafogo para ir lá “dar um treininho, para ver se você aprova”. Foi, e quase que a cena se repetiu. O treinador, Gentil Cardoso, quando olhou para suas pernas tortas, ia tomar a mesma decisão que seu colega do Fluminense: mandá-lo embora sem ao menos treinar. Mas, como só tinham três jogadores para a “peneira” naquela tarde, mandou que ele trocasse de roupa. Já no campo, colocou-o na ponta-direita da equipe reserva. Iria ser marcado pelo então famoso Nilton Santos, considerado o melhor lateral esquerdo do Brasil.
O resto da história a maioria de vocês já conhece...

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