sábado, novembro 21, 2015

A RUA DA CONCEIÇÃO...

                             


                            A RUA DA CONCEIÇÃO...

                                                
                                                  
                                                   Calfilho

               

             Uma das ruas mais importantes de Niterói nos anos 50 do século passado talvez tenha sido a rua da Conceição.
             Começando na rua Visconde do Rio Branco (antiga rua da Praia), na altura da Casa de Saúde Santa Cruz muda de nome, passando a chamar-se Dr. Celestino, que vai até a rua Marquês do Paraná.
              Não resta dúvida que a Av. Amaral Peixoto, que antes chamava-se Duque de Caxias, na época passou a homenagear o então governador do Estado (antes interventor, genro que era do ex e novamente presidente do Brasil, em 1950, Getúlio Vargas), era a mais imponente, a mais larga e a mais importante da cidade, a capital do antigo Estado do Rio de Janeiro.
              Mas, a grande rua do comércio de Niterói era a Conceição. Convido os amigos da minha geração a me acompanharem num breve retorno aos anos 50 para relembrarmos quais as lojas que existiam na rua da Conceição, principalmente na sua primeira quadra, entre a Visconde do Rio Branco e a também Visconde, só que do Uruguai. Lógico que não me lembro de todas. Se, eventualmente, cometer algum erro ou omissão,  por favor, corrijam-me.
           Aos mais novos, principalmente o Benites e o Fábio (este, não conheço pessoalmente), vai aqui um depoimento que talvez possa ajudá-los na excelente pesquisa que fazem sobre a história de Niterói. Deixo aqui a sugestão para que, aqueles que ainda não conhecem a matéria, procurem saber o que os dois estão trazendo sobre a memória de nossa cidade, num grupo criado pelo Fábio no Facebook, "História de Niterói". Inclusive com uma rica memória fotográfica.
             Vamos tentar subir a Conceição. Do lado direito, bem na esquina, um famoso café, onde a sociedade niteroiense da época saboreava  um gostoso cafezinho, enquanto grande parte da população corria apressada para pegar a barca que iria conduzir os "fluminenses" que trabalhavam no vizinho Rio de Janeiro. Era o Café Santa Cruz, que, no sobrado funcionava como sinuca, coisa que não era muito bem vista na época...
           Aqui, fujo do roteiro que inicialmente tracei: é que, na Visconde do Rio Branco, ao lado esquerdo do Café Santa Cruz, funcionava o famoso HIDROLYTOL, que estampava em letras "garrafais" seu famoso "slogan":  "SE O ÁLCOOL TE ATROFIA, O HIDROLYTOL TE ALIVIA". Essa loja funcionou por muitos anos, no mesmo endereço, chegando a mudar de nome para HIDROVITA, na década de 60. Ali, podia-se beber o Hidrolytol no balcão, ou comprar as garrafas e o pó para fazer o miraculoso medicamento em casa..
            E, bem ao lado da loja  do HIDROLYTOL, ainda na rua da Praia (Visc. Rio Branco) funcionava a melhor padaria de Niterói, a "PÃO QUENTE", também conhecida como Padaria Modelo...
              E, ao lado da padaria, o elegante cinema Central, o mais moderno da cidade, que também apresentava uma sessão aos domingos, às 10 da manhã.
              Volto à rua da Conceição. Ainda do lado direito, depois do café da esquina, o bar mais moderno de Niterói: o Riviera, com seu grande aquário de peixes incrustado na parede, logo na entrada, do lado esquerdo. Fui freguês assíduo e fiz uma grande amizade com um dos sócios, o José Mendes da Silva, para mim, o Zezinho português.
               Continuando a subida da rua, ainda do lado direito, ficava a Drogaria Barcellos. Do outro lado da rua, bem em frente, a tradicional Leiteria Brasil, que ali funcionou por vários anos, ponto de encontro da alta sociedade niteroiense, inclusive do governador Amaral Peixoto, que ali costumava almoçar ou jantar com a família. Antes de chegar na Brasil, num terreno vazio ali existente, durante algum tempo o "faquir" Jathan ali instalou sua tenda...
              Voltemos ao lado direito.
               Depois da Drogaria Barcellos funcionava a confeitaria "Sportiva". Ali ficavam expostos nos balcões, atrás de grossos  vidros, deliciosos salgadinhos e maravilhosos doces. Cansei de levar para casa os gostosos pastéis de camarão e algumas fatias de saborosas tortas. No fundo, do lado direito, funcionava um pequeno bar, onde eram servidas doses generosas do autêntico whisky escocês. Mas, naquele tempo, só íamos até o barzinho da "Sportiva" em ocasiões especiais (aniversários ou aprovações nos exames de final de ano no Liceu), pois a grana era muito curta...
               Do outro lado da rua, em frente à "Sportiva", foi inaugurada, no final da década de 50, a Sorveteria Italiana, que logo fez sucesso na cidade, por oferecer sorvetes de fabricação diferente das tradicionais marcas Kibon e Nestlé.
               Em frente à Sorveteria Italiana, voltando ao lado direito da Conceição, logo depois da "Sportiva", ficava a tradicional Farmácia Ponciano, com seu extenso balcão de madeira e belas vitrines onde estavam expostos os remédios, muitos ainda de fabricação artesanal, medidas as porções em uma antiga balança de dois pratos que ficava no fundo do estabelecimento, junto ao caixa.
                Ainda do lado esquerdo funcionava a antiga e tradicional Casa Borges, especializada na venda de materiais de construção, pregos, parafusos, martelos, etc... O dono, um português, acabou construindo o Edifício Borges, na Amaral Peixoto...
                 Em frente, do outro lado da rua, a loja das Óticas Fluminense, que, durante muitos anos tratou dos olhos dos niteroienses...
                Do lado esquerdo, colada à casa Borges, havia uma padaria, que, no final da década de 50, início dos anos 60, era o ponto de encontro dos jovens nas tardes de Carnaval, onde apreciávamos os vários desfiles de blocos, a rua da Conceição lotada de gente fantasiada, aproveitando o Carnaval de rua que hoje não existe mais. Depois, à noite, uma rápida passada em casa para em seguida partirmos para os bailes nos clubes: Canto do Rio, Regatas, Central, Gragoatá, Fonseca, Humaitá, Fluminensinho...
              Acho que nenhum desses estabelecimentos sobreviveu ao tempo e ainda existe atualmente.
               A Niterói de hoje está um pouco mudada, não?
              

domingo, novembro 15, 2015

JATHAN, O FAQUIR...

               
              

               JATHAN, O FAQUIR...



                                                Calfilho



                 Nos anos finais da década de 50, talvez em 1957 ou 1958, no Rio de Janeiro, surgiu um homem apresentando-se como faquir, anunciando que tentaria bater o recorde mundial de fome. Isto é, ficaria vários dias sem ingerir qualquer tipo de alimento. No máximo, um pouco de suco de laranja, que ser-lhe-ia administrado diariamente sob a severa fiscalização de um funcionário do governo.
                    Instalou-se ele num salão do prédio onde funcionava o famoso cinema Cineac Trianon, na avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro.
Foi trancado numa urna de vidro, com alguns pequenos orifícios para a renovação do ar. Vestindo uma espécie de túnica branca, ostentando uma barba negra, deitou-se numa cama de pregos rombudos. Duas grandes  cobras em volta do corpo completavam a figura de um  verdadeiro faquir.
                      Seu nome era Silki e a TV Tupi, então a principal emissora de televisão do país, transmitiu ao vivo o momento em que a urna foi lacrada com grossas correntes e poderosos cadeados. Todos os dias eram dados boletins sobre o andamento do desafio, mostrando como Silki emagrecia aos poucos. Uma espécie de placar, ao lado da urna, era atualizado diariamente, mostrando quantos dias de fome se passavam. O fiscal do governo, de terno, gravata e óculos com aro de tartaruga, sempre aparecia nas reportagens ao lado da urna, atestando a lisura do acontecimento.
                    Quem desejasse entrar no recinto e ver com os próprios olhos o já famoso faquir, pagava uma módica quantia pelo ingresso.
                    O desafio continuou por vários dias, Silki realmente emagrecia a olhos vistos. Até que, num determinado dia, um médico do Ministério da Saúde decidiu examinar o faquir e, verificando a gravidade do seu estado, decidiu suspender o desafio e mandá-lo imediatamente para o hospital. Mas, o recorde mundial da fome fora quebrado...
                   Passados alguns poucos meses, aproveitando a onda de sucesso do agora famoso Silki, Niterói anunciava com orgulho que um outro faquir iria tentar quebrar o recorde de Silki. Seu nome era Jathan.
                    Armou uma tenda de lona na rua da Conceição, lado esquerdo de quem sobe (acho que hoje ali foi construído o edifício Galeria Paz, não tenho certeza), ao lado da antiga Leiteria  Brasil.
                      No interior da tenda, Jathan, ainda um pouco gordo, vestindo uma túnica de cor verde, ostentando uma barba rala, deitou-se também numa cama de pregos, ali aguardando os espectadores que pagavam ingresso para vê-lo.
                       Do lado de fora, um senhor vestido com uma roupa espalhafatosa, tipo daquelas usadas por mestres de apresentação dos circos, anunciava, aos berros:
                        -- Entrem, entrem, venham ver Jathan, o faquir que vai quebrar o recorde da fome, o homem que vai derrotar o famoso Silki.
                         Também, do lado de fora da tenda, aparecia um painel onde eram marcados os dias em que Jathan fazia greve de fome.
                          Jathan durou ali pouco tempo. Descobriu-se, após um mês de "fome", que ele estava mais gordo do que quando começara o "desafio"... Um repórter indiscreto descobriu que, de madrugada, alguém levava-lhe uma lauta refeição...
                           A tenda foi desarmada rapidamente e Niterói perdeu o seu faquir...

domingo, novembro 08, 2015

LÍNGUA QUEIMADA...

                 

QUEIMEI A LÍNGUA...

                                                   Calfilho
              


 Na última matéria que escrevi aqui, teci vários elogios sobre a qualidade, conforto e eficiência dos trens europeus... Elogiei também a praticidade (já que a maioria têm estações no centro das cidades) e a pontualidade desse meio de transporte na Europa...
                 Para quê...  Hoje, 8 de novembro, deveríamos pegar um "FRECCIA ROSSA" da estação Santa  Maria Novella, em Florença, para a Roma Termini. É um trem rápido, de altíssima velocidade, semelhante àquele em que viemos de Turim para Veneza, no último domingo.
                  O horário de partida era 9 horas e 4 minutos. Por isso , deixamos o hotel, quase ao lado da estação, pouco antes das 8 horas, pois ainda pretendíamos tomar o café da manhã antes de embarcarmos.
                Acompanhando atentamente os horários de chegada e partida dos vários trens no grande painel da estação, sofremos a primeira decepção: nosso trem, que vinha de Milão com destino final Nápoles, estava com um atraso de 30 minutos...  Era de espantar, pois um atraso tão grande pouquíssimas vezes vi acontecer... Enfim, paciência, o jeito era aguardar... ainda bem que não tínhamos nenhuma conexão a fazer e estávamos adiantados em relação à hora do check-in no hotel que reserváramos em Roma...
                 Mas, os 30 minutos se esgotaram... e mais 15... só então apareceu no painel a indicação do número de nossa plataforma de embarque...
                 Dirigimo-nos rapidamente para ela, acreditando que nosso trem logo chegaria. Outra decepção: demorou... demorou...
                  Nenhuma explicação nos painéis espalhados pela plataforma, nenhuma notícia pelo serviço de alto-falante...
                   Alguns passageiros, entre aqueles que estavam espalhados pela plataforma, já ensaiavam ir embora, carregando suas malas e reclamando muito (a grande maioria orientais, que lotam atualmemte as cidades europeias).
                 Finalmente, lá pelas 10 e 20, veio o anúncio: nosso trem estava chegando...
                  Desembarque e embarque de passageiros, só deixamos Florença às 10 horas e 36 minutos... um atraso de uma hora e 32 minutos...
                   Já a  caminho de Roma, quando veio o fiscal conferir as passagens, uma vaga explicação sobre o atraso: um incêndio que teria ocorrido numa das estações intermediárias. O alto-falante do trem informou que os passageiros que tivessem perdido alguma conexão teriam direito a uma indenização...
                É, parece que queimei mesmo a língua no quesito pontualidade...
               Não se pode elogiar...
                
                   

segunda-feira, novembro 02, 2015

TRENS EUROPEUS...

                   TRENS EUROPEUS...

                                                                                                                    Calfilho

                      




 Fiz ontem, dia primeiro de novembro, uma viagem bastante interessante, saindo da estação ferroviária TORINO PORTA NUOVA para chegar na outra denominada VENEZIA STA. LUCIA. O trem, um dos mais modernos da Europa, foi o veloz "Flecha Branca", similar ao já famoso TGV francês. Saímos de Turim às 11hs. e 10 min. e chegamos em Veneza às 15 hs. e 40 minutos.     
             Paramos por alguns minutos em outras estações para desembarque e embarque de alguns passageiros. Entre elas MILANO CENTRALE, VERONA PORTA NUOVA, BRESCIA, PADOVA, VERCELLI, VICENZA, NOVARA e VENEZIA MESTRE.
                 A longa viagem de 4 horas e meia transcorreu muito bem. Por ter sido num domingo, nosso vagão estava relativamente vazio, sem o grande movimento de dias úteis da semana. Pudemos, assim, apreciar com bastante tranquilidade, a bela paisagem daquela região do norte da Itália, que compreende o vale do rio Pó, famoso por sua cultura de uva e produção de excelentes vinhos, passando por cidades que ficam num dos lados do lago Garda (Peschiera, Desenganio, Sirmione), até chegarmos ao Veneto, onde a beleza do mar nos encanta os olhos.
             A travessia, de pouco mais de dez minutos, entre as estações de VENEZIA MESTRE e VENEZIA STA. LUCIA é simplesmente extasiante...
             Os trens dos principais países europeus chegaram atualmente a um grau de qualidade e eficiência extraordinários. Velozes, pontuais, limpos e confortáveis, fazem a rápida ligação entre quase todas as cidades do continente. E, melhor ainda: normalmente, saem e deixam o viajante no centro das cidades, sendo-lhe fácil o deslocamento para outros lugares nas proximidades.
                  Na França, Itália, Áustria, Alemanha, Holanda, Bélgica e mesmo na Espanha e Portugal mais recentemente, pode-se classificar o serviço ferroviário como quase impecável. Talvez, as frequentes greves dos funcionários atrapalhem um pouco o turista que planeja sua viagem com antecedência, mas, particularmente, só tive um ou dois problemas com isso, encontrando rapidamente uma segunda opção de locomoção. Apenas isso, o resto funciona como um relógio...
              Dias antes, quando fui de Paris para Londres pelo Eurostar, atravessando o canal da Mancha em apenas 20 minutos, vi também como funcionam bem sincronizados os serviços ferroviários entre os dois países. E, na Grã-Bretanha, comprovei a eficiência da rede britânica quando fui e voltei, em poucas horas, de Londres para Edimburgo, na Escócia.
              Enquanto isso, nós no Brasil ainda não temos nem uma ligação ferroviária entre nossas duas maiores cidades, tendo a população que entre elas se desloca diariamente, a trabalho, que enfrentar longas filas em aeroportos ultrapassados, além de sofrer com o trânsito sempre congestionado  dessas cidades até chegar ao seu destino...
             Pena que tínhamos uma rede ferroviária implantada em quase todo o interior do Brasil (os mais velhos devem recordar do trem entre Rio e Petrópolis e Rio e Nova Friburgo) e isso tudo foi abandonado, entregue às moscas...
              Enfim, nossas rodovias são impecáveis....