Li hoje, na página da AMAERJ, a notícia do falecimento do desembargador Alberto Motta Moraes, que muito me entristeceu. Apesar de não sermos amigos íntimos, éramos mais que apenas simples colegas de profissão.
Conheci-o em 1959, quando eu tinha 17 anos de idade (ele talvez meses mais velho). O Liceu Nilo Peçanha, colégio de ensino médio de Niterói, ia fazer uma excursão de uma semana a Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, onde disputaríamos várias modalidades esportivas. Aquela seria, talvez, a maior "aventura" que o Grêmio do Liceu iria realizar em vários anos, pois éramos um colégio público, sem recursos para custear uma excursão de tal porte. Os alunos, alguns de classe média, mas muitos outros sem muitas condições financeiras, iríamos realizar, talvez, o maior sonho de nossa adolescência. Conseguimos as passagens de trem gratuitas com a Secretaria de Educação, os alunos do Liceu de Cachoeiro nos prometeram alimentação com suas famílias, o ginásio de esportes local foi improvisado como dormitório.
O então diretor do Liceu foi contra, mas decidimos ir mesmo assim.
No dia do embarque, num fim de noite, íamos finalmente embarcar na antiga estação ferroviária de Niterói, na Av. Feliciano Sodré, quando nosso craque de futebol, o Nélio Bastos, chegou acompanhado de um rapaz da nossa idade, perguntando aos diretores do Grêmio se ele poderia ir conosco:
-- Esse aqui é o Motinha, Alberto Mota. Ele estuda no Plínio Leite e é campeão de natação. Pode viajar com a gente?
Como sobravam passagens e não tínhamos nenhum aluno bom em natação, logo aceitamos.
Ele rapidamente se entrosou com todos nós. Alegre, expansivo, brincalhão, já estava enturmado quando o trem chegou em Cachoeiro.
Curtiu conosco aquela semana de sonhos que ali passamos. Ganhou disparado as provas de natação e deixou excelentes recordações em todos nós.
O tempo passou rápido e só no final dos anos 60 fui reencontrá-lo nos corredores do fórum de Niterói, ambos dando os primeiros passos na advocacia criminal.
Depois, encontrava-o esporadicamente em nossas vidas profissionais, ambos promotores de Justiça e, mais tarde, magistrados. Eu, no antigo Estado da Guanabara, ele no antigo Estado do Rio de Janeiro.
Com a fusão dos dois em 1975, passamos a pertencer à magistratura do estado único. E, no final de 1982, quando assumi a presidência do I Tribunal do Júri da Capital, ele era o titular da Vara Auxiliar do mesmo tribunal. Foi uma grande honra e um enorme prazer tê-lo como colega de trabalho durante aqueles poucos anos, até ser extinta a referida vara auxiliar e ele ter sido tranferido para uma vara regional da Capital.
Advogado criminalista de primeira, Promotor de Justiça correto, magistrado exemplar.
Amigo da minha juventude...
Lamento profundamente sua morte, nesses tempos em que muitos de nossa geração estão partindo.
Mas, Motta Moraes deixou seu nome indelevelmente marcado por onde passou...
Um comentário:
Soube hoje, por seu intermédio, do falecimento do Alberto Motta Moraes.
R.I.P.
Oportuníssima sua homenagem. Tanto quanto você mencionou, não fomos amigos íntimos. Mas guardo boas lembranças dele. Como você citou, era alegre, brincalhão, gozador, pelo menos enquanto estudante, como nós, quando tivemos o primeiro contato.
Nosso segundo e último encontro ocorreu em sua (your) sala no 1º Tribunal do Júri, quando fui visitá-lo e você chamou o Alberto (era como eu o tratava, virou Motta Moraes quando magistrado) para que pudéssemos nos rever.
Se me não falha a atribulada memória, por pouco não tivemos outro contato pessoal, em razão de uma consulta profissional que me fizeram enquanto advogado civilista aqui em Niterói.
Deu-se que transformaram uma rua, no bairro São Francisco (sem o Saco) em condomínio horizontal, fechando-a ao tráfego. O sindico consultou se poderiam eletrificar a cerca. Achei muita graça e respondi sugerindo que consultasse o Dr. Alberto Motta Moraes, que residia no referido "condomínio." Foi a consulta mais simples que recebi, posto que soube que ele (o Des. Motta Moraes) residia no local e já sabia (pelo encontro em sua sala no tribunal), que ele era magistrado na área criminal.
Sem falsa modéstia (dizem alguns que toda modéstia é falsa), nossa geração (década de 40) deu certo.
Forte abraço.
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