OS PRECATÓRIOS...
Calfilho
Lamentável a tentativa do
governo brasileiro de tentar postergar o pagamento de precatórios devidos pela
União.
O cidadão, que teve um direito seu violado pelo Estado (apenas dois exemplos: o policial negligente dispara sua arma numa operação numa favela e mata, por sua falta de cuidado e atenção, uma criança que brincava no quintal de sua miserável casa; a ponte mal construída de afogadilho e superfaturada, empregando material de terceira categoria, despenca e mata passageiros de veículos que por ela trafegavam e pedestres que passavam sob ela), entra com ação indenizatória contra a União, Estado ou município responsáveis pelo delito, ganha na primeira instância depois de dois anos de tramitação do processo; o órgão público recorre, mais quatro anos até o julgamento em segunda instância, que novamente dá razão ao pai da criança ou aos parentes das vítimas do “acidente” da ponte. O Estado, inconformado, impetra novo recurso ao STJ. Mais seis anos aguardando a decisão, que, outra vez, dá razão aos requerentes. Embargos de declaração, rejeitados após seis meses de espera. O Estado (em sentido amplo) oferece novo recurso ao STF, alegando inobservância de preceito constitucional nas decisões anteriores. Oito anos mais e, finalmente, a decisão do STF, reconhecendo o direito da ou das pobres vítimas, tornando a decisão definitiva, da qual, felizmente, não cabe mais recurso.
Essa decisão, transforma-se, assim, num precatório, ou seja, em termos
leigos, um título de crédito da vítima do ato ilícito contra o Estado infrator.
Mais outras várias providências administrativas e, enfim, o Estado é
obrigado a pagar...
Mas, não, vem uma sumidade qualquer do Ministério da Fazenda e diz que
precisa de dinheiro para custear o substituto do “bolsa família”, plano de
auxílio aos necessitados do Brasil (que são muitos).
REUNIÃO NO PLANALTO
-- Tem que tirar dinheiro de algum lugar. Preciso recriar esse “bolsa
família”, que vou mudar o nome, para garantir o voto daquele povo do nordeste.
-- Mas, Presidente, precatórios
são títulos de dívida pública reconhecidos pela Justiça.
-- Não sei, arranja um jeito, preciso daqueles votos. Basta dar comida
pra eles, que votam em mim. Vocês têm outra saída?
Timidamente, um ministro mais ponderado e nem tão radical, arrisca:
-- Presidente, que tal tirar um pouco das emendas dos deputados e
senadores. O valor é absurdo...
Depois de alguma reflexão, a resposta:
-- Não, não posso mexer com isso. Vou perder o apoio do Congresso...
O tímido oferece outra sugestão:
-- Abate mais desse fundo partidário. Eles aumentaram muito...
Veio logo a resposta:
-- Nunca, isso nunca... Vão votar logo, logo meu impeachment...
Após uma pausa:
-- Então, sem solução?
Sem resposta.
-- Então, ministro, avança nos precatórios...
BRASIL ACIMA DE TUDO...
10 comentários:
Seu artigo - excelente como sempre - foi até benevolente com o Estado, pois não fez menção ao processo de execução da sentença, com os embargos e a repetição dos recursos cabíveis na fase de conhecimento, a acrescentarem mais uns dez anos de espera. E como se nada bastasse, não podemos esquecer o tempo de espera na fila dos precatórios, doutor. No frigir dos ovos, o direito do autor da ação muitas vezes passa a integrar a relação dos bens deixados como herança.
Reeleição a qualquer preço é só o que motiva o atual governo, um bando desprovido dos mais rudimentares princípios éticos e morais, que interpreta a lei e a aplica ao sabor de suas conveniências.
Verdade, Eduardo. Até cheguei a achar um dia que fôssemos um país no caminho do desenvolvimento. Não só o económico, o judicial, o político mas, principalmente, o social... mais uma vez, triste ilusão...
👏👏👏👏👏👏
No diálogo faltaram os palavrões, que suponho foram suprimidos em homenagem as senhoras que frequentam o blog.
Claro, elas são educadas...
... e pudicas.
"Avança nos precatórios" com cloroquina. Pisa fundo, chefe!
E aí Carlinhos, perdeu o pique?
Prestes a se consumar a pedalada, a maracutaia, a alquimia. Vão tungar os precatórios com o apoio do Congresso.
Pode isso, Arnaldo?
Avança nos precatórios! Foi exatamente o que fizeram! Vergonha na cara? Sei não! Falta dela?Sei sim. E assim vamos nós Carlinhos. Grande abraço!
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