segunda-feira, setembro 03, 2018

MEMÓRIA NACIONAL...




MEMÓRIA NACIONAL...

Calfilho




               Ontem, recebi um prazeroso telefonema do meu ex-colega Jorge Carrano,  do Liceu Nilo Peçanha de Niterói, onde estudamos alguns anos de nossas vidas. Batemos um agradável papo e ele me cobrou porque eu não escrevia mais nada aqui no meu despretensioso blog. Respondi-lhe que não estava tendo inspiração para ser alegre ou espirituoso, que considero requisitos indispensáveis para quem se dispõe a colocar no papel alguma coisa. A situação do nosso Brasil atualmente, perdido na política e com os políticos, justamente quando se aproximam as eleições que irão escolher os futuros governantes nos próximos quatro anos, não me anima a comentar ou emitir opinião sobre o que está por vir pela frente. Reclamei com ele do radicalismo que domina os pronunciamentos daqueles que pretendem ser presidentes da república ou governadores de Estado: preferem atacar raivosamente uns aos outros, chegando mesmo às ofensas pessoais e, as poucas propostas que apresentam são de uma utopia extraordinária.               Pretendem fazer tudo sem ter verba para nada ou pouco realizar, esquecendo-se que temos milhões de desempregados em nossas cidades, muita gente dormindo nas ruas, educação de pior nível e saúde à beira da falência. Isso sem falar na insegurança que assombra nossa população, quando temos receio de ir à rua, com medo dos assaltantes armados que nelas circulam com a maior desenvoltura.
     Realmente, com esse estado de coisas em que vivemos atualmente, difícil é ser otimista para escrever algumas palavras num blog, que é veículo muito mais do cotidiano do que da história.
         Nesse breve telefonema de manhã de domingo, relembramos muita coisa boa por que passamos, nossos tempos de Liceu, nossa vida como adultos, como a mão do destino interferiu em nossas vidas, fazendo-nos seguir caminhos que talvez não pensássemos em trilhar em nossa trajetória de vida.
       Desligamos o telefone com a promessa de marcar um almoço de fim de ano, onde pretendemos reunir um pequeno grupo de amigos, a maior parte remanescentes da nossa época de alunos do Liceu de Niterói.
       No início da noite fomos surpreendidos com a terrível notícia do incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
       As cenas que a televisão nos mostrava ao vivo cortavam-nos o coração.
      O Brasil, em especial o Rio de Janeiro, nunca foi conhecido por preservar sua história. Acabaram com o centro da cidade, construíram prédios enormes, colocaram morros abaixo, destruíram igrejas e monumentos que datavam da época do Brasil colônia e Brasil império. Tudo em nome de um falso progresso que pretende descaracterizar uma cidade e sua história para em seu lugar colocar novos prédios que irão representar não sei o quê.
    O Rio de Janeiro nunca teve muitos museus e aposto que a grande maioria de sua população não conhece e nunca visitou os poucos que existem. O Museu Nacional, que conheci na década de 1950, quando meu pai me levava ao Jardim Zoológico ou em visitas conduzidas por professores do Liceu, talvez fosse o mais conhecido deles todos. Segundo notícias da televisão ontem à noite, era considerado o quinto em importância de todo o mundo.
    Na França, Itália, Inglaterra, mesmo Alemanha (praticamente arrasada depois de duas grandes guerras mundiais), os museus representam um marco da cultura desses países. Quem não visitou ou, pelo menos ouviu falar, do Louvre, do Orsay, da Capela Sistina, das Galerias Uffizi e Tate, no museu Van Gogh e tantos outros espalhados pelo mundo? Quem não ouviu mencionar, teve o privilégio de visitar ou mesmo viu fotos ou filmes dos castelos do Loire, da Notre Dame de Paris, da Torre de Londres, do Parlamento inglês, do Big Ben, do Vaticano, das ruínas de Pompeia e Herculano, do Davi de Michelangelo? Todos preservados, extremamente bem vigiados, conservados todos os anos, para que sejam exibidos em perfeitas condições aos visitantes do mundo inteiro...
       No Rio de Janeiro, já há muitos anos atrás víamos reportagens comentando o abandono em que se encontrava o nosso Museu Nacional, aquele que serviu de moradia para a família real quando veio para o Brasil no início do século XIX, e depois para os imperadores do país. Onde estavam guardadas peças e documentos desses duzentos anos de nossa história, além de múmias, esqueletos de animais pré-históricos, roupas, mobiliário, pinturas e tudo o mais que deveria ser mostrado aos visitantes e, principalmente, às nossas crianças. Essas reportagens nos mostravam que o prédio estava com goteiras, parte da mobília já estava sendo comida por cupins, não se fazia manutenção e conservação há muito tempo... por falta de verba...
    O incêndio de ontem era, sem dúvida alguma, uma tragédia anunciada...
       Afinal de contas, para que cultura, para que história?
    Preferível é enriquecer rapidamente, a si e aos familiares e amigos, tentar ganhar uma eleição para fazer parte da turma da "boquinha", pouco importando que, para tanto, tenha que ofender seus adversários, passar por cima dos amigos, esquecer as regras de honestidade e ética que a escola lhes deve ter ensinado alguma vez em suas vidas...
    Queimemos tudo, coloquemos tudo abaixo, usemos o dinheiro público para primeiro, colocarmos alguma coisa nos próprios bolsos, depois realizarmos algumas obras de fachada, de exibição, ou deixando outras inacabadas, esquecendo nossa história, nosso passado...

     Desculpe-me Carrano, mas não tenho inspiração para escrever...

Um comentário:

CARLOS disse...

Pois é... aqui em Pinheiral, no Vale do Café, os moradores mais antigos, gente da cidade mesmo, afirmam que fazendas históricas também arderam em chamas, mas seu mobiliário foi salvo...guarnecendo hoje algumas residências de influentes locais...