segunda-feira, julho 18, 2016

ATENTADOS...




A T E N T A D O S...

Calfilho




          Mais uma vez, em curto espaço de tempo, assistimos, não sei se estarrecidos ou enojados, mais uma notícia de outro atentado ocorrido na França... Agora, com 84 mortos e mais de duas centenas de feridos...
       Parece que o ser humano perdeu, por completo, o senso de equilíbrio e a razão, e a morte estúpida e brutal de um semelhante se tornou coisa corriqueira, sem a menor importância.
       Aqueles que me dão a honra de acompanhar o que aqui escrevo, sabem da admiração e carinho que tenho pela França, desde a primeira viagem que para lá fiz em 1957 e as várias outras efetuadas depois que me aposentei, em 1990.
           Essa admiração vem não só do imenso acervo cultural que a França oferece aos seus visitantes, mas também do modo de vida dos franceses, que cultivam, acima de tudo, o lema "saber viver e deixar viver"... A tradição contida em um dos símbolos da França, originado da Revolução de 1789, "a liberdade, igualdade e fraternidade" está sempre presente no dia a dia de seu povo. Todas as vezes que lá retorno, sinto-me realmente como se estivesse em Copacabana ou Icaraí, tamanha a identificação que tenho com sua gente, seus monumentos, sua história e sua alegria de viver. Em Paris ou qualquer outra cidade francesa, gosto de passear com tranquilidade por suas ruas, sentar-me em um café qualquer apreciando o modo descontraído e alegre de seus frequentadores (a "joie de vivre") conversando e rindo animadamente a qualquer hora do dia ou da noite.
      Ultimamente, entretanto, parece que toda essa alegria foi atingida de forma estúpida e cruel: as pessoas estão com medo, receosas, olhando com desconfiança para quem está ao seu lado, vislumbrando um possível terrorista, alguém que pretenda acabar com sua descontração  e tranquilidade. No ano passado, foram dois grandes atentados na França (um, contra uma redação de jornal, o "Charlie Hebdo", em janeiro, e outro contra uma casa de shows, o "Bataclan", em novembro), provocando inúmeras vítimas fatais. 
         Fora da França, em Bruxelas, ali bem perto, outro atentado estúpido no aeroporto e no metrô da cidade, causando também várias mortes. Este ano, recentemente, mais um grande ataque contra cidadãos inocentes, no aeroporto da Turquia.
      Agora, o mais recente, este último, em Nice, quando um indivíduo, pertencente ou não a um grupo extremista (ainda não se sabe ao certo), dirigindo um pesado caminhão, invade o "Promenade des Anglais", famosa praia litorânea da cidade de Nice, no dia em que se comemorava o 14 de julho, data nacional da França, dia da Queda da Bastilha, e mata 84 pessoas.
         Conheço Nice relativamente bem, já lá estive por quatro ou cinco vezes, em diferente ocasiões. É uma cidade alegre, vibrante, próxima à fronteira com a Itália, colada a Mônaco, muito procurada por turistas do mundo inteiro. Tanto o "Promenade des Anglais" (que é a avenida da praia), como a "rue de France", paralela, são repletas de hotéis, bares e restaurantes, sempre cheios de gente, conversando alegremente, descontraídas, aproveitando tudo de bom que a cidade oferece. Nice é um dos locais mais importantes da famosa Côte d'Azur, que também engloba Cannes, Saint Tropez, St. Raphael e outras cidades menores da Riviera francesa.
        Choca-nos ver como toda essa alegria contagiante de seus habitantes e inúmeros turistas que a visitam foi súbita e estupidamente atingida por um ato tão violento e mortal de um único ser humano. Seria como se aqui, no Rio de Janeiro, alguém dirigindo um caminhão investisse repentinamente contra a multidão que comemorasse a festa de reveillon na avenida Atlântica, em Copacabana, ou na Praia de Icaraí, em Niterói.
          O terrorismo, infelizmente, está presente em todas as grandes cidades do mundo. Os atentados contra as torres gêmeas, em Nova York; contra o metrô de Londres e a estação de trem de Atocha em Madrid, são os mais recentes e de maior repercussão. Também na Síria e Iraque acontecem com frequência. A segurança em aeroportos e locais de grande concentração de pessoas é visível e muito rigorosa na maioria de países do mundo.
          Mas, se o radicalismo de alguns atemoriza a população desses países, não se pode esquecer que alguns desses atentados são praticados por pessoas mentalmente desequilibradas, com sérios problemas pessoais e que os conduzem à prática desses atos extremos.
          Nos Estados Unidos, esses atos isolados são frequentes. Pessoas armadas invadem escolas, locais públicos e matam vários semelhantes, inocentes que, na maioria das vezes, nada têm a ver com a insatisfação ou a paranoia dos atiradores. Morrem apenas porque estavam vivos e estiveram no caminho desses loucos naqueles momentos fatídicos.
         Aqui mesmo, no Brasil, lembro-me bem de dois desses atentados que causaram centenas de mortes, praticados por um único desequilibrado mental: o incêndio do circo, em Niterói, nos anos 50 do século passado, e o atentado contra estudantes de uma escola primária no Rio de Janeiro, ocorrido alguns poucos anos atrás. Em nenhum dos dois houve conotação terrorista.
           Sinceramente, não sei onde iremos parar. Parece que duas relativamente recentes grandes guerras mundiais não saciaram a sede de sangue que o ser humano continua a ter em relação a seus semelhantes. Hoje, em qualquer cidade do mundo, mata-se por qualquer motivo ou mesmo sem ele. A violência impera em qualquer lugar, mesmo no interior dos Estados. Aqui, no Brasil, praticamente não existe mais cidade segura. Deixa-se de sair à noite porque inexiste policiamento depois das 19 horas e o risco de ser assaltado ou morto por uma bala direcionada ou perdida é enorme. Acabamos prisioneiros dentro de nossas próprias casas, cumprindo uma prisão domiciliar sem tornozeleira eletrônica, mas que nos tira a vontade de colocar o pé fora das portas de nossa residência com medo da "rua"... Os marginais, os bandidos carregam armas poderosíssimas, invadem hospitais e delegacias, matam policiais, enquanto nossas autoridades repetem que "um rigoroso inquérito será instaurado"... 
           Vejo com muita apreensão o futuro que se desenha para nossos filhos e netos...
                Até quando? 
                Ou: será se conseguiremos ser civilizados?
           Será se a sede de sangue vai um dia ser saciada e poderemos viver em paz, alegres e descontraídos como os franceses e os cariocas viveram há algum tempo atrás?
              Sinceramente, tenho sérias dúvidas...

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