domingo, março 13, 2016

BRASIIIIILLL...





B R A S I I I I L L L ....



Calfilho



                      Hoje, depois de algum tempo ausente, senti vontade de voltar a escrever alguma coisa neste espaço que a internet me concedeu...
                    Como já faço há algum tempo (com menos intensidade ultimamente, já que o passar dos anos cobra seu preço), saí para uma caminhada na área de lazer da praia de Copacabana. Acho que os cariocas sabem que, aos domingos, a pista da avenida Atlântica, junto à areia, fica fechada para caminhadas, passeios de bicicleta e lazer daqueles que moram ou frequentam o bairro.
               Já sabia desde ontem, por cartazes e faixas espalhadas pelas ruas, que havia uma convocação para uma manifestação contra o governo. Por isso, convidei minha mulher para caminharmos juntos (ela, que, por problemas de saúde, não tem podido andar muito). Apenas, para, além da pequena caminhada, apreciarmos o movimento da praia cheia, repleta de gente.
                Logo que deixamos o prédio em que moramos, vimos que a Figueiredo Magalhães já estava repleta de pessoas que caminhavam apressadamente em direção à praia, um quarteirão à frente. A maioria vestindo camisas amarelas. Homens, adultos e crianças, jovens e idosos.
                    Na pista junto à areia, já fechada desde as sete da manhã, centenas de pessoas caminhavam em direção ao posto 5, onde seria a concentração para o início da caminhada de protesto pela Atlântica. Quase todos vestiam camisas amarelas, alguns usavam verde, a maioria empunhava faixas e cartazes de protesto contra a Presidente da República e seu antecessor. Senti-me um pouco deslocado, usando a camisa preta com o escudo do meu Botafogo, o que faço habitualmente quando caminho pelo calçadão.
                  Mal andamos vinte metros, já deparamos com vários ambulantes espalhados pela pista de rolamento, interditada hoje para pedestres: vendiam água, cerveja, refrigerantes.
                  Comentei com minha mulher, sem conseguir esconder um sorriso:
           -- Veja só como é o brasileiro... aproveita logo a oportunidade para faturar. Viram que tem muita gente nas ruas, aproveitam para vender suas mercadorias.
                     Mais vinte metros e a surpresa foi maior. Já na altura da Santa Clara, outros ambulantes espalhavam-se pelo asfalto, vendendo sabem o quê?
                    Bonecos infláveis da presidenta e do antecessor, ambos vestidos com roupas de presidiários, com dizeres de PT 171. Os famosos pixulecos, que já se tornaram conhecidos da população em manifestações anteriores. Só que agora em tamanhos menores, portáteis, não aqueles bonecos gigantes que já vimos anteriormente.
                   Não consegui conter o riso.
             O brasileiro consegue ser irreverente, debochado e até aproveitador da ocasião, mesmo quando esta trata de assuntos tão sérios, como o impeachment da presidenta e a prisão do ex. Aproveita para mandar confeccionar os bonecos e vendê-los nos locais onde sabe que a demanda seria grande, a venda seria fácil.
              Mais à frente, filas eram formadas, para que algumas moças pintassem os rostos dos cariocas (de todas as idades, diga-se a verdade) de verde e amarelo...
             Não acredito mais nos políticos e na política. Já vi o suicídio de Getúlio quando tinha doze anos de idade. Li mais tarde o que fora a ditadura Vargas, quando muitos brasileiros inocentes foram torturados e alguns mortos simplesmente porque eram contra o governo. Acompanhei quando Carlos Lacerda, um dos principais opositores de Getúlio e talvez o maior responsável por seu suicídio, depois de tramar pela deposição de João Goulart e, antes, combatendo ferozmente Juscelino Kubistcheck, ele também foi cassado pela Redentora de 1964, e depois aliou-se a esses dois últimos contra os generais da Revolução. Vi, como as "respeitáveis mães de família de São Paulo" saíram às ruas no movimento "A Família e Deus pela sociedade" contra Jango e, depois que conseguiram derrubá-lo do poder, mostraram-se "desoladas e surpreendidas" quando os militares passaram a fazer o que queriam deste País e não pretendiam mais largar o governo... Durante  21 anos...
                Depois, quando o povo, inocente, embarcou na aventura Collor de Mello e, logo depois virou-se contra ele.
                E, hoje, quando a Presidente da República sofre processo de impeachment, o presidente da Câmara dos Deputados e o ex- presidente da República estão denunciados pela prática de crimes, o presidente do Senado é alvo de investigação em inquéritos policiais...
           Acreditar em quem mais? O honesto de hoje pode ser o corrupto de amanhã...
               Mas, que é bonito ver o povo na rua, fantasiado de verde e amarelo, clamando por honestidade, por um Brasil melhor, por um futuro sem corrupção, lá isso é... Que é muito bonito ouvir o Hino Nacional cantado pela multidão, seja num estádio de futebol, num comício das "Diretas Já" (onde o ex-presidente estava no palanque) ou no calçadão da Atlântica, da Av. Paulista, na Esplanada dos Ministérios, lá isso também é...
           E que os vendedores ambulantes aproveitem o momento para vender suas mercadorias, dependendo do corrupto da ocasião...

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