domingo, março 27, 2016

A FORÇA IRRACIONAL DAS COLETIVIDADES...




A FORÇA IRRACIONAL DAS MULTIDÕES...

Calfilho





             Hoje, um domingo muito bonito em Copacabana, decidi esquecer a preguiça e voltar a escrever alguma coisa neste meu espaço virtual. Sobre algo que venho percebendo há muito tempo e, ao que parece, poucas pessoas param muito pouco tempo para pensar e refletir.
           Refiro-me às multidões, à força que delas emana e que, irracionalmente, é irradiada em todas as direções e, para aqueles que delas fazem parte, transformam-se em verdades absolutas.
                Lembro que um louco, apenas um, conseguiu dominar uma nação inteira, contagiando-a com o veneno de sua excelente oratória, levando-a a uma guerra suicida, onde milhões de jovens foram mortos estupidamente. Jovens alemães, americanos, ingleses, russos, poloneses, italianos e de outras várias nacionalidades, inclusive a nossa, pobres brasileiros que fomos lutar numa guerra que não era nossa, num continente distante, morrendo muitos em terras estrangeiras. Quando vemos os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, vemos como o poder irracional da multidão, ali comandada por Hitler, conseguiu contagiar praticamente quase todo o povo alemão e, como este, fanatizado, ia para as praças, braço direito levantado, gritar slogans fascistas como se fossem eles os únicos donos da verdade. Como a juventude nazista, irracional e covardemente, sempre em grupos de cinco ou mais, espancava judeus nas ruas das cidades europeias, queimava livros, idolatrava o louco que os comandava.
            De forma mais amena, vemos como as torcidas organizadas em nossos estádios de futebol, em ações estúpidas e irracionais, brigam entre si violentamente, causando, em alguns momentos, até a morte de torcedores, sejam eles do adversário... ou do próprio time. E, como essa violência, essa irracionalidade, acabou por afastar dos campos de futebol os torcedores pacatos que, como eu e muitos outros, querem apenas torcer por seus times, levando seus filhos e suas famílias. Como fomos acostumados a fazer...
            Como ainda, nas manifestações políticas que presenciamos atualmente em nosso país, quem quer externar sua opinião nas ruas às vezes é agredido pela multidão enfurecida que tem opinião contrária à sua, como se somente a do grupo que tem maior número de manifestantes é que seja a opinião verdadeira.
            As pessoas, hoje,  infelizmente, são levadas pela multidão, como cordeirinhos sem opinião própria e sem o direito de poder expressar a sua. E, somente em grupos, no anonimato das multidões, é que são os valentes, aqueles que querem impor sua opinião pela força, pela irracionalidade. Duvido que, sozinhos, ajam dessa forma.
          Quando vemos pelos noticiários da televisão um jovem sendo espancado até a morte porque estava com a camisa de um time e teve o azar de cruzar com um grupo de covardes que torciam por outra equipe; quando assistimos um jornalista morrer em plena via pública  apenas porque cumpria seu dever profissional de cobrir uma manifestação de rua, sendo atingido por uma bomba letal; quando vemos, na Europa, atentados covardes e irracionais praticados contra cidadãos inocentes que iam para o trabalho ou se divertiam numa casa noturna, tudo em nome de radicalismos raciais ou religiosos, devemos parar para refletir um pouco: até onde iremos?
               Minha geração, que nasceu quando a Segunda Guerra Mundial estava em curso, teve a sorte de não ter presenciado ou sofrido os horrores da mesma.
                 E a dos nossos filhos e netos?

domingo, março 13, 2016

BRASIIIIILLL...





B R A S I I I I L L L ....



Calfilho



                      Hoje, depois de algum tempo ausente, senti vontade de voltar a escrever alguma coisa neste espaço que a internet me concedeu...
                    Como já faço há algum tempo (com menos intensidade ultimamente, já que o passar dos anos cobra seu preço), saí para uma caminhada na área de lazer da praia de Copacabana. Acho que os cariocas sabem que, aos domingos, a pista da avenida Atlântica, junto à areia, fica fechada para caminhadas, passeios de bicicleta e lazer daqueles que moram ou frequentam o bairro.
               Já sabia desde ontem, por cartazes e faixas espalhadas pelas ruas, que havia uma convocação para uma manifestação contra o governo. Por isso, convidei minha mulher para caminharmos juntos (ela, que, por problemas de saúde, não tem podido andar muito). Apenas, para, além da pequena caminhada, apreciarmos o movimento da praia cheia, repleta de gente.
                Logo que deixamos o prédio em que moramos, vimos que a Figueiredo Magalhães já estava repleta de pessoas que caminhavam apressadamente em direção à praia, um quarteirão à frente. A maioria vestindo camisas amarelas. Homens, adultos e crianças, jovens e idosos.
                    Na pista junto à areia, já fechada desde as sete da manhã, centenas de pessoas caminhavam em direção ao posto 5, onde seria a concentração para o início da caminhada de protesto pela Atlântica. Quase todos vestiam camisas amarelas, alguns usavam verde, a maioria empunhava faixas e cartazes de protesto contra a Presidente da República e seu antecessor. Senti-me um pouco deslocado, usando a camisa preta com o escudo do meu Botafogo, o que faço habitualmente quando caminho pelo calçadão.
                  Mal andamos vinte metros, já deparamos com vários ambulantes espalhados pela pista de rolamento, interditada hoje para pedestres: vendiam água, cerveja, refrigerantes.
                  Comentei com minha mulher, sem conseguir esconder um sorriso:
           -- Veja só como é o brasileiro... aproveita logo a oportunidade para faturar. Viram que tem muita gente nas ruas, aproveitam para vender suas mercadorias.
                     Mais vinte metros e a surpresa foi maior. Já na altura da Santa Clara, outros ambulantes espalhavam-se pelo asfalto, vendendo sabem o quê?
                    Bonecos infláveis da presidenta e do antecessor, ambos vestidos com roupas de presidiários, com dizeres de PT 171. Os famosos pixulecos, que já se tornaram conhecidos da população em manifestações anteriores. Só que agora em tamanhos menores, portáteis, não aqueles bonecos gigantes que já vimos anteriormente.
                   Não consegui conter o riso.
             O brasileiro consegue ser irreverente, debochado e até aproveitador da ocasião, mesmo quando esta trata de assuntos tão sérios, como o impeachment da presidenta e a prisão do ex. Aproveita para mandar confeccionar os bonecos e vendê-los nos locais onde sabe que a demanda seria grande, a venda seria fácil.
              Mais à frente, filas eram formadas, para que algumas moças pintassem os rostos dos cariocas (de todas as idades, diga-se a verdade) de verde e amarelo...
             Não acredito mais nos políticos e na política. Já vi o suicídio de Getúlio quando tinha doze anos de idade. Li mais tarde o que fora a ditadura Vargas, quando muitos brasileiros inocentes foram torturados e alguns mortos simplesmente porque eram contra o governo. Acompanhei quando Carlos Lacerda, um dos principais opositores de Getúlio e talvez o maior responsável por seu suicídio, depois de tramar pela deposição de João Goulart e, antes, combatendo ferozmente Juscelino Kubistcheck, ele também foi cassado pela Redentora de 1964, e depois aliou-se a esses dois últimos contra os generais da Revolução. Vi, como as "respeitáveis mães de família de São Paulo" saíram às ruas no movimento "A Família e Deus pela sociedade" contra Jango e, depois que conseguiram derrubá-lo do poder, mostraram-se "desoladas e surpreendidas" quando os militares passaram a fazer o que queriam deste País e não pretendiam mais largar o governo... Durante  21 anos...
                Depois, quando o povo, inocente, embarcou na aventura Collor de Mello e, logo depois virou-se contra ele.
                E, hoje, quando a Presidente da República sofre processo de impeachment, o presidente da Câmara dos Deputados e o ex- presidente da República estão denunciados pela prática de crimes, o presidente do Senado é alvo de investigação em inquéritos policiais...
           Acreditar em quem mais? O honesto de hoje pode ser o corrupto de amanhã...
               Mas, que é bonito ver o povo na rua, fantasiado de verde e amarelo, clamando por honestidade, por um Brasil melhor, por um futuro sem corrupção, lá isso é... Que é muito bonito ouvir o Hino Nacional cantado pela multidão, seja num estádio de futebol, num comício das "Diretas Já" (onde o ex-presidente estava no palanque) ou no calçadão da Atlântica, da Av. Paulista, na Esplanada dos Ministérios, lá isso também é...
           E que os vendedores ambulantes aproveitem o momento para vender suas mercadorias, dependendo do corrupto da ocasião...