A FORÇA IRRACIONAL DAS MULTIDÕES...
Calfilho
Hoje, um domingo muito bonito em Copacabana, decidi esquecer a preguiça e voltar a escrever alguma coisa neste meu espaço virtual. Sobre algo que venho percebendo há muito tempo e, ao que parece, poucas pessoas param muito pouco tempo para pensar e refletir.
Refiro-me às multidões, à força que delas emana e que, irracionalmente, é irradiada em todas as direções e, para aqueles que delas fazem parte, transformam-se em verdades absolutas.
Lembro que um louco, apenas um, conseguiu dominar uma nação inteira, contagiando-a com o veneno de sua excelente oratória, levando-a a uma guerra suicida, onde milhões de jovens foram mortos estupidamente. Jovens alemães, americanos, ingleses, russos, poloneses, italianos e de outras várias nacionalidades, inclusive a nossa, pobres brasileiros que fomos lutar numa guerra que não era nossa, num continente distante, morrendo muitos em terras estrangeiras. Quando vemos os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, vemos como o poder irracional da multidão, ali comandada por Hitler, conseguiu contagiar praticamente quase todo o povo alemão e, como este, fanatizado, ia para as praças, braço direito levantado, gritar slogans fascistas como se fossem eles os únicos donos da verdade. Como a juventude nazista, irracional e covardemente, sempre em grupos de cinco ou mais, espancava judeus nas ruas das cidades europeias, queimava livros, idolatrava o louco que os comandava.
De forma mais amena, vemos como as torcidas organizadas em nossos estádios de futebol, em ações estúpidas e irracionais, brigam entre si violentamente, causando, em alguns momentos, até a morte de torcedores, sejam eles do adversário... ou do próprio time. E, como essa violência, essa irracionalidade, acabou por afastar dos campos de futebol os torcedores pacatos que, como eu e muitos outros, querem apenas torcer por seus times, levando seus filhos e suas famílias. Como fomos acostumados a fazer...
Como ainda, nas manifestações políticas que presenciamos atualmente em nosso país, quem quer externar sua opinião nas ruas às vezes é agredido pela multidão enfurecida que tem opinião contrária à sua, como se somente a do grupo que tem maior número de manifestantes é que seja a opinião verdadeira.
As pessoas, hoje, infelizmente, são levadas pela multidão, como cordeirinhos sem opinião própria e sem o direito de poder expressar a sua. E, somente em grupos, no anonimato das multidões, é que são os valentes, aqueles que querem impor sua opinião pela força, pela irracionalidade. Duvido que, sozinhos, ajam dessa forma.
Quando vemos pelos noticiários da televisão um jovem sendo espancado até a morte porque estava com a camisa de um time e teve o azar de cruzar com um grupo de covardes que torciam por outra equipe; quando assistimos um jornalista morrer em plena via pública apenas porque cumpria seu dever profissional de cobrir uma manifestação de rua, sendo atingido por uma bomba letal; quando vemos, na Europa, atentados covardes e irracionais praticados contra cidadãos inocentes que iam para o trabalho ou se divertiam numa casa noturna, tudo em nome de radicalismos raciais ou religiosos, devemos parar para refletir um pouco: até onde iremos?
Minha geração, que nasceu quando a Segunda Guerra Mundial estava em curso, teve a sorte de não ter presenciado ou sofrido os horrores da mesma.
E a dos nossos filhos e netos?