O SÉCULO XXI...
Calfilho
Não
sei como acordam aqueles que, como eu, nasceram no Brasil na metade do século
anterior. Quando abro os olhos todas as manhãs, nos dias atuais, parece que a
realidade que encontro é algo totalmente diferente daquilo a que estava
acostumado a vivenciar desde a minha infância, adolescência e fase adulta de
vida. Pode ser apenas impressão minha, mas acho que o século XXI é um marco
divisório entre dois modos de vida completamente diferentes.
Tudo
bem, a informática chegou de forma avassaladora e, praticamente, domina hoje
todo o nosso dia-a-dia: computadores modernos, "smartphones", redes sociais,
drones, satélites, robôs, são coisas que eram inimagináveis na metade do século
passado, quando ainda a televisão era a grande novidade da década de 50. Como
haviam chegado o automóvel, a eletricidade, o avião, no fim do século XIX,
início do XX...
Ainda
ouvíamos futebol pelo rádio (Oduvaldo Cozzi, Waldir Amaral, Jorge Cury, Doalcey
Camargo, João Saldanha, José Maria Scassa, Luiz Mendes), as mulheres
acompanhavam as novelas (“O Direito de Nascer”), os programas de auditório eram
a coqueluche dos domingos (Paulo Gracindo, César de Alencar, “Balança mas não
cai”)... O rádio reinava soberano como a maior fonte de lazer da população brasileiro,
os aparelhos de televisão só existiam em alguns lares privilegiados, a maioria
importados... As emissoras engatinhavam... No Rio, primeiro a TV-Tupi, a
pioneira; depois vieram a TV-Rio, a Continental, a Excelsior... Por último a
Globo, a única daquelas que permanece viva... Em São Paulo, a Bandeirantes, a
Record, a Cultura, a SBT do Sílvio Santos...
Os
jornais impressos ainda eram os principais veículos através dos quais ficávamos
a par das notícias diárias e líamos as colunas interessantes dos suplementos.
Lembro-me bem que ficava esperando com ansiedade meu pai chegar do trabalho
para pegar o jornal de suas mãos e ler a seção de esportes ou as duas páginas
de quadrinhos...
Rapidamente,
os anos passaram, chegamos ao ano 2000, início de um novo século...
Nos
dias atuais, parece que as pessoas não se entendem mais, não mais conversam
entre si (pelo menos a conversa “olho no olho”), vivem com as cabeças
enterradas em seus celulares onde quer que estejam: na rua, num transporte
coletivo, num bar, numa reunião familiar... Outro dia, almoçando com alguns
membros da família num restaurante de Niterói, reparei que, nas outras mesas, a
maioria das pessoas conferia as mensagens dos celulares... e, mesmo na minha
mesa, alguns filhos e noras também pareciam mais interessados na telinha do
pequeno aparelho à sua frente do que conversar sobre algum assunto interessante...
e aquela era uma reunião para comemorarmos o aniversário de um dos membros da
família... Enfim...
Não
tenham dúvidas: a informática mudou completamente nossos estilos de vida.
Até
na política, os antigos e tradicionais comícios populares, que, em outras
épocas atraíam multidões, hoje perderam lugar para as “redes sociais”. Estas
conseguiram eleger o presidente dos Estados Unidos e o do Brasil. Nelas se fala
de tudo, até mesmo da vida dos outros. Tem notícias verdadeiras e muitas falsas
(as famosas “fake News”), onde as agressões verbais e até através de fotos e
vídeos parecem dominar. Ali, quem agride, quem ataca, quem não tem educação, se
acha no direito de falar o que quiser e ofender a quem bem entender,
acreditando estar protegido por um aparente anonimato (hoje, nem tanto...). E,
também se acham valentes bastantes para atacar a honra de outras pessoas porque
não estão frente a frente com os agredidos... Talvez se estivessem nessa
situação, a agressão não ocorreria...
Sei
lá, a impressão que tenho é que estou vivendo num mundo diferente, estranho, as
coisas cotidianas se desenvolvem de uma maneira totalmente diversa daquela à
que fui acostumado a viver durante vários anos...
Sempre
afirmei aqui e em outros espaços que a educação (ou a falta dela) é um dos
maiores problemas do nosso país. Enquanto em outros países ela é realmente
levada a sério, onde vemos crianças com 5, 6 anos de idade sentadas em frente a
um quadro de um museu, a professora explicando-lhes o que significa a pintura,
quem foi o autor do quadro, aqui poucos conseguem completar o ensino médio, a
maioria nem mesmo o antigo primário. Por isso, vemos essa multidão de mão de
obra mal preparada, que não conseguiu ou até mesmo não quis estudar,
trabalhando como biscateiros, bombeiros, eletricistas, balconistas, porque não
encontraram emprego melhor e porque não conseguiram chegar a uma universidade
ou a um ensino técnico de qualidade. Mas (pelo menos no Brasil de hoje), até
mesmo o diploma não significa garantia de um bom emprego: já viajei com alguns
motoristas da UBER que são, alguns, engenheiros formados, outros arquitetos, ou outros mais que concluíram algum
curso superior e que foram ganhar o sustento dirigindo um carro de aluguel, por
não encontrarem emprego nas profissões em que se formaram. Lamentável tudo
isso...
Também
não significa dizer que o grau de instrução tornaria melhor a escolha dos nossos
presidentes, governadores, prefeitos, deputados, senadores e vereadores...
Sempre defendi o voto do analfabeto, porque eles também fazem parte de nossa
população e devem ter o direito de escolher aqueles que irão representá-los nos
postos de comando do país, de seus Estados e municípios... Mas, não resta
dúvida de que se mais e mais brasileiros conseguissem alcançar um grau cultural
melhor, mais seriam aqueles que analisariam o currículo dos candidatos, que
teriam um conhecimento mais aprofundado sobre aqueles em que votariam e não
seriam apenas influenciados por um churrasco na comunidade ou a distribuição
eventual de presentes para a criançada por um Papai Noel qualquer de araque...
Ou, como, para meu espanto, vi alguns "instruídos" escolherem um candidato apenas porque ele
ou ela são “bonitinhos”...
Bem,
divagações à parte, o que eu queria dizer é que com todas as invenções do mundo
moderno, parece que voltamos à era do rádio: as poderosas Organizações Globo
lançaram, recentemente, a última novidade: os “podcasts”.
Pode
ser que eu esteja enganado (corrijam-me, em caso afirmativo, por favor), mas
são eles noticiários reproduzidos por aqueles aparelhinhos que já vi pessoas usando nas orelhas para somente
elas ouvirem o que está sendo transmitindo e não atrapalhar os outros na rua,
numa condução, num restaurante...
Nada
mais são que os antigos "radinhos" de pilha que alguns levavam para os estádios
de futebol para acompanhar os jogos pelo rádio enquanto assistiam às partidas
ao vivo. Os rádios “Spica”, lembram deles?
Daqui
a pouco veremos transitando por nossas ruas uns seres estranhos com um aparelho
cobrindo-lhes os ouvidos sendo atualizados com as últimas notícias... Como se
já não bastasse a multidão que desfila com os olhos grudados no celular...
Bem,
mas como tudo é novidade... Tem também o patinete, brinquedo da minha infância, que ressurgiu agora com toda a força...
Ou,
como já dizia um filósofo: “Nada se cria, tudo se copia”...
Bem
vindos “podcasts”...